Quadro Clínico TEA Módulo 2 Aula 2 Características clínicas do TEA Dentro dessas características, temos os chamados sintomas-alvo que no geral acontecem em todas as crianças com TEA. São eles: o Deficit de interação social, a persistente deficiência de comunicação social e comportamentos repetitivos e interesses restritos. Deficits na interação social 1. Interação social prejudicada apresenta dificuldade de interagir nos mais diversos contextos e com outras crianças. Revelando um comportamento intrusivo, muitas vezes entra em um determinado ambiente e não cumprimenta o interlocutor, não faz um trabalho inicial de contato e fica correndo em círculos; 2. Comportamento social impróprio vai brincar com outra criança e, por exemplo,
tira o brinquedo dela e sai de perto sem dar nenhum retorno ou usa o adulto como ferramenta (em vez de ela apontar que quer um objeto, ela pega o adulto pela mão e o leva até lá, colocando a mão do adulto no objeto); 3. Pobre contato visual quando uma criança vai interagir com alguém ela olha nos olhos e a criança é genuinamente entregue a esta relação de contato visual. Já as crianças com autismo não apresentam um contato visual normal (normalmente olham de esguio, de periferia ou não conseguem manter quase que contato visual nenhum além de preferir ter contato visual com o objeto ou com a mão do interlocutor); 4. Indiferença afetiva ou inadequada algumas vezes, pode não chamar de pai, de mãe e tratá-los como trata igual a todo mundo, sem uma predileção; ou pode acontecer o contrário, da criança ser totalmente dependente dos pais, só querer ficar no colo, por exemplo, nesse caso, é mais por medo ou hesitação do que propriamente por uma interação de afetividade real; 5. Auto-percepção e/ou percepção do que o outro pensa ou sente inadequadas: não consegue fazer esse processo antecipatório por exemplo, a criança chega para brincar e então a criança está sorrindo e ele age do mesmo jeito que se a criança estivesse chorando, ou seja, não consegue adequar a sua forma de agir, o seu jeito de se expressar de acordo com o que a outra criança está percebendo ou sentindo. Ainda, muitas vezes, as crianças com TEA acabam não percebendo a si próprias pois possuem dificuldade de auto-percepção e de expor o que pensam, o que sentem e muitas vezes reagem do mesmo modo em situações diferentes e necessidades; 6. Atenção compartilhada comprometida não consegue brincar com o outro, vai brincar sozinha ou brinca do jeito dela e a outra criança não consegue acompanhar. Também pode acontecer o contrário: a criança autista chega de forma intrusiva na brincadeira do outro; 7. Não manifesta muito as suas emoções nem de acordo com o contexto e nem em situações em que ela deveria manifestar isso de forma organizada e estruturada; 8. Pouco percebe a presença de pessoas no ambiente: em lugares com muita gente, ela não percebe e, até mesmo quando as pessoas se aproximam dela, ela não olha, ignora e continua a fazer o que estava fazendo; 9. Não procura, de forma involuntária, interagir com outras crianças; 10. Não reconhece situações de cooperação onde ela tem que fazer parte de um
processo; 11. Não dá continuidade em processos de interação social : pouco recíprocas nas situações em que se espera uma resposta; 12. Não reconhece controle social - regras, rotina e o não; 13. Não consegue manter um vínculo dentro do contexto sócio-afetivo; 14. Ausência de contato visual ou muito pobre durante os processos de interação. Persistência nas deficiências de comunicação Crianças com Autismo costumam ter muita dificuldade em compartilhar informações, de expor aquilo que pensam e sentem ou de expressar não só oralmente como também por meio de gestos ou de outras atitudes de comunicação; apresentam uma linguagem muito imatura com uso de jargões (que são termos que só a criança com Autismo consegue entender), ecolalia (ato de repetir o que o outro fala), reversões de pronome (se expressa na 3ª pessoa), prosódia anormal (a forma de falar é sem sentimentos, sem emoção, entonação monótona). A falta de reciprocidade, onde não se faz entender, não insiste de forma diferenciada sem utilizar mecanismos atraentes, dificuldade em dar um retorno após ter recebido uma ordem ou ter iniciado um diálogo, muitas vezes ela fala sozinha e, além disso, possui grande dificuldade de responder ao seu nome. Tem muita dificuldade de fazer abstrações dentro da linguagem: dificuldade de entender linguagem figurada, piadas, expressões faciais, formas de linguagem corporal, situações de sarcasmo, linguagem subliminar. Tais características observam-se de forma mais contundente no Transtorno de Asperger do que no Autismo Típico mas, em geral é assim também. Comportamentos repetitivos e interesses restritos 1. Resistência à mudanças - se elas tem uma determinada rotina e são tiradas dela abruptamente, elas choram, gritam, se jogam no chão ou se autoagridem; 2. Insistência às rotinas; 3. Apego excessivo a alguns objetos específicos; 4. Fascínio com movimento de peças movimento de rodar, pendular, de ventilador, muitas vezes em vez de brincar com o carrinho, a criança fica rodando o mesmo ou empilhando para vê-lo cair e ouvir o som da queda; 5. Tendência ao alinhamento ou manuseio do objeto de uma forma fora do contexto,
mania de categorizar ou separar em cores e não pegar todos aqueles objetos de cores diferentes e brincar de maneira lúdica; 6. Movimentos esteriotipados movimentos sistemáticos das mãos em momentos inadequados, excessivos, fora do contexto; 7. Ritualismo a criança muitas vezes cria determinados rituais e não consegue fazer as coisas fora desses rituais, independente da situação; 8. Faz as coisas sem criatividade pois a criatividade muitas vezes exige a interação social, e algumas vezes a criança não se deixa modificar e faz as coisas sempre do mesmo jeito; 9. Mania de colecionismo colecionam objetos como trens e outros; 10. Acúmulo de objetos; 11. Alterações alimentares (cores, consistência, rituais com talheres) muitas vezes comem comida só de uma determinada cor, consistência, entre outras coisas; 12. Autoagressão ou heteroagressividade agridem demais a si mesmo ou aos outros, especialmente em atividades que requerem interação; 13. Comportamento fóbico medos inexplicáveis como, por exemplo, de ambientes fechados ou com barulhos, etc; 14. Não reconhece o perigo também não aprendem o que lhes é explicado e falado, voltando a fazer a mesma coisa, sem qualquer tipo de antecipação preparatória para evitar determinada situação; 15. Hiperatividade e falta de atenção muitos deles são inquietos e desatentos; Hiper ou Hiporreatividade sensorial No TEA, ocorrem em 80% dos casos. Não são considerados sintomas-alvo, mas também os vemos citados no DSM-5 como sintomas que fazem parte do transtorno sendo dado nesta versão um destaque especial. É quando o indivíduo apresenta um distúrbio de sensibilidade ou de percepção frente a estímulos usuais e esperados do ambiente levando-o a uma resposta inadequada e a um comportamento anormal, como: 1) Alta tolerância a dor é muito comum os pais relatarem casos de que a criança se machucou e que, no entanto, não esboçou nenhuma reação de dor; 2) Aperta seus próprios olhos com as mãos e de maneira forte, porém não sente dor sentindo, algumas vezes, prazer em realizar este movimento repetitivo. Também a mania de colocar os dedos no ouvido, não somente pela hipersensibilidade aos sons, mas
pela execução do movimento repetitivo; 3) Excessiva preocupação com texturas e com determinadas consistências seja na parede ou em brinquedos e muitas vezes não brinca com o brinquedo - fica apenas tocando a área mais áspera do mesmo. Além disto, tem excessiva preocupação com o toque apertando a si mesmas ou o outro; 4) Exploração visual atípica: não olha nos olhos, tem um olhar periférico, com foco nas partes pois o autista, devido a algumas disfunções de vias visuais, apresenta uma dificuldade de olhar no centro dos olhos; 5) Resposta atípica/anormal exagerada, tanto para a repulsa quanto para o prazer com aquele estímulo em relação a alguns sons, cheiros e gostos (inclusive uma tendência a ficar cheirando antes entrar em algum local); 6) Tendência a tomar atitudes estranhas, como lamber ou cheirar objetos, pessoas, ambientes de forma excessiva, ou seja, uma atitude de exploração inadequada. Quem pode observar esses sinais? O cuidador que, com ou sem parentesco com a criança, tem que estar sempre observando esses sinais pois convive com este meio; Os pais; Profissionais que trabalham com essas crianças nas escolas, nos CMEI's ou em consultórios médicos e não-médicos; O especialista: obrigação de observar o desenvolvimento da criança, principalmente nos 3 primeiros anos de vida, e conhecer todo o processo do diagnóstico definitivo.