OS TIPOS PSICOLÓGICOS DE PACIENTES DEPENDENTES DE COCAÍNA OU CRACK ATENDIDOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ÁLCOOL TABACO E OUTRAS DROGAS



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CENTRO DE REFERÊNCIA DE ÁLCOOL, TABACO E OUTRAS DROGAS ALINE DE FREITAS TALLARICO OS TIPOS PSICOLÓGICOS DE PACIENTES DEPENDENTES DE COCAÍNA OU CRACK ATENDIDOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ÁLCOOL TABACO E OUTRAS DROGAS São Paulo 2009

ALINE DE FREITAS TALLARICO Monografia apresentada à comissão do Aprimoramento como conclusão do Programa de Aprimoramento Profissional em Dependência Química. Orientador: Wagner Abril Souto CENTRO DE REFERÊNCIA DE ÁLCOOL, TABACO E OUTRAS DROGAS São Paulo 2009 2

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO... 11 2. COCAÍNA E CRACK... 15 2.1 Dependência química de cocaína... 17 3. PSICOLOGIA ANALÍTICA... 20 3.1. Conceitos teóricos... 20 4. PSICOLOGIA E DEPENDÊNCIA QUÍMICA... 22 5. TIPOS PSICOLÓGICOS... 26 5.1 As atitudes Introversão e Extroversão... 29 5.2 Pensamento e Sentimento (as funções racionais ou avaliativas)... 31 5.3 Sensação e Intuição (as funções irracionais ou perceptivas)... 32 5.4 Função Principal, Função Auxiliar e Função Inferior... 33 6. JUSTIFICATIVA... 34 7. OBJETIVO... 36 7. 1 Objetivos Específicos... 36 8. METODOLOGIA... 37 8.1 Sujeitos de pesquisa... 37 8. 2 Instrumentos... 37 8. 3 Procedimentos e métodos... 38 9.RESULTADOS... 40 9.1 Resultados QUATI... 42 9.2 Entrevistas específicas (semi-estruturadas)... 46 3

9.3 Devolutiva... 47 10.DISCUSSÂO... 48 11.CONCLUSÃO... 53 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 56 ANEXOS... 60 4

LISTA DE FIGURAS Figura 1.Esquema das atitudes e das funções... 28 Figura 2. As funções apresentadas no modelo quaternário... 29 Figura 3. Atitudes observadas na amostra... 43 Figura 4. Funções principais observadas na amostra... 44 Figura 5. Funções auxiliares observadas na amostra... 44 Figura 6. Funções inferiores observadas na amostra (oposta a função principal)... 45 Figura 7. Tipos Psicológicos observados na amostra... 45 5

LISTA DE TABELAS Tabela 1. Faixa etária dos participantes da pesquisa... 41 Tabela 2. Escolaridade dos participantes da pesquisa... 41 Tabela 3. Moradia dos participantes da pesquisa... 41 Tabela 4. Situação empregatícia dos participantes da pesquisa... 41 6

Dedico este trabalho, primeiramente ao meu irmão Jônatas (in memoriam), aos meus pais Maria Lúcia e Décio e irmã Lenita, meus exemplos de vida e amores sinceros. 7

AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus e a minha família por proporcionarem minha chegada até aqui. Ao Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas CRATOD por possibilitar a realização deste trabalho. Ao meu orientador Wagner Abril Souto, pelo apoio técnico e teórico e por me tranqüilizar e ensinar durante todo o processo. À Dra. Martha com sua visão crítica e sensata. Às psicólogas Gabriela e Ivone que tanto me apoiaram e incentivaram. Aos amigos e companheiros de jornada Karina, Juliana e Aline e especialmente ao Gustavo pela amizade, companheirismo, incentivo, compreensão e boas gargalhadas. À minha irmã Lenita que me auxiliou com seus ensinamentos, atenção e dedicação constantes. E por sempre ser, meu porto seguro. À minha amiga Maria Rita pelo apoio técnico e companheirismo. Ao Bruno pelo carinho e amor. À todos os funcionários e amigos que auxiliaram de alguma maneira. 8

OS TIPOS PSICOLÓGICOS DE PACIENTES DEPENDENTES DE COCAÍNA OU CRACK ATENDIDOS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ÁLCOOL TABACO E OUTRAS DROGAS Aline de Freitas Tallarico Resumo A partir da observação de pacientes dependentes de cocaína ou crack em tratamento no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD) foi possível verificar algumas semelhanças nas atitudes e comportamentos. Para poder avaliar tais características foi utilizado o Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI) como instrumento de investigação dos tipos psicológicos (perfil de personalidade e atitudes) baseado na psicologia junguiana. Os participantes da pesquisa foram selecionados aleatoriamente durante as atividades do regime intensivo e semi-intensivo. Foram submetidos ao QUATI dez sujeitos, além disso, responderam a outro questionário especifico. Observou-se que três dos sujeitos pesquisados foram caracterizados com o tipo psicológico introvertido, função principal sensação, função auxiliar pensamento e função inferior intuição (I Ss Ps). Os dados qualitativos mais relevantes foram que todos os sujeitos perceberam mudanças significativas de comportamento após o início do consumo do uso de cocaína ou crack. Eles utilizam a substância tanto em situações estressantes ou em dificuldades, quanto em situações alegres ou satisfatórias. Deste modo, é possível concluir que o questionário é eficaz para a obtenção dos tipos psicológicos, auxiliando na melhor compreensão do paciente e de suas características de personalidade, podendo ser utilizado em instituições de saúde pública. Palavras-chave: tipos psicológicos, QUATI, dependência química de cocaína ou crack, abordagem junguiana. 9

O objetivo de uma tipologia psicológica não consiste em classificar seres humanos em categorias isto, por si só, não teria nenhum sentido. Seu propósito é antes fornecer uma psicologia crítica, que faria uma investigação e uma apresentação metódica do material empírico possível. Trata-se, antes de tudo, de uma ferramenta crítica destinada ao pesquisador, que necessita de pontos de vista e de orientações precisas, se deseja reduzir a profusão caótica de experiências individuais a algum tipo de categoria. Em segundo lugar, uma tipologia é de grande ajuda na compreensão das amplas variações que ocorrem entre os indivíduos, bem como das fundamentais divergências entre as teorias psicológicas atuais. Por último, mas não menos importante, esta psicologia é um recurso essencial para determinar a equação pessoal do psicólogo praticante que, armado com um exato conhecimento das suas funções diferenciada e inferior, pode evitar muitos erros graves ao tratar de seus pacientes. Carl Gustav Jung 10

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho foi idealizado a partir das experiências vivenciadas no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas CRATOD. Esse centro é uma instituição pública do SUS (Sistema Único de Saúde), vinculado a Secretaria de Estado da Saúde, localizado no centro da capital de São Paulo e tem por característica o atendimento ambulatorial, direcionado a pacientes com transtornos decorrentes do uso abusivo ou dependência de substâncias psicoativas. O tratamento oferecido no CRATOD tem como objetivo a re-inserção social, reabilitação e recuperação dos pacientes, estes procuram espontaneamente ou a partir de encaminhamentos realizados por albergues, hospitais, centros de convivência, Fundação Casa, entre outros. Os profissionais da unidade trabalham em equipe multiprofissional. Essa modalidade de trabalho se caracteriza pela atuação conjunta e se configura pela troca de informações referentes a cada área de formação entre os membros da equipe. Na unidade citada, os profissionais existentes são: enfermeiro, médico psiquiatra, odontologista, clínico geral, psicólogo, assistente social, auxiliar de enfermagem, fisioterapeuta, nutricionista, educador físico e médico neurologista. Além disso, contam com aprimorandos (através do Programa de Aprimoramento Profissional - PAP) de três áreas de atuação (Psicologia, Nutrição e Serviço Social) e estagiários (Serviço Social e Enfermagem). O primeiro contato do paciente com a instituição é com a equipe de orientação que agenda as atividades e encaminha o paciente para um grupo de acolhimento. Este grupo é composto por médico psiquiatra, psicólogo, assistente social, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e aprimorandos de umas das áreas de atuação. 11

No grupo de acolhimento o paciente é entrevistado e avaliado pela equipe, que em sua maioria decide por inseri-lo no regime intensivo para que consiga se vincular à unidade, passar pelos atendimentos médicos, se adaptar às regras, grupos e oficinas. As atividades propostas para o regime intensivo ocorrem diariamente, o que proporciona ao paciente a reorganização e integração psíquica, assim como do seu cotidiano. O paciente é encaminhado para o regime semi-intensivo quando a equipe do acolhimento avalia sua condição geral e visualiza mudanças do repertório do paciente, a melhoria da saúde clínica geral, re-inserção social, abstinência, entre outros. Frente a melhora do quadro, o paciente é incluído em atividades do semi-intensivo, as quais são escolhidas pelo paciente, exceto a psicoterapia grupal ou individual, de participação obrigatória. Após uma breve apresentação da instituição é importante elucidar de que forma sucedeu a escolha do tema. Esta se deu a partir da observação de situações vivenciadas pelos pacientes do intensivo e do semi-intensivo, em que usuários de determinadas substâncias se comportavam de forma semelhante, apresentando atitudes e características de personalidade similares, tanto no tratamento como na sala de espera, assim surgiu o interesse pelo aprofundamento do tema. Alguns exemplos podem ser citados em relação aos comportamentos dos pacientes em questão. Foi possível observar que os pacientes que fazem uso de cocaína ou crack se portam de maneira mais agressiva ao meio, até porque para obterem a droga de consumo, que é ilícita, necessitam burlar regras e agir de forma mais ativa. Além disso, são mais comunicativos e expansivos, o que pode torná-los estigmatizados. 12

Desta forma surgiu o interesse em pesquisar se há um perfil de personalidade dentre os usuários de cocaína ou crack. Os sujeitos de pesquisa deste trabalho são os pacientes dependentes de cocaína ou crack, que fazem tratamento no CRATOD no regime intensivo ou semi-intensivo. O QUATI foi escolhido devido a sua especificidade, ou seja, por avaliar a tipologia junguiana, teoria elaborada pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Nesta tipologia, Jung tinha por objetivo definir estilos psicológicos e de comportamento, categorizando semelhanças e diferenças em determinados grupos (Zacharias, 2003). Devido a esta característica avaliativa de grupos, este instrumento foi selecionado, pela possibilidade de definir e categorizar tipos psicológicos peculiares dos usuários de cocaína ou crack. Todavia, a teoria propriamente dita, será explicitada em um capítulo específico. É importante ressaltar que na revisão de literatura não foram encontrados artigos específicos sobre as características da personalidade dos usuários de substâncias psicoativas. Porém, nos livros relacionados ao tema, a dificuldade foi menor, possibilitando a elaboração do capítulo especifico sobre o assunto. Foram encontrados apenas quatro artigos científicos relacionados aos tipos psicológicos e saúde. O artigo referente a tipos psicológicos e relacionamento de casal verificou como os tipos psicológicos influenciam no cotidiano de um casal, através de estudo de caso e aplicação do QUATI para comparação da tipologia dos cônjuges. Por meio deste, foi possível perceber que os tipos psicológicos dos parceiros eram opostos psíquicos, porém complementares e isso auxiliava a manutenção da relação, já que existia a projeção das funções (Goto; Kamei; Fujii, 2007). 13

Outro artigo encontrado relaciona a tipologia junguiana com pacientes que são, serão ou foram submetidos à cirurgia para abertura de uma ostomia intestinal, e como cada tipo psicológico reage a este procedimento médico (Mantovani, 1998). Kock e Ries (2004) estudaram a influência da personalidade na postura, levando em consideração somente as atitudes introversão e extroversão. Este estudo demonstrou que existe sim influência entre personalidade e postura, ou seja, os pacientes introvertidos apresentam maior protusão de ombros e cabeça anteriorizada. O último artigo encontrado é sobre a evolução da espécie humana dentro da visão tipológica, ou seja, a sensação é considerada pela autora a primeira função vivida pela espécie humana. Além disso, sugere que a função sentimento é a que estamos vivenciando atualmente e que está relacionada ao aspecto feminino (Luzes, 2001). Todavia, por não serem trabalhos relacionados à dependência química não serão explorados em sua totalidade, somente utilizados como exemplos de pesquisa com tipologia junguiana. 14

2. COCAÍNA E CRACK A cocaína é uma substância psicoativa extraída das folhas de coca (Erythroxylon coca) planta nativa do leste dos Andes. Para se obter a cocaína são necessárias duas etapas que acarretam diversos subprodutos como a merla, a pasta de coca, o crack e o cloridrato de cocaína (Ribeiro et al., 2003). A primeira etapa é a secagem das folhas e depois há a maceração, na qual misturam-se produtos químicos, como solventes, bicarbonato de sódio ou hidróxido de sódio. Deste processo surge a pasta base de cocaína que quando refinada origina a cocaína em pó (cloridrato de cocaína). A cocaína em pó pode ser aspirada, ou seja, consumida de forma intranasal ou injetada por via endovenosa, já o crack e a merla são a apresentação da cocaína em base livre (pasta) que pode ser fumada através de cachimbos ou cigarros (Leite, 1999; Ribeiro et al., 2003; CEBRID, 2004). A cocaína atinge o SNC (sistema nervoso central) de quatro maneiras (CEBRID, 2006; Marques; Ribeiro, 2006): É absorvida pela mucosa do nariz (inalação da cocaína refinada, esta leva de dez a quinze minutos para atingir seu pico de ação e seus efeitos duram em média quarenta e cinco minutos). Pelas vilosidades intestinais (ingestão oral, ou seja, através da mastigação das folhas de coca ou em forma de chá). Pelos capilares pulmonares (fumada, nesta forma de consumo a pasta de coca é misturada com tabaco ou maconha. Ou ainda, em forma de merla ou pedras de crack, as quais são fumadas em cachimbos ou cigarros. O crack pode também ser misturado ao tabaco (pitilho) ou maconha (mesclado). Leva em média de dez a quinze segundos para 15

alcançar o SNC, sendo a duração dos efeitos muito rápida, em média cinco minutos. Sendo considerada a forma mais dependógena). Injetada na circulação venosa (o uso é realizado através de seringas, nas quais são manipuladas cocaína refinada diluída em água, nesta forma de consumo após três ou cinco minutos os efeitos iniciam). A cocaína caracteriza-se pela função anestésica local, possui propriedades vasoconstrictoras e é estimulante do sistema nervoso central. Os efeitos psíquicos são: euforia, sensação de bem-estar, aumento do estado de vigília, autoconfiança elevada e aceleração do pensamento. E os efeitos físicos são: aumento da freqüência cardíaca, aumento da temperatura corpórea, aumento da freqüência respiratória, sudorese, tremor leve das extremidades, espasmos musculares (língua e mandíbula), tiques e mídriase (Ribeiro et al., 2003). Os efeitos experimentados pelos usuários de crack são: intensa euforia, ilusão de onipotência e grande autoconfiança, essas sensações ocorrem somente com a utilização da substância através das vias endovenosa e pulmonar e recebem o nome de rush ou flash (Schwartz et al., 1991; WHO, 1987; Fasoli, 1995 apud CEBRID 2004). As principais complicações psiquiátricas encontradas em dependentes de cocaína podem decorrer de intoxicação aguda e da síndrome de abstinência. Além disso, podem incidir disforia, ansiedade, agitação, quadros de pânico, depressão, heteroagressividade, sintomas paranóides e alucinações. As medicações mais utilizadas para os sintomas ansiosos são os benzodiazepínicos (diazepam ou clordiazepóxido). Os sintomas psicóticos podem desaparecer após a ação da cocaína, mas caso isso não aconteça é necessária a aplicação de haloperidol, que atua nas 16

agitações extremas. Atualmente não são usados medicamentos para atenuar os sintomas da abstinência, pois nenhum deles foi eficaz para diminuí-los (ibidem). 2.1. Dependência química de cocaína e crack A dependência química de substâncias psicoativas é considerada um problema de saúde pública, necessitando uma maior compreensão psicológica dos usuários, para auxiliar no melhor planejamento das ações, tanto de prevenção, quanto de tratamento, para que assim possibilite a melhoria da qualidade de vida. Primeiramente é importante elucidar o que corresponde a dependência química. Segundo a óptica de Marques e Ribeiro (2003) o conceito de dependência química é baseado em sintomas e sinais, ou melhor, em fenômenos. Ou seja, a dependência é considerada uma síndrome que varia de indivíduo para outro e é determinada a partir de diversos fatores de risco. Para Silveira Filho (2002) a dependência abrange diversos comportamentos por parte do usuário de substâncias e se caracteriza pelo encontro de um indivíduo com uma substância psicoativa em um determinado contexto sociocultural (p. 13). A dependência engloba três aspectos: a substância psicoativa, com farmacologia específica; o indivíduo, com características de personalidade e singularidade biológica e por fim o contexto sociocultural, onde há o encontro entre o sujeito e o psicotrópico (ibidem). Em se tratando dos critérios diagnósticos pode-se dizer que ocorre uma relação disfuncional entre o indivíduo e o modo de consumir a substância (Marques; Ribeiro, 2003). 17

Segundo o CID-10 (2002) os critérios diagnósticos para dependência são citados abaixo. Para um diagnóstico definitivo é necessário que o indivíduo tenha experenciado ou exibido três ou mais requisitos em algum momento do ano anterior: Compulsão para o consumo (desejo incontrolável). Aumento da tolerância (a necessidade de doses cada vez maiores para obtenção dos mesmos efeitos alcançados inicialmente). Síndrome de abstinência (aparecimento de sinais e sintomas quando cessou ou reduziu o uso). Alívio ou evitação da abstinência pelo aumento do consumo (o consumo é feito para alivio dos sintomas de abstinência). Relevância de consumo (o consumo torna-se mais importante que outras atividades antes valorizadas). Estreitamento ou empobrecimento do repertório (perda de referência interna e externa que direcionam o consumo, a vida do sujeito é direcionada para o alívio dos sintomas de abstinência, o sujeito não visualiza outras formas de obtenção de prazer). Reinstalação da síndrome de dependência (reaparecimento dos comportamentos relacionados ao consumo e dos sintomas, após um período de abstinência). Em se tratando do tratamento e ao padrão de consumo de cocaína, as diferenças encontradas por Ferri (1999) que se relacionam a este trabalho são que os usuários de crack diferentemente dos usuários de cocaína intranasal, apresentam maior nível de consumo, possuem mais problemas sociais, de saúde e maior participação em atividades ilegais. Assim como, a busca por tratamento ocorre após longo período de 18

uso de cocaína e que não sentem confiança para procurar ajuda, ou seja, sentem receio. Contudo, quando estes são motivados pela família, igreja ou amigos, a busca por tratamento é maior. 19

3. PSICOLOGIA ANALÍTICA 3.1. Conceitos teóricos Na psicologia analítica (também nomeada de psicologia junguiana) a personalidade é considerada como um todo, esta totalidade é denominada psique objetiva. Os componentes formadores da psique possuem uma estrutura que interage com o mundo exterior. Além disso, subdivide-se em vários níveis, dentre eles encontram-se o consciente e o inconsciente pessoal (Goto; Kamei; Fujii, 2007; Whitmont, 2004). Para inovar Jung trouxe o conceito de inconsciente coletivo que em sua concepção era uma herança psíquica comum a todos os seres humanos de todas as épocas. No inconsciente coletivo estão as imagens arquetípicas e os grupos de instintos (Charran, 2007; Stein, 2006). A formação da personalidade se dá através dos arquétipos (padrão inato de comportamento, pensamento e imaginação encontrados em todos os seres humanos, tempos e lugares). Dentre os mais importantes estão a persona, a sombra, anima e animus e o self. Além destes arquétipos, Jung estudava os tipos psicológicos, esta idéia surgiu porque ele passou a observar que os indivíduos possuíam diferenças individuais e de personalidade. Essas diferenças típicas derivam em dois tipos psicológicos ou atitudes, a introversão (voltada para dentro) e a extroversão (voltada para fora). Além destes tipos, estudou as quatro funções, subdivididas em funções de percepção e de julgamento (Stein, 2006; Goto; Kamei; Fujii, 2007). Em relação às funções de julgamento Jung dividiu em pensamento e sentimento, já as funções de percepção ele denominou a sensação e a intuição (Whitmont, 2004; Stein, 2006). 20

É importante esclarecer alguns aspectos mais importantes do desenvolvimento da personalidade. Este processo é influenciado por diversos padrões arquetípicos como o dinamismo matriarcal e o patriarcal, que tem papel fundamental na estruturação egóica. Além destes, existe os dinamismos de alteridade e de totalidade que se relacionam ao processo de individuação (tornar-se si mesmo, ou melhor, tornar-se o que é de fato) que ocorre na segunda fase de vida (Silveira Filho, 1995). Na visão de Silveira Filho (1995) o dinamismo matriarcal é regido pelo Arquétipo da Grande-Mãe que se caracteriza por uma atitude de carinho, cuidado e proteção, sendo o corpo (campo corporal) a via de expressão principal para orientação do desejo da fertilidade. Neste dinamismo visa-se a preservação da espécie e a sobrevivência. De outro modo, o dinamismo patriarcal é regido pelo arquétipo do Pai, tendo como atributos principais a organização e a orientação direcionada às regras, normas e leis no sentido mais abstrato, e também à sociabilização. Neste movimento arquetípico há a orientação pelo princípio da causalidade, deste modo há a discriminação das polaridades, privilegiando um dos pólos opostos (certo/errado, bem/mal, etc). É importante esclarecer que todo arquétipo possui uma estrutura bipolar, relacionando-se de maneira dialética. Todavia é na adolescência que o indivíduo é requisitado a transformar-se, isto é claramente observado a partir dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Levando em consideração os aspectos psicológicos, neste período é que se constela o arquétipo do herói, tendo como objetivo estruturar outro padrão de consciência. A libido vai se direcionando para o externo (exogamia). Entretanto há muitas perdas neste período, tanto do corpo, quanto do papel de criança, entre outras coisas. Podendo levar o adolescente à procura de algo que o proteja deste sofrimento, entrando muitas vezes em contato com a droga (Silveira Filho, 1992). 21

4. PSICOLOGIA ANALÍTICA E DEPENDÊNCIA QUÍMICA A dependência química com enfoque junguiano foi pouco estudada, todavia há alguns estudos de relevância que serão citados neste capítulo. Desde tempos imemoriáveis há registros da procura de alteração dos estados de consciência a partir do uso de substâncias psicoativas, como por exemplo, os estimulantes, cocaína e a cafeína, que tem história de uso do século III a.c (Oliveira, 2005). A droga era utilizada principalmente em rituais, para possibilitar a transcendência, todavia, no século XX passou a ser utilizada predominantemente pelo prazer e êxtase que proporciona. Na visão junguiana leva-se em consideração a função transcendente pela qual se abre caminho para o processo de individuação, que é caracterizado pela necessidade de suportar conflitos decorrentes da tensão de pólos opostos (Oliveira, 2005). A busca por estados alterados de consciência é inerente aos seres humanos. Sendo uma das maneiras do sujeito transcender a experiência imediata, buscando o numinoso e a vivência da totalidade, à procura de si mesmo. Podendo ser o uso de drogas uma tentativa de vivenciar essa ligação com algo maior (Self) (ibidem). Foi observado por Weil (1972 apud Oliveira, 2005) que crianças descobrem e obtém prazer em brincadeiras que provocam estados alterados de consciência, como girar até ficar com tontura, prender a respiração, balançar, etc. Maxence (1992 apud Oliveira, 2005) contribui para compreensão da dependência a partir da psicologia analítica. Na concepção deste autor o dependente químico está à espera da revelação de si mesmo a si mesmo (p. 40). Segundo ele, o dependente não consegue levar a cabo o processo de individuação, pois espera voltar à 22

androginia primitiva, a um prazer solitário. Além disso, acredita que o dependente não aceita sua sombra, não conseguindo se ver por inteiro, permanecendo sem a personalidade total. Em relação ao desenvolvimento da personalidade do indivíduo, a dependência química denota uma estagnação neste processo, ou seja, há a repetição de um comportamento que não é elaborado. Isso ocorre porque o individuo não consegue lidar com seus problemas ou vivências, passando a utilizar a substância como um meio de se deparar ou atenuar o que sente. A estagnação no desenvolvimento da personalidade ocorre, pois o sujeito não lida com seus conteúdos emocionais, mas sim, torna-se escravo da substância, dificultando na individuação do sujeito. A individuação é o processo contrário da dependência química, pois esta estagna o desenvolvimento, já a individuação liberta o sujeito para que se torna o que é de fato, livre para escolher, desejar e realizar. A dependência aprisiona a individualidade do sujeito, dificultando que ele alcance a totalidade do seu ser (Oliveira, 2005). Silveira Filho (2002) discorre sobre a impossibilidade de se caracterizar uma personalidade do dependente (p. 18). Entretanto, acrescenta que o dependente encontra-se frente a uma realidade objetiva ou subjetiva insuportável, fazendo com que busque substâncias que alterem a percepção desta realidade. Além disso, configura o uso de drogas como uma lei do dependente, pois é a única referência estável, portanto as outras leis não existem enquanto código, ocasionando os atos infracionais e transgressão, devido ao desconhecimento destas leis. Os dependentes são indivíduos que não suportam a falta, a abstinência, já que na mudança da adolescência para a vida adulta, existem perdas, é como se os dependentes não pudessem se separar da mãe, o que ocorre nesta fase. Eles não conseguem se ver separados da mãe, impossibilitando o movimento da libido. Para 23

Maxence estes sujeitos, drogam-se com a esperança de reviver a dinâmica da Grande Mãe, pois querem rejeitar a ruptura, e para isso utilizam a substância (ibidem). Segundo Oliveira (2005) o uso de drogas provoca sensações agradáveis, permitindo que o sujeito acesse conteúdos inconscientes. Zoja (1992) afirma que a dependência pode ser compreendida como uma necessidade dos jovens resgatarem a experiência dos rituais de iniciação, de morte e renascimento, do profano ao sagrado, já que estes rituais se perderam na cultura. Sendo considerada por ele uma tentativa de reviver rituais, que eram comuns antigamente. Para este autor os jovens da sociedade atual, não vivenciam uma etapa do processo de iniciação, que é a morte iniciática, onde há a renúncia à identidade anterior a afastamento libidinal. Por fim, Zoja (1992) refere que o usuário de drogas inverteu o modelo, vivendo o renascimento como experiência inicial e morte como experiência final. Edinger (1972 apud Baptista 2008) relaciona o uso de cocaína e o conceito de inflação. Neste estado do ego, ele se encontra inicialmente dentro de si mesmo (estado urobórico original), ou seja, o ego somente existe como potencial, e apresenta-se em estado de inflação. Como o ego está localizado no si mesmo, ou melhor, na totalidade do ser, o ego percebe-se como uma divindade. No uso de cocaína o indivíduo apresenta sintomas muito semelhantes à inflação, como por exemplo, a euforia, desinibição, idéias de grandeza etc. Portanto, a utilização de drogas estimulantes pode ser considerada uma tentativa de restabelecer o estado de inflação original (Baptista, 2008). Atualmente é observado um aumento significativo do processo de dependência, a droga passou a ocupar lugar central na vida dos indivíduos, ao invés de 24

ser um elemento a mais na vida deste. Segundo Oliveira (2005) a droga deixa de ser ritualística e passa a ser uma forma de alienação de si mesmo. 25

5. TIPOS PSICOLÓGICOS Há centenas de anos os seres humanos tentam classificar as atitudes individuais e os padrões de comportamento para que torne possível descrever as diferenças de personalidade (Sharp, 1990). O sistema tipológico mais antigo foi elaborado pelos astrólogos orientais influenciado pela cosmologia. Neste modelo há quatro elementos principais (água, terra, ar e fogo) sendo que, em cada elemento estão reunidos três signos do Zodíaco, totalizando doze distintas atitudes (por exemplo: ar-aquário, gêmeos e libra ibidem). Além deste modelo, existe a tipologia fisiológica da antiga medicina grega, na qual os indivíduos eram classificados como fleumáticos, sangüíneos, coléricos ou melancólicos, conforme as denominações da secreção do corpo humano (Jung, 1976; Sharp, 1990). Todavia, neste trabalho será abordada a tipologia junguiana, também conhecida como tipos psicológicos. Este modelo nasceu de uma extensa revisão bibliográfica e histórica dos tipos citados na Literatura, Mitologia, Estética, Filosofia e Psicopatologia. A partir desta pesquisa Carl Gustav Jung escreveu os Tipos Psicológicos, que se tornou um dos livros mais importantes de suas obras completas (ibidem). Os tipos podem ser denominados como classes, grupos de pessoas com padrões de reação e atitudes típicas semelhantes. Estabelecendo as reações habituais, determinando deste modo, a natureza da experiência subjetiva. E também denota o tipo de atividade compensatória do inconsciente (Whitmont, 2004; Jung, 1976). 26

O propósito do modelo junguiano é a investigação metódica do material empírico, sendo de grande valia para a compreensão das variações de personalidade entre os indivíduos (Jung, 1976). O modelo de Jung leva em consideração o movimento da energia psíquica e ao modo como cada individuo se orienta no mundo, habitual ou preferencialmente (Sharp, 1990). Ou seja, Jung não perdeu o interesse pela exploração da consciência, mesmo que, em grande parte de sua teoria, estudou o inconsciente, ele não deixou de lado as relações do homem com o meio externo (Silveira, 1994). Jung sempre se interessou pelos problemas de comunicação entre as pessoas, vivenciando no consultório diversas situações em que o outro é o maior desafio na convivência cotidiana. A partir da observação destes problemas Jung formulou os tipos psicológicos, contribuindo sobremaneira para que os indivíduos se orientem melhor dentro do quadro de referência do outro (ibidem). Primeiramente, Jung observou e teorizou as atitudes introversão e extroversão, e percebeu que havia muitas variações dentro destas atitudes típicas. Deste modo, passou a observar empiricamente as diferenças entre ambas as atitudes, assim concluiu que estas divergências se davam devido a maneira que o indivíduo adaptava-se ao meio externo, ou seja, dependendo da função psíquica preferencialmente usada pelo sujeito. Desta forma, organizou as idéias e pontuou quatro funções conscientes de adaptação, que auxiliam no processo de reconhecimento do mundo exterior e orientação frente a este. Estas funções são sensação, pensamento, sentimento e intuição (ibidem). Estes são os oito grupos tipológicos que Jung (1976) formula: Duas atitudes da personalidade: introversão e extroversão. 27

Quatro funções de orientação: pensamento, sensação, intuição e sentimento, podendo cada uma delas atuar de modo introvertido ou extrovertido. É possível elucidar as atitudes e funções através dos esquemas abaixo (Ratis, 1986): ATITUDES EXTROVERTIDO (voltado para o objeto) INTROVERTIDO (voltado para o sujeito) FUNÇÕES RACIONAIS SENTIMENTO ( juízo de valor ) PENSAMENTO ( juízo de realidade ) FUNÇÕES IRRACIONAIS INTUIÇÃO (captação de potenciais) SENSAÇÃO (concretude imediata) FIGURA 1 - Esquema das atitudes e das funções. 28

O modelo tipológico junguiano abarca a relação entre as quatro funções, sendo considerada uma quaternidade, ou seja, composta por quatro elementos (Sharp, 1990). PENSAMENTO INTUIÇÃO SENSAÇÃO SENTIMENTO FIGURA 2 As funções apresentadas no modelo quaternário. Segundo Jung (1976) para que haja uma orientação adequada, todas as funções devem contribuir igualmente. O sistema tipológico é um indicador geral das características que as pessoas têm em comum e também das diferenças entre estas. Entretanto, é necessário frisar que nenhum indivíduo é um tipo puro, já que reduzir a personalidade a algumas características seria inadequado, pois o ser humano é formado por um conglomerado de atitudes e funções, demonstrando que a personalidade não é estrutura estanque (Sharp, 1990). 5.1 As atitudes Introversão e Extroversão As atitudes se caracterizam por formas psicológicas de adaptação à realidade, ou seja, a forma como o ego vai se orientar frente ao meio (Sharp, 1990; Stein, 2006). 29

Estes termos foram criados e introduzidos em psicologia por Jung, popularizando pelo mundo todo (Silveira, 1994). Na atitude introversão o movimento da energia psíquica é direcionado para o mundo interior (o próprio sujeito, ou seja, se orienta por fatores subjetivos), ou seja, a libido recua diante do objeto, pois este sempre parece ter algo de ameaçador que pode afetar o indivíduo (Sharp, 1990; Silveira, 1994). As principais características do indivíduo introvertido são: reserva, recuo diante dos objetos, reage defensivamente, conservador, prefere o ambiente familiar e conversar com amigos, natureza vacilante e meditativa, prefere a companhia dos livros à de pessoas, reflete antes de agir, controlado, retraído com pessoas que não são íntimas, prefere atividades solitárias, etc. (Jung, 1976; Zacharias, 2003; Sharp, 1990). Jung (1976) descreve o tipo introvertido distingue-se do extrovertido pelo fato de que não se orienta, como o segundo, pelo objeto e pelo objetivamente dado, mas por fatores subjetivos (p. 434). A atitude extroversão se caracteriza pelo oposto da introversão, o movimento da energia, ou melhor, a atenção é dirigida para o mundo exterior, o objeto (as outras pessoas, coisas, são mais importantes) (Sharp, 1994; Zacharias, 2003). Para Silveira (1994) na extroversão a libido flui sem embaraços ao encontro do objeto (p. 52). Indivíduos extrovertidos possuem as seguintes características: francos, se adaptam com facilidade às situações, estabelecem ligações ou vínculos rapidamente, se arriscam confiantes às situações desconhecidas, aprecia ação, se expressa melhor falando, gosta mais de ouvir, impulsivo, gosta de movimento e mudanças constantes, pode ser agressivo, age impensadamente, resposta rápida a qualquer situação, etc. (Jung, 1976; Zacharias, 2003; Sharp, 1990). 30

As duas atitudes extroversão e introversão são consideradas normais e encontradas em todas as culturas, no entanto, ambas as atitudes em grau exagerado podem tornar-se patológicas (Silveira, 1994). 5.2 Pensamento e Sentimento (as funções racionais ou avaliativas) A função psíquica pensamento refere-se ao processo cognitivo, racional (julgamento) (Sharp, 1990). O pensamento tem como função esclarecer os significados dos objetos, julgar, classificar e discriminar as diferenças (Silveira, 1994). O indivíduo reflexivo está atento á causalidade lógica de seus atos, avalia os prós e contras de uma situação, busca padrão objetivo da verdade, gosta da organização e da lógica, baseia seu julgamento em padrões universais e coerentes, voltado à razão, mostra-se frio em seus julgamentos, porém faz as análises sem julgamentos pessoais (Zacharias, 2003). A função sentimento se caracteriza por fazer estimativas dos objetos levando em consideração os valores pessoais, é baseado na lógica do coração (Silveira, 1994). Para Sharp (1990) o sentimento é a função da avaliação subjetiva. Segundo Zacharias (2003) a função sentimento não pode ser confundida com emoção, deve ser compreendida em relação à dimensão valorativa das pessoas e coisas, ou seja, um valor pessoal. O sentimental decide-se com base em seus valores pessoais, pois sempre leva em consideração o que sente e o que os outros sentem. Respeita as idiossincrasias humanas, é voltado às relações pessoais, mostrando-se receptivo e habilidoso para lidar com pessoas. Sente forte atração pela história e pelas tradições. 31

5.3 Sensação e Intuição (as funções irracionais ou perceptivas) A sensação enquanto função torna possível a constatação da presença das coisas que nos cercam e é responsável pela adaptação do indivíduo à realidade objetiva (Silveira, 1994, p.55). A sensação de forma geral é a percepção através dos órgãos dos sentidos (Sharp, 1990). O sensitivo confia em seus órgãos sensoriais para compreender objetivamente uma situação, preocupa-se mais com o aqui e agora, ou seja, no dado imediato. Tem maior habilidade para lidar com dados reais e objetivos, sendo práticos e realistas. Tem facilidade para lidar com máquinas e objetos que necessitem de precisão e cuidados, gosta de manter as coisas em funcionamento e prefere executar ao invés de planejar, necessitando de dados concretos para avaliar as situações (Zacharias, 2003). Na função intuição a via de percepção é o inconsciente (Silveira, 1994; Sharp, 1990). O intuitivo leva em consideração o que esta acontecendo no momento, entretanto esta não é sua preocupação. Preocupa-se mais com os significados, nas relações e nas possibilidades futuras inerentes ao que percebe. Tem habilidade para observar o todo e não as particularidades de uma situação, busca novas soluções, novas estratégias, intui novas possibilidades e é imprevisível em suas ações, prefere planejar do que executar e é muito útil quando é necessário avaliar situações que não possuem muitos dados ou aparentemente não têm solução (Zacharias, 2003). 32

5.5 Função Principal, Função Auxiliar e Função Inferior A tipologia junguiana é permeada pela concepção de que existem possibilidades de adaptação do indivíduo à realidade, isto é visto através das funções que se opõem entre si aos pares. Deste modo, um dos opostos tende a se desenvolver mais, configurando a função principal. Esta função é auxiliada por alguma das quatro funções que se desenvolveu mais do que sua oposta, sendo denominada de função auxiliar. As outras funções tornam-se subdesenvolvidas, sendo consideradas funções inferiores, tendendo a permanecer mais próximas do inconsciente (De Moraes; Primi, 2002). A função inferior é aquela que é menos utilizada pelo indivíduo, permanecendo em um estado mais primitivo e infantil, tornando-se inconsciente (Sharp, 1990). 33

6. JUSTIFICATIVA A tipologia junguiana considera que os indivíduos apresentam padrões de comportamento e atitudes semelhantes no plano consciente, todavia estas podem ser influenciadas por situações cotidianas levando-as a adaptação. Na concepção junguiana os seres humanos nascem com algumas características típicas de personalidade, contudo podem ser modificadas conforme as experiências vivenciadas. No caso dos dependentes químicos se sabe que com o uso de substâncias psicoativas estas características e atitudes são modificadas, devido às intercorrências da vida. Todavia pode-se afirmar que não existe uma personalidade preestabelecida do dependente químico (Silveira Filho, 2002), porém após observação dos pacientes atendidos no CRATOD, em atividades, grupos e oficinas, foi possível perceber que usuários de cocaína ou crack apresentavam algumas semelhanças nas atitudes e comportamentos. A forma destes se relacionarem com o meio mostrava semelhanças tipológicas, por isso foi definida a utilização do QUATI, que avalia os tipos psicológicos da teoria junguiana. Levando em consideração estas observações feitas no CRATOD surgiu uma hipótese de que os dependentes de cocaína ou crack obteriam maior pontuação na função principal SENSAÇÃO. Após a realização da revisão bibliográfica foi possível perceber que apesar de existirem trabalhos relacionados aos usuários de cocaína ou crack, observa-se uma escassez de estudos voltados à psicologia analítica, principalmente aqueles relacionados à tipologia junguiana. A obtenção de dados sobre as características de personalidade destes indivíduos poderá contribuir para o tratamento e manejo mais eficaz. Por isso, é de 34

extrema importância e relevância a realização desta pesquisa, para um maior aprofundamento do tema proposto. 35

7. OBJETIVO O objetivo desta monografia foi avaliar a existência dos tipos de personalidade a partir do modelo da psicologia analítica dos dependentes de cocaína ou crack atendidos no CRATOD. 7. 1 Objetivos Específicos Contribuir para o conhecimento do paciente dependente de cocaína ou crack. Analisar os pacientes dependentes sob a perspectiva da teoria junguiana. Avaliar a possibilidade do uso do Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI) como instrumento para investigação psicodinâmica do paciente dependente de cocaína ou crack. Mensurar os tipos psicológicos prevalecentes em dependentes de cocaína ou crack, para posteriormente utilizar os dados obtidos para a elaboração e estruturação de atividades específicas direcionadas aos sujeitos de cada tipologia, ou ainda, cada atitude ou função preferencialmente usada pelo indivíduo. Pois, sistematizando as informações de cada tipo psicológico, pode-se alcançar uma maior aderência nas atividades, devido a melhor compreensão das características de personalidade dos pacientes. 36

8. METODOLOGIA 8.1 Sujeitos de pesquisa Os sujeitos de pesquisa foram os pacientes do CRATOD inseridos no tratamento em regime intensivo ou semi-intensivo, dependentes de cocaína ou crack, sendo considerada pelos pacientes como droga de preferência uma das duas. Muitos dos pacientes desta instituição fazem uso concomitante de diversas drogas. Participaram da pesquisa pacientes inseridos em ambos os regimes devido a falta de voluntários para a participação da pesquisa. Não havia a necessidade que os pacientes estivessem abstinentes da substância para participarem da entrevista especifica e do Questionário de Avaliação Tipológica - QUATI. 8.2 Instrumentos O instrumento utilizado foi o QUATI Questionário de Avaliação Tipológica. Este questionário é um teste situacional composto por 93 questões que são divididas em seis situações específicas (a festa, o trabalho, a viagem, o estudo, o lazer e pessoal). Nestas questões há duas possibilidades de resposta a ou b, podendo ser escolhida somente uma. São possíveis dezesseis tipos psicológicos como resultado deste teste (oito tipos introvertidos e oito extrovertidos, com as respectivas funções, principal e auxiliar). 37

Este questionário foi publicado no Brasil por Zacharias (2003). O instrumento baseado no modelo junguiano mais utilizado era o Myers Briggs Type Indicator, padronizado em 1962 por Myers (1995 apud De Moraes; Primi, 2002). Em 2003 a precisão e a validade do QUATI foram obtidas por meio do método teste-reteste. Comparando os resultados das duas pesquisas foi possível afirmar que são semelhantes em relação às dimensões Introversão e Extroversão e Pensamento e Sentimento. Todavia na polaridade Intuição e Sensação os coeficientes encontrados foram distintos, o que pode ser explicado pela hipótese de que estas funções por serem perceptivas, estejam mais propensas e sensíveis a interferências momentâneas (Zacharias, 2003). 8. 3 Procedimentos e métodos Primeiramente foi realizada uma revisão de literatura e posteriormente elaborada a entrevista específica (semi-estruturada) com quatro questões abertas para obtenção de dados referentes às características de personalidade e relação com o uso da substância (anexo A). Os pacientes foram escolhidos aleatoriamente durante as atividades do regime intensivo e semi-intensivo, quando foram convidados a participar da pesquisa. O critério para participar da pesquisa foi que o paciente fosse dependente de cocaína ou crack, informação que foi confirmada no prontuário individual. Aqueles que aceitaram participar assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (anexo B), conforme os preceitos éticos que regem pesquisas com seres humanos. 38

Os dez sujeitos que participaram foram entrevistados individualmente, quando foi aplicado o QUATI - Questionário de Avaliação Tipológica (Zacharias, 2003). Todavia não poderá ser anexado neste trabalho, devido a proibição de reprodução parcial ou total do questionário. È importante esclarecer que três sujeitos não deram continuidade na participação da pesquisa, sendo seus dados desconsiderados. Após a correção dos testes houve a devolutiva individual e elaboração dos resultados e da discussão. 39

9. RESULTADOS Os resultados foram apresentados de duas maneiras, através da análise quantitativa (resultados dos testes - QUATI) e da qualitativa (entrevistas semiestruturadas e prontuários). Os dez sujeitos da pesquisa eram usuários de cocaína ou crack. No entanto, cinco pacientes utilizavam preferencialmente crack, quatro usavam cocaína e um relatou utilizar as duas substâncias. A faixa etária dos participantes foi entre os 28 aos 48 anos de idade (Tab. 1). A situação habitacional observada na maioria da amostra foi de albergue (Tab. 3). E a escolaridade obtida em quatro dos sujeitos foi ensino fundamental incompleto e três com superior incompleto, mostrando a disparidade de formação educacional (Tab. 2). As profissões desempenhadas pelos participantes foram diversas: ajudante geral, comerciante, captador de imóveis, artesão, professor, cozinheiro, técnico em informática, ajudante de gráfica. Todavia, a maioria dos pacientes estão desempregados (Tab. 4). Além do diagnóstico de transtornos decorrentes do uso abusivo ou dependência de substâncias psicoativas, havia pacientes com comorbidades associadas. Um foi diagnosticado com distimia e transtorno mental decorrente de lesão e disfunção cerebrais e de doença física não especificada; outro apresentava retardo mental leve; um apresentava suspeita de esquizofrenia paranóide; outro paciente apresentava diagnóstico de cleptomania; outro paciente tem o diagnostico de depressão recorrente e mais um paciente com episódio depressivo leve e transtorno de personalidade emocionalmente instável. 40

Faixa etária 28-33 33-38 39-45 46-48 Total 3 4 1 2 TABELA 1- Faixa etária dos participantes da pesquisa Escolaridade Ensino Ensino Ensino Superior Superior Fundamental Médio Médio Completo Incompleto Incompleto Incompleto Total 4 1 1 1 3 TABELA 2- Escolaridade dos participantes da pesquisa Situação Situação Albergue Casa dos Mora habitacional de rua pais sozinho (própria) (aluguel) Total 1 5 2 2 TABELA 3- Moradia dos participantes da pesquisa Situação Empregatícia Empregado Desempregado Total 3 7 TABELA 4- Situação empregatícia dos participantes da pesquisa 41

9.1 Resultados QUATI O resultado quantitativo obtido no questionário confirmou a hipótese prevista, de que a função principal preponderante seria a sensação, o que foi comprovado. Dos dez indivíduos pesquisados seis obtiveram pontuação que os caracterizaram como sensitivos, ou seja, a forma de orientação consciente foi predominantemente a da função sensação (Fig. 4). A segunda função principal observada foi o sentimento, com a pontuação de dois sujeitos. As funções intuição e pensamento contaram com um sujeito cada uma (Fig. 4). Já a função auxiliar que teve maior resultado foi o pensamento (Fig. 5). Em relação às atitudes, a introversão teve maior resultado, dos dez sujeitos participantes, seis foram avaliados como introvertidos e quatro como extrovertidos. O que significa que a forma de lidar com a libido é em sua maioria voltada para a própria subjetividade do sujeito (Fig. 3). A função inferior encontrada na amostra foi a função intuição, ou seja, a função oposta à principal sensação. Demonstrando que os pacientes usuários de crack ou cocaína apresentam dificuldade para obter informações do meio externo, por intermédio do inconsciente. O que pode ser visualizado pela concretude em que se relacionam com o ambiente (Fig. 6). O tipo psicológico mais encontrado na amostra foi o tipo introversão, com função principal sensação, função auxiliar pensamento e função inferior intuição (I Ss Ps) (Fig. 7). Esta maneira de se relacionar com o consciente torna este tipo psicológico preferencialmente, indivíduos confiáveis, realistas, apresentam facilidade par absorver e lembrar fatos, gostam das coisas muito claras e bem explicadas, possuem dificuldade para demonstrar o que sentem publicamente, aparentemente calmos e seguros em situações de crise, sistemáticos, conservadores, as vezes são um pouco dominadores 42

com pessoas menos assertivas que elas, perseverantes, impulsivos, podem ter problemas se não desenvolverem as funções cognitivas, podendo se fechar demasiadamente em si mesmos, colocando toda a atenção nas próprias reações e nas impressões proporcionadas pelo sensório, necessitam acreditar mais na intuição e imaginação (função inferior) para desenvolver as informações vindas por esta via (Zacharias, 2003). Atitudes 60 40 extroversão introversão FIGURA 3 Atitudes observadas na amostra. 43

Funções Principais 20 10 10 60 sensação intuição sentimento pensamento FIGURA 4 Funções principais observadas na amostra. Funções Auxiliares 40 sensação 20 10 intuição sentimento pensamento 30 FIGURA 5 Funções auxiliares observadas na amostra. 44

Funções Inferiores 20 10 10 sensação intuição sentimento pensamento 60 FIGURA 6 Funções inferiores observadas na amostra (oposta a função principal). 30 10 10 Tipos Psicológicos 10 10 10 10 10 Extroversão Sensação Sentimento Extroversão Sentimento Sensação Extroversão Pensamento Intuição Extroversão Sensação Pensamento Introversão Intuição Sentimento Introversão Sentimento Sensação Introversão Sensação Pensamento Introversão Sensação Sentimento FIGURA 7 - Tipos Psicológicos observados na amostra. 45

9.2 Entrevistas específicas (semi-estruturadas) Os aspectos mais relevantes obtidos nas entrevistas específicas foram: Todos os sujeitos da pesquisa responderam que perceberam mudanças de comportamento após inicio do consumo de cocaína ou crack. Em relação a suas características de personalidade àquelas mais observadas foram respectivamente, comunicativo e impulsivo seguidos de oscilações de humor, explosivo e altruísta. No tocante a situações estressantes ou frente às dificuldades, a maioria referiu usar drogas para resolver os problemas, em seguida relataram explodir de raiva/irritação/agressividade e alguns tentam resolver da melhor maneira e tornam-se introspectivos. Nas situações alegres e satisfatórias referiram fazer uso da substância, e que sentem muita alegria/euforia. A maioria dos sujeitos relatou que se tornaram mais explosivos, estressados, agressivos ou irritados. Relataram que eram pacíficos e normais (sic), respectivamente. Muitos dos sujeitos pesquisados referiram ter dificuldade para lidar com emoções e sentimentos. 46