FACULDADE PITÁGORAS FACTEF UNIDADE DE TEIXEIRA DE FREITAS-BA CURSO DE DIREITO Aspectos jurídicos intrínsecos no livro Senhora à luz do Novo Código Civil. Teixeira de Freitas-BA 2012
JOSEFHA SENHORINHA PEÇANHA OSAMU KISHI WELLINGTON FERREIRA KRULL Aspectos jurídicos intrínsecos no livro Senhora à luz do Novo Código Civil. Trabalho apresentado na disciplina de Direito Civil VII, Direito das Sucessões, como instrumento avaliativo do primeiro bimestre. Profª.: Ma. Rosinete Cavalcante da Costa. Teixeira de Freitas-BA 2012
SUMÁRIO 1- Introdução... 4 2 Resumo do Livro... 5 3 Aspectos jurídicos... 6 3.1 Conceito de Sucessão... 6 3.2 Sucessão Testamentária... 7 4 Considerações Finais... 10 5 Referências Bibliográficas... 11
1. INTRODUÇÃO A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 trouxe inovações quanto aos direitos e garantias individuais de cada cidadão. Além da Carta Magna o novo Código Civil foi reformulado e, no capítulo especial, tratou do Direito das Sucessões. Este direito encontra-se normatizado nos artigos 1784 a 2027, do Livro V da Parte Especial do Novo Código Civil, bem como tais direitos são tutelados nos artigos 982 a 1045 do Código de Processo Civil. Diante desta temática, procurou-se no livro Senhora do inesquecível poeta da literatura brasileira, José de Alencar, aspectos jurídicos que retrate o tema em comento, objetivando explorar no romance passagens que façam ligação com o direito sucessório. É imprescindível observar que o período romântico, ora retratado no livro em tela, traz um direito totalmente diferente do que vigora hoje, mas alguns atos são semelhantes tanto formalização como no objeto a ser compartilhado. 4
2. RESUMO DA OBRA SENHORA. O romance Senhora se passa no século XIX, na baixada fluminense, Rio de Janeiro. O autor José de Alencar, ainda na sua fase do Romantismo, escreve esta obra, que tem como principais personagens Aurélia e Fernando Seixas. Descreve o materialismo e as vaidades que rege a sociedade carioca daquela época, em sua visão uma sociedade decadente, que privilegia as riquezas externas em detrimento do caráter, da moral e dos bons costumes de sua época. Aurélia é uma moça pobre e órfã, inicialmente do pai e, tempos depois, da mãe, além de ser muito bonita. Apaixona-se por Fernando Seixas, porém é trocada por Adelaide Amaral por um dote de 30 contos de réis que o varão recebeu como oferta para casar com a pretendente, o que a deixa profundamente magoada e terá reflexos na sua vida a partir de então. Fernando Seixas, um verdadeiro bon vivant, vive de aparências externas, vestindose sempre na moda, frequentador assíduo da alta sociedade, comportando-se como se desta casta fosse. Vive com sua mãe e duas irmãs numa casa humilde, que trabalham de costureiras para manter o luxo e as vaidades do irmão. Apos a morte do avô, Aurélia é sua única e universal herdeira, o que a torna rica de um dia para outro. A partir de então inicia a sua vingança. Tem como tutor seu tio Lemos, que compra, a seu mando, um marido por cem conto de réis, o ilustre Fernando Seixas. Inicia-se então um casamento de aparências já em sua noite de núpcias. Fernando é humilhado da forma mais vil por sua esposa Aurélia, que passa então a destilar toda a sua fúria, angústia e amargura acumulada durante todos esses anos, atingindo o âmago do seu antigo amor que o desmoraliza a tal ponto de pensar em tirar a sua própria vida. Apos 11 meses de casamento, Seixas recebe uma boa notícia que o deixa animado, havia participado antes do casamento de uma negociata que havia lhe rendido bons frutos e que junto de suas economias lhe renderia os vinte contos de reis que havia tomado antecipadamente como parte do acordo para seu casamento. Assim consegue pagar Aurélia e conquistar a sua alforria de forma digna, reconquistando a sua honra outrora perdida. Aurélia vendo a ação do marido percebe que o mesmo 5
havia mudado e resolve perdoá-lo. Mostra ao seu grande amor o Testamento em que havia deixado toda a sua fortuna para ele. Após então reatam e se amam para recuperar o tempo perdido. 3. ASPECTOS JURÍDICOS 3.1. Conceito de Sucessão Segundo Diniz (2010, p. 3), direito das sucessões vem a ser o conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento (CC, art. 1.786). A nosso ver, o direito das sucessões define-se como um conjunto de regras jurídicas que tutelam a forma de transmissão dos bens do de cujos aos seus herdeiros e legatários. Na definição de Fiuza (2009, p. 1005), sucessão é a continuação de uma pessoa em relação jurídica, que cessou para o sujeito anterior e continua em outro. É a transferência de direitos de uma pessoa para outra. Para Fiuza a pessoa deixa de existir apenas no campo material, mas é contínua em relação jurídica, pois esta relação não é mortificada, sendo transferida para o herdeiro ou legatário. Para Gonçalves (2010, p. 19), a palavra sucessão, em sentido amplo, significa o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituído-a na titularidade de determinados bens. Este conceito de sucessão trazido por Gonçalves é muito restrito, pois o de cujos pode determinar quais bens poderão ser substituídos na titularidade quando estiver sendo feita a sucessão testamentária. Entretanto, a sucessão legítima é universal e atinge todos os bens do falecido. Daí poder dizer que o sentido citado pelo autor deve ser em sentido estrito, pois se for em sentido amplo esta transferência deve atingir todo bem material deixado por aquele que finalizou sua personalidade jurídica. 6
Neste diapasão, conclui-se que o direito sucessório abarca um conjunto de norma que disciplinam a forma de transmissão dos bens do falecido para os herdeiros e legatários. Esta transferência se dá pela lei ou por testamento. 3.2. Sucessão testamentária O Novo Código Civil traz como regra a sucessão legítima. Entretanto, há exceções e dentre estas está a sucessão testamentária. Esta se opera por ato de última vontade do de cujos e tem forma especifica em lei para sua efetividade e eficácia. Ao analisar o livro Senhora é perceptível que os temas tratados se referem ao testamento, ou melhor, sucessão testamentária. Esta forma sucessória se dá em varias passagens do romance. A primeira ocorre quando Aurélia, menina pobre, recebe toda a herança do seu avô por meio de testamento. Isto ocorreu naquela época por ser a menina a única herdeira do velho fazendeiro, pois era filha de seu único filho, herdeiro legítimo, falecido por uma grave doença. Confirma-se tal comentário nos escritos do romance, a saber: - Pois saiba que isto é um papel... uma escritura que passei, e para não a perder na viagem, deixo em sua mão. Na capa do maço estavam escritas em bastardinho estas palavras. Para minha neta Aurélia guardar, até eu, seu avô, lhe pedir. L. S. Camargo. (Alencar, 2002, p.130). Nestes escritos estavam descritos todos os bens que o velho possuía e, naquele momento, estava transferindo para sua neta. Inicialmente para que esta guardasse e, posteriormente, a mesma veio saber que o documento deixado reconhecia o pai de Aurélia como filho do velho Lourenço Camargo e a menina, sua neta, sendo a única e universal herdeira. O papel continha o testamento em que Lourenço de Sousa Camargo reconhecia e legitimava como seu filho a Pedro Camargo, que fora casado com D. Emília Lemos, declarando que à sua neta D. Aurélia 7
Camargo, nascida de um legítimo matrimônio, instituía a sua única e universal herdeira. (Alencar, 2002, p. 134). Pode-se dizer que pela circunstância, caso o fato ocorre nos dias atuais, a menina era a legítima herdeira do velho, não havendo necessidade de testamento, pois a mesma herdaria de forma legal todos os bens do avô. Mas como os costumes da época traziam outras particularidades quanto ao reconhecimento dos filhos e seus descendentes foi necessário, então, a realização de um testamento para que os bens deixados por Lourenço Camargo ficasse com sua herdeira legal. Ainda assim naquela época os herdeiros colaterais achavam-se no direito de reclamar e contestar o testamento deixado pelo avô de Aurélia, fato que seria impossível na legislação atual. Assim é o trecho do romance: Constara-lhes de fonte certa que o velho tinha feito testamento na Corte, e segundo as suas conjeturas deixava todos os bens a uma rapariga, filha de certa mulher perdida, antiga amásia de Pedro Camargo. À vista disto haviam-se reunido e ali estavam para declarar ao tio que não consentiam jamais em semelhante espoliação. Se, como esperavam, ele não reparasse o seu erro, para o que já traziam o escrivão de paz, o preveniam desde logo que anulariam esse testamento pela instituição de pessoa indigna. (Alencar, 2002, p. 132). Insta dizer que os argumentos arguidos pelos sobrinhos não encontrariam amparo legal no atual Direito Sucessório, pois estes estarão na quarta ordem de vocação sucessória. Mas naquela época o questionamento se dava pela dignidade da pessoa a quem o tio deixara o testamento, pois para ser digno de herança deveria ser herdeiro de pais casados e consentidos pelos avôs e perante toda a sociedade. O instituto da dignidade ou indignidade como transcrito é totalmente diferente do sistema legal atual, onde o referido instituto tem forma taxativa que tutela a exclusão do herdeiro por indignidade. 8
Outro ponto de grande relevância quanto ao tema jurídico retratado neste trabalho, bem como no romance, é o testamento deixado por Aurélia ao marido Seixas. Tal testamento é possível e legal, pois a mulher não tinha nenhum herdeiro direto a não ser o seu marido. Assim é o parágrafo, in verbis: Ela despedaçou o lacre e deu a ler a Seixas o papel. Era efetivamente um testamento em que ela confessava o imenso amor que tinha ao marido e o instituía seu universal herdeiro. (Alencar, 2002, p. 283). 9
4. CONSIDERAÇOES FINAIS Ao analisar os aspectos jurídicos intrínsecos na obra, percebe-se que a herança era uma questão de vontade do autor. Por isto era freqüente o uso de testamento indicando quem era o herdeiro legítimo para suceder ao de cujos. Tais aspectos, se aplicados de acordo com o novo Código Civil, não teria necessidade testamentária, pois o conceito de família e, consequentemente, de direito sucessório passou a ser tratado em livros separados, mas com tutelas em grande parte afins. Diante disto não há que se falar em neto indigno por não ser filho de pais casados conforme as formalidades legais ou para ser declarado herdeiro legítimo e universal ter o de cujo deixado testamento. Atualmente estas pessoas são amparadas, sendo os filhos e, na falta destes, os netos, como verdadeiros herdeiros do falecido, sendo exceção a regra a forma testamentária. 10
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, José de. Senhora. Ed.4ª. Rio de Janeiro: Record, 2002. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. V. 6: Direito das Sucessões. Ed. 24. São Paulo: Saraiva, 2010. FIUZA, César. Direito civil: curso completo. Ed. 13. revista, atualizada e ampliada. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. V. 7: direito das sucessões. Ed. 4ª. São Paulo: Saraiva, 2010. 11