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Transcrição:

Mídia digital, cultura da convergência e mobilidade: análise do jornal Valor Online 1 SILVA, Maurílio Luiz Hoffmann da (bacharel) 2 VALENTE, Mariana Reis Mendes (graduanda) 3 Universidade Federal do Tocantins (UFT) Resumo: Aborda a cultura da convergência. Apresenta as fases e as características do jornalismo online. Analisa as versões web e móvel do jornal Valor Online. Conclui que faltam características do jornalismo online na versão web e que não há produção específica considerando as limitações dos dispositivos móveis na versão a eles destinada. Palavras-chave: Cultura da Convergência; Jornalismo Online; Mobilidade; Jornal Valor. Introdução A internet é reconhecida hoje como uma das principais invenções contemporâneas. O impacto de sua popularização atinge todas as esferas organizacionais: econômica, educacional, social e também comunicacional. Além da grande adesão às ferramentas de comunicação instantânea, outra face da comunicação que se desenvolveu foi o jornalismo online. Iniciando com a simples transposição do jornalismo impresso para a web, hoje o jornalismo online é conhecido por oferecer formas de interação entre leitor e jornal e, principalmente, por ser capaz de reunir arquivos de vários formatos (texto, foto, som e vídeo) em uma mesma notícia. Unindo a internet a outra tecnologia bastante difundida hoje o celular tem-se outra faceta do jornalismo online: o jornalismo voltado a dispositivos móveis. Um pouco mais rápido do que o jornalismo para web, mas com a vantagem do acesso de qualquer lugar (ubiquidade). É neste âmbito de desenvolvimento e convergência misturando internet, celular e jornalismo que surge o objetivo norteador deste artigo: analisar o Jornal Valor Online, buscando encontrar 1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Digital, integrante do VIII Encontro Nacional de História da Mídia, 2011. 2 Técnico em Informática pelo IFTO. Bacharel em Comunicação Social Jornalismo pela Universidade Federal do Tocantins. Membro do Grupo de Pesquisa em Jornalismo e Multimídia da UFT (CNPq). e-mail: mauhoff@gmail.com. Twitter: @mauhoff. 3 Acadêmica de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Tocantins. Membro do Grupo de Pesquisa em Jornalismo e Multimídia da UFT (CNPq). e-mail: maresia21@gmail.com. Twitter: @maresia21.

características do jornalismo online nas versões web e móvel, e verificar como ocorre a adaptação do texto da versão web para a móvel. 1. A Cultura da Convergência Como afirmam Corrêa e Corrêa (2007, p. 3), o termo convergência tem sido usado de forma exaustiva e diversificada em toda a literatura que envolve o status das mídias contemporâneas, e das tecnologias digitais de informação e comunicação. Geralmente embasados em Henry Jenkins (2009), os pesquisadores contemporâneos estudam as várias formas de integração de formatos midiáticos, principalmente saindo da lógica de produção de conteúdo por parte das empresas de comunicação para a produção por parte dos indivíduos, atividade possível graças ao advento da web 2.0. Jenkins (2009) enfoca seu estudo nos produtos da indústria do entretenimento. Ele analisa a convergência a partir do sucesso do reality show Suvivor, da trilogia de filmes Matrix e dos livros de Harry Potter, por exemplo. Ponto crucial nas análises do autor é que a convergência midiática está centrada na participação popular e na produção de conteúdos baseados ou fomentados pelo produto original, o que muitas vezes é motivo para discussões sobre direitos autorais. Outra característica importante que se abstrai dos estudos de caso de Jenkins (2009) é que o desenvolvimento da Cultura da Convergência, bem como a adesão dos fãs nos processos criativos só se deu de forma global devido à popularização da internet, mais especificamente às características da web 2.0, também conhecida como web participativa. Ao propor uma definição do conceito de convergência, Jenkins (2009, p. 37) recorre ao cientista político Ithiel de Sola Pool, chamado por ele de o profeta da convergência, que afirma: Um processo chamado convergência de modos está tornando imprecisas as fronteiras entre os meios de comunicação, mesmo entre as comunicações ponto a ponto, tais como o correio, o telefone e o telégrafo, e as comunicações de massa, como a imprensa, o rádio e a televisão. Um único meio físico - sejam fios, cabos ou ondas - pode transportar os serviços que no passado eram oferecidos separadamente. De modo inverso, um serviço que no passado era oferecido por um único meio - seja a radiodifusão, a imprensa ou a telefonia - agora pode ser oferecido de várias formas físicas diferentes. Assim, a relação um a um que existia entre um meio de comunicação e seu uso está corroendo (POOL, 1986, p. 23 apud JENKINS, 2009, p.37). Para Castilho (2007, online), convergência de mídias é o processo de integração, coordenação e combinação de mídias impressas, visuais, auditivas e interativas, num sistema chamado multimídia. O autor ressalta que a convergência digital tem como base, ainda, o conceito de hipertexto, através do qual é possível migrar de um meio para outro num processo que conduz à

recombinação de conhecimentos e informações. Nota-se também com base neste autor a importância da internet para o conceito de convergência midiática. Já para Lawson-Borders (apud CORRÊA; CORRÊA, 2007, p. 4) convergência é um conjunto de possibilidades decorrentes da cooperação entre meios impressos e eletrônicos na distribuição de conteúdos multimídia por meio do uso de computadores e da internet Compreende-se, portanto, que a internet possibilita o armazenamento e a difusão de todos os padrões midiáticos existentes (impresso, imagem, som e vídeo). A união destes formatos recebe o nome de convergência multimidiática. Esta convergência de formatos está sendo mais notadamente explorada em páginas de conteúdo informativo, como portais de notícias e entretenimento, por exemplo. Tal exploração está mudando as rotinas nas redações dos jornais. O jornalista agora deve acompanhar a evolução tecnológica e pensar não só no texto e na ilustração, como acontecia no impresso, mas também em vídeos, áudios, infográficos interativos e hiperlinks para páginas relacionadas. O próximo tópico trata da evolução do jornalismo online, mostrando cada uma de suas fases. 2. A evolução do jornalismo online Segundo Moherdaui (2007, p. 23), o primeiro grande jornal a oferecer um serviço online foi o The New York Times, em meados da década de 1970, denominado New York Times Information Bank. Nesta base de dados, era possível acessar artigos e textos completos da edição diária e de edições anteriores. Entretanto, cabe ressaltar que neste período o computador pessoal ainda não era tão popular quanto hoje, ficando limitado a poucos usuários. A popularização dos serviços de jornalismo na internet começa a ser notada somente a partir dos anos de 1990, quando vários jornais são lançados em versões web: o San Jose Mercury News em 1994; The Wall Street Journal em 1995; o português Diário Digital em 1999. No Brasil as iniciativas começaram em 1995 com o Jornal do Brasil, seguido por O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo; O Globo; O Estado de Minas; o Zero Hora; o Diário de Pernambuco e o Diário do Nordeste (MOHERDAUI, 2007, p. 26). Nesta primeira fase, o jornalismo online era caracterizado pela transposição do jornal impresso para a web. Sem modificações, o jornal web dependia da rotina de produção do impresso. Era uma transferência simples de conteúdo do jornal para o ambiente digital, num momento em que os recursos e potencialidades do meio eram desconhecidos ou ignorados (Alves, 2001, p.4) e a metáfora do jornal impresso passa a ser adotada no jornalismo online, seja na linguagem, na divisão por editorias, na forma de

apresentação das telas principais dos sites (como se fosse a primeira página de um jornal) e na própria utilização da palavra jornal (BARBOSA, 2002, p. 3). Já na segunda fase, apesar de ainda haver transposição do conteúdo do jornal impresso, começa-se a desenvolver materiais exclusivos para o meio online. É nesta fase que entram os hiperlinks, ferramentas de busca e interatividade, além de conteúdo multimídia. Aparecem aqui as primeiras formas de interação com o leitor, baseadas majoritariamente no e-mail. A terceira fase do jornalismo online é caracterizada pelo desenvolvimento dos conteúdos originalmente produzidos para web, usando recursos multimídia. Para Moherdaui (2007, p. 127), na quarta fase, o jornalismo digital está baseado bancos de dados inteligentes que aparece aos usuários como uma interface tipificada no espaço navegável que permite explorar, compor, recuperar e interagir com as narrativas. Dessa interação nasce o conceito de jornalismo participativo, ou jornalismo cidadão que pode ser conceituado como: práticas desenvolvidas em seções ou na totalidade de um periódico noticioso na Web, onde a fronteira entre produção e leitura de notícias não pode ser claramente demarcada ou não existe (PRIMO; TRÄSEL, 200-, p. 10). A participação do público para na produção de conteúdo seja para fins jornalísticos, seja para produção de fãs, encontra embasamento na primeira lei da cibercultura proposta por Lemos (2006) que fala da liberação do pólo de emissão. O preceito desta lei está ligado às manifestações socioculturais contemporâneas, mostrando que o excesso de informação em circulação deve-se a possibilidade de expressão de vozes reprimidas pelos meios de comunicação de massa (SILVA, 2009, p. 29). [...] Aqui a máxima é tem tudo na internet, pode tudo na internet (LEMOS, 2006, p. 54). Além das fases, Moherdaui (2007, p. 128-137) aponta oito características do jornalismo digital, são elas: interatividade; hipertextualidade; personalização; multimidialidade/convergência; memória; instantaneidade/atualização contínua; imersão; e conteúdo dinâmico. Surgida antes da web, mas fomentada graças à sua criação, a interatividade se revela no jornalismo online em pelo menos três aspectos. Através do contato direto do leitor/usuário com o jornal, por meio de fóruns, comentários ou contato com os jornalistas; através do contato com aplicativos/infográficos que permitam a manipulação; e por meio da navegação não-linear proporcionada pelos hiperlinks. O leitor passa, assim, a assumir um papel mais ativo na produção da notícia. A hipertextualidade, como já observado, tem um papel importante na estruturação do jornalismo online. Com o uso dos links é possível fazer ligações internas e para sites externos, relacionar outras notícias e inserir arquivos multimídia. Enfim, o hiperlink é uma das características mais marcantes da web, pois graças a eles é possível executar a famigerada tarefa de navegar entre

os sites, sem precisar ficar digitando o endereço no navegador. Também conhecida como customização, a personalização consiste em adaptar a distribuição das informações de acordo com o interesse do leitor. As formas mais difundidas são as newsletters e os feeds de notícias (RSS 4 ). Também são formas de personalização: a ferramenta igoogle, na qual o usuário configura as janelas de acordo com sua conveniência; e o site de.li.cio.us que funciona como um agregador de favoritos online. A convergência ou multimidialidade está centrada na possibilidade de agregar em uma mesma página (notícia) todas as formas midiáticas (texto, foto, som e vídeo). Esta é outra característica que deve sua existência a plataforma, pois é a web o espaço no qual ela acontece. Ao se falar em convergência surge também o aspecto da convergência de meio, em dispositivos como o celular, por exemplo. Está convergência será abordada na próxima seção. O conceito de memória também está diretamente ligado a capacidade de armazenamento dos dados na internet. Nesta memória coletiva que se forma o usuário pode realizar pesquisas nos bancos de dados de forma muito mais econômica e eficiente, se comparado com as mídias tradicionais. Diferentemente dos meios como rádio, TV e impresso, no jornalismo online o deadline praticamente não existe. Ele é substituído pelo always on, ou sempre conectado. É nisso que se baseia a característica da instantaneidade/atualização contínua. Como na internet a publicação é feita de forma muito mais simples sem limite definido nem de tamanho, nem de prazo a atualização dos jornais pode ser feita a qualquer instante. Já a ideia de imersão esta baseada na metáfora de trazer o leitor/usuário para outra realidade, fazendo com que ele esqueça o mundo a sua volta e se desloque (submergir) para a narrativa apresentada. O conteúdo dinâmico engloba todas as características descritas anteriormente. A atualização contínua das matérias, dos canais e da home page, o investimento em produtos interativos enquetes, fóruns de discussão, blogs, e-mail, narrativas multimídia, games, mapas, comentários em matérias, descentralização do conteúdo e uso de fotos randômicas dão aos portais e sites noticiosos o dinamismo, que faz parte da lógica de jornalismo digital (MOHERDAUI, 2007, p. 136-137). Além do jornalismo online voltado para leitura no computador, surge nos últimos anos outra ferramenta de consumo de informação: o celular. Esses aparelhos passam a ser usados não apenas 4 Sigla em inglês para Really Simple Syndication. Sistema que agrega conteúdo e permite que a indexação das alterações ocorridas em um determinado site seja divulgada. Várias páginas diferentes que disponibilizem seus conteúdos em RSS podem ser reunidas em um programa agregador de RSS, o qual é alimentado pelos feeds provenientes destas páginas.

para sua função original de fazer e receber ligações, mas também para a produção e consumo de conteúdo informativo. 3. A informação converge para o celular São poucos os exemplos de tecnologias que tiveram uma difusão e uma aceitação tão rápida e com tamanho impacto na sociedade quanto o telefone celular. Hoje ele é elemento obrigatório, notadamente em ambiente profissional. A exemplo da maioria dos países do mundo, no Brasil o celular é um importante artefato de comunicação com mais de 140 milhões de aparelhos em operação, dividido por 81,09% de pré-pagos e 18,91% de pós-pagos, conforme a Agência Nacional de Telecomunicações ANATEL (2008) para uma população de aproximadamente 180 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2008) (SILVA, 2009, p. 75-76). Como apontam Fidalgo e Canavilhas (2009, p. 102), atualmente os celulares evoluíram e se tornaram um tudo em um : dispositivos de comunicação de voz e escrita; dispositivos de produtividade, com aplicativos de escritório como relógio, calculadora, câmera digital, gravador de voz, e editores de documentos; e, por fim, dispositivos de lazer contendo jogos, tocadores de música e vídeos, receptores de rádio e navegadores web. Agregando funções que antes exigiam vários utensílios, como canetas, blocos de notas, máquina fotográfica, receptores de rádio, o celular tornou-se um objeto imprescindível no dia a dia de tal ordem que não se sai de casa sem ele. Cabe ressaltar aqui também a popularização desde 2007 dos serviços de internet de terceira geração (3G), considerada a banda larga dos celulares. Tanta evolução acabou por transformar o celular em mais um meio de se consumir (bem como produzir) informação. Tal transformação acabou por resultar em mais uma adaptação do jornalismo, que agora também deve ser pensado levando em consideração as chamadas mídias locativas 5. Encontra-se aqui mais uma referência as leis da cibercultura propostas por Lemos (2006). A segunda lei proposta pelo autor fala sobre a conexão generalizada, na qual tudo está conectado, em qualquer lugar (ubiquidade). Fidalgo e Canavilhas (2009) consideram o celular um dispositivo para consumir pequenos fragmentos de informação, para contatos rápidos e superficiais com a web. Por exemplo: checar a caixa de e-mail, ou ler uma nota rápida sobre algum assunto importante. Os autores consideram que para leituras mais demoradas o computador é mais usual, principalmente devido ao tamanho das 5 Segundo Lemos (2009, p. 91), podemos definir as mídias locativas como dispositivos, sensores e redes digitais sem fio e seus respectivos bancos de dados atentos a lugares e contextos.

telas destes dispositivos, pois enquanto um monitor tem entre 15 e 17 polegadas os celulares tem cerca de três. Por fim, os autores salientam que a notícia para celular pode conter tudo o que se encontra na versão impressa (totalidade) e na versão para a web (instantaneidade) com a diferença que pode ser acessada de qualquer lugar (ubiquidade). Compreende-se dessa forma que o texto jornalístico deve ser pensado exclusivamente para este meio, ou seja, ser pequeno e de fácil apreensão. Deve ser curto e preciso para não desgastar o leitor que, além de estar em movimento, está lendo numa tela não confortável. Estes são os preceitos que orientaram a pesquisa descrita a seguir. 4. Análise da versão móvel do jornal Valor Online Esta pesquisa pretende fazer uma análise de conteúdo do jornal Valor Online, comparando sua versão web (http://www.valoronline.com.br/) com a versão móvel (http://m.valor.com.br/). A intenção é observar as características do jornalismo online apontadas no item 2 e verificar se as notícias produzidas para a versão móvel levam em consideração as limitações apontadas no item 3. Para navegação no site web usou-se o navegador Opera 6 versão 11.01. Já para a navegação na versão móvel usou-se um aplicativo disponível no site do Opera denominado Opera Mini Simulator 7, que simula o acesso através de dispositivos móveis que usem o Opera Mini 5. Por fim, para captura das telas usou-se o aplicativo PrtSrc 8 versão 1.5. Todas as capturas ocorreram no dia 07 de março de 2011 entre 11h e 12h. As matérias escolhidas para serem analisadas foram as primeiras listadas em cada uma das versões. Primeiramente cabe apontar aqui o que pode ser considerado um problema, visto que na versão web o endereço da URL 9 é valoronline e na versão móvel é apenas valor, tal distinção pode confundir o leitor. Outro ponto a se destacar é que, como mostra a Figura 1, na página inicial da versão móvel a data mostrada está três dias atrasada, ou seja, 04 de março. Isso demonstra que as notícias não são atualizadas tão frequentemente como sugerido nos tópicos acima. 6 7 8 9 Disponível em: http://www.opera.com/browser/ Acesso em 06 de mar. De 2011. Disponível em: http://www.opera.com/mobile/demo/ Acesso em 06 de mar. De 2011. Disponível em: http://www.fiastarta.com/prtscr/download.html Acesso em 06 de mar. De 2011. Sigla em inglês para Uniform Resource Location (Localizador de Recursos Universal). É o endereço de um recurso disponível em uma rede.

Figura 1 Página inicial da versão móvel A primeira matéria da versão móvel tem o título Dólar futuro termina sexta-feira em queda; Ptax fecha a R$ 1,6462. Esta matéria também estava disponível na home da página web, como mostra a Figura 2. Figura 2 Primeira matéria da versão móvel Analisando as páginas acima é possível notar a ausência das características do jornalismo online citadas no item 2, tais como os hiperlinks e a convergência multimidiática. Há, no entanto, algumas formas de interação como o símbolo + usado para postar a notícia em redes sociais, ou a cartinha usada para enviar por e-mail. No entanto a página da versão móvel carece de qualquer uma daquelas características, com o

agravante de que o texto, além de ser o mesmo publicado na web, está compactado num único bloco. Tal disposição dificulta a leitura em na tela pequena, ainda mais se levarmos em consideração que o leitor está lendo em movimento. Figura 3 Primeira matéria da versão web A Figura 3 mostra a primeira matéria disponível na página web cujo título é Embratel e Claro fornecerão infraestrutura para Olimpíada de 2016. Como pode ser percebido, na página web apenas o primeiro parágrafo da notícia está disponível para qualquer internauta. O conteúdo, segundo o site, é exclusivo para assinantes. Entretanto, a mesma matéria pode ser lida na íntegra na versão móvel. Com relação às características do jornalismo online nesta matéria cabem as mesmas observações da matéria anterior, inclusive com relação à versão móvel que também não teve o texto adaptado para a tela. Para conseguir visualizar toda a notícia foram necessárias 6 rolagens de tela completas, da primeira palavra, BRASÍLIA, até a assinatura do jornalista Cristiano Romero, não considerando portanto o espaço da manchete. Considerações Finais Mesmo sendo tão rico de características (interatividade; hipertextualidade; personalização; multimidialidade/convergência; memória; instantaneidade/atualização contínua; imersão; e conteúdo dinâmico), o jornalismo online ainda está em desenvolvimento. Muitas vezes essas

características não se apresentam nos portais de notícia. É o caso das matérias analisadas. Além de pecar no quesito instantaneidade, é possível perceber com a análise destas duas matérias que o jornalismo online, pelo menos no caso do Jornal Valor Online, ainda não aderiu às características apontadas anteriormente. Foram detectadas formas simples de interação, além da ausência de recursos multimídia e de links nas duas matérias. Apesar da valiosa iniciativa de disponibilizar acesso exclusivamente por meio móvel, o jornal Valor Online não trata este meio considerando suas particularidades (mobilidade do leitor e tamanho da tela). Percebeu-se na análise que o site simplesmente publica o mesmo conteúdo tanto na web, quanto na versão móvel. Cabe aqui refletir se não seria esta a primeira (ou uma das primeiras) fase do jornalismo voltado aos dispositivos móveis: a simples transposição do conteúdo publicado na web para dispositivos móveis, a exemplo do que aconteceu com relação ao jornalismo online, em sua primeira fase. Nota-se, por fim, que, apesar das fases definidas na seção 2, nem todos os sites de notícia já aderiram à última fase. Apesar de já estarem se voltando para as plataformas móveis, ainda há muito que se evoluir nas versões web. Referências BARBOSA, Susana. A informação de proximidade no jornalismo online. 2002. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/barbosa-suzana-proximidade-online.pdf>. Acesso em: 06 fev. 2011. CASTILHO, Carlos. Aula do dia 25/4 Convergência Multimidia. 2007.Disponível em: <http://jol-assesc.blogspot.com/2007/04/aula-do-dia-254-convergncia-multimidia.html>. Acesso em: 24 fev. 2011. CORRÊA, Elizabeth Saad; CORRÊA, Hamilton Luís. Convergência de mídias: primeiras contribuições para um modelo epistemológico e definição de metodologias de pesquisa. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO, 5., 2007, Aracajú - Se. Anais.... Aracajú - Se: SBPJor, 2007. p. 1-13. FIDALGO, António; CANAVILHAS, João. Todos os jornais no bolso: pensando o jornalismo na era do celular. In: RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: Ed. PUC RIO: Editora Sulina, 2009. p. 99-117. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. LEMOS, André. Arte e mídia locativa no Brasil. In: LEMOS, André; JOSGRIBERG, Fabio (Orgs). Comunicação e mobilidade: aspectos socioculturais das tecnologias móveis de comunicação no Brasil. Salvador: EDUFBA, 2009. p. 89-108.

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