Tribunal de Contas da União Número do documento: DC-0313-14/00-P Identidade do documento: Decisão 313/2000 - Plenário Ementa: Representação formulada por licitante. Possíveis irregularidades na INFRAERO. Concessão de uso de área do Aeroporto Internacional do Galeão para exploração comercial sem o devido procedimento licitatório. Conhecimento. Procedência parcial. Determinação. Arquivamento. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo I - CLASSE VII - Plenário Processo: 009.820/1999-0 Natureza: Representação Entidade: Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária - INFRAERO Vinculação: Ministério da Defesa Interessados: Interessados: Paulo César Fabra Siqueira e PROTEC BAG Comércio de Máquinas e Embalagem Ltda. Dados materiais: ATA 14/2000 DOU de 04/05/2000 INDEXAÇÃO Representação; INFRAERO; Dispensa de Licitação; Contrato; Cessão de Uso; Concessão de Domínio; Comércio; Serviços; Sumário: Representação formulada contra a cessão de área no Aeroporto Internacional do Galeão sem o devido procedimento licitatório. Representação conhecida e considerada parcialmente procedente. Determinação à INFRAERO. Remessa de cópia aos interessados e à entidade. Arquivamento dos autos.
Relatório: Cuidam os autos de Representação formulada pelo Sr. Paulo César Fabra Siqueira e pela firma Protec Bag, Comércio de Máquinas e Artigos de Embalagem Ltda. contra a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária INFRAERO, Superintendência Regional do Rio de Janeiro, em virtude da cessão de área sob a jurisdição e posse no Aeroporto Internacional do Galeão, no Estado do Rio de Janeiro, sem o devido procedimento licitatório. 2. Instruídos os autos, a 3ª SECEX promoveu diligências objetivando esclarecer as seguintes questões: a) quais as empresas que exercem (ou exerceram) nos últimos cinco anos atividades destinadas à exploração comercial de proteção e segurança de malas, bagagens e volumes no Aeroporto Internacional do Galeão, no Estado do Rio de Janeiro? b) identificação do certame que teve a empresa PAC-BAG ou PACK BAG como vencedora para exploração da referida atividade no citado Aeroporto (número, data e modalidade de licitação utilizada); c) número e data de assinatura do contrato firmado com a PAC-BAG ou PACK BAG, dos termos aditivos porventura celebrados e de rescisão, se for o caso (encaminhar cópia de toda a documentação do certame); d) caso tenha ocorrido dispensa de licitação, remeter cópia do respectivo processo acompanhado do contrato e dos termos aditivos celebrados e das justificativas relativas à escolha da concessionária; e) quais as providências adotadas pela Administração da INFRAERO quando soube da existência da queixa-crime formulada pela empresa PROTEC BAG Comércio de Máquinas e Artigos para Embalagens Ltda. e pelo Senhor Paulo César Fabra Siqueira contra os responsáveis pela empresa PAC BAG, por atividades comerciais (supostamente ilegais) exercidas nas dependências do Aeroporto Internacional do Galeão, no Estado do Rio de Janeiro? f) qual o nível de participação da empresa MALEX do Brasil no episódio que deu origem à queixa-crime mencionada no item anterior? 3. Presentes os elementos solicitados, o AFCE João Luiz Ruas Filho promoveu a análise a seguir transcrita, a qual teve o endosso da Sra. Secretaria Substituta da 3ª SECEX:
"5. Conforme registramos na instrução inicial, o uso indevido de patente pela empresa PAC-BAG está sendo examinado no foro adequado, a 20ª Vara Criminal do Rio de janeiro, tocando ao Tribunal apurar a regularidade dos procedimentos administrativos executados pela Administração da INFRAERO no episódio. 6. Para melhor compreensão dos fatos, permitimo-nos recordar que a empresa SAFE-BAG Proteção de Bagagens Ltda. é franqueada da PROTEC BAG para utilização de um sistema patenteado de embalagem aplicado a equipamentos de viagem, e possui contrato de concessão de uso de área (23,40 m²) do Aeroporto Internacional do Galeão, no Estado do Rio de Janeiro, firmado com a INFRAERO para a exploração comercial de atividade de proteção e segurança de malas, bagagens e volumes, sem exclusividade, conforme Contrato de Concessão nº 2.99.61.107-8, fls. 127/143, vigorante no período de 16.03.1999 a 15.03.2002, tendo o anterior, fls. 49/65, vigido de 16.03.1996 a 15.03.1999. 7. À vista das justificativas e elementos informativos acostados aos autos, verificamos que a empresa PAC-BAG exerceu atividades de 'Embalagem de Malas e Volumes' no Aeroporto Internacional do Galeão, no período de 13.11.1997 a 04.05.1998, data da retirada dos equipamentos, mediante cartas-contratos sucessivamente renovadas, como se demonstra:... 8. A área dada em concessão de uso à empresa PAC-BAG, de somente 2,00m², segundo o Senhor Superintendente ocorreu com dispensa de licitação em vista da natureza eventual da contratação, o valor mensal da locação ter sido caracterizado como de pequena monta e, ainda, por falta de uma legislação específica para as concessões eventuais, aplicando-se, por analogia, o disposto no inciso II do artigo 24 da Lei nº 8.666/93, combinado com o artigo 26 do mesmo Diploma legal. 9. Ademais, esclarece que a contratação foi realizada face à proposição da empresa PAC-BAG e com o intuito de oferecer uma alternativa temporária aos usuários do citado Aeroporto. 10. É fato que durante sua vigência (de 13.11.1997 a 04.05.1998), o contrato firmado com a PAC-BAG proporcionou à INFRAERO receitas no montante de R$ 4.613,40 (quatro mil, seiscentos e treze reais e quarenta centavos), caracterizando-se pois como de pequena monta. 11. De igual forma, a área cedida, de apenas 2,00m², é diminuta em relação àquela utilizada, por exemplo, pela empresa SAFE BAG (23,40m²) para realizar o mesmo tipo de comércio, o que parece indicar realmente a natureza eventual da contratação.
12. Nos termos do inciso II do art. 24 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993, citado pelo Superintendente da INFRAERO, é dispensável a licitação 'para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea 'a' do inciso II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez'. 13. Esse limite é atualmente de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), conforme redação convalidada pela Lei nº 9.648/98. 14. Por sua vez, a atual redação do art. 26 da Lei nº 8.666/93, preconiza que 'as dispensas previstas nos 2º e 4º do art. 17 e nos incisos III a XXIV do art. 24, as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justificadas, e o retardamento previsto no final do parágrafo único do art. 8º, deverão ser comunicados dentro de três dias a autoridade superior, para ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de cinco dias, como condição para eficácia dos atos.' 15. Da leitura dos dispositivos transcritos acima depreende-se que a situação prevista no inciso II do art. 24 não se encontra entre aquelas de que trata o art. 26, descabendo assim a alusão a este último artigo, por inaplicável. 16. Cumpre-nos salientar, a propósito, que a matéria em foco acha-se disciplinada no 2º do art. 17 do mesmo diploma legal, no tocante a órgão ou entidades da administração pública, nos seguintes termos: 'Art. 17...... 2º A Administração poderá conceder direito real de uso de bens imóveis, dispensada a licitação, quando o uso se destina a outro órgão ou entidade da Administração Pública.'(grifamos) 17. De igual forma, a Lei nº 7.565, de 19.12.1986, que dispõe sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica, estabelece, nos arts. 41, parágrafo único, e 42, que: 'Art. 41. O funcionamento de estabelecimentos empresariais nas áreas aeroportuárias de que trata o art. 39, IX, depende de autorização da autoridade aeronáutica, com exclusão de qualquer outra, e deverá ser
ininterrupto durante as vinte e quatro horas de todos os dias, salvo determinação em contrário da administração do aeroporto. Parágrafo único. A utilização das áreas aeroportuárias no caso deste artigo sujeita-se a licitação prévia, na forma de regulamentação baixada pelo Poder Executivo. Art. 42. À utilização de áreas aeroportuárias não se aplica a legislação sobre locações urbanos'. (grifamos) 18. Dentro desse contexto, a concessão de uso de área sob a jurisdição e posse da INFRAERO, excetuando-se a ressalva legal de que trata o art. 17 da Lei nº 8.666/93, somente deve ocorrer mediante licitação pública, ainda que a razão de oferecer-se novas opções aos usuários seja relevante. 19. Aliás, o argumento utilizado pelo Senhor Superintendente... de que a transitoriedade da contratação deu-se 'enquanto se definia um local específico para início do processo licitatório e, ainda com o objetivo de avaliar a viabilidade econômico-financeira da atividade', também manifesta-se frágil, pois a contratação deu-se por iniciativa da empresa PAC BAG, logicamente por sua conta e risco como toda atividade comercial desenvolvida em um sistema capitalista. 20. Além disso, tendo como norte a busca de novas alternativas aos usuários, deveria primeiramente a INFRAERO encontrar local adequado e compatível para o desenvolvimento da atividade em questão por outro concorrente, para então elaborar o certame licitatório que julgasse cabível, o que aumentaria o valor da contratação e certamente possibilitaria a aplicação de uma das modalidades de licitação previstas no art. 22 da Lei nº 8.666/93, como ocorreu em relação à empresa SAFE BAG. 21. Cumpre notar, por outro lado, que a participação da empresa MALEX DO BRASIL não se confirmou no episódio relatado pelos representantes, consoante CF Nº 5902/CIRJ/97, de 19.12.1997, fl. 124, tendo acontecido, entretanto, situação parecida em janeiro de 1997, com pronta intervenção da INFRAERO como constata-se da Mensagem nº 259, de 27.01.1997, fls. 126. 22. De salientar, mesmo de passagem, que a renovação do prazo contratual com a empresa SAFE BAG Proteção de Bagagens Ltda por mais três anos (período de 16.03.1999 a 15.03.2002), documentos de fls. 127/143, encontra amparo legal no inciso II do art. 57 c/c o 4º do mesmo artigo da Lei de Licitações.
23. Ante o exposto, considerando que o contrato da INFRAERO com a empresa PAC BAG, motivo desta Representação, findou-se em 04.05.1998, quando o equipamento da contratada foi retirado do Aeroporto por Oficial de Justiça, e 24. Considerando, ainda, a pequena monta da contratação temporária efetuada pela INFRAERO, propomos o envio dos autos à consideração do Excelentíssimo Senhor Ministro Adhemar Ghisi, Relator da LUJ nº 3, para biênio 1999/2000, na qual está a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária INFRAERO, sugerindo: a) conhecer da presente Representação, nos termos do art. 37-A, inciso VII, da Resolução TCU nº 77/96, c/c o art. 213 do Regimento Interno, tendo em vista o preenchimento dos requisitos de admissibilidade, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente; b) determinar à Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária INFRAERO que, em observância ao princípio da legalidade, e considerando a forma continuada da prestação dos serviços, abstenha-se de firmar contratos de concessão de uso de áreas destinadas à exploração comercial em aeroportos em caráter temporário e sem o devido procedimento licitatório, consoante o parágrafo único do art. 41 da Lei nº 7.565, de 19.12.1986, c/c o 2º do art. 17 da Lei nº 8.666/93; c) remeter cópia da Decisão, bem como do Relatório e Voto que a fundamentarem, aos autores da Representação e à mencionada Entidade; d) o arquivamento do processo." É o relatório. Voto: A presente Representação, formulada nos termos do 1º do art. 113 da Lei nº 8.666/93, preenche os requisitos de admissibilidade previstos no art. 213 do Regimento Interno do Tribunal, razão pela qual deve ser conhecida por esta Corte. Quanto ao mérito manifesto-me de acordo com a objetiva análise levada a efeito pela 3ª SECEX. Ante o exposto e de acordo com os pareceres da Unidade Técnica, VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado. T.C.U., Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 19 de abril de 2000.
ADHEMAR PALADINI GHISI Ministro-Relator Assunto: VII - Representação Relator: ADHEMAR GHISI Unidade técnica: 3ª SECEX Quórum: Ministros presentes: Bento José Bugarin (na Presidência), Adhemar Paladini Ghisi (Relator), Valmir Campelo, Adylson Motta, Guilherme Palmeira e o Ministro-Substituto José Antonio Barreto de Macedo. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 19 de abril de 2000 Decisão: O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 8.1. conhecer da presente Representação formulada nos termos do 1º do art. 113 da Lei nº 8.666/93 e por preencher os requisitos de admissibilidade previstos no art. 213 do Regimento Interno, para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente; 8.2. determinar à INFRAERO que, em observância ao princípio da legalidade, e considerando a forma continuada da prestação de serviços, abstenha-se de firmar contratos de concessão de uso de áreas destinadas à exploração comercial em aeroportos em caráter temporário e sem o devido procedimento licitatório, consoante o parágrafo único do art. 41 da Lei nº 7.565, de 19.12.1986, c/c o 2º do art. 17 da Lei nº 8.666/93; (Vide Decisão 1695/2002 Plenário - Ata 49. Modificação da redação. 8.3 remeter cópia desta Decisão, bem como do Relatório e Voto que a fundamentam, aos autores da Representação e à INFRAERO; 8.4 arquivar os presentes autos.