PDR 2020. Medida 8 Proteção e reabilitação de povoamentos florestais Ação 8.1 Silvicultura sustentável



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Transcrição:

PDR 2020 Medida 8 Proteção e reabilitação de povoamentos florestais Ação 8.1 Silvicultura sustentável Áreas de risco no âmbito da Operação 8.1.3 Prevenção da floresta contra agentes bióticos e abióticos Reconhecimento Científico de Áreas de Risco Junho 2015

Índice 1. Enquadramento 3 2. Distribuição das espécies hospedeiras e respetiva importância económica 4 2.1. Pinhal 4 2.2. Eucaliptal 5 2.3. Montado de sobro e de azinho 6 2.4. Castanheiro 7 2.5. Outros sistemas florestais 7 3. Comportamento dos agentes bióticos nocivos 8 3.1. Pinhal 9 3.2. Eucaliptal 10 3.3. Montado de sobro e de azinho 12 3.4. Castanheiro 12 3.5. Outros sistemas florestais 13 4. Condições que favorecem o estabelecimento de agentes bióticos nocivos 14 4.1. O clima em Portugal 14 4.2. Fatores de risco 15 5. Distribuição dos fornecedores de MFR 17 6. Delimitação de áreas de risco 18 6.1. Portugal continental 18 6.2. Nemátodo-da-madeira-do-pinheiro 19 6.3. Montados de sobro e azinho em declínio 20 6.4. Povoamentos de castanheiro em declínio 20 6.5. Gorgulho e brocas do eucalipto 21 7. Notas finais 23 8. Bibliografia 24 9. Anexos 26 2

1. Enquadramento No âmbito dos critérios de elegibilidade das operações estabelecidos pelo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) para aprovação das candidaturas à Operação 8.1.3. Prevenção da floresta contra agentes bióticos e abióticos, está definido que as operações devem incidir em áreas onde o risco é reconhecido por entidade pública competente, através de critérios técnico-científicos. O Programa Operacional de Sanidade Florestal (POSF) indica os agentes bióticos nocivos que afetam ou poderão afetar a floresta portuguesa (sejam árvores adultas ou plantações jovens), agregando-os segundo a sua classificação como organismos de quarentena ou não quarentena (anexo 1). Considera-se que todo o território continental deve ser considerado área de risco para as ações de prospeção e monitorização das pragas elencadas no âmbito do POSF, existentes no território continental ou com possível risco de introdução, tendo por base os pressupostos a seguir indicados referentes aos agentes bióticos nocivos: Existência de espécies hospedeiras; Existência de condições climáticas adequadas para o seu estabelecimento. No que se refere à aplicação de métodos de controlo, já as respetivas ações deverão ser circunscritas a áreas de risco onde se verifica a presença dos agentes bióticos ou onde a vulnerabilidade a estes é reconhecida, enquadradas quer ao nível das intervenções com escala territorial relevante quer ao nível da exploração. Tais áreas deverão ser definidas tendo por base um ou mais dos seguintes critérios: Agressividade do agente; Intensidade do ataque; Vulnerabilidade dos hospedeiros; Existência de zonas de segurança (zonas tampão, zonas circunvizinhas a locais infetados); Potenciais prejuízos causados; Importância económica dos hospedeiros. Para justificar o reconhecimento das áreas de risco acima referidas, apresentam-se a seguir, para os sistemas florestais apresentados no POSF, os quais são ou podem ser afetados pelos agentes bióticos referidos no anexo 1, uma caraterização da distribuição das espécies hospedeiras e respetiva importância económica, do comportamento dos agentes bióticos e das condições que favorecem o seu estabelecimento, nomeadamente condições climáticas e fatores de risco. Apresenta-se ainda uma caraterização da distribuição dos fornecedores de materiais florestais de reprodução, na medida em que as plantas e sementes representam, para muitos agentes bióticos nocivos, um importante risco de introdução e dispersão de pragas no nosso território. 3

2. Distribuição das espécies hospedeiras e respetiva importância económica A floresta portuguesa encontra-se dispersa por todo o território, sendo constituída por diversas espécies, predominando no entanto os sistemas florestais associados ao pinhal, ao montado de sobro e azinho, ao eucaliptal e ao castanheiro. Os produtos e serviços fornecidos pela floresta (madeira, cortiça, frutos, biomassa, biodiversidade, proteção e recreio) determinam a importância económica, social e ambiental dos sistemas florestais e o impacte económico que a ação dos agentes bióticos nocivos pode ter no setor florestal em Portugal. De acordo com a informação constante no relatório de caraterização da fileira florestal 2014, promovido pela Associação para a Competitividade da Indústria da Fileira Florestal (AIFF), para o período temporal de referência 2011-2013, a balança comercial associada às indústrias da fileira florestal apresenta um saldo positivo de 2.474 milhões de euros (2013), correspondendo a 9,1% do total das exportações nacionais de bens e a 3,4% do total das importações nacionais de bens. A fileira florestal representa ainda 2,2% do total de pessoas ao serviço das empresas em Portugal e 1,7% do total de população empregada. Em 2012, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura apresentou um aumento de 3,9% em volume e 2,4% em valor, relativamente a 2011. No que se refere à Produção da Silvicultura registou-se igualmente um aumento de 4,3% em volume e de 3,6% em valor, relativamente a 2011. Neste mesmo ano, o VAB das indústrias da fileira florestal representou 1,2% do VAB nacional, tendo mantido um peso significativo na totalidade das indústrias transformadoras (cerca de 11%). 2.1. Pinhal Este sistema florestal é constituído essencialmente por pinheiro-bravo e pinheiro-manso, embora existam outras espécies (pinheiro-silvestre, pinheiro-do-alepo e pinheiro-larício) que desempenham localmente um papel relevante pela sua importância produtiva, protetiva e paisagística. De acordo com o IFN 2010, o pinhal ocupa uma área de 890 mil ha (714 mil ha de pinheiro-bravo e 176 mil ha de pinheiro-manso). Conforme se pode observar pelas figuras 1 e 2, o pinhal distribui-se por todo o território com o pinheiro-bravo a ocupar 23% da área florestal do território continental, na sua maior parte localizada na zona de minifúndio e o pinheiro-manso, a ocupar 6% da área florestal total de Portugal continental, com a sua principal área de distribuição na região sul do país. A subfileira da madeira, nomeadamente a madeira de resinosas para fins industriais e a madeira de resinosas para serrar, assenta essencialmente na produção de pinheiro-bravo, tendo-se registado, entre 2011 e 2012, um decréscimo da produção em valor, devido essencialmente à descida dos preços. Também o VAB da subfileira da madeira e do mobiliário, apresentou, entre 2010 e 2012 uma tendência decrescente. No entanto, a balança comercial da subfileira da madeira e do mobiliário de madeira apresenta um saldo positivo, com o valor das exportações de madeira, em 2013, a representarem 2,6% das exportações nacionais de bens. 4

Figura 1 - Distribuição do pinheiro-bravo (IFN 2010). Figura 2 - Distribuição do pinheiro-manso (IFN 2010). A exploração dos povoamentos de pinheiro-manso assume um papel preponderante na economia das explorações florestais de algumas regiões, em particular no Alentejo, devido, sobretudo, às caraterísticas únicas da sua principal produção o pinhão para a indústria alimentar - o que tem permitido um rápido desenvolvimento da fileira do pinheiro-manso, que, hoje, ocupa um lugar importante na economia regional e nacional. Na região do Alentejo, centra-se cerca de 67% da produção nacional de pinha e 15% da produção mundial de pinha. A capacidade produtiva de pinha possui um valor económico de 50 a 70 milhões de euros/ano. Refira-se ainda que o pinheiro-bravo e o pinheiro-manso se enquadrados em Dunas com florestas de Pinus pinea e ou Pinus pinaster formam habitats de proteção obrigatória no âmbito da legislação comunitária (anexo I da Diretiva 92/43/CEE, de 21 de maio). 2.2. Eucaliptal O eucaliptal em Portugal apesar de ser composto por várias espécies de eucalipto, é essencialmente constituído por povoamentos de Eucalyptus globulus, que segundo o IFN 2010, representa a principal ocupação florestal do Continente em área (figura 3), ocupando cerca de 812 mil ha, que corresponde a 26% da área total do território continental. Esta espécie é a matéria-prima base para o setor da pasta, do papel e do cartão, cujas atividades têm evidenciado uma forte solidez. A produção de eucalipto (madeira de folhosas para triturar) apresentou um aumento em valor, entre 2011 e 2012, mantendo a tendência de crescimento dos últimos anos, o que faz com que represente o principal bem silvícola a ser produzido. O VAB da indústria da pasta, do papel e cartão tem apresentado alguma variação ao longo dos anos, tendo-se verificado uma diminuição entre 2010 e 2012. No entanto, em 2013, a balança comercial da subfileira da pasta, do papel e cartão foi a que apresentou maior valor de exportações, representando 4,7% das exportações nacionais de bens. 5

Figura 3 - Distribuição do eucalipto-glóbulo (IFN 2010). 2.3. Montado de sobro e de azinho O montado de sobro constitui a maior mancha contínua de espécies autóctones que se pode encontrar em território português, sendo considerado um dos ecossistemas mais valiosos em Portugal, salientando-se que cerca de um quarto da sua distribuição mundial atual se encontra no país, onde é produzida mais de metade da cortiça consumida em todo o mundo, o que acarreta uma responsabilidade acrescida na sua manutenção. De acordo com os dados do último IFN, o sobreiro ocupa atualmente cerca de 737 mil ha (figura 4), que corresponde a 23% da área florestal total. Já a azinheira, ocupa uma área de cerca de 331 mil ha (figura 5), que corresponde a 11% da área florestal total. Figura 4 - Distribuição do sobreiro (IFN 2010). Figura 5 - Distribuição da azinheira (IFN 2010). 6

A produção de cortiça tem apresentado alguma variação nos último anos, registando-se um decréscimo em valor entre 2011 e 2012, devido essencialmente à conjugação da diminuição em volume com a diminuição dos preços. Apesar deste decréscimo, Portugal continua a produzir mais de metade da cortiça consumida a nível mundial. Entre 2010 e 2012 o VAB da subfileira da cortiça apresentou um valor global sem grandes oscilações, apresentando o fabrico de rolhas um aumento considerável do VAB entre 2011 e 2012. Em 2013, à semelhança das outras subfileiras, a balança comercial da subfileira da cortiça apresentou um saldo positivo, representando 1,8% das exportações nacionais de bens. Tanto o sobreiro como a azinheira formam ainda habitats de proteção obrigatória no âmbito da legislação comunitária. 2.4. Castanheiro A área ocupada pelo castanheiro atinge 1% da área florestal total (IFN 2010), correspondendo a cerca de 41 mil ha (figura 6). É na região de Trás-os-Montes que se situam as áreas mais importantes de castanheiro, embora existam também algumas áreas significativas na região Centro. Estas áreas assumem um papel importante do ponto de vista ambiental e das economias locais, devido à produção de fruto (de qualidade reconhecida internacionalmente), madeira e cogumelos. Figura 6 - Distribuição do castanheiro (IFN 2010). 2.5. Outros sistemas florestais Embora com menor impacte económico e área de distribuição, existem outros sistemas (carvalhos, freixo, medronheiro) distribuídos ao longo do território, que desempenham papel fundamental na manutenção da biodiversidade e conservação dos ecossistemas. Os carvalhos ocupam atualmente cerca de 67 mil ha. 7

3. Comportamento dos agentes bióticos nocivos Os danos provocados pela ação dos agentes bióticos nocivos sobre a espécie hospedeira, podem variar, ao longo do tempo, devido: i) a alterações progressivas nas caraterísticas dos povoamentos (estrutura e densidade, dimensão das árvores, etc.); ii) a fatores de desequilíbrio que podem afetar as árvores (incêndios, excesso ou falta de água, etc.); iii) à classe de agressividade; iv) e à intensidade do ataque. No que se refere ao comportamento do agente biótico, é de salientar a respetiva agressividade e a intensidade do ataque. A agressividade do agente, quantificada através da classe de agressividade (figura 7), é tipificada em função da idade da árvore (árvores adultas e árvores jovens até 5 anos nas resinosas e até 10 anos nas folhosas, com exceção do eucalipto que se considera até 3 anos). No Programa Operacional de Sanidade Florestal, para os diferentes sistemas florestais, foram indicados diversos agentes bióticos e respetivas classes de agressividade, devendo ser prioritária a atuação nos casos em que foi atribuída a classe 3 ou 4. 1 Sem probabilidade de ocorrência 2 Cria perturbações de ordem fisiológica sem grande impacte no hospedeiro 3 Cria perturbações de ordem fisiológica levando a um enfraquecimento gradual do hospedeiro 4 Provoca a morte do hospedeiro Figura 7 Classes de agressividade (adaptado de Sousa, E.M.R., Evangelista, M. e Rodrigues, J.M. (2007) - Identificação e monitorização de pragas e doenças em povoamentos florestais). Os danos causados por um determinado agente biótico dependem não só da sua presença e classe de agressividade mas também da intensidade de ataque, que se reflete pela quantidade de material vegetal afetado (n.º de árvores ou partes da árvore afetadas). A intensidade do ataque varia consoante o nível populacional da praga, o qual pode ser influenciado por diversos fatores (temperatura, presença de inimigos naturais, vulnerabilidade do hospedeiro). A intensidade do ataque quando conjugada com a agressividade do agente permite calcular o Grau de Perigosidade da situação, que servirá de base na tomada de decisão e na definição de uma estratégia de intervenção. 8

3.1. Pinhal Na década de 80, os principais agentes bióticos nocivos que tinham impacte económico ao nível do pinhal e, em especial, no pinheiro-bravo, eram os escolitídeos e em menor grau a processionária (Thaumetopoea pityocampa). No entanto, o declínio provocado por estes insetos tem vindo a agravar-se como consequência, não só da sua ação como também de outros fatores de declínio, como sejam: i) os incêndios florestais; ii) os anos quentes e secos que sucessivamente têm ocorrido; iii) o abandono do mundo rural; ou iv) a falta de gestão dos espaços florestais. A situação fitossanitária do pinhal bravo agravou-se em 1999 com a deteção do NMP, que atacou de forma severa esta espécie, provocando os graves danos económicos e ambientais que se conhecem, razão pela qual é internacionalmente considerado como um dos mais graves problemas fitossanitários ao nível europeu e mundial. Para além dos agentes bióticos nocivos já referidos existem outros que têm atacado tanto o pinheirobravo como o pinheiro-manso, assim como outros Pinus spp., indicando-se, no quadro 1, as principais pragas identificadas em Portugal em função dos órgãos afetados assim como as respetivas classes de agressividade. Quadro 1 - Principais pragas identificadas em Portugal, em povoamentos de pinheiro-bravo e de pinheiro-manso. Órgãos afetados Agulhas Pinhas Tronco e ramos Organismo nocivo Insetos Nome científico Nome comum Classes de agressividade Árvores jovens Árvores adultas Leucaspis pini Cochonilha-branca-das-agulhasdo-pinheiro 3 2 Pineus pini Afídeo-lanígero-do-pinheiro 3 2 Thaumetopoea pityocampa Processionária 3 2 Botrytis cinerea Bolor-cinzento 4 1 Cyclaneusma sp. 3 2 Diplodia sapinea Dieback -do-pinheiro 4 3 Fungos Dothistroma spp. Doença-dos-anéis-vermelhos 4 3 Lophodermium seditiosum Desfoliação 4 2 Pestalotiopsis spp 3 2 Thyriopsis halepensis 2 2 Dioryctria mendacella Lagarta-das-pinhas 2 2 Insetos Pissodes validirostris Gorgulho-das-pinhas 2 2 Leptoglossus occidentalis Sugador-de-pinhas - - Fungos Diplodia sapinea Dieback -do-pinheiro 4 3 Dioryctria sylvestrella Piral-do-tronco 3 2 Ips sexdentatus Bóstrico-grande 1 4 Orthotomicus erosus Bóstrico-pequeno 4 4 Insetos Petrova resinella Resineira 3 2 Pissodes castaneus Gorgulho-pequeno-do- pinheiro 4 3 Pityogenes spp. Bóstrico-bidentado 4 4 Rhyacionia buoliana Torcedoura 3 2 Tomicus destruens Hilésina 1 4 9

Tomicus piniperda Complexo Leptographium Azulado-da-madeira Fungos /Ophiostoma 1 3 Heterobasidion annosum Podridão-do-cerne 4 4 Nemátodo Bursaphelenchus xylophilus Murchidão-do-pinheiro 4 4 Raiz Fungos Armillaria ostoyae Podridão-radicular-do-pinheiro 1 3 3.2. Eucaliptal Durante mais de 150 anos, os eucaliptais em Portugal apresentaram-se vigorosos e sem problemas fitossanitários, até ao momento em que foram introduzidos, acidentalmente, agentes bióticos nocivos nativos das regiões de origem do eucalipto, tornando a espécie também mais suscetível ao ataque de diversas pragas, muitas das quais podem comprometer a produtividade dos povoamentos. São pois, vários os agentes bióticos nocivos que têm afetado a vitalidade e a produtividade das plantações de eucalipto em Portugal (quadro 2), sendo atualmente de destacar, pelo impacte económico e ecológico, o gorgulho e a broca do eucalipto e a doença das manchas. Existem alguns insetos, para os quais outras espécies de eucalipto (Eucalyptus camaldulensis, Eucalyptus tereticornis, Eucalyptus rudis, etc.) são muito sensíveis e que foram introduzidos recentemente em Portugal, constituindo um problema importante para aquelas espécies. Quadro 2 Principais agentes bióticos nocivos com impacte em povoamentos de eucalipto. Órgãos afetados Folhas Tronco e ramos Organismo nocivo Insetos Fungos Insetos Fungos Nome científico Nome comum Classe de agressividade Árvores jovens Árvores adultas Gonipterus platensis Gorgulho-do-eucalipto 3 3 Ctenarytaina eucaliptii Ctenarytaina spatulata 2 1 3 3 Glycaspis brimblecombei Psila-do-eucalipto - - Thaumastocoris peregrinus Psila-das-folhasjovens-do-eucalipto Psila-das-folhasadultas-do-eucalipto Leptocybe invasa 1 Vespa-das-galhas-doeucalipto - - Ophelimus maskelii - - Percevejo-bronzeadodo-eucalipto - - Botrytis cinerea Bolor-cinzento 4 1 Harknessia eucalypti Mycosphaerellaceae Manchas-das-folhas 2 2 Manchas-das-folhas 3 2 Teratosphaeriaceae Manchas-das-folhas - - Phoracantha semipunctata e Phoracantha recurva Broca-do-eucalipto 1 4 Botryosphaeriaceae 2 3 Cytospora spp. 2 2 10

Raízes Teratosphaeriaceae Manchas-das-folhas - - Insetos Melolontha sp. - - Fungos e oomicetas Phytophthora spp. - - 1 Só ataca Eucalyptus camaldulensis, Eucalyptus rudis e Eucalyptus tereticornis. 3.3. Montado de sobro e de azinho O declínio dos montados tem-se manifestado desde o século XX, sendo as suas causas de difícil diagnóstico e de grande complexidade, uma vez que estão, na maior parte das vezes, fortemente interligadas. De facto, o declínio dos montados de sobro e de azinho resulta da interação entre múltiplos fatores de desequilíbrio (bióticos e abióticos), o que dificulta a adoção de soluções tendentes à resolução dos problemas e ao restabelecimento da vitalidade dos ecossistemas. Inicialmente mais afetados por insetos desfolhadores (Lymantria dispar e Tortrix viridana), na segunda metade do século XX o declínio aumentou provavelmente devido à conjugação do stress hídrico observado com a presença e complexa interação de diversos agentes bióticos (nomeadamente insetos, Phytophthora cinnamomi e Diplodia cortícola). Salienta-se ainda o facto de que os montados de sobro e de azinho se localizam, maioritariamente, nas regiões mais ameaçadas pela desertificação, estando por isso mais suscetíveis ao ataque de pragas, uma vez que os fatores abióticos de desequilíbrio se fazem sentir com mais intensidade (menor disponibilidade de água, altas temperaturas, etc.), predispondo a uma perda de vitalidade. Estão, presentemente, assinaladas cerca de 60 populações de fungos e 92 espécies de insetos associadas aos montados de sobro e de azinho, indicando-se no quadro 3 as principais pragas, em função do órgão do hospedeiro afetado. Quadro 3 Principais agentes bióticos nocivos com impacto nos montados de sobro e de azinho. Órgãos afetados Folhas Frutos Organismo nocivo Insetos Insetos Nome científico 11 Nome comum Classe de agressividade Árvores jovens Árvores adultas Archips xylosteana Archips 3 3 Euproctis chrysorrhoea Portésia 3 3 Lymantria dispar Lagarta-do-sobreiro 3 3 Malocosoma neustria Lagarta-de-libré 3 3 Orchestes spp. Orchestes 1 1 Periclistta andrei e P. dusmeti Lagarta-verde 3 3 Phalera bucephala falera 3 3 Tortrix viridana Burgo 3 3 Curculio elephas Balanino 1 2 Cydia spp. Lagarta-da-bolota 1 2

Cortiça Tronco e ramos Raízes Inseto Insetos Fungos e oomicetas Fungos e oomicetas 1 Afeta apenas ramos finos. Coroebus undatus Cobrilha-da-cortiça 1 3 Platypus cylindrus Platipo 1 4 Xyleborus dispar Xileboro 4 4 Zeuzera pyrina Borboleta-leopardo 1 3 2 Phytophthora spp Fitóftora 4 4 Armillaria mellea Podridão-agárica 3 3 Pythium spp - - Phytophthora spp Fitóftora 4 4 3.4. Castanheiro Tal como em outros sistemas florestais, o estado fitossanitário atual dos castinçais resulta da ação conjunta de vários fatores, nomeadamente do meio ambiente e de práticas de gestão. Acresce depois a intervenção dos agentes bióticos nocivos que em muitos casos atuam já numa situação de debilidade do hospedeiro. São vários os agentes bióticos nocivos que têm atacado o castanheiro (quadro 4), sendo de destacar a doença-da-tinta e o cancro-do-castanheiro. Quadro 4 Principais agentes bióticos nocivos com impacte nos castanheiros. Órgãos afetados Folhas Frutos Tronco e ramos Organismo nocivo Insetos Nome científico Nome comum Classe de agressividade Árvores jovens Árvores adultas Crematogaster scutellaris Formiga-da-cortiça 2 2 Cerambix cerdo Capricórnio-dasquercineas 1 3 Coroebus florentinus Cobrilha-dos-ramos 1 1 3 Armillaria spp. Podridão-agárica 3 3 Biscogniauxia mediterranea Carvão-doentrecasco 3 3 Botryosphaeriaceae Seca-dos-ramos 4 4 Dryocosmus kuriphilus Vespa-daas-galhas-docastanheiro - - Euproctis chrysorrhoea Portésia 3 3 Lymantria dispar Lagarta-do-sobreiro 3 3 Malocosoma neustria Lagarta-de-libré 3 3 Fungos Mycosphaerella spp. - - Insetos Insetos Curculio elephas Balanino 1 2 Cydia splendana Lagarta-da-castanha 1 2 Cossus cossus Broca-da-madeira 4 3 Coroebus florentinus Cobrilha-dos-ramos 1 3 Platypus cylindrus Platipo 1 4 Xyleborus dispar Xileboro 4 4 12

Raízes Fungos Fungos Zeuzera pyrina Borboleta-leopardo 3 2 Cryphonectria parasitica Cancro-do-castanheiro 4 4 Botryosphaeriaceae 2 3 Coryneum modonium Cancro-difuso - - Cytospora spp. 2 2 Phytophthora spp. Doença-da-tinta 4 4 Armillaria spp. - - Rosellinia necatrix - - 3.5. Outros sistemas florestais Muitos dos agentes bióticos nocivos referidos para o castanheiro, sobreiro e azinheira afetam também outras espécies, nomeadamente os outros carvalhos. No que respeita aos carvalhos, é de salientar a presença do pulgão-dos-carvalhos (Altica quercetorum), que, pese embora seja considerado, em Portugal, um inseto coleóptero de caráter endémico com presença frequente no centro e sul da Europa, sem nunca ter causado grandes motivos para alarme, recentemente, atingiu níveis populacionais elevados, resultado de condições favoráveis ao seu desenvolvimento, nomeadamente no verão de 2009, tendo-se registado grandes áreas de carvalho atacadas. Não chegando a causar a morte do hospedeiro, mas podendo consumir até cerca de 95% da parte aérea, este coleóptero atrasa o seu crescimento no ano do ataque, deixando o hospedeiro enfraquecido e vulnerável a outros agentes patogénicos. Assim, principalmente em áreas de recreio e lazer onde predomina a importância estética do arvoredo e particularmente no caso de árvores de interesse público, esta praga pode causar danos significativos. 13

4. Condições que favorecem o estabelecimento de agentes bióticos nocivos A suscetibilidade da floresta portuguesa aos agentes bióticos nocivos tem sido alterada ao longo do tempo devido à presença de alguns fatores de desequilíbrio, nomeadamente, diferentes práticas de gestão florestal (por exemplo, rotações mais longas aumentam o risco de infeção, na medida em que o tempo de exposição às pragas é maior), alterações na estrutura dos povoamentos (espécies utilizadas, plantações extensivas e monoespecíficas, densidades de plantação), instalação de plantações em locais pouco adequados, presença de grandes áreas com plantações clonais e perturbações induzidas por fatores abióticos (incêndios florestais e stress hídrico). Ainda que atualmente existam mecanismos que podem minimizar os riscos de recorrência de instalação de pragas, designadamente por via da aplicação do regime jurídico aplicável às ações de arborização e rearborização com recurso a espécies florestais no território continental (RJAAR), torna-se necessário prevenir e controlar as que se encontram instaladas ou que possam se possam vir a instalar, razão pela qual se elencam no presente documento as principais áreas de risco que se afiguram mais vulneráveis aos agentes bióticos nocivos considerados potencialmente mais prejudiciais. A introdução de agentes bióticos nocivos em novos locais e a sua dispersão a longas distâncias é essencialmente feita por via da circulação de materiais florestais de reprodução (sementes, partes de plantas e plantas), de material lenhoso (toros, madeira serrada e subprodutos), assim como de materiais de embalagem de madeira (paletes, caixas, suportes, etc.). O estado fitossanitário dos diversos sistemas florestais poderá ainda ser influenciado pelas alterações climáticas que se perspetivam, assim como pela introdução de novos agentes bióticos no nosso território. 4.1. O Clima em Portugal Portugal continental tem um clima mediterrânico, que segundo a classificação de Koppen, se divide em duas regiões: uma de clima temperado com Inverno chuvoso e Verão seco e quente (Csa) e outra de clima temperado com Inverno chuvoso e Verão seco e pouco quente (Csb). A influência da latitude, do oceano Atlântico, da massa continental da Península Ibérica e da altitude faz com que exista alguma diversidade climática: No norte atlântico, predomina a influência atlântica, com maior quantidade de precipitação e menor duração da estação seca. No norte transmontano, predomina a influência continental, com menor quantidade de precipitação e maior amplitude térmica anual. No sul de Portugal Continental, as caraterísticas do clima temperado mediterrânico são mais acentuadas com Verões quentes e secos e Invernos frescos e húmidos. Nas áreas de montanha mais elevadas, como a serra da Estrela, a altitude faz com que se registem temperaturas mais baixas e precipitações mais abundantes, por vezes, com queda de neva, no Inverno. 14

A temperatura média anual em Portugal continental varia dos 4 C no interior norte montanhoso até 18 C no sul. Os verões são amenos nas terras altas do norte do país e na região litoral do extremo norte e do centro. No entanto, as alterações climáticas são uma realidade e segundo estudos já realizados à evolução climática de Portugal durante o século XX e através de simulações de diferentes modelos climáticos, é possível inferir as seguintes tendências: Aumento significativo da temperatura média em Portugal até ao fim do século XXI; Incremento da temperatura máxima no Verão, acompanhado por um aumento da frequência e intensidade de ondas de calor; Alteração dos índices climáticos relacionados com a temperatura, registando-se aumentos significativos no número de dias quentes (máxima superior a 35ºC) e de noites tropicais (mínimas superiores a 20ºC), sendo por outro lado esperadas diminuições em índices relacionados com tempo frio (por ex., dias de geada ou dias com temperaturas mínimas inferiores a 0ºC); No que diz respeito à precipitação, embora exista ainda uma grande incerteza quanto à sua distribuição futura, quase todos os modelos analisados preveem redução da precipitação em Portugal Continental durante a Primavera, Verão e Outono. Tanto a diversidade climática atual como as alterações climáticas previstas, podem influenciar a incidência de agentes bióticos nocivos (seja os já existentes, sejam novos agentes bióticos) nas nossas florestas, na medida em que podem afetar de forma direta a biologia, distribuição e comportamento dos agentes bióticos, bem assim como de forma indireta a suscetibilidade das espécies hospedeiras. Por exemplo, temperaturas médias mais altas no verão podem reduzir o tempo necessário para alguns insetos completarem o seu ciclo de vida, originando um maior número de gerações por ano. Por outro lado, temperaturas mais amenas no inverno podem diminuir a mortalidade dos insetos. No caso dos fungos, vírus ou nemátodo associados a insetos podem também ser favorecidos por temperaturas mais elevadas, indo desta forma atacar as espécies hospedeiras. Existe uma forte correlação entre o regime hídrico e a frequência e intensidade da presença de pragas. Os longos períodos de seca têm sido sistematicamente apontados como elementos relevantes na criação de condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Cada vez mais é reconhecido o risco acrescido associado à introdução de espécies exóticas, tanto através do comércio internacional de plantas, madeira e produtos florestais, como pela sua migração natural, a qual pode ser fortemente favorecida pelas alterações climáticas. 4.2. Fatores de risco Além das caraterísticas atuais do clima em Portugal e das alterações climáticas prevista, existem vários outros fatores de risco que potenciam a introdução, o desenvolvimento e a dispersão de agentes bióticos nocivos nos espaços florestais: a) Circulação, tanto na União Europeia como de e para países terceiros de material lenhoso, plantas, sementes e outros produtos provenientes da floresta, os quais podem transportar 15

estruturas dos agentes bióticos sem serem detetáveis (pese embora existam requisitos fitossanitários para cumprir, no sentido de minimizar este risco); b) Circulação de pessoas, máquinas e equipamentos, que por vezes involuntariamente podem também propagar as pragas; c) Más práticas de gestão, nomeadamente sobre-exploração de recursos, deficiente gestão dos povoamentos florestais e inadequadas práticas culturais ao nível da árvore; d) Incêndios florestais, que enfraquecem os hospedeiros facilitando a atuação dos agentes bióticos nocivos; e) Presença de árvores de espécies hospedeiras com más condições vegetativas, muito debilitadas ou mortas e manutenção no terreno de sobrantes contaminados; f) Fatores edáficos, nomeadamente o estado nutricional do solo, assim como a sua textura podem favorecer a ação dos agentes bióticos nocivos, devido sobretudo ao enfraquecimento dos hospedeiros. Por exemplo, a associação de Phythophotora cinnamomi com o declínio do castanheiro, do sobreiro e da azinheira é mais frequente em solos delgados de textura finas e, pobres em azoto (N) e fósforo (P), assim como o Platypus cylindrus está associado a perturbações nutricionais no solo nomeadamente acidificação, teores reduzidos de cálcio (Ca) e potássio (K) e concentrações elevadas de alumínio (Al) e zinco (Zn); g) Fatores de localização como sejam a altitude, exposição das espécies hospedeiras ou sua instalação em solos mal drenados; h) Poluição atmosférica, a qual pode ter um efeito direto e indireto no declínio dos hospedeiros, potenciando desta forma a ação dos agentes bióticos nocivos. A conjugação total ou parcial destes fatores de risco, associados ao clima e à existência de hospedeiros vulneráveis, predispõem o território continental ao estabelecimento de diferentes agentes bióticos nocivos cuja instalação e dispersão importa prevenir e controlar. 16

5. Distribuição dos fornecedores de MFR Como já se referiu anteriormente, a circulação de materiais florestais de reprodução, não só em Portugal como entre Estados-membros e mesmo entre a União Europeia e países terceiros é um dos principais fatores associados à dispersão artificial de agentes bióticos nocivos. Como se pode verificar pela figura 8, a localização dos fornecedores de MFR, tanto os que têm a atividade de produção como os que apenas comercializam MFR, encontra-se distribuída por todo o território continental, representando por isso um risco acrescido para a dispersão de agentes bióticos nocivos. Figura 8 Distribuição dos fornecedores de MFR em Portugal continental. 17

6. Delimitação de áreas de risco Considerando a informação anteriormente referida e a necessidade de definir áreas de risco específicas (figura 9), enquadradas no âmbito dos critérios de elegibilidade das operações previstas na operação 8.1.3 Prevenção da floresta contra agentes bióticos e abióticos, foram elaboradas listas de freguesias por agente biótico ou grupos de agentes bióticos, que afetam os principais sistemas florestais, não excluindo outros cujo controlo venha igualmente a ser reconhecido como necessário e para os quais se tornará necessário enquadrar a elegibilidade das ações, através do estabelecimento das respetivas áreas de risco. Dada a particularidade dos fatores que interagem e atuam ao nível do montado de sobro e azinho, excecionalmente neste caso, a lista de freguesias é apresentada em função do sistema florestal. NMP Pragas associadas ao declínio do montado de sobro e azinho Áreas de risco especificas Gorgulho e brocas do eucalipto Tinta e cancro do castanheiro Figura 9 Agentes bióticos e sistemas florestais com áreas prioritárias de atuação definidas. Atendendo ao comportamento dos agentes bióticos nocivos, à distribuição, importância económica e vulnerabilidade das espécies hospedeiras, existe ainda a necessidade e obrigatoriedade legal em muitos casos, de implementar zonas de segurança, também designadas por Zonas Tampão, para diversos agentes bióticos nocivos, constituindo assim uma barreira de proteção contra a dispersão das pragas. As áreas de risco específicas aplicam-se tanto para as candidaturas ao nível da exploração com para intervenções com escala territorial relevante. 6.1. Portugal continental Tendo em conta a distribuição das espécies hospedeiras e sua importância económica, dos fornecedores de MFR, que para muitos agentes bióticos nocivos representam um veículo de dispersão, as caraterísticas climáticas de Portugal e a existência de uma grande diversidade de agentes bióticos nocivos já instalados, estão reunidas todas as condições para se considerar todo o território continental como área de risco para qualquer um dos agentes bióticos nocivos referenciados no POSF, para ações de prospeção e monitorização. 18

6.2. Nemátodo-da-madeira-do-pinheiro (NMP) No caso das ações de controlo do NMP, tanto para ações ao nível da exploração como para as intervenções com escala territorial, são consideradas como áreas de risco, as seguintes zonas: 1. Locais de Intervenção, conforme divulgado no site do ICNF, I.P. (figura 10); 2. Zona Tampão (figura 11); 3. Áreas públicas e comunitárias (figura 12). Figura 10 Locais de intervenção divulgadas no site do ICNF, I.P. Figura 11 Zona Tampão. Figura 12 Áreas públicas e comunitárias geridas pelo ICNF, I.P. 19

Tendo em consideração a importância económica do hospedeiro, os prejuízos causados pelo agente biótico e a necessidade de existirem zonas de segurança, indicam-se em anexo (Anexo 2.1 e Anexo 2.2) as freguesias incluídas nas áreas de risco específicas. 6.3. Montados de sobro e azinho em declínio Em anexo (Anexo 3.1 e anexo 3.2) indicam-se as freguesias que constituem as áreas de risco para o montado de sobro (figura 13) e de azinho (figura 14), as quais foram definidas tendo por base a importância económica dos montados, o seu estado de declínio (vulnerabilidade) e a presença de inúmeros agentes bióticos nocivos que continuam a provocar graves e acentuados prejuízos nos hospedeiros. Figura 13 - Áreas de risco para controlo do declínio do montado de sobro. Figura 14 - Áreas de risco para controlo do declínio do montado de azinho. 6.4. Povoamentos de castanheiro em declínio Tanto a doença-da-tinta como o cancro-do-castanheiro existem em Portugal e têm sido identificados em praticamente todas as regiões do país onde o castanheiro está presente. Perante a importância económica do castanheiro a nível regional e a agressividade dos agentes bióticos, foram estabelecidas as áreas de risco (figura 15) para controlo dos fungos Cryphonectria parasitica (cancro) e Phytophtora cinnamomi (tinta), cujas freguesias se encontram listadas no anexo 4. 20