A COMUNICAÇÃO DE RISCO NA MITIGAÇÃO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: COMO PROMOVER PRÁTICAS PRÓ-AMBIENTAIS?



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A COMUNICAÇÃO DE RISCO NA MITIGAÇÃO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: COMO PROMOVER PRÁTICAS PRÓ-AMBIENTAIS? Tânia Ferreira 1, Félix Rodrigues 2 & Ana Moura Arroz 3 1 taniaferreira1@1ive.com.pt, Universidade dos Açores, Portugal 2 felix@uac.pt, Universidade dos Açores, Portugal 3 aarroz@uac.pt, Universidade dos Açores, Portugal RESUMO As alterações climáticas são amplamente reconhecidas como um dos riscos e desafios mais proeminentes que a humanidade enfrenta (AEA, 2010). As alterações climáticas atuais sofrem de uma ação antropogénica, ou seja, a atividade humana tem vindo a acelerar estas alterações. A maioria dos cientistas e governos concordam que as alterações climáticas são inevitáveis, de origem antropogénica e que está na altura de atuar na sua mitigação. A mitigação das alterações climáticas poderá fazer-se através da diminuição das emissões individuais dos gases com efeito de estufa (GEE) para a atmosfera, para isto é necessário dotar os indivíduos de conhecimentos e atitudes necessários para agir na mitigação deste risco, através da aplicação de uma comunicação de risco eficaz. Na construção de uma comunicação de risco eficaz no âmbito das alterações climáticas, que permita despoletar comportamentos de mitigação das emissões individuais de CO 2 para a atmosfera, o conhecimento aprofundado da audiência e a sua aplicação na comunicação de risco torna-se indispensável. Torna-se, igualmente, imprescindível testar e selecionar o enquadramento da mensagem que contribui para a eficácia da comunicação. Uma comunicação de risco eficaz é aquela que promove conhecimentos e/ou atitudes efetivas que poderão conduzir a ações de mitigação do risco das alterações climáticas. Palavras-chave: alterações climáticas; comunicação de risco; comportamento pró-ambiental 1. INTRODUÇÃO Com o presente artigo, pretende-se abordar as questões relacionadas com o indivíduo e o risco das alterações climáticas. Coloca-se especial enfase nas estratégias a ter em consideração na elaboração de uma comunicação de risco eficaz no âmbito das alterações climáticas. 1.1. As alterações climáticas e a contribuição do indivíduo As alterações climáticas são amplamente reconhecidas como um dos riscos e desafios mais proeminentes que a humanidade enfrenta. Existem hoje sinais evidentes de que o clima está a mudar, por exemplo, a temperatura atmosférica global média em 2009 aumentou entre 0,7 e 0,8 ºC, quando comparada com a da era pré-industrial (AEA, 2010). Os efeitos das alterações climáticas são vários e têm repercussões na paisagem, estas consequências caracterizam-se por alterações nos padrões de precipitação, a subida do nível médio global das águas do mar, o recuo dos glaciares, aumento das temperaturas médias globais dos oceanos, a fusão generalizada da neve e das camadas de gelo terrestre, acidificação dos oceanos, ocorrência de fenómenos climáticos extremos e o aumento do risco de inundações nas zonas urbanas e nos ecossistemas (AEA, 2010). A maioria dos governos concorda, agora, que as alterações climáticas são inevitáveis, de origem antropogénica e que está na altura de atuar na sua mitigação (Nerlich, Koteyko & Brown, 2010). Os indivíduos, nas suas atividades diárias contribuem para as emissões de dióxido de carbono (CO 2 ) para a atmosfera e, consequentemente, para o agravamento do risco das alterações 13

climáticas. A eletricidade, o gás, o combustível que consumimos, e os resíduos que produzimos são os responsáveis por essas emissões (Ferreira, 2007). As emissões de gases com efeito de estufa da responsabilidade dos consumos pessoais, como percentagem do total das emissões nacionais, são bastante significativas nas sociedades ocidentais que têm contribuído com a maioria das emissões até à data. Assim sendo, os indivíduos são grandes emissores de GEE e contribuidores significativos para as alterações climáticas (Wolf & Moser, 2011). Se se assumir que os indivíduos são atores que contribuem para as alterações climáticas, que necessitam de lidar com os seus impactos e identificar, desenvolver, apoiar e implementar soluções climáticas, então envolvê-los não é uma opção, mas um imperativo. Enquanto o debate político foca-se sobretudo em instrumentos tecnológicos e económicos para reduzir as emissões globais, menos atenção é dirigida às mudanças comportamentais. E no entanto, estas mudanças parecem particularmente importantes, não só porque o comportamento insustentável representa a causa chave das alterações climáticas, mas porque isto representa a oportunidade para um conjunto de rápidas vitórias na redução das emissões de dióxido de carbono (Spence & Pidgeon, 2010). Os indivíduos desempenham um papel importante na resposta às alterações climáticas. Quer sejam líderes governamentais, empresas ou associações de bairro, ou membros do público em geral, os indivíduos são em última análise os atores que iniciam, inspiram, guiam e decretam a necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e são eles que executam as respostas de adaptação sustentáveis e sustentadas para minimizar os impactos das alterações climáticas (Wolf & Moser, 2011). A mitigação do risco das alterações climáticas poderá fazer-se através da diminuição das emissões individuais dos gases com efeito de estufa (GEE) para a atmosfera, para isto é necessário dotar os indivíduos de conhecimentos e atitudes necessários para agir na mitigação do risco das alterações climáticas, através da aplicação de uma Comunicação de Risco Eficaz. 1.2. A comunicação de risco como estratégia de mitigação do risco das alterações climáticas Comunicar alterações climáticas de forma a inspirar a ação humana é complicado por um conjunto de características inerentes à mensagem das alterações climáticas. Apesar de ser um dos principais assuntos que a humanidade enfrenta, como assunto de preocupação individual as alterações climáticas ainda permanecem bastante distantes das vidas e pensamentos da maioria dos indivíduos. Apesar do consenso científico da existência das alterações climáticas provocadas pelo homem, ainda permanecem incertezas consideráveis em relação à sua extensão precisa, escala de tempo e consequências (Morton et al, 2011). Isto acontece porque as alterações climáticas estão incluídas naquilo a que Crompton (2010) define como problemas maiores do que o indivíduo. Trata-se de um problema ou risco grande e difuso, e que mesmo que o indivíduo possa vir a beneficiar de resultados positivos ao agir na mitigação desse problema, é pouco provável que ele assuma o seu esforço de mudança efetiva como sendo um uso eficiente do seu tempo e recursos. Assim sendo, os esforços das comunicações também se transformaram e passaram do esforço de informar que as alterações climáticas estão a ocorrer para o esforço de informar as pessoas a adotar medidas práticas para fazer face ao problema (Nerlich, Koteyko & Brown, 2010). Os comunicadores são instados a fugir de uma comunicação unilateral para um diálogo e um comprometimento reflexivo. Deixou-se de assumir a visão simplista de que as mensagens transitam dos especialistas para os não especialistas que são sujeitos passivos, é necessária uma 14

abordagem que melhor compreenda como fazer as pessoas se envolverem a um nível afetivo e emocional, através de uma exploração de baixo para cima, conhecendo as perceções dos indivíduos, em vez de uma comunicação de cima para baixo baseada nos entendimentos dos especialistas (Nerlich, Koteyko & Brown, 2010). A aposta surge então na comunicação de risco, porque mais do que o ato de informar, a comunicação de risco é um processo interativo de troca de opinião entre indivíduos, grupos e instituições, que envolve múltiplas mensagens sobre a natureza do risco, as preocupações, opiniões e conhecimentos das pessoas e as suas reações aos cenários de risco de modo a promover o envolvimento do público (Di Giulio, 2006), as preocupações, perceções e conhecimentos das pessoas devem guiar os profissionais do risco na seleção dos tópicos e assuntos a transmitir, não é função dos comunicadores de risco decidir o que as pessoas querem saber, mas responder às questões do que efetivamente querem saber (Renn, 2005). Deste modo, os comunicadores de risco devem interpretar os dados das avaliações científicas de risco transformando-os em informações compreensíveis pela audiência leiga, devem igualmente, entender a base das perceções públicas sobre o risco e trabalhar no sentido de promover o entendimento dos fatores de risco entre as várias partes envolvidas (Leiss, 1999). Trata-se, deste modo, de um processo de comunicação bilateral com o objetivo de construir confiança mútua ao responder às preocupações do público e dos principais stakeholders (Renn, 2005). Para que exista entendimento e envolvimento é necessário evitar uma fraca comunicação composta por mensagens demasiado negativas, complexas e exigentes que tratam o público como consumidores e não como cidadãos comprometidos com a sua comunidade (Sustainable Development Commission, 2011). Assim, a comunicação de risco é, e deve ser, um processo que inclui estratégias para que a exposição das informações sobre o risco seja feita de forma clara e explicativa, de modo a que o grupo alvo compreenda os dados e as suas implicações de forma a participar ativamente na tomada de decisões e ações para a atenuação das situações de risco (Di Giulio, 2006). 1.3. Comunicação de Risco Eficaz: Como? Para elaborar uma comunicação de risco eficaz que promova conhecimentos e/ou atitudes efetivas que poderão conduzir a ações de mitigação do risco das alterações climáticas é imprescindível reconhecer os fatores facilitadores ou inibidores da mudança de comportamento para o risco em questão, as várias leituras realizadas sugerem os seguintes: O conhecimento das causas das alterações climáticas antropogénicas são úteis uma vez que indicam às pessoas quais as ações de mitigação corretas (Swim et al, sd; Wolf & Moser, 2011; Darnton, 2008; Steg & Vlek, 2009; Kollmuss & Agyeman, 2002; Lucas et al, 2008; Moloney, Horne & Fien, 2010; Hoffman, 2010); O hábito poderá ser um dos maiores obstáculos às alterações climáticas. Os hábitos não se alteram sem um esforço significativo, daí a necessidade de os conhecer e sugerir comportamentos alternativos (Swim et al, sd; Darnton, 2008; Kollmuss & Agyeman, 2002; Steg & Vlek, 2009; Moloney, Horne & Fien, 2010; Whitmarsh, 2009); Os valores são uma influência profunda na formação da nossa motivação para lidar com problemas maiores do que o indivíduo. Porque os valores culturais exercem esta influência, é de carácter urgente que as comunicações tenham um impacto na elaboração dos nossos valores (Swim et al, sd; Wolf & Moser, 2011; Crompton, 2010; Moloney, Horne & Fien, 2010; Whitmarsh, 2009; Hoffman, 2010; Kollmuss & Agyeman, 2002); 15

As normas, neste aspeto os indivíduos possuem maior probabilidade de alterar comportamentos se acreditarem que os outros também o fazem (Swim et al, sd; Hassell & Cary, 2007; Steg & Vlek, 2009; Kollmuss & Agyeman, 2002); O afeto/emoção, quanto maior for a ligação emocional ou afetiva com o risco das alterações climáticas maior a probabilidade de existir uma mudança de comportamento (Swim et al, sd; Wolf & Moser, 2011; Nerlich, Koteyko & Brown, 2010; Hassell & Cary, 2007; Darnton, 2008; Crompton, 2010; Steg & Vlek, 2009; Moloney, Horne & Fien, 2010; Kollmuss & Agyeman, 2002); As atitudes, uma mudança de atitude não conduz necessariamente a uma mudança de comportamento. Contudo, estudos indicam que os indivíduos com atitudes pró-ambientais têm maior probabilidade em assumir comportamentos pró-ambientais (Swim et al, sd; Wolf & Moser, 2011; Darnton et al, sd; Hassell & Cary, 2007; Darnton, 2008; Kollmuss & Agyeman, 2002). O conhecimento, o hábito, os valores, as normas, o afeto/emoção e as atitudes são os fatores a ter em consideração na seleção de um modelo de mudança de comportamento, na elaboração de dispositivos de recolha de informação do público-alvo e na, posterior, construção de uma comunicação de risco no âmbito das alterações climáticas. Assim sendo, tendo em consideração o polinómio valor-atitude-conhecimento-emoçõescomportamento na predição e promoção de práticas protetoras do ambiente, foi selecionado o modelo explicativo, Model of pro-environmental behaviour (Kollmuss & Agyeman, 2002), que permitirá auxiliar a construção da comunicação de risco. Comunicar alterações climáticas de forma a inspirar a ação humana é complicado sobretudo devido às incertezas em relação à sua extensão precisa, escala de tempo e consequências (Morton et al., 2011). Uma forma de ultrapassar a questão da incerteza prende-se com a forma como se faz o enquadramento da mensagem (Morton et al., 2011; Spence & Pidgeon, 2010). No âmbito da comunicação das alterações climáticas dois enquadramentos parecem pertinentes para reflexão: enquadramento atributo e enquadramento resultados. O enquadramento atributo é o processo de enfatizar um aspeto particular, ou um atributo, do objeto de estudo ou assunto. No caso das alterações climáticas o atributo da distância é bastante pertinente (Spence & Pidgeon, 2010). Na comunicação das alterações climáticas a utilização do enquadramento local apresenta-se bastante pertinente, Isto porque ao enfatizar os impactos locais das alterações climáticas os benefícios de agir na mitigação tornam-se tangíveis, aumentando assim a probabilidade de se agir de forma sustentável (Rayner & Malone, 1997); os indivíduos são melhores a predizer e a tomar decisões sobre acontecimentos que lhes são psicologicamente próximos (Trope & Liberman, 2003) e poder-se-á aumentar o compromisso emocional e cognitivo com o assunto (Lorenzoni et al., 2007). Por outro lado, o enquadramento resultados carateriza-se por apresentar um comportamento particular ou assunto em forma de perdas ou ganhos, uma abordagem utilizada, algumas vezes, para persuadir os indivíduos a assumirem um determinado comportamento ou estilo de vida (Spence & Pidgeon, 2010). Investigações sugerem que os enquadramentos de perda são mais eficazes na alteração de comportamentos considerados de risco, enquanto que os enquadramentos de ganho são mais eficazes entre os comportamentos considerados seguros e de prevenção (Prospect Theory de Tversky & Kahneman, 1981). 16

Spence e Pidgeon (2010) sugerem que ao conceptualizar as alterações climáticas com um enquadramento de ganho, as ações de mitigação assemelham-se mais a comportamentos preventivos, uma vez que os comportamentos de mitigação são assumidos para prevenir impactos futuros negativos das alterações climáticas. A hipótese que se segue é que a mitigação das alterações climáticas será mais eficaz através da promoção de enquadramentos de ganho (Morton, et al., 2011; Spence & Pidgeon, 2010; Futerra, sd), por exemplo: ao focar-se nos benefícios que advêm dos comportamentos de mitigação. Esta hipótese é corroborada por Spence e Pidgeon (2010), isto porque, no enquadramento de ganho as atitudes para a mitigação das alterações climáticas foram significativamente mais positivas do que aquelas produzidas pelo enquadramento de perda. Morton et al. (2011) acrescentam que no enquadramento positivo (de ganho), a maior incerteza aparece associada a maiores intenções em agir pro-ambientalmente. A equipa do Futerra sustainability communications, em Sizzle: the new climate message (sd) afirma que Quando estamos à beira de um inferno, vende-se o céu (p. 10). A mensagem mais comum nas alterações climáticas é que todos vamos para o inferno. Mas ao contrário do esperado, o inferno não convence. Apesar da enumeração de todas as consequências nefastas das alterações climáticas, elas não têm mudado atitudes ou comportamentos de forma significativa. Necessita-se de uma nova abordagem, uma abordagem que seja o oposto do clima inferno. Assim sendo, deve-se construir uma visão visual e convincente de um céu de baixo carbono (Futerra Sustainability Communications, sd). METODOLOGIA O presente trabalho utiliza o referencial da pesquisa bibliográfica, entendida como o ato de indagar e de buscar informações sobre determinado assunto, através de um levantamento realizado em base de dados nacionais e estrangeiros, com o objetivo de detetar o que existe de consensual ou de antagónico no estado da arte da literatura. Com o fito de descortinar o caminho a percorrer para elaborar uma comunicação de risco eficaz no âmbito das alterações climáticas, os eixos de pesquisa incidiram sobre as alterações climáticas, os fatores facilitadores e inibidores do comportamento pró-ambiental, os modelos de mudança de comportamento e a comunicação de risco. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em termos bio e geofísicos, as alterações climáticas são definidas como alterações ao longo do tempo nas médias e variação das temperaturas terrestres, precipitação e vento, bem como, alterações na atmosfera terrestre, oceanos, e abastecimento de água natural, neve e gelo, superfície terrestre, ecossistemas e organismos vivos. O que é único sobre as alterações climáticas globais atuais é o papel da atividade humana na aceleração destas alterações, também designada de força antropogénica, e as alterações dramáticas no clima previstas em todo o mundo (Swim et al, sd). Positivamente, os portugueses conseguem ver-se como agentes de mudança social quer na sua vida quotidiana quer em termos de uma opinião pública que pode agir politicamente nesta área. Contudo, ainda não o fazem de forma significativa nas suas ações quotidianas (Lázaro, Cabecinhas & Carvalho, 2007). Neste contexto surge a necessidade de uma comunicação de risco eficaz, baseada numa abordagem multimédia e nas necessidades do público-alvo, consciente que as reações à comunicação são influenciadas pelas perceções de risco das pessoas, experiências pessoais passadas com o risco, pelas fontes de comunicação e a confiança nestas fontes de informação. É 17

essencial informar o público de forma a não criar desnecessária apatia, complacência, ou confiança a mais, ao mesmo tempo que não se cria desnecessário stress ou alarme (Fitzpatrick- Lewis et al, 2010). A comunicação de risco eficaz é um desafio necessário para atingir resultados desejáveis, como o aumento do conhecimento sobre o risco das alterações climáticas e, possivelmente, a promoção de ações individuais de mitigação do mesmo. BIBLIOGRAFIA AEA (2010), O Ambiente na Europa, Situação e Perspectivas 2010: Síntese, Agência Europeia do Ambiente, Copenhaga Crompton, T. (2010), Common Cause: The case for working with our cultural values, Survey: WWF UK. Darnton, A. (2008), Reference Report: An overview of beheviour change models and their uses, Centre for Sustainable Development, University of Westminster Darnton, A., Elster-Jones, J. Lucas, K. & Brooks, M. (sd) Promoting pro-environmenta behaviour: existing evidence to inform better policy making, Department for environmental, food and rural affairs Di Giulio, G. M. (2006), Divulgação Cientifica e Comunicação de Risco Um olhar sobre Adrianópolis, Vale do Ribeira, Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas Ferreira, T. (2007), Ambiente e Recursos: usos e desperdícios de água e energia em agregados domésticos da Ilha Terceira, Dissertação de Mestrado, Universidade dos Açores Fitzpatrick-Lewis, D., Yost, J., Ciliska, D. & Krishnaratne, S. (2010), Communication about environmental health risks: A systematic review, Environmental Health, pp. 9-67 Futerra sustainability communications (sd), Sizzle: the new climate message Hassell, T. & Cary, J. (2007), Promoting behavioural change in household water consumption: literature review, Smart Water Kollmuss, A. & Agyeman, J. (2002), Mind the gap: why do people act environmentally and what are the barriers to pro-environmentl behaviour?, Environmental Education Research, 8 (3), pp. 239-260 Lázaro, A., Cabecinhas, R. & Carvalho, A. (2007), Percepções de risco e de responsabilidade face às alterações climáticas in C. Borrego, A.I. Miranda, E. Figueiredo, F. Martins, L. Arroja e T. Fidélis (Org.). Um futuro sustentável: ambiente, sociedade e desenvolvimento (Vol. 1, pp.272-278), Aveiro: Universidade de Aveiro Leiss, W. (1999), The importance of Risk Communication in the Risk Management of Chemicals, Newsletter of the International Council on Metals and Environment (ICME), vol. 7, nº 2 Morton, T. A., Rabinovich, A., Marshall, D. & Bretschneider, P. (2011), The future that may (or may not) come: How framing changes responses to uncertainty in climate change communications, Global Environmental Change 21, pp. 103-107 Nerlich, B., Koteyko, N. & Brown, B. (2010), Theory and language of climate change communication. John Wiley & Sons, Ltd. Renn, O. (2005), Risk Governance: Towards an Integrative Approach. International Risk Governance Council Spence, A. & Pidgeon, N. (2010), Framing and communicating climate change: The effects of distance and outcome frame manipulations, Global Environmental Change 20, pp. 656-667 Steg, L., & Vlek, C. (2009), Encouraging pro-environmental behaviour: An integrative review and research agenda, Journal of Environmental Psychology, 29, pp. 309-317. Sustainable Development Commission. (2011), Making Sustainable Lives Easier: A Priority for Governments, Business and Society Swim et al. (sd), Psycology and global climate change: addressing a multi-faceted phenomenon and set of challenges. American Psychological Association Wolf, J. & Moser, S. (2011), Individual understandings, perceptions, and engagement with climate change: insights from in-depth studies across the world. John Wiley & Sons, Ltd. 18