PROCESSO Nº: 0805344-88.2014.4.05.8300 - APELAÇÃO RELATÓRIO O Senhor Desembargador Federal MANUEL MAIA (CONVOCADO) :Tem-se aqui apelação manifestada por AURIMENES DO ALBUQUERQUE DIAS, em face de sentença que, nos autos de ação ordinária promovida em desfavor da União, indeferiu pretensão autoral objetivando autorização para o porte de arma em todos os Estados da Federação. Condenação do apelante no pagamento de honorários advocatícios no valor de R$ 1.000.00 (mil reais), nos moldes do art. 20, parágrafo 4º, do CPC. Embargos de declaração improvidos. Apela a parte autora fundamentado nas seguintes condições: exercício do Cargo de Auditor Tributário do Município do Recife/PE;. exercício de atividade de risco; atirador desportivo e ameaça à integridade física por ser agropecuarista e transportar numerário e sucessivos portes de arma concedidos anteriormente, requerendo, ao final, a reforma do julgado com a consequente inversão da sucumbência. Contrarrazões apresentadas, pugnando pela manutenção da sentença. Parecer do Ministério Público Federal pelo improvimento do recurso. Relatado. JJDO PROCESSO Nº: 0805344-88.2014.4.05.8300 - APELAÇÃO VOTO O Senhor Desembargador Federal MANUEL MAIA (CONVOCADO): Cuidou-se de ação ordinária promovida por particular em desfavor da União, objetivando a renovação/concessão de porte de arma de fogo, cujo pleito foi indeferido pelo juízo de primeiro grau, o que motivou o presente recurso perante esta Corte. Tenho que a sentença merece ser mantida por seus fundamentos. Explico. A Lei nº 10.826/2003, (Estatuto do Desarmamento), ao dispor sobre o registro, posse e
comercialização de armas de fogo e munição estampa em seu art. 10, parágrafo 1º: Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do SInam. parágrafo 1º. A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e dependerá de o requerente: I - demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física (destaquei):... Já a instrução normativa nº 23/2005-DG-DPF define algumas atividades profissionais que são consideradas de risco ou ameaça à integridade física: Art. 18, parágrafo 2º: São consideradas atividade profissional de risco, nos termos do inciso I, do parágrafo 1º, do art. 10, da Lei nº 10.826, de 2003, além de outras, a critério da autoridade concedente, aquelas realizadas por: I - servidor público que exerça cargo efetivo ou comissionado nas áreas de segurança, fiscalização, auditoria ou execução de ordens judiciais; II - sócio, gerente ou executivo, de empresa de segurança privada ou de transportes de valores e, III - funcionários de instituições financeiras, públicas e privadas, que direta ou indiretamente, exerçam a guarda de valores. Por sua vez, o art. 6º, do mesmo diploma legal, dispõe: Art. 6º. É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para: I - os integrantes das Forças Armadas. II - os integrantes de órgãos referidos nos incisos do caput do art. 144, da Constituição Federal; III - os integrantes das guardas municipais das capitais dos Estados e dos Municípios com mais de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, nas condições estabelecidas no regulamento desta Lei. IV - os integrantes das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 (cinquenta mil) e menos de 500.000 (quinhentos mil) habitantes, quando em serviço. V - os agentes operacionais da Agência Brasileira de Inteligência e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. VI - os integrantes dos órgãos policiais referidos no art. 51, IV, e no art. 52, XIII, da Constituição Federal. VII - os integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, os integrantes das escoltas de presos e as guardas portuárias.
VIII - as empresas de segurança privada e de transporte de valores constituídas, nos termos desta Lei. IX - para os integrantes das entidades de desporto legalmente constituídas, cujas atividades esportivas demandem o uso de armas de fogo, na forma do regulamento desta Lei, observandose, no que couber, a legislação ambiental. X - Integrantes das Carreiras de Auditoria da Receita Federal do Brasil e de Auditoria-Fiscal do Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário. XI - os tribunais do Poder Judiciário descritos no art. 92, da Constituição Federal e os Ministérios Públicos da União e dos Estados, para uso exclusivo de servidores de seus quadros pessoais que efetivamente estejam no exercício de funções de segurança, na forma de regulamento a ser emitido pelo Conselho Nacional de Justiça - CNJ e pelo Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP. Vale dizer, não está a atividade do apelante dentre as que possuem direito ao uso de arma de fogo. O Estatuto do Desarmamento foi criado justamente para inibir o acesso irrestrito ao uso de armas, ante o enorme perigo desse artefato, o qual representa um risco efetivo à segurança pública, sendo usado constantemente como instrumento nos mais diversos crimes, razão pela qual justifica-se o rol taxativo de exigências para que seja autorizado o porte legal. De outro modo, depreende-se que para a obtenção do porte de arma de fogo, necessário a demonstração efetiva da necessidade por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à integridade física, logo, é de se concluir que a função de auditor fiscal do município não dá o direito ao porte pretendido pelo apelante. Não se trouxe, por fim, elementos que ensejassem o efetivo risco à integridade física a que alude o art. 10, parágrafo 1º, da Lei nº 10.826/2003. Ao dispor sobre a aquisição e registro de arma de fogo, o art. 24, do Decreto nº 5.123/2004 prevê que dito porte é "pessoal, intransferível e revogável a qualquer tempo", assim, a Administração, na conformidade com seu critério e em face da precariedade do ato, pode revogar o porte de arma concedido ao portador, de acordo com a sua conveniência e oportunidade, não cabendo qualquer interferência do Judiciário. Nessa direção os seguintes julgados desta Corte: ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. PORTE DE ARMA DE FOGO. ATO DISCRICIONÁRIO. INEXISTÊNCIA DE SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS ESTAMPADAS NA LEI Nº 10.826/2003. RENOVAÇÃO. CRITÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO. 1. Apelação de Advogado Criminal, em face de sentença que indeferiu pretensão autoral no sentido de autorização para renovação de porte de arma de fogo em defesa pessoal, cujo prazo venceu em 14 de fevereiro de 2009. 2. O Superior Tribunal de Justiça entende que "O art. 10, da Lei nº 10.826/2003 dispõe que a autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido em todo o território nacional é de competência da Polícia Federal e somente será concedida após autorização do Sinam (...). À míngua de normatização estadual e de autorização da autoridade competente, o Poder Judiciário não pode atuar como legislador positivo nem ingressar na seara do mérito administrativo, seja para autorizar agente penitenciário a portar sua arma no ambiente de trabalho, seja para
determinar ao Secretário de Justiça do Estado a emissão de autorização do porte de arma" (STJ - RMS 32402, 1ª T, Relator o Ministro Benedito Gonçalves, j. 19.10.2010, DJe, 26.10.2010. 3. Não obstante ser colecionador, além de afirmar possuir diversas armas de grosso calibre, todas licenciadas, não se desincumbiu o apelante de demonstrar estar em situação de risco ou apresentou comprovação de ameaça à sua integridade física, ou mesmo de seus familiares, na forma das exigências excepcionais constantes do art. 10, parágrafo 1º e incisos, da Lei nº 10.826/2003. Precedentes desta Corte. 4. O art. 24, do Decreto nº 5.123/2004, que tratou da aquisição e do registro de arma de fogo de uso permitido, prevê que dito porte é "pessoal, intransferível e revogável a qualquer tempo", podendo pois, a Administração, de acordo com o seu critério e em face da precariedade do ato, revogar o porte de arma concedido ao portador, de acordo com a sua conveniência e oportunidade. AC 454.193-AL, Terceira Turma, Relator o Desembargador Federal GERALDO APOLIANO, j. 16.06.2010, DJe, 22.07.2010. 5. Apelação improvida. (AC 526.331-PE, Terceira Turma, Relatora a Desembargadora Federal Cintia Menezes Brunetta (Convocada), DJe, 10.08.2012, página 163). ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUTORIZAÇÃO PARA PORTE DE ARMA DE FOGO. AVALIAÇÃO DISCRICIONÁRIA. NÃO OCORRÊNCIA DE SITUAÇÕES EXCEPECIONAIS QUE JUSTIFIQUE A LICENÇA. AGRAVO IMPROVIDO. 1. Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de antecipação de tutela recursal, contra a decisão proferida pelo MM. Juízo Federal da 1ª Vara-PB, que, em sede de Mandado de Segurança, indeferiu o pedido de liminar objetivando a autorização para porte de arma de fogo em favor de particular. 2. O agravante requer a reforma da decisão agravada, alegando que necessita da autorização para o porte de arma de fogo para defesa pessoal, sob o argumento de ameaça à sua integridade física em razão de ter ocupado o cargo de Secretário de Administração do Estado da Paraíba por quase dois anos, bem como por dirigir empresa de construção civil com filial em São Luiz/MA, e por isso precisar deslocar-se para lá quase que semanalmente no seu veículo. Aduz que preencheu todas as exigências descritas na Lei nº 10.826/2003, possuindo direito líquido e certo à autorização para porte de arma de fogo. 3. Contudo, o impetrante já está afastado há mais de um ano do referido cargo público, sem que haja qualquer notícia de que nesse período tenha ocorrido qualquer tipo de incidente o qual tenha ameaçado a sua integridade física e que tenha sido motivado por atos por ele praticados quando ainda em exercício. Assim como a atividade atualmente desempenhada pelo impetrante não é caracterizada como atividade de risco, ainda que precise estar constantemente viajando de carro, não se enquadrando a situação do impetrante nas hipóteses legais para autorização do porte de arma de fogo. 4. Dessa forma, o impetrante, de fato, não demonstrou preencher os requisitos para a autorização para porte de arma de fogo, pelo qual não há que se considerar presente a plausibilidade do direito alegado. 5. Agravo de instrumento improvido. (PROCESSO: 00011814020124050000, AG122349/PB, DESEMBARGADOR FEDERAL WALTER NUNES DA SILVA JÚNIOR (CONVOCADO), Segunda Turma, JULGAMENTO: 10/04/2012, PUBLICAÇÃO: DJE 19/04/2012 - Página 359).
Pertinente ao atirador desportivo, adoto o entendimento expendido na sentença, na medida em que afirma: "Em relação ao atirador desportivo, o art.6º, IX, da referida lei estabelece que cabe ao regulamento disciplinar essa hipótese. Infere-se do 1º do art. 30 do Decreto nº 5.123/04 que aquele terá direito apenas ao porte de trânsito, não há regulamentação quanto ao porte de arma. Diante do arcabouço jurídico em vigor, atualmente, essa categoria não está habilitada a ter porte de arma concedido pela Polícia Federal como pretender a parte autora". Isto é, o fato de o apelante ser atirador desportivo não tem o condão de obter direito à renovação do porte de arma, pois o porte de arma de atiradores/praticantes de tiro desportivo, bem como de colecionadores possui categoria própria distinta, submetida a determinados requisitos (art. 30, parágrafo 1º, do Decreto nº 5.123/04). A despeito de ser agropecuarista e transportar eventualmente valores para pagamento a trabalhadores, não demonstrou o apelante a situação de efetivo risco à atividade profissional ou à integridade física a que alude o art. 10, parágrafo 1º, inciso I, do Estatuto do Desarmamento. Por todas essas razões, e acompanhando o douto parecer do Ministério Público Federal, nego provimento à apelação. Écomo voto. PROCESSO Nº: 0805344-88.2014.4.05.8300 - APELAÇÃO EMENTA: ADMINISTRATIVO. RENOVAÇÃO DO PORTE DE ARMA DE FOGO. CRITÉRIO DE CONVENIÊNCIA E OPORTUNIDADE DA ADMINISTRAÇÃO. DECRETO Nº 5.123/2004. REQUISITOS TRATADOS NO ART. 10, PARÁGRAFO 1º, INCISO I, DA LEI Nº 10.826/2003 NÃO CUMPRIDOS. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DO EFETIVO RISCO À ATIVIDADE PROFISSIONAL OU Á INTEGRIDADE FÍSICA. IMPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Apelação do particular em face de sentença que indeferiu pretensão autoral consistente na renovação de porte de arma de fogo. 2. O art. 24, do Decreto nº 5.123/2004, ao dispor sobre a aquisição e registro de arma de fogo, prevê que dito porte é "pessoal, intransferível e revogável a qualquer tempo", assim, a Administração, na conformidade com seu critério e em face da precariedade do ato pode revogar o porte de arma concedido ao portador, de acordo com a sua conveniência e oportunidade, não cabendo qualquer interferência do Judiciário. Precedentes do STJ e desta Corte. 3. A atividade profissional do apelante (Auditor Tributário do Município do Recife/PE), não está entre aquelas que permitem o porte de arma de fogo (art. 6º e incisos da Lei nº 10.826/2003 - Estatuto do Desarmamento), nem mesmo dentre aquelas consideradas atividades profissionais de risco a que alude o art. 18, parágrafo 2º e incisos da IN 23/2005-DG-DPF. 4. despeito de ser agropecuarista e transportar eventualmente valores para pagamento a trabalhadores, não demonstrou o demandante a situação de efetivo risco à atividade profissional ou à integridade física a que alude o art. 10, parágrafo 1º, inciso I, do Estatuto do Desarmamento.
5. O fato de o autor ser atirador desportivo não tem o condão de obter direito à renovação do porte de arma, pois o porte de arma de atiradores/praticantes de tiro desportivo, bem como de colecionadores possui categoria própria distinta, submetida a determinados requisitos (art. 30, parágrafo 1º, do Decreto nº 5.123/04). 6. O Estatuto do Desarmamento foi criado justamente para inibir o acesso irrestrito ao uso de armas, ante o enorme perigo desse artefato, o qual representa um risco efetivo à segurança pública, sendo usado constantemente como instrumento nos mais diversos crimes, razão pela qual justifica-se o rol taxativo de exigências para que seja autorizado o porte legal. 7. Apelação improvida. PROCESSO Nº: 0805344-88.2014.4.05.8300 - APELAÇÃO A C Ó R D Ã O Decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes nos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.