HALITOSE BUCAL: IMPORTÂNCIA DA SABURRA LINGUAL E PERIODONTITE NA SUA ETIOLOGIA



Documentos relacionados
ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Diga adeus ao mau hálito!

Formulações para Halitoses. Formulações com baixa concentração de zinco para o combate a halitose.

ConScientiae Saúde ISSN: Universidade Nove de Julho Brasil

HALITOSE HALITOSE. O que é Halitose? Principais causas da Halitose. Por Dra. Maria Cristina Moscatello

IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO CIRURGIÃO-DENTISTA NO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HALITOSE

Pet com hálito fresco melhora até seu consultório.

RESUMO INTRODUÇÃO. Braz J Periodontol - September volume 21 - issue 03. Graduados em Odontologia pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR

TRATAMENTO DA PERIODONTITE AGRESSIVA E ALTERAÇÕES NOS COMPOSTOS SULFURADOS VOLÁTEIS

Halitofobia x Alterações Quimiossensoriais

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Periodontite. Sua saúde começa pela boca!

MEDICINA PREVENTIVA SAÚDE BUCAL

Halitose: uma condição multifatorial que tem tratamento

Quem sofre de mau hálito geralmente não percebe. Veja como tratar Beber bastante água e investir em uma alimentação fibrosa ajuda a evitar o problema

PROGRAMA DE MEDICINA PREVENTIVA. Saúde Bucal

TUDO O QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE: SAÚDE BUCAL

Saúde Bucal e Demência Prevenção e Tratamento

III Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG I Salão de Extensão & I Mostra Científica

Sorria, mostre o que você tem de melhor!

- Gengivite. Periodontal. Crônica. - Periodontite. Agressiva GENGIVITE

Tatiana Yshioka Alves. Halitose: etiologia, diagnóstico e perspectivas. Araçatuba SP 2010

TÍTULO: EFEITO DA TERAPIA PERIODONTAL NÃO CIRÚRGICA SOBRE O CONTROLE GLICÊMICO EM INDIVÍDUOS COM DIABETES TIPO2 E PERIODONTITE CRÔNICA: ENSAIO CLÍNICO

DOS TECIDOS BUCAIS. Periodontopatias. Pulpopatias. Periapicopatias TIPOS: -INCIPIENTE -CRÔNICA -HIPERPLÁSICA. Causada pelo biofilme bacteriano

Pesquisa ABHA 2013 mau hálito em idosos

RELATÓRIO DE DISSERTAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO FACULDADE DE MEDICINA DENTÁRIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO DOENÇA PERIODONTAL E MAU HÁLITO

PERSPECTIVAS ATUAIS SOBRE HALITOSE BUCAL: REVISÃO DE LITERATURa Current Perspectives on Oral Halitosis: a literature review

Halitose: uma questão de saúde pública

Atualização em Terapêutica Odontológica Green tea

RELATÓRIO DE DISSERTAÇÃO DE INVESTIGAÇÃO ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO MÉDICO DENTÁRIA

17/10/2016. Bactérias anaeróbias. Microbiota bucal. Fatores que regulam a microbiota bucal. Bactérias anaeróbias na cavidade bucal.

SAÚDE BUCAL. Cuidados Problemas Tratamento Dicas

de Odontologia da Universidade do Grande Rio UNIGRANRIO, Campus Duque de Caxias Rio de Janeiro e do Pró-Saúde/UNIGRANRIO.

CLASSIFICAÇÃO E EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS PERIODONTAIS

HALITOSE CONCEITOS BÁSICOS SOBRE, DIAGNÓSTICO,

Aspectos Microbiológicos das Doenças Periodontais. Profa Me. Gilcele Berber

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Odontogeriatria. Para você que já completou 60 anos.

Halitose em usuários de uma unidade básica de saúde: um estudo seccional

OdontoPrev. Sorria: você está sendo bem cuidado.

HALITOSE COMO CONDIÇÃO DE SAÚDE BUCAL NA QUALIDADE DE VIDA. Halitosis as a condition of oral health in the quality of life RESUMO

ASSISTÊNCIA ODONTOLÓGICA NA GRAVIDEZ JULIO ELITO JUNIOR

PREVALÊNCIA DO MAU HÁLITO NA CONSULTA DE PERIODONTOLOGIA NA CLÍNICA DA FMDUP. Diogo Filipe Costa Carvalho

Saúde geral de idosos que buscam tratamento odontológico especializado em odontogeriatria. Um estudo piloto

Estudo Comparativo Entre Procedimentos Diagnósticos Para Halitose: Uma Abordagem Preliminar

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE CURSO TÉCNICO EM SAÚDE BUCAL. Ficha da Subfunção/Componente Curricular

Introdução. Doenças periodontais

CURSO DE ODOONTOLOGIA Autorizado pela Portaria no 131, de 13/01/11, publicada no DOU no 11, de17/01/11, seção 1, pág.14

INTER-RELAÇÃO ENTRE A OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA ATUAL

CONTROLE QUÍMICO E MECÂNICO DO BIOFILME

FRATURA DE MANDÍBULA SECUNDÁRIA À DOENÇA PERIODONTAL EM CÃO: RELATO DE CASO

Doenças gengivais induzidas por placa

MARCELO CASSIANO GUERRA

Métodos para a limpeza da língua: um estudo clínico

JULIANA OLIVEIRA DA SILVEIRA

Guia Visual. Sistema por imagem de fluorescência óptica para uso odontológico. Visualização bucal por Ultravioleta. Rev. 01.

UNA-SUS Universidade Aberta do SUS SAUDE. da FAMILIA. CASO COMPLEXO 6 Dona Margarida. Fundamentação Teórica: Odontologia geriátrica

FACULDADE DE MEDICINA DENTÁRIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO. Unidade Curricular Monografia de Investigação/Relatório de Atividade Clínica

57 Milhões de Brasileiros Têm Mau Hálito

VETSET HOSPITAL VETERINÁRIO DOENÇA PERIODONTAL

Ahalitose foi primeiramente descrita como entidade patológica

Odomed Com. Imp. e Exp. Ltda. Rua Ida da Silva, Vila Guilherme - São Paulo - SP SAC (11)

21/03/2017. Microbiota Residente, Indígena ou Autóctone do Corpo Humano. Características da Microbiota Residente

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA ESCOLA TÉCNICA DE SAÚDE CURSO TÉCNICO EM SAÚDE BUCAL. Ficha da Subfunção/Componente Curricular

ESTUDO DE CASO CLÍNICO

Inclusão do Cirurgião Dentista na Equipe Multiprofissional no Tratamento de Pacientes de Álcool e Drogas

HIGIENE BUCAL SAIBA A IMPORTÂNCIA E AS VANTAGENS DE UMA BOA HIGIENE ORAL

Procedimentos Cirúrgicos de Interesse Protético/Restaurador - Aumento de Coroa Clínica - Prof. Luiz Augusto Wentz

Microbiota Residente, Indígena ou Autóctone do Corpo Humano

Relatório Final de Estágio

ORIENTAÇÃO DE HIGIENE BUCAL PARA IDOSOS COM REABILITAÇÃO ORAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

DISSERTAÇÃO JULIANE P. BUTZE

Hipócrates, o pai da Medicina, na Grécia Antiga, já fazia

(22) Data do Depósito: 25/02/2015. (43) Data da Publicação: 20/09/2016

15. CONEX Resumo Expandido - ISSN PROMOÇÃO E PREVENÇÃO EM SAÚDE BUCAL PARA CRIANÇAS CARENTES EM PONTA GROSSA

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Levantamento epidemiológico da doença periodontal em escolares de Vila Canaã, Duque de Caxias.

Halitose: da etiologia ao tratamento

São causas de mau hálito:

Exercício de Fixação: Características Gerais da Microbiota do Homem

ESCOLA BAHIANA DE MEDICINA E SAÚDE PÚBLICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PERIODONTIA

HALITOSE NA GERIATRIA: DIAGNÓSTICO, CAUSAS E PREVALÊNCIA

Segundo pesquisa realizada pelo Prof. Daniel Van Steemberg (1999), juntamente com

GUIA DE HIGIENE BUCAL PARA TER UM SORRISO MAIS BONITO

ANGELA PAULA LOPES TEIXEIRA

PRODUZINDO AUTOESTIMA DESDE 1990

Disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva I Aula Etiologia de outros problemas de Saúde Pública

VITOR HUGO FARINA. EFEITO DAS PLANTAS MEDICINAIS Curcuma zedoaria E Camellia sinensis NO CONTROLE DA HALITOSE

Indicador: Incidência de mucosite em Unidades de Internação e em pacientes Ambulatoriais

Avaliação da abrasividade de dentifrícios clareadores sobre esmalte humano pela téc-

Processo. Determinantes socioambientais em saúde bucal e estratégias de Promoção da Saúde. Fases da História Natural das Doenças


ASSOCIAÇÃO ENTRE HALITOSE E MÁ OCLUSÃO EM CRIANÇAS

Dissertação O EFEITO DO TRATAMENTO DA GENGIVITE SOBRE O HÁLITO DE PACIENTES PORTADORES DE PERIODONTITE CRÔNICA. Autora Elcia Maria Varize Silveira

Perfil microbiológico de pacientes com halitose Revisão sistemática

ECOLOGIA BACTERIANA DA BOCA. Weyne, S.C.

Qualificar Centro de Estudos Técnicos de Formação em Saúde Curso Técnico em Saúde Bucal Disciplina de Microbiologia Reino Fungi

ESTOMATITE INESPECÍFICA EM RETRIEVER DO LABRADOR

CONDUTAS PARA ABORDAGEM DA HALITOSE

Cuidados profissionais para a higiene bucal HIGIENE BUCAL

TÍTULO: EFEITO DO CONSUMO CRÔNICO DE ÁLCOOL NO TECIDO ÓSSEO EM EXPERIMENTO COM RATOS

TÍTULO AUTORES: INSTITUIÇÃO ÁREA TEMÁTICA OBJETIVOS Objetivo Geral: Objetivos Específicos:

Transcrição:

HALITOSE BUCAL: IMPORTÂNCIA DA SABURRA LINGUAL E PERIODONTITE NA SUA ETIOLOGIA Elerson Gaetti-Jardim Júnior 1 Jorgiana Sangalli 2 Samira Âmbar Lins 3 Ana Cláudia Okamoto 4 Ellen Cristina Gaetti-Jardim 5 Rosângela Conceição Miotti Aguiar 6. 1 Prof. Dr., do Departamento de Patologia e Propedêutica Clínica/Laboratório de Microbiologia, Faculdade de Odontologia Câmpus de Araçatuba Unesp. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontopediatria da Faculdade de Odontologia do Câmpus de Araçatuba Unesp. 3 Prof. a Ass. Dr. a Disciplina de Dentística Curso de Odontologia, Faculdades Integradas de Santa Fé do Sul FUNEC. 4 Prof. a Ass. Dr. a Disciplina de Microbiologia, Faculdade de Odontologia Câmpus de Araçatuba Unesp. 5 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia/Cirurgia e TBMF, Faculdade de Odontologia Câmpus de Araçatuba Unesp. 6 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Odontologia/Estomatologia, Faculdade de Odontologia Câmpus de Araçatuba Unesp.

RESUMO Em geral o hálito humano não tem cheiro ou é tão somente ligeiramente perceptível aos circundantes, variando de agradável a desagradável, levando-se em consideração a sensibilidade do perceptor. A halitose ou mau hálito não representa verdadeiramente uma doença, estando presente em uma considerável parcela da população. Etiologicamente, existem vários fatores envolvidos, podendo-se citar distúrbios respiratórios, gastrointestinais, orgânicos, psíquicos e, principalmente, fatores bucodentários, sendo a saburra lingual o mais comum, ao lado das situações patológicas envolvendo periodonto, como a gengivite ulcerativa necrosante. Por representar um verdadeiro obstáculo biopsicossocial, a halitose influi diretamante na vida familiar, trabalho, ambiente social, sendo seu diagnóstico específico, exigindo em determinadas ocasiões tratamento multidisciplinar. Nesse sentido, o presente estudo se reporta a uma revisão literária do tema, abordando os principais aspectos do desenvolvimento da halitose, bem como sua origem biológica e suas implicações clínicas. Palavras-chave: Halitose. Higiene bucal. Periodontite. 5 ABSTRACT In general the human breath doesn't have smell or it is so only lightly perceptible to the surrounding ones, varying of pleasant the unpleasant, being taken in consideration the sensibility of the person. Halitosis or bad breath doesn't truly represent a disease, being present in a considerable portion of the population. Ethiologically exist several involved factors, could make an appointment breathing, gastric intestinal, organic and psychic disturbances and mainly oral factors, being the microbial colonization of the tongue the most common, beside the pathological situations involving periodontitis, as necrotizing ulcerative gengivitis. For representing a true obstacle biopsicossocial, the halitosis it influences directally in the family life, work, the patients' atmosphere social, being its diagnosis specific, demanding in certain occasions treatment multidisciplinar. In that sense, the present study if report to a literary revision of the theme, approaching the main aspects of the development of the halitosis, as well as its biological origin and its clinical implications. Key-words: Halitosis. Oral hygiene. Periodontitis.

INTRODUÇÃO Nos dias atuais a halitose é um tema de grande relevância, visto que é motivo de exclusão social e muita aflição. Desde a história antiga já se sabia que o mau hálito não era nada agradável. Já dizia Shakespeare em 1598 na peça Muito Barulho por Nada, ato 5, cena 2: Palavras fétidas são apenas vento fétido, e vento fétido é apenas hálito fétido, e hálito fétido é nauseante, portanto eu vou partir sem ser beijado. Porém a preocupação como entidade clínica é recente e torna-se um estudo de fundamental conhecimento. O termo halitose é derivado do latim, onde halitos significa ar expirado e osis uma alteração patológica, e é um termo que pode denotar hálito desagradável, resultante de causas fisiológicas e patológicas com origem oral ou sistêmica. De acordo com Tárzia (2003) halitose é uma condição anormal do hálito na qual este se altera de forma desagradável tanto para o paciente como para as pessoas com as quais se relaciona. É o odor ofensivo percebido pelo olfato que possui em 90% dos casos etiologia ligada à cavidade bucal, sendo a saburra lingual a principal causa. As vias aéreas são tidas como a segunda maior causa de halitose (AMADO; CHINELLATO; TÁRZIA, 2005a). Conforme Oho et al. (2001) o mau hálito é um exemplo associado com a condição da cavidade oral, e o estágio de higiene oral e condição periodontal. O mau hálito é originado de uma variedade de produtos do metabolismo bacteriano de aminoácidos presentes em materiais como restos alimentares, descamação de células da mucosa oral e leucócitos que acumulam na boca. Estes metabólitos incluem compostos sulfurados voláteis, indol, cadaverina, aminas e amônia. Destes compostos, os sulfurados voláteis estão entre as principais causas de mau hálito oral, produzidos principalmente por bactérias anaeróbias Gram-negativas. A mensuração dos níveis de corpos voláteis sulfúricos liberados por microorganismos é um bom parâmetro para avaliar a halitose. Pesquisadores em um variado número de campos científicos têm usado a cromatografia gasosa como meio de identificação de gases encontrados nas amostras estudadas (AMADO; CHINELLATO; TÁRZIA, 2005b). Outro método é a avaliação organoléptica e também a utilização de medidor portátil de sulfetos. É importante ressaltar que em muitos casos a halitose é reversível, desaparecendo após suspensão do agente causador, que tem atuação por um determinado tempo. Assim, foi objetivo dessa revisão abordar os principais aspectos do desenvolvimento da halitose, sua origem biológica e suas implicações clínicas. CONSIDERAÇÕES GERAIS Iwakura et al. (1994) verificaram que a maioria dos pacientes com queixa primária de halitose realmente não possui a mesma e na verdade sofrem de halitose imaginária. Nesse sentido, Eli et al. (2001) verificaram que os pacientes que se queixaram de possuir mau hálito, clinicamente mostraram um relato não só psicológico de odor, mas também natureza de uma queixa subjetiva. A halitose pode ter causas exógenas e endógenas. As exógenas podem ser fisiológicas como: halitose da manhã, halitose da fome ou regime, halitose da xerostomia, do estresse psicológico e da língua saburrosa ou podem ser patológicas de origem bucal como: cárie dental, doença periodontal, cicatrização de feridas cirúrgicas, estomatites, neoplasias, pobre higiene bucal e cisto dentígero ou ainda de origem não-bucal como a das vias respiratórias e sistema digestivo. As endógenas também podem ser fisiológicas como: alimento de odor carregado, halitose do tabagismo, halitose por medicamentos, substâncias absorvidas pelas mucosas e pele e halitose por baixa glicemia. Já as patológicas estão associadas a problemas por alterações intestinais, hepáticas, pulmonares, renais, estomacais, diabetes e estados febris. 6

De acordo com Santos, Rodrigues, Garcia (2003), nem todo hálito desagradável é anormal ou indicativo de alterações orgânicas, uma vez que ocorrem variações com a idade, período menstrual, gravidez e amamentação. Porém, segundo Orth et al. (2003), o mau hálito é causado principalmente por compostos sulfurados voláteis, produzidos pelo metabolismo das bactérias, na sua maioria anaeróbias, encontradas na saliva, saburra lingual e nas placas supra e subgengival. Os principais compostos sulfurados voláteis encontrados no odor bucal são a metil-mercaptana, o sulfidreto e o dimetil-sulfeto, sendo que os dois primeiros constituem quase 90% das amostras de ar expirado. Cerca de 87% dos casos de halitose são provenientes da cavidade oral, sendo de 5-8% atribuídos a causas otorrinolaringológicas. Além dos compostos sulfurados voláteis, substâncias como indol, escatol, putrescina, cadaverina e o hidrocarboneto metano podem eventualmente participar da etiologia da halitose, por possuírem alto potencial de excitação olfativa. De acordo com Amado, Chinellato e Tárzia (2005a), embora diversos sejam os microorganismos capazes de realizar o processo de produção dos CSVs, os maiores produtores destes gases são o Treponema denticola, Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermedia, Tannerella forsythia e Fusobacterium nucleatum. Destes, três em especial o T. denticola, P. gingivalis e Tannerella forsythia produzem proteases com elevada capacidade lítica, capaz de levar a liberação de numerosos peptídeos que serão fermentados pelos membros do biofilme. MENSURAÇÕES Rosenberg et al. (1995), pesquisaram se a auto-avaliação de odor, por meio de vários métodos, era capaz de oferecer uma maior compreensão da extensão do mau hálito. Cinquenta e dois indivíduos participaram do estudo, e registraram seu nível de mau hálito em uma escala contínua, sendo que esses indivíduos foram incapazes, na maioria das vezes, de pontuar seus próprios níveis de mau hálito, quando comparados a métodos objetivos (concentração de CSVs, obtida com monitor portátil de sulfetos; nível de cadaverina; índice de placa; índice gengival; profundidade de sondagem; teste BANA ), ao passo que houve relação entre estes parâmetros e a avaliação feita por juízes de odor. Oho et al. (2001) avaliaram o nível de mau hálito em pacientes com queixa de halitose através do uso de diversos métodos, incluindo cromatografia gasosa, monitor portátil de sulfetos e método organoléptico, sendo que o monitor portátil e a cromatografia foram mais eficazes. Tanaka et al. (2003) sugeriram que o mau hálito e doença periodontal relatados nos parâmetros e própria percepção do hálito no início são efetivos para a previsão de resultados. A mensuração de CSVs se correlacionou com o exame organoléptico e presença de saburra. O exame organoléptico também se correlacionou com a saburra lingual presente. Os resultados mostraram que a doença periodontal e níveis do exame organoléptico podem ser importantes para a previsão do resultado do tratamento do mau hálito. Entretanto, para Santos, Rodrigues e Garcia (2003) não basta apenas identificar a halitose, o importante será individualizar as causas e os fatores responsáveis pela sua ocorrência. Em virtude da necessidade de localizar as causas da halitose é que o cirurgiãodentista deverá ficar atento durante todo exame clínico. De acordo com Amado, Chinellato e Tárzia (2005a), além da existência da cromatografia gasosa e exame organoléptico, existe também o monitor portátil de sulfetos, que aspira o ar da boca do paciente através de um canudo descartável e avalia a presença de CSVs em partes por bilhão. De acordo com o fabricante, níveis normais de hálito estão em torno de 150 ppb, sendo aceitável como nível normal medições entre 50 e 170 ppb. Apesar de oferecer o método mais preciso na detecção dos gases responsáveis pelo mau hálito, o acesso difícil ao cromatógrafo gasoso e a inviabilidade de sua utilização clínica leva à necessidade do uso de métodos diagnósticos mais 7

simples, como é o caso do monitor de sulfetos Halimeter, que apesar de estar sujeito a uma série de interferentes e possuir limitações, é de fácil manuseio, e está gradualmente sendo introduzido em clínicas odontológicas. Outros, como Murata et al. (2006), advogam equipamentos compactos de cromatografia gasosa com sensor de gases RELAÇÃO DA HALITOSE COM CÁRIE DENTAL, PERIODONTITE E SABURRA LINGUAL De uma forma geral, a literatura responsabiliza o metabolismo bacteriano como fonte dos compostos sulfurados voláteis (CSVs), sendo que os principais gêneros Porphyromonas, Prevotella e Fusobacterium (FIGUEIREDO et al., 2002; PERSSON et al., 1990). Esses microrganismos são freqüentemente encontrados no biofilme subgengival, supragengival e na saburra lingual (YONEDA et al., 2006). Nesse particular, Bosy et al. (1994) mostraram que havia uma importante relação entre o odor proveniente da língua e o pico de CSVs e entre o odor proveniente da língua com todas medidas organolépticas, evidenciando que o mau hálito não está, necessariamente, associado com periodontite, o que pode ser observado quando se verifica que a maioria das pessoas com queixa de halitose é composta de indivíduos periodontalmente sadios. Orth et al. (2003) não encontraram correlações significativas entre os níveis de placa e gengivite com CSVs e também não houve correlação significativa entre o hábito de escovar a língua e os níveis de CSVs, talvez pela escovação ter sido realizada horas antes da medição dos CSVs. Houve correlação significativa entre percepção individual do hálito e níveis de placa, concluindo que, em indivíduos com adequado padrão de higiene bucal, os níveis de placa e gengivite não se correlacionaram com os CSVs. Segundo Tárzia (2003), a saburra constitui a maior causa bucal de halitose e não recebe a atenção merecida dos profissionais porque a maioria ainda se preocupa apenas com os dentes e, às vezes, com a gengiva, ignorando que toda a boca é território que devemos obrigatoriamente conhecer. A saburra pode aparecer em indivíduos normais em variadas ocasiões, tais como: quando submetidos a jejum prolongado ou em alimentação exclusivamente líquida ou pastosa, em pessoas estressadas, onde o maior responsável pelo aparecimento da língua saburrosa é o chamado antiperistaltismo esofagagiano, e em casos de depressão psíquica. A cárie, por si só, não constitui um fator etiológico do mau hálito, mas as cáries cavitando podem constituir local favorável para a retenção do biofilme, criando condições para a geração de grande quantidade de CSVs (RAYMAN; ALMAS, 2008). Os problemas periodontais são a principal causa de halitose, principalmente pela natureza anaeróbia do biofilme microbiano que se forma (JOHN; VANDANA, 2006). Assim, a halitose é uma queixa frequente de pacientes com doença periodontal, em especial dos portadores de periodontite (RAYMAN; ALMAS, 2008), sendo que Loesche e Kazor (2002) observou um nível maior de CSVs e odor mais intenso e desagradável no ar exalado por pacientes com doença periodontal quando comparado com pacientes periodontalmente saudáveis. O número de bactérias Gram-negativas, as principais responsáveis pela produção de CSV, depende da maturação do biofilme e o seu aumento está relacionado com o grau de severidade da gengivite ou periodontite, dentre outros fatores. Por outro lado, os CSVs podem acelerar a destruição dos tecidos periodontais, por serem tóxicos e facilitar a invasão bacteriana (MORITA; WANG, 2001; IMAI, 2009; RAYMAN; ALMAS, 2008) e são capazes de atravessar a mucosa gengival e afetar o osso alveolar pela inibição da proliferação de osteoblastos, o que agrava ainda mais a perda do osso alveolar em pacientes portadores de periodontites (IMAI, 2009). 8

Pacientes portadores da Gengivite Ulcerativa Necrosante (GUN) possuem hálito característico e extremamente desagradável, provavelmente associados ao cansaço, stress, má nutrição e higiene precária. A GUN já foi conhecida como boca de trincheira, por sua alta incidência nas trincheiras, durante a 1ª Guerra Mundial (PIHLSTOM, 2005). Um estudo realizado por John e Vandana (2006) correlacionou a halitose com características clínicas da periodontopatias tais como o índice de placa, situação da gengiva (recessão ou edema), sangramento gengival e profundidade das bolsas periodontais e não obteve nenhuma correlação significativa. Morita e Wang (2001) encontraram uma correlação positiva entre o número e profundidade da bolsa periodontal, estado da gengiva, língua saburrosa e a perda óssea com o aumento da produção de CVS (MORITA & WANG, 2001), assim como o índice de sangramento estava mais relacionado com o mau hálito do que a profundidade de bolsa em si, sugerindo que a atividade da doença é mais significativa na produção de CVS do que a profundidade das bolsas periodontais (MORITA; WANG, 2001). TRATAMENTO O hábito de limpeza mecânica da língua é recomendado como um bem necessário para a higiene oral, porém, no tratamento da halitose, deve estar acompanhado de tratamento periodontal e restaurador, o que reduz o número de microrganismos patogênicos, além de diminuir os compostos sulfurados voláteis responsáveis pelo mau hálito (GILMORE; BHASKAR, 1972; SANTOS; RODRIGUES; GARCIA, 2003). Diferente de Seemann et al. 2001, que em seus estudos não constataram redução dos compostos sulfurados voláteis por períodos maiores que 30 minutos após a limpeza, em nenhum dos indivíduos, o que levou os autores a questionarem o efeito clínico da limpeza da língua de forma isolada objetivando a redução do mau hálito. A limpeza da língua pode ser feita com escova dental, raspador lingual ou gaze. A maior eficácia foi obtida com a utilização de raspador lingual, ainda que não houvesse grande discrepância em relação a outros métodos. Com a utilização de raspador lingual há uma redução significativa na concentração de detritos acumulados na língua, o que leva a existir a relação entre hábitos alimentares e de higiene oral. O uso de antisséptico bucal também diminuiu os compostos sulfurados voláteis, já que sua ação microbiana mata um importante número de microorganismos produtores de odor da boca. E ainda é um benefício adicional importante da terapia periodontal (PERUZZO ; JANDIROBA; NOGUEIRA FILHO, 2007; QUIRYNEN et al.,1998). CONCLUSÕES 1. A maior causa de halitose é a saburra lingual, seguida da doença periodontal; 2. Os principais microorganismos capazes de realizar o processo de produção de CSVs são anaeróbios Gram-negativos proteolíticos; 3. A higiene dentária e a limpeza da língua são de fundamental importância para a prevenção do mau hálito; 4. A higiene dentária contribui para a formação de placa bacteriana tanto para o início de doença periodontal como língua saburrosa. 9

REFERÊNCIAS 10 AMADO F. M.; CHINELLATO, L. E. M.; TÁRZIA, O. Halitose Panorama geral e o papel da microbiota. Rev int estomatol., v.2, p.30-5. 2005a. AMADO, F. M.; CHINELLATO, L. E. M.; TARZIA, O. Halitose métodos de avaliação e tratamento. Rev int estomatol., v.2, p.103-1, 2005b. BOSY, A. et al. Relationship of oral malodor to periodontitis: evidence of independence in discrete subpopulations. J periodontol., v.65, p.37-46, 1994. ELI, I. et al. Self-perception of breath odor. J am dent assoc., v.132, n.5, p.621-6, 2001. FIGUEIREDO, L. C. et al. The relationship of oral malodor in patients with or without periodontal disease, J. periodontol. v.73, p.1338 1342, 2002. GILMORE, E. L.; BHASKAR, S. N. Effect of tongue brushing on bacteria and plaque formed in vitro. J. periodontol.., v. 43, p. 418 422, 1972. IMAI, T. et. al. Oral malodorous compound inhibits osteoblast proliferation, J periodontol., v.80, n.12, p.2028-2034, 2009. IWAKURA, M. et al. Clinical characteristics of halitosis: differences in two patient groups with primary and secondary complaints of halitosis. I dent res., v. 73, p. 1568-1574, 1994. JOHN, M.; VANDANA, K. L. Detection and measurement of oral malodour in periodontitis patients, Indian j. dent. res., v.17, n. 1, p. 2-6, 2006. LOESCHE, W. L.; KAZOR, C. Microbiology and treatment of halitosis. Periodontol. 2000, v.28, p.256-279, 2002. MORITA, M.; WANG, H. L., Association between oral malodor and adult periodontitis: a review, J. clin. periodontol., v.28, p.813-819, 2001. MURATA, T. et al. Development of a compact and simple gas chromatography for oral malodour measurement. J. periodontol., v. 77, n.7, p. 1142-47, 2006. OHO, T. et al. Characteristics of patients complaining of halitosis and the usefulness of gas chromatography for diagnosing halitosis. Oral surg., v. 91, n.5, p. 531-534, 2001. ORTH, C. C. et al. Compostos sulfurados voláteis, placa dental gengivite em estudantes de odontologia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Rev. fac. odontol., Porto Alegre, v. 44, n.2, p.26-30, 2003. PERSSON, S. et al. The formation of hydrogen sulphide and methyl mercaptan by oral bacteria. Oral microbiol immunol., v. 5, n.4, p. 195-201, 1990.

PERUZZO, D.; JANDIROBA, P.; NOGUEIRA FILHO, G da R. Use of 0.1% chlorine dixide to inhibit the formation of morning volatile sulphur compounds (VSC). Braz. oral res., São Paulo, v. 21, n.1, jan./mar. 2007. PIHLSTOM, B. L. et. al. Periodontal Diseases. Lancet., v.366, n. 949, p.1809-1820, 2005. QUIRYNEN, M. et al. The effect of a 1-stage full-mouth desinfection on oral malodor and microbial colonization of the tongue in periodontitis patients. J periodontol, v.69, n.5, p.374 82, 1998. RAYMAN, S.; ALMAS, K. Halitosis among racially diverse populations: an update, Int. J. Dent. Hygiene, v.6, n.1, p. 2-7, 2008. ROSENBERG, M. et al. Self-estimation of Oral Malodor. J Dent Res., v.74, p. 1577-1582, 1995. SANTOS, P. A.; RODRIGUES, J. A.; GARCIA, P. P. N. S. Conhecimento sobre prevenção de cárie e doença periodontal e comportamento de higiene bucal de professores de ensino fundamental. Cienc odontol bras., v.6, p. 67-74, 2003. SEEMANN, R. et al. Effectiveness of mechanical tongue cleaning on oral levels of volatile sulfur compounds. J Am Dent Assoc., v.132, p. 1263-7, 2001. TANAKA, M. et al. Reliability of Clinical Parameters for Predicting the Outcome of Oral Malodor Treatment. J Dent Res., v. 82, p. 518-522, 2003. TÁRZIA, O. Halitose: um desafio que tem cura. Rio de Janeiro: Publicações Biomédicas Ltda, 2003. YONEDA, M. et al. Oral malodor associated with internal resorption. J Oral Sci., v. 48, n.2, p.89 92, 2006. 11