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Edição 06 2013 Mar à vista O litoral paranaense como você nunca viu Teodoro & Theodoro Dupla empreendedora: o cantor e o pioneiro Décadas de tradição Hotel Bourbon, Kiberama e Hospital do Câncer de Londrina

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editorial O fio dessa meada Perder o fio da meada é uma expressão que ainda sobrevive para ilustrar a não continuidade no fluxo de uma conversa. Dizem que remonta à Revolução Industrial, quando os operários de tecelagem não podiam descuidar do abastecimento da matériaprima nas máquinas. Não sabemos ao certo. Mas temos certeza que essa analogia traduz um risco intensamente enfrentado por quem produz uma revista periódica. Isso porque com o passar do tempo, e das edições, a sociedade muda, as pessoas envolvidas no processo mudam e a publicação tende a se transformar. Na Living Vectra, claro, vivenciamos também esse processo. E, ao mesmo tempo em que procuramos evoluir com novos temas e pautas inéditas, não queremos perder o fio da meada e a coerência com nossas propostas iniciais: valorizar pessoas, instituições e lugares, do presente e do passado, que fazem parte de nossas vidas. É a nossa humilde contribuição para um futuro melhor e estamos firmes nesse propósito. Aqui está a sexta edição, em suas mãos, como comprovação. O ponto de partida dessa Living Vectra é o porto de chegada da colonização no Paraná: o litoral. Nossa equipe percorreu as cidades de Antonina, Morretes e Guaraqueçaba atrás de suas belezas e curiosidades turísticas. Abordamos ainda as lembranças em torno dos 50 anos do grande incêndio que devastou o Estado, em destaque no livro de José Luiz Alves Nunes. Na terra vermelha, estão em evidência nessa edição três instituições e duas personalidades muito admiradas pelos londrinenses: o Hospital do Câncer, o Restaurante Kiberama, o Hotel Bourbon, o cantor e compositor Teodoro e o pioneiro Theodoro Victorelli, que dá nome à avenida do Marco Zero. Além de matérias exclusivas de cultura, comportamento, esporte, arquitetura e design. Aproveitamos esse último editorial do ano para agradecer a todos que colaboram com a Living Vectra. Você que sugeriu uma pauta. Você que compartilhou seu exemplar com um novo leitor. Você que acreditou na revista para anunciar. Fica o convite para que, em 2014, nos ajude novamente a manter o fio dessa meada. Fábio Mansano Coordenador de comunicação Vectra Construtora Na capa, o pôr-do-sol na Baía de Guaraqueçaba (PR) Este selo indica que o papel utilizado nesta publicação foi produzido com madeiras de florestas certificadas FSCR (Forest Stewardship Council) e de outras fontes controladas.

#/.3425 ²/ s!#!"!-%.4/ s "2)#/,!'%- s $%#/2! ²/ s *!2$).!'%- Além de variedade e qualidade, a Leroy Merlin ainda tem mais para você. Os menores preços para transformar a sua casa estão na Leroy Merlin. Só aqui você tem a Garantia Leroy Merlin do Menor Preço*. Se você encontrar preço menor na concorrência, a gente devolve a diferença em dobro para você. Confira! LONDRINA - PR Av. Theodoro Victorelli, 650l - Jd. Helena, Marco Zero, próximo à Rodoviária. Segunda a sábado, das 8h às 22h. Domingos e feriados, das 9h às 20h. Central de Atendimento Leroy Merlin: Capitais 4020-5376 s $EMAIS 2EGIÜES 0800-0205376 *Condições válidas para produtos anunciados em tabloides e similares, bem como para aquisições feitas no prazo de até 10 dias. Consulte nossas lojas ou nosso site para verifi car demais condições. Os elementos utilizados para a produção das fotos são meramente ilustrativos. TWITTERCOM,EROY-ERLIN"RA FACEBOOKCOM,EROY-ERLIN"RASIL INSTAGRAMCOMLEROYMERLINBRASIL PINTERESTCOMLEROYMERLINBR YOUTUBECOM,EROY-ERLIN"RA GOOGLECOMLEROYMERLINBRA www.leroymerlin.com.br

expediente Edição 06 Novembro - 2013 Living Vectra é uma publicação periódica da Vectra Construtora Ltda. Tiragem: 5.000 exemplares Impressão: Midiograf Para anunciar: 43 3376-4444 A revista LIVING VECTRA é uma publicação de distribuição gratuita e dirigida e seus exemplares não podem ser comercializados. www.livingvectra.com.br mag Av. Harry Prochet, 1200 Jardim São Jorge - 43 3324-1200 CEP 86047-040 - - Londrina - PR Pauta, texto e edição: Karla Matida e Rosângela Vale Fotografia: Fábio Pitrez Diagramação: Vitor Hugo Arambul Gouvea Colaboração: Paulo Briguet, Gabriel Teixeira e Fábio Alcover Rua Dr. Elias César, 55-14º andar Jardim Caiçaras - 43 3376-4444 CEP 86015-640 - Londrina - PR Diretor-presidente: Manoel Luiz Alves Nunes Diretora-administrativa: Roberta Nunes Mansano Coordenador de comunicação: Fábio Mansano Equipe de comunicação: Ana Luisa Sversutti, Brunno Borghesi e Rafael Urbano É proibida a reprodução parcial ou completa do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da Editora 1200th. Somente as pessoas que constam neste expediente são autorizadas a falar em nome da revista. cartas contato@livingvectra.com.br Cartas, críticas e sugestões Este espaço na Living Vectra está aberto a vocês, leitores, para sugestões e críticas, que podem ser enviadas para contato@livingvectra.com.br. Caso queira receber a publicação em casa, envie-nos um e-mail com seus dados para cadastro.

CRECI 3468-J/PR. Um jardim para você no London Hills. 2º EMPREENDIMENTO 108 M² PRIVATIVO S 3 DORMS. 1 SUÍTE LAZER COMPLETO E DIFERENCIADO Informações: 43 3376 4476

ÍNDICE 26 Fitness Para os ultramaratonistas, que encaram percursos de até 250 quilômetros, equilíbrio psicológico é mais importante que força física 32 Estante Destacando vários lançamentos da Vectra, London Hills leva sotaque britânico à Gleba Palhano Sala de estar 10 A arquiteta Marilda Batista aproveitou de forma inteligente e charmosa os 54 metros quadrados de seu apartamento no Ritz Residence Mobília 14 Quem é o designer industrial Guto Índio da Costa, expert em criar sucessos de vendas Porta-retrato 18 Em viagem pelo Paraná, o fotógrafo Milton Dória registrou a paisagem do Centro-Oeste tingida de amarelo Hall 20 Atendendo pacientes de 200 municípios, e com demanda crescente, Hospital do Câncer de Londrina vai ganhar novo prédio Biblioteca 60 Em livro recém-lançado, o geógrafo José Luiz Alves Nunes faz um mapa textual do maior incêndio florestal da história do Paraná Lounge 64 Memórias e histórias dos 50 anos do Hotel Bourbon Londrina, ponto de encontro de políticos e artistas Área de serviço 68 Como limpar mármores e granitos e mantê-los bonitos e bem conservados Moldura 70 Prestes a completar 50 anos de carreira, Aldair Teodoro da Silva fala de sua trajetória artística e do sucesso da dupla Teodoro & Sampaio Sacada 76 Em oito anos de atividades, Coral Infantil Crystal Vectra vem ajudando a construir cidadãos

Alto-falante 80 Com Avante, o cantor e compositor pernambucano Siba soltou a voz na recente edição do Vectra ConstruSom Álbum 82 Os oito anos do Coral Infantil Crystal Vectra, a entrega do Evolution Home Alto da Palhano, lançamento de livro na Vectra Store e o show de Siba no Vectra ConstruSom Galeria 86 Com aumento no número de inscrições, sexta edição da Maratona Fotográfica Clic o Seu Amor por Londrina trouxe diferentes olhares sobre a cidade Janela 90 Quem foi Theodoro Victorelli, pioneiro que dá nome à avenida do Marco Zero de Londrina Objeto de desejo 98 As versões coloridas do icônico fogão Viking, sonhos de consumo de qualquer gourmet 94 City-tour Há quase meio século, Kiberama é sinônimo de gastronomia árabe em Londrina 38 Área de lazer Guaraqueçaba, Morretes, Antonina, Superagui e Salto Morato: o litoral paranaense que merece ser descoberto

sala de estar Espaço multiplicado 10 Living Vectra

A arquiteta Marilda Batista com a cidade ao fundo: pôr-do-sol belíssimo Com a expertise de arquiteta, Marilda Batista faz render os 54 metros quadrados do seu apartamento no Ritz Residence Por Karla Matida Fotos Fábio Pitrez Quando se casou, cerca de um ano e meio atrás, a arquiteta Marilda Batista sabia que seu novo endereço seria no centro da cidade. Meu marido sempre morou no centro e não queria sair daqui, explica. A escolha do casal foi um apartamento no Ritz Residence. Dá para ir a pé aos lugares, tem restaurantes próximos, é muito prático, observa. O apartamento, de 54 metros quadrados privativos, serve muito bem ao casal, e também aos amigos e familiares. Recebemos de três a quatro casais de amigos a cada 15 dias, explica, enfatizando que chegam a ser 10 pessoas nos jantares. Com a expertise de arquiteta, Marilda otimizou o espaço na sala, colocando a mesa de jantar junto à parede, saindo da bancada desenhada por ela. Os espelhos e as cores claras dos móveis refletem e ampliam, ensina. Mas eu não deixei de colocar o preto, que é uma cor de que gosto. Então tem preto nos pufes e no tapete, aponta a arquiteta, que optou por laca branca nos móveis. A iluminação também é pontuada. Atenta aos detalhes, Marilda usou pastilhas coloridas para dar um toque especial à pia, deixando o espaço mais charmoso. Eu e meu marido gostamos de cozinhar. Além de receber os amigos quinzenalmente, o casal também abre o apartamento para a família nos almoços de domingo. Nessas ocasiões, o cardápio geralmente é o churrasco preparado na sacada, que tem outra mesa para quatro lugares.

Móveis claros, espelhos e iluminação estratégica ajudam a ampliar os espaços 12 Living Vectra

Como não tinha espaço para uma mesa de centro em frente ao sofá, fiz um nicho de vidro próximo à parede, que serve de apoio, lembra. Abaixo da televisão fica o aparador multiuso, para eletrônicos e decoração no dia a dia e também para pratos e afins quando o casal recebe convidados. Estou sempre trocando a decoração, comprando peças novas, conta. Assim como prezo o conforto nos projetos, aqui em casa também é assim. A cama, por exemplo, é um pouco maior que o convencional, conta Marilda, que optou por deixar o closet no segundo dormitório. Além da cama maior, o quarto do casal ainda conta com uma televisão e o camarim, que é como eu chamo meu espaço para maquiagem, diverte-se a arquiteta. Enquanto meu marido se arruma no banheiro, eu tenho meu canto com espelho. O lazer do Ritz Residence não passa despercebido. Os prédios grandes do centro não têm uma área de lazer como a que tenho aqui e que são comuns nos prédios da Gleba, salienta Marilda. Uso a piscina todo final de semana, já fiz uma festa de aniversário no espaço gourmet. Posso dizer que usei bem a área de lazer, que é toda novinha e montadinha. A arquiteta ainda destaca a qualidade dos acabamentos do apartamento. O porcelanato no piso facilita a manutenção, ressalta. E a vista que tenho do pôr-do-sol aqui na sacada é maravilhosa, suspira. Hall de entrada do Ritz Residence: localização privilegiada no centro da cidade Living Vectra 13

mobília Muito além da forma Por Rosângela Vale Fotos Divulgação Para o designer carioca Guto Índio da Costa, expert em criar sucessos de vendas, a essência do design está na concepção Máquinas, motores e outras invenções causam fascínio nas mentes masculinas desde a mais tenra idade. A maioria dos garotos crescidos vai alimentar essa paixão dirigindo carros potentes e usufruindo das maravilhas da tecnologia. Outros se tornam protagonistas dessa história, ocupando o posto de criadores no encantado mundo das coisas. Foi assim com o designer carioca Guto Índio da Costa, que sonhava em projetar aviões e hoje é o responsável por algumas das inovações mais bem-sucedidas da indústria brasileira. A mais notória delas é a linha de ventiladores de teto Spirit, sucesso milionário que não só alavancou sua carreira como criou do zero uma empresa que leva o nome do produto campeão. Com design minimalista, o ventilador de duas pás translúcidas e opacas, feitas de policarbonato, material usado nas janelas dos aviões, teve mais de dois milhões de unidades vendidas, recebeu o aval do Oscar do desenho industrial, o alemão IF Award, e outros 20 prêmios de qualidade e fez da Spirit a marca mais reconhecida de ventiladores de teto do Brasil. Spirit of Saint Louis era o nome do primeiro avião a atravessar o Oceano Atlântico, em 1927. Com o ventilador, que tem um preço médio unitário de R$ 200, Guto desmistificou a ideia de que o design é para poucos. E mostrou que o ofício de designer é muito mais abrangente do que se costuma imaginar. O que me proponho a fazer é a gestão do design e inovação de uma empresa ou de uma marca, explica. Segundo ele, design industrial não é só fazer um produto bonito, funcional e moderno, mas também viável econômica e tecnicamente. Como fazer um carro ser fabricado a cada X horas? Isso faz parte da competitividade das empresas. Não por acaso, seu escritório tem no nome a sigla AUDT Arquitetura, Urbanismo, Design e Transportes. Ao longo de mais de 20 anos de atividades, ele e sua equipe foram responsáveis por mais de uma centena de projetos, de lanchas, banheiras, fogões, torneiras e móveis a revitalizações de grandes áreas, como a dos quiosques da orla de Copacabana e a reurbanização do Leblon, feitos em parceria com o seu pai, o arquiteto Índio da Costa. O designer tem uma visão micro que eu acho extremamente boa para o arquiteto, que tem uma visão macro. A complementação dessas duas visões faz trabalhos extraordinários, observa. 14 Living Vectra

O grande mote do desenho industrial é como melhorar a vida das pessoas, como criar produtos que tragam uma experiência de uso melhor do que a gente tem, define o designer

Para quem se espanta com a abrangência de suas criações, ele avisa: A gente não entende de tudo, realmente. A gente entende de gente; sabe como as pessoas gostariam de usar as coisas. O grande mote do desenho industrial é como melhorar a vida das pessoas, como criar produtos que tragam uma experiência de uso melhor do que a gente tem, esclarece. Um bom exemplo dessa máxima é o trabalho desenvolvido para a Arno, que resultou em um produto inovador e em mais um sucesso de vendas. Antes de tudo, foi feito um estudo com donas de casa: durante 30 dias, uma equipe observou seus hábitos ao lavar roupas. E, entre muitas coisas, percebeu-se que 100% delas lavavam lingeries à mão e não na máquina. O escritório fez alguns protótipos e, depois de testes com novos grupos de consumidoras, a Arno então lançou a máquina de lavar com um compartimento separado para roupas íntimas e delicadas, que não encosta na turbina e nas demais roupas. O produto respondeu a um desejo não verbalizado e inaugurou uma nova categoria no segmento de máquinas de lavar. Veja: o design está na concepção, muito mais no que na forma, argumenta Guto. Do seu bem-sucedido portfólio fazem parte outros trabalhos premiados internacionalmente, como o sistema modular Carrapixxxo, a banheira de hidromassagem Smarthydro e a garrafa Alladin, criada em 1998 para ser vendida em lojas populares por menos de R$ 10 e hoje exportada para vários países. Das criações mais recentes, o destaque é a cadeira ICZERO1, feita a partir de polipropileno reforçado com fibra de vidro que suporta até 160 quilos. Disponível em oito cores, é uma releitura das cadeiras de bar em plástico injetável, conhecidas por serem quase descartáveis. Outra novidade é a linha de puxadores minimalistas IC/ARCO, que se diferenciam por usarem um sistema de rolete (não precisam ser girados) e, principalmente, por possibilitarem o trancamento da porta, com um miolo embutido no próprio corpo. Guto defende que o bom design deve ser funcional, fabricado da forma mais simples possível, otimizando o uso de energia ou de materiais, além de ter uma preocupação estética e ecológica. O próximo passo do design é o reuso; não partir da matéria-prima virgem, mas do lixo. A gente precisa transformar resíduo em recurso. Esse é o futuro da civilização e o grande desafio do designer hoje. Os quiosques da orla de Copacabana têm a assinatura do escritório de Guto, que não por acaso tem no nome a sigla AUDT: Arquitetura, Urbanismo, Design e Transportes 16 Living Vectra

1 1 - Linha de puxadores da linha IC/Arco, fabricada pela Obispa: design que possibilita o trancamento da porta, com miolo embutido no próprio corpo 2 - Prateleira Carrapixxxo Lytus: pequenas semiesferas se fixam à parede de maneira rápida e descomplicada e permitem reconfigurações em ambientes diversos 3 - Releitura das cadeiras de plástico usadas em bares, a ICZERO1 é feita em polipropileno reforçado com fibra de vidro e resiste até 160 quilos. Ganhou diversos prêmios e integra a coleção permanente do Kunststoff Museum em Düsseldorf, na Alemanha 2 3

porta-retrato 18 Living Vectra

Foto Milton Dória No ano passado, durante os meses de julho, agosto e setembro, o fotógrafo Milton Dória percorreu cerca de 11.300 quilômetros no Paraná, ao lado do jornalista José Maschio. Juntos produziram o anuário comemorativo dos 20 anos do Senar-PR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). A dupla fez um raio-x de 20 cadeias produtivas do Estado. A canola acabou ficando de fora do anuário, mas todo seu esplendor amarelo foi devidamente registrado pelo fotógrafo em Candói, região Centro-Oeste. Living Vectra 19

hall Missão: ajudar Qualquer pessoa que bata à nossa porta, com qualquer tipo de câncer, nós temos que acolher, explica Nelson Dequêch, presidente do Hospital do Câncer de Londrina, sobre a nobre missão do HCL. Inaugurado em 8 de novembro de 1965, o HCL nasceu da ideia de um grupo de altruístas que já tinha construído o Lar Anália Franco e o Albergue Noturno, lembra Dequêch. Às vésperas de completar 50 anos, Hospital do Câncer de Londrina atende cerca de 200 municípios e faz 1.200 procedimentos diários; 93% dos pacientes são provenientes do SUS Por Karla Matida Fotos Fábio Pitrez O nome de Lucilla Ballalai se destaca no grupo por conta do seu empreendedorismo voluntário. Quase 50 anos atrás, ela fundou o que hoje representa uma luz para milhares de pessoas no diagnóstico, tratamento, acompanhamento e prevenção do câncer, descreve Mara Rossival Fernandes, gestora de ações estratégicas e projetos do HCL. Entre idas e vindas, Mara já perdeu as contas de quantos anos está a serviço do hospital. Ela é nosso arquivo vivo, avisa Dequêch, que está há oito anos na presidência da entidade. Eu entrei aqui e nem era da área de saúde, eu sou engenheiro. Era para cumprir um mandato tampão de um ano e meio e acabei ficando, fui me envolvendo. Quando Dequêch assumiu a presidência do HCL, o hospital passava por uma grande crise financeira. Em sua gestão, as contas não só se acertaram como há a previsão da inauguração de um novo prédio de oito pavimentos para o aniversário de 50 anos, em 2015. O edifício, que inicialmente teria apenas três pavimentos, surgiu para abrigar a ressonância magnética, conquistada com recursos do Ministério da Saúde. Mesmo com as ampliações, não havia espaço adequado para instalação do aparelho. Com a estrutura pronta, o novo edifício agora precisa ser recheado com equipamentos e mobiliário. A gente não tinha o dinheiro para fazer o prédio, mas um paciente veio com a ideia do metro quadrado, conta Mara, sobre uma bem-sucedida campanha do HCL. A comunidade foi convidada a comprar um metro quadrado do novo edifício (ainda dá para contribuir, o valor é de 20 parcelas de R$ 75) e não decepcionou. 20 Living Vectra

Novo edifício do Hospital do Câncer: previsão para ser totalmente inaugurado em 2015, no aniversário de 50 anos do HCL

Os três primeiros pavimentos estão praticamente prontos e foram construídos com a campanha Adote 1 m²

Além do valor arrecadado com a venda dos metros quadrados, o Governo do Paraná também fez a doação de R$ 3,5 milhões. Para dar continuidade ao projeto, o hospital lançou recentemente a campanha Doe 1% pela vida. O conselho deliberativo não recebe nada, assim como os mais de 200 voluntários que temos aqui. Esse é um serviço que não faço por dinheiro nenhum, mas também trabalho nenhum é tão bem remunerado como somos aqui, afirma Dequêch, que dá expediente todas as manhãs. Desde o início, o Hospital do Câncer sempre contou com o apoio da comunidade. Surgiu apenas para tratar os indigentes, numa época em que o conceito de indigente era outro. Era quem não tinha plano de saúde e não era coberto pelo que hoje chamamos de INSS, explica o presidente. Hoje, cerca de 93% dos pacientes são provenientes do SUS, cobrindo uma área de cerca de 200 municípios da região. Diariamente são realizados uma média de 1.200 procedimentos de alta complexidade, entre consultas, internamentos, sessões de quimio e radioterapia e cirurgias. Esse é um serviço que não faço por dinheiro nenhum, mas também trabalho nenhum é tão bem remunerado como somos aqui, afirma o presidente Nelson Dequêch Living Vectra 23

Inaugurado como Centro Norte Paranaense de Pesquisas Médicas, o HCL passou a se chamar Instituto do Câncer de Londrina em 1968, mesmo ano em que foi reconhecido como Utilidade Pública Municipal. Já em 1974, a Divisão Nacional de Câncer contribuiu para a construção do bloco de internamento, batizado de Hospital Professor Antônio Prudente, em homenagem ao pioneiro do tratamento do câncer no Brasil. Em 2006, após uma enquete, o hospital passou a ser chamado de Hospital do Câncer de Londrina. A aceitação oficial do nome, pelo qual a entidade já era conhecida há tempos, veio para celebrar a nova fase. Um ano antes, o HCL esteve prestes a fechar as portas por conta das muitas dívidas e impostos atrasados. Com a nova presidência de Dequêch, as dívidas foram parceladas e o déficit foi reduzido drasticamente. Ele é um tremendo gestor e fez a diferença, afirma Mara Fernandes. Ela lembra que o HCL é referência de tratamento para uma população de cinco milhões de habitantes da região. No relatório de 2012 do SUS, o hospital londrinense apareceu em 17º no número de cirurgias no Brasil. A gente acredita que na próxima portaria já estejamos entre os 10 primeiros. Inauguramos três novas salas cirúrgicas em setembro e vamos reformar outras quatro; no total, teremos nove salas de cirurgia, contabiliza a gestora. Seiscentas pessoas trabalham no HCL, sendo que 115 são médicos. Com a nova lei federal, que exige que o paciente de câncer seja atendido em até 60 dias, passamos a ter uma nova demanda, explica Mara. O aniversário de 48 anos deu início à contagem regressiva para os 50 anos, quando vamos fazer uma grande festa e esperamos que seja com a entrega total do prédio. Tanto o presidente Dequêch quanto a gestora Mara estão sempre repetindo que a comunidade faz a diferença no andamento do HCL. Além das campanhas que surgem de tempos em tempos, a entidade recebe doações o ano inteiro, seja no sistema de carnês ou depósitos bancários. No site www.hcl.org.br estão todas as formas de colaborar com o HCL. Memórias de quase cinco décadas e as devidas homenagens à Lucilla Ballalai (à esquerda com o bebê), a força inicial do HCL 24 Living Vectra

f itness Durante a prova, as dores são lancinantes, o desgaste é incrível. Tenho fratura de stress nas duas tíbias. Perder as 10 unhas dos pés é o que de mais natural acontece, relata a ultramaratonista Adeluci Moraes

Heróis da resistência Preparo físico não é suficiente para vencer o incrível desafio de completar uma ultramaratona; capacidade de manter o foco e equilíbrio psicológico são fatores decisivos Por Rosângela Vale Fotos Fábio Pitrez Para quem corre, aumentar distâncias é sempre a meta. As dificuldades são a alma do esporte; vencê-las, o objetivo de todo atleta, seja ele amador ou profissional. A sensação de ultrapassar os próprios limites é uma recompensa tão gratificante quanto viciante. Uma vez superado o desafio, se estabelece um maior e, assim, sucessivamente, até que uma maratona (percurso de 42 quilômetros) já não basta. É preciso ir além da força física e testar a capacidade mental e o equilíbrio psicológico exigidos numa ultramaratona. O técnico Diego Duarte explica que toda prova com percurso de mais de 42 quilômetros é considerada ultramaratona. A partir daí, o céu é o limite. Segundo ele, a mais longa e difícil é a do Deserto do Saara: 254 quilômetros divididos em etapas de seis dias debaixo de uma temperatura de 50 graus. No Brasil, a mais longa é a BR 135, em Minas Gerais, cujo percurso soma 240 quilômetros. Esse ano, o carioca Márcio Villar vai tentar fazer três vezes essa distância, conta. Para quem olha de fora é difícil não questionar o juízo dos que se submetem a esse tipo de desafio. E o caso nem precisa ser tão extremo para causar estranhamento. Meu marido sempre correu e eu não entendia; perguntava a ele: você fica correndo atrás do quê?, lembra Iracema Mangoni Quero Volovickis, 46 anos, que descobriu a resposta quando resolveu que era hora de se cuidar. Depois de 10 anos tendo filhos e sendo mãe em tempo integral, pensei: preciso fazer alguma coisa para mim. Comecei a caminhar e, a cada dia, aumentava uma árvore no caminho. Até que um dia comecei a correr. Nunca fui muito veloz, mas sempre gostei de ir além, relata. Hoje ela faz parte de uma equipe de corrida que viaja pelo Brasil e pelo mundo para participar de maratonas, ultramaratonas e outras aventuras, como a descida do Grand Canyon que ela fez com o marido e os quatro filhos. A primeira ultramaratona de Iracema foram os 52 quilômetros de Uribici, na serra catarinense. Também completou os 100 quilômetros da Cordilheira dos Andes, no Chile. Para a ultramaratona de 250 quilômetros do Deserto do Atacama, no mesmo país, o treino foi pesado, pois era preciso simular as adversidades do ambiente, como o clima seco e a areia. O problema não foi a prova, porque a gente sofre com prazer; é uma realização estar lá. O difícil é o treino; são horas que você sacrifica da sua rotina, justifica Iracema. Ela e o marido, Manolo, 47 anos, se revezam nas tarefas: enquanto um treina, o outro fica com as crianças. Para Iracema, o desafio mais difícil foi a ultramaratona de Serra Negra, a quarta montanha mais alta do País, com percurso de 80 quilômetros em Minas Gerais. Larga de manhã, passa o dia correndo, vira a noite, chega o outro dia e você lá, correndo sem parar. É uma prova de sobrevivência; não tem apoio, você tem que levar tudo na mochila: lanterna, medicamentos, pois tem que estar apto a sobreviver caso aconteça alguma coisa, conta. Foi a primeira prova que não conseguimos terminar, pois excederíamos o tempo limite para conclusão, que era de 26 horas. Pelos meus cálculos, chegaríamos com 30 horas, mas o organizador não nos deixou terminar. Mesmo assim, foi bom; a melhor parte eu fiz. Living Vectra 27

Encarar as adversidades com sangue frio e, principalmente, vencer a briga interna consigo mesmo são questões cruciais para um ultramaratonista. O componente emocional é mais forte que o físico. Vemos jovens muito bem preparados que não conseguem chegar ao final porque mentalmente não mantiveram o foco. A gente fica com fome, com dor, com sede, mas pensa: eu vou até o final, vim aqui para isso e vou conseguir. Esse é o triunfo da gente, revela Manolo. Por isso, a média de idade de ultramaratonistas de rendimento é 50 anos. Costumo dizer que 90% da prova é cabeça, observa a ultramaratonista Adeluci Moraes. O prazer da ultramaratona é justamente esse para o bancário Tiago Martins Sassi, 30 anos: experimentar a força mental depois da física ter se esgotado. Essas provas longas dão condições de a gente montar uma estratégica, ter o plano B, o C. Não tem como programar um ritmo. Gosto porque não dá pra saber o que a gente vai passar, diz ele, que conquistou o quarto lugar geral na ultramaratona do Deserto do Atacama. Tiago começou a correr aos oito anos e, desde então, tem incluído o esporte em sua vida. Quando descobriu o gosto de correr na terra, passou a se programar para participar só desse estilo de prova. A paisagem é um incentivo. Corridas de montanha, no meio da natureza, proporcionam isso. E dão mais energia, justifica. Segundo ele, a corrida sempre começa como hobby, mas, à medida que os treinos se intensificam, os objetivos aumentam. Mais do que terminar, você quer se classificar, ter uma boa posição e, com a rotina de treinamentos, chega um ponto de querer ganhar. Mas meu foco principal é o prazer de correr mesmo. E também o turismo. Essas provas de montanha me proporcionam conhecer lugares em que um turista normal não consegue chegar. Os treinos de Tiago, orientados por Diego Duarte, incluem corridas diárias de uma hora pela manhã, antes do trabalho, e mais uma hora no final do dia. Às vezes uso bike; a gente chama de descanso ativo, explica. Além disso, ele faz treinamento funcional duas vezes por semana. Dá um condicionamento melhor para subir e descer montanhas. Nos fins de semana, faz percursos mais longos. Minha mãe mora em Apucarana e, às vezes, aviso que vou lá almoçar. Saio às 6 da manhã e chego ao meio-dia. Na primeira vez, ela perguntou onde estava a bicicleta; quando eu disse que tinha ido correndo ela quase enfartou, diverte-se. Diego explica que, durante os treinos, orienta os alunos a exercitar também o foco para se concentrarem na corrida. Tem muita coisa para pensar numa ultramaratona: se está correndo no ritmo certo; se alimentando e hidratando corretamente, diz. Segundo ele, durante a prova os atletas costumam se alimentar com gel de carboidrato e se hidratar com água e isotônicos. O problema mais comum é a desidratação. Mas também tem que ter cuidado com a hiperhidratação, pois o excesso de água dilui os sais minerais do corpo, informa. O casal de ultramaratonistas Manolo e Iracema Volovickis se reveza no cuidado com os quatro filhos: enquanto um treina, o outro toma conta das crianças. São horas que você sacrifica da sua rotina, diz ela 28 Living Vectra