ANAIS DA XI-SARU ISSN: 22379584



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Transcrição:

ANAIS DA XI-SARU ISSN: 22379584 Bairros populares de Salvador-Ba: O caso do patrimônio cultural africano do bairro do Cabula. Paulo Henrique Oliveira Silva Carolina de Andrade Spinola Salvador - 2014

Bairros populares de Salvador-Ba: O caso do patrimônio cultural africano do bairro do Cabula. Msc Paulo Henrique Oliveira Silva (UNIFACS) paulo.turismo@yahoo.com.br Drª Carolina de Andrade Spinola (UNIFACS) carolina.spinola@unifacs.br 1. INTRODUÇÃO É inegável a ligação entre a Bahia e as matrizes africanas, por isso acredita-se que reconhecer e legitimar essa relação, numa grande cidade como Salvador, contribui para que a sociedade local incorpore naturalmente os seus valores identitários e de pertença disponíveis através do patrimônio cultural. A partir dessa compreensão, os bairros populares de Salvador podem, por propriedade cultural reconhecida, ampliar o repertório cultural dos seus atores locais, acreditase que para tanto o uso do patrimônio cultural deverá ocorrer de forma participacionista. O enfoque desse trabalho é valorizar essas relações socioculturais com o reconhecimento do patrimônio cultural de matriz africana existente no bairro do Cabula. Isto porque a cultura não existe em seres humanos genéricos, em situações abstratas (VANNUCCHI, 2002). O setor cultural hoje, principalmente em Salvador, exige uma atenção particular. O problema está no caráter individual e na informalidade da atividade. Não há uma metodologia adequada para sistematizar as variadas formas de cultura que existem, portanto qualquer número sobre o assunto é uma mera especulação. O que ocorre em Salvador - BA, é que esses símbolos nem sempre são de fácil acesso para maioria das pessoas e também nem todas às vezes são apoiados adequadamente. O Cabula hoje, por exemplo, é conhecido por ser uma área residencial e de comércio pujante, porém existem manifestações que resgatam a cultura regional, permitindo perceber a sua relevância simbólica com suas práticas musicais, manifestações artísticas, características quilombolas e formação sociocultural. Há fatos relacionados ao refúgio dos escravos no quilombo do Cabula, principal quilombo de resistência negra na época da escravidão na cidade, inclusive foi ele que deu origem ao nome do bairro (FERNANDES, 2003). O quilombo do Cabula era um dos mais difíceis de serem acessados pelas milícias da época, devido ao seu relevo íngreme e mata fechada, sendo local de esconderijo dos negros. As matas fechadas contribuíam ainda mais para a realização de rituais do candomblé, como forma de combate às ações ostensivas das milícias. 2. OBJETIVOS E METODOLOGIA O objetivo dessa pesquisa foi mapear e analisar o patrimônio cultural de origem africana no Cabula para reconhecer iniciativas locais dentro desse bairro popular. A discussão está

pautada na aliança entre bairros populares e os processos culturais participativos que podem ser gerados a partir dessa ligação. O método de abordagem utilizado foi o indutivo, que partiu da experiência do caso de um bairro em particular, para a generalização da importância do patrimônio. Foi utilizado também o método foi o descritivo para o levantamento e detalhamento do patrimônio cultural. Já a característica etnográfica do trabalho se origina do vínculo com a descrição dos elementos de uma cultura específica, tais como comportamentos, crenças e valores. A natureza da pesquisa é direcionada pelo estudo de caso e então o marco territorial utilizado como escala de análise é um bairro. Ele é uma escala urbana e traz a ótica marxista em Lefebvre sua compreensão traz o problema na ótica da modernidade, com seus limites e contradições, chamando-o de unidade natural da vida social, com a ideologia comunitária na sua base (BEZERRA, 2011 apud LEFEBVRE, 1975, p. 200-201, tradução nossa). Na delimitação geográfica a área do bairro do Cabula tem 24.000 mil hab. e há uma área de influência formada por bairros vizinhos como a Mata Escura, Barreiras, Tancredo Neves, São Gonçalo, Engomadeira, Resgate, que também foram considerados. Nessa área foi realizada a pesquisa de campo em junho de 2014, com entrevista para o levantamento dos bens culturais 3. RESULTADOS DA PESQUISA Foram levantados seis pontos patrimoniais considerados patrimônio cultural legítimo e com necessidades de fortalecimento das ações no bairro, principalmente, pela relevância histórica e valor simbólico. O Terreiro de Candomblé Ilê Axé Opo Afonjá: Foi em 1910 que a história do terreiro ganhou vida, na figura de Eugênia Anna dos Santos, a primeira responsável pelo terreiro que é regido pelo orixá Xangô e denominado de Ketu, por pertencer a uma região da África de onde os últimos grupos de negros foram trazidos para o Brasil. O terreiro ocupa uma área de cerca de 39.000 m². Sua infraestrutura é composta por várias edificações religiosas, habitações, uma escola municipal e um museu, sendo que nessa área ainda contém uma importante remanescente de Mata Atlântica. Um destaque para o Museu Ilê Ohum Ilailai, fundado em 1982, um espaço guiado por uma museóloga que conta toda a história do terreiro, que se confunde com a história do negro do Brasil. Lá existem 750 peças originais da época da escravidão. E também destaca-se o seu tombamento que ocorreu em 28 de julho de 2000 pelo IPHAN. De alguma maneira, eles precisavam de uma ação que legitimasse seu território, e encontraram por meio da intervenção estatal. Casa lua cheia: é um grande centro de mesa branca de Umbanda sua iniciação no Cabula, segundo o responsável pela casa, foi uma necessidade do caboclo (entidade espiritual da instituição) e forças da natureza, que

precisavam de um espaço maior e com uma grande área de vegetação para o desenvolvimento da religião Umbanda. Como prova da existência intensa de comunidades escravas no local, foi encontrada na época da instalação da casa, uma placa com indicação de uma casa abandonada de uma negra e por isso construiu-se uma grande imagem de Yemanjá. Em relatos o responsável menciona que a imagem foi construída a partir das orientações dadas pela própria Yemanjá, quando estava incorporada. Hoje ela funciona como uma fonte, que já foi motivo de muitas visitas de curiosos, moradores e turistas, que consideram o monumento uma peça simbólica e de beleza rústica. Terreiro Viva Deus: Ele foi fundado em 1946 e é um terreiro de nação Angola Com regente Oxalá. Ele preserva suas tradições com arquitetura original e seu calendário de festas sempre foi a grande dinâmica do terreiro, que é aberto à comunidade durante todo o ano. O calendário inclui a feijoada para Ogum e a festa dos Caboclos, em junho. Isto faz com que através do profano as pessoas atentem ao sagrado e à importância da cultura afro-brasileira. A sua importância perpassa pela sua cultura, difundida na comunidade, mas também pela realização de trabalhos sociais. Eles enfrentam muitas dificuldades por falta de apoio e, muitas vezes, de reconhecimento dessa relevância. Terreiro Bate Folha: Surgiu oficialmente em 1916 com o propósito de difundir a cultura africana A área onde hoje está localizado o terreiro foi uma roça doada por uma das suas clientes como forma de gratidão ao trabalho desenvolvido por ele. A roça foi um desmembramento de uma fazenda que existia no Cabula e tem 155.000 m². No início da organização do terreiro foram encontradas nessa área inúmeras tendas e materiais ligados à cultura afro-religiosa deixados pelos negros refugiados que vivam no quilombo do Cabula e realizavam seus cultos na época. Grupo Cultural Arca do Axé: Nos seus quase 20 anos de existência, na sua formação buscou um grupo de pessoas para mobilizar-se culturalmente e começou com o nome Engenho de Negros, inspirados na ligação que o Cabula tem com o Candomblé. O propósito era a formação de um grupo cultural que dissemine a cultura de matriz afro no bairro de origem, tanto que iniciou suas atividades com foco em disseminar poesias e poemas sobre o tema. A formação do bloco carnavalesco, assim como toda a missão do grupo Arca do Axé, tem como base a memória dos membros do grupo, que trazem consigo o interesse em resgatar o carnaval e a lembrança de carnavais com ares mais democráticos. Em tudo isso eles veem surgir possibilidades para a reafricanização legítima da cultura baiana, com o espaço justo ao de todos os outros. Escola de Educação Percussiva Integral (EEPI): O surgimento da Escola de Educação Percussiva Integral EEPI está intimamente ligado à presença significativa de afrodescendentes na nossa população local. A história desses afrodescentes precisava ser preservada, contada e mantida viva diante de um bairro que já mostrava sinais de mudança estrutural. O intuito era tornar as

ligações com a africanidade mais presentes no cotidiano dos habitantes da cidade. O projeto foi implantado em 2003 e a sede, onde hoje funciona a escola, era uma associação, mas a ligação com os ritmos percussivos africanos e poucos difundidos na Bahia existe desde o começo a ponto de interessa a pesquisadores internacionais e eles realizarem turnê em vários momentos do ano. CONCLUSÕES Estudar o seu patrimônio cultural é uma necessidade da sociedade Brasileira, porque apesar de rica culturalmente, não consegue organizar a cultura de forma democrática. Descobriu-se que as contribuições advindas do patrimônio cultural são decisivas nesse processo de desenvolvimento local. O desafio para um maior reconhecimento desses bens existentes em no bairro do Cabula e em vários outros bairros com a mesma característica na cidade será enfrentar o atual quadro heterogêneo e dicotômico da cultura local. O ponto de partida é a desconstrução dos estereótipos e do comodismo presentes nos dias atuais na comunidade, que comprometem as possibilidades de organização coletiva num futuro. Para transformações mais amplas, ligadas a mudanças estruturais, é necessário superar o problema de gerenciamento cultural e de turismo da cidade de Salvador, que direciona as ações para determinadas áreas da cidade de modo a não oferecer outras alternativas. Esse processo não está imune a dificuldades, é uma situação que ocorre a nível nacional e na cidade de Salvador refleti em muitos outros fatos que endossam as dificuldades. Para avançarmos, os bairros populares precisam se tornar áreas funcionais no que se refere à cultura na cidade, pois hoje representam áreas de habitação popular, com grande interferência do capital imobiliário, tendo como consequência desmatamento, poluição, congestionamento, dicotomia social e pulverização dos seus recursos culturais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEZERRA, Josué Alencar. Como definir o bairro? Uma breve revisão. Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil, v. 1, n. 1, p. 21-31, jan./jun., 2011. Disponível em: <http://periodicos.uern.br/index.php/geotemas/article/view/118/109>. Acesso em: 13 jul. 2013. FERNANDES, Rosali Braga. Las políticas de la vivienda en la ciudad de Salvador y los processos de urbanización popular en el caso del Cabula. 1. ed. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2003. VANNUCCHI, Aldo. Cultura brasileira o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2002.