O LUGAR DA INFÂNCIA NA RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA Jaqueline de Fátima Ribeiro UFF Agência Financiadora: CAPES



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Transcrição:

O LUGAR DA INFÂNCIA NA RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA Jaqueline de Fátima Ribeiro UFF Agência Financiadora: CAPES Resumo O texto em questão é parte da pesquisa em desenvolvimento (mestrado) que tem como objetivo investigar o lugar da infância na religião de matriz africana. Indaga sobre como ela se dá no contexto de relações de pares protagonizadas pelas crianças em um Terreiro de Candomblé situado na Baixada Fluminense. O texto aponta para a necessidade de mais pesquisas na área de educação à medida que as pesquisas sobre infância não dão contam das múltiplas realidades e contextos em que a criança está inserida, espaços, como terreiro de candomblé, são poucos abordados, em especial a infância por meio da voz da própria criança nesses espaços. Palavras-chave: infância afrodescendente. cultura de pares. Candomblé O LUGAR DA INFÂNCIA NA RELIGIÃO DE MATRIZ AFRICANA O texto em questão é parte da pesquisa em desenvolvimento (mestrado), cujo objetivo é investigar O lugar da Infância na religião de matriz africana, Candomblé. Investiga-se sobre o lugar da infância no contexto de relações de pares protagonizadas pelas crianças em um Terreiro de Candomblé situado na Baixada Fluminense. Desse modo, a pesquisa em questão pretende investigar por meio da observação e de uma escuta sensível o que as crianças que frequentam o Terreiro têm a dizer o lugar que a infância ocupa no espaço/tempo do Terreiro. Procurar entender qual é o lugar da infância na religião de matriz africana pelos olhos da criança. O campo da pesquisa é um Terreiro de Candomblé situado na Baixada Fluminense, na cidade do Rio de Janeiro, e têm como protagonistas 12 crianças praticantes da religião. Assim, a pesquisa procura trazer a dimensão da vivência da criança, por meio dos saberes e fazeres do Terreiro como parte do processo de humanização e de constituição da identidade, bem como a compreensão de como esses elementos se constituem fontes de conhecimento. Desafios se fazem presentes, dentre os quais está à

complexidade da conceituação da infância, assim como também a superação da forma de concebê-la. Infância e vivência no Terreiro A partir do século XX o número de trabalhos que tem a infância no centro de suas reflexões é crescente, vários saberes se organizam em seu entorno buscando compreende-la, a partir de sua categoria. Surge a História da infância, a filosofia da infância, a geografia da infância e ao final do séc. XX, a sociologia da infância. Nesse sentido o conceito de infância é complexo, com concepções distintas de acordo com visões e posições de mundo. Esses campos ao considerar a criança como ator social e como sujeito de direitos, assume a questão da sua participação como central na definição de um estatuto social da infância e na caracterização de seu campo científico. Desse modo o protagonismo da criança é posto na ordem do dia. A constituição histórica da infância sofre várias mudanças, ela não é instável. Um conjunto de procedimentos, normas atitudes que condicionam e constrangem a vida das crianças. Reservando para elas um lugar subalterno aos adultos. Surgem também lugares e ofícios, ligados à atividade escolar, com políticas que configuram uma infância global, que coopera para a desigualdade, homogeneizando a infância. Como resultado temos uma infância universal, idêntica qualquer que seja sua classe social e sua cultura. Em contraponto, devemos partir do principio que existem várias infâncias, e que estas são produzidas historicamente, de inserção social diferente umas das outras, a partir de suas condições econômicas, sociais e culturais, Sarmento (2004). Hoje, o campo da infância aponta para a construção social desta, como um novo paradigma, com ênfase na necessidade de se elaborar a reconstrução deste conceito que é marcado por uma visão eurocêntrica e adultocêntrica da criança. Pensando nessa proposta, é que se chega à conclusão da necessidade de se valorizar outras infâncias que foram e ainda são silenciadas, marginalizadas. A pesquisa, em questão, busca da representação de uma infância afrodescendente. É uma questão política, a de incluir a criança afrodescendente e sua infância na história. Vale ressaltar que seus saberes e fazeres são parte da herança civilizatória fruto da Diáspora Africana (BRASIL, 2005). Não estou com isso querendo dizer que o candomblé é a única religião onde a criança afrodescendente se faz presente, mas seus princípios, fundamentos, os saberes e

fazeres presentes nessa religião são herança da cultura africana, uma cultura que o povo de santo preservou. Neste caso estou falando de africanidades presentes no cotidiano dos Terreiros de Candomblé, e as crianças que frequentam o Terreiro têm um jeito próprio de ser, são também constituídas por esses elementos. Por ser uma religião iniciática, no candomblé aprende-se pela vivência. Desse modo, é a relação entre seus membros que possibilita o acesso aos saberes da religião. Saberes e fazeres que são passados pela oralidade. É por meio dessas vivências que as crianças humanizam-se e constituem sua identidade 1. Partindo desse princípio, Santos (2006) apresenta, desde a concepção natural de infância, a concepção histórica como fundamento para se chegar a infância afrodescendente e seus princípios fundadores. A autora chama de infância Afrodescendente a infância das crianças negras, ou seja, a infância instituída pelos elementos da cultura africana, representada pela religião de matriz africana, e em sua pesquisa, o candomblé. De acordo autora, se faz necessário pensar a origem da infância afrodescendente historicamente a partir de sua ancestralidade. Ou seja, ela é multifacetada, complexa por conter elementos variados de diversas comunidades africanas; uma identidade grupal definida e organizada nos terreiros de candomblé que possibilitou vínculos parentais, agora não mais pautados no sangue e no nome de família, mas na capacidade de novos e complexos laços, tendo o culto aos ancestrais como principal meio de reconciliação (SANTOS, 2006, p. 44). Neste caso, essa infância afrodescendente é instituída pelos elementos, símbolos, pelos sabres e fazeres do povo africano, seus ancestrais, reorganizado e recriado no território baiano e, para além dele, onde os afrodescendentes se fazem presentes. O culto aos orixás e seus mitos, os itãs, gera uma série de comportamentos que os praticantes da religião de matriz africana tomam para si como um meio de estruturar a sua vida. Assim, tudo no Terreiro se organiza através desses mitos. Ele é o elemento central da religião, é através dele que a comunidade do terreiro aprende sobre sua religião. E mais, por revelar os valores e princípios de cada orixá, é através dessa 1 De acordo com Machado (1999), o povo-de-orixá tem um modo de vida cuja estrutura reúne valores relacionados aos dos orixás. Ou seja, o candomblecista tem na figura do orixá o modelo da sua identidade. Dessa forma, os estereótipos dos orixás também são tidos como modelo e são reforçados como características dos filhos de santo. Assim, se uma criança é filha de Xangô, seu arquétipo é aquele das pessoas voluntariosas e energéticas, altivas e conscientes de sua importância real ou suposta (VERGER, 2002).

linguagem que as pessoas, ao serem comparadas com as características dos orixás, constroem suas identidades (MACHADO, 1999 apud SANTOS, 2006). Partindo desse pressuposto, Santos (2006), define os princípios fundadores da infância afrodescendente através da narração mítica, dos elementos definidores dos orixás. Assim, os princípios definidores da infância afrodescendente de acordo com a autora são: o da reconciliação; da integração e dos novos padrões de convivência; compartilhar; da criação e da co-responsabilidade; a multiplicidade, a diversidade da vida, o rigor com simplicidade e delicadeza; a força, a inteligência, a justiça e o rigor; o acolhimento; o respeito a natureza. São esses os princípios fundadores da infância afrodescendente trabalhados cotidianamente nas comunidades religiosas de tradição africana, na tentativa de validá-los na prática de vida individual e coletiva dos afrodescendentes na Bahia (SANTOS, 2006, p.52). Ou, de acordo com Quintana (2012), são os valores identitários que são levados para fora do Terreiro. Teses e Dissertações sobre Infância e Terreiro Como primeira tarefa de pesquisa, efetuei levantamento de dados sobre o tema Infância e Terreiro, com o objetivo de saber o que a área da educação produziu sobre o tema. Assim, elegi dois sítios acadêmicos para a busca: o Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Scientific Electronic Library Online (Scielo), que possibilitou o acesso à produção de teses e dissertações em Programas de Pós-Graduação e artigos científicos no período de 2010 a 2015. No levantamento realizado no banco de dados da CAPES, em um primeiro momento, foi possível acessar os resumos de teses e dissertações que continham as palavras: candomblé-infância ; candomblé-criança ; infância-terreiro ; terreirocriança ; candomblé. Neste levantamento, com exceção das palavras candomblé, não foi encontrada nenhuma tese ou dissertação que tivessem relação com o tema em discussão. Dessa forma, foram identificadas quinze teses e sessenta e oito dissertações, um total de oitenta e três. Das quinze teses, apenas duas foram defendidas em Programas de Pós-Graduação em Educação. Sendo que apenas uma aborda o tema da infância no Terreiro. Em relação às dissertações, do total de sessenta e oito apenas seis foram defendidas em programas de Pós-graduação em Educação e, apenas uma em programa de Pós-graduação em Ciências Sociais que aborda a Infância do/no Terreiro.

No levantamento realizado no banco de dados do Scielo, acessei os resumos de artigos com as mesmas palavras utilizadas para fazer a busca no sítio da CAPES. Porém, como nesse sítio acessei somente artigos, considerei necessário refinar a busca por palavras do título. Entre os resumos analisados, encontrei vários artigos, mas os mesmos não abordavam o tema Infância no/do Terreiro. Quando o resumo fazia referência ao tema infância, este não era relacionado com o terreiro e vice-versa. Considerações finais A partir do levantamento de dados apresentados acima dados do Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Scientific Electronic Library Online (Scielo) constatei que o número de pesquisas que trazem a criança praticante do candomblé e sua infância no Terreiro é muito pequeno, o que revela a necessidade de mais pesquisas na área, à medida que as pesquisas sobre tema não dão contam das múltiplas realidades e contextos em que a criança está inserida. Essa observação despertou inquietações que surgiram justamente desse não lugar da infância nas pesquisas sobre as religiões de matrizes africanas, representada aqui pelo candomblé. Com o advento da Lei nº 10.639 (BRASIL, 2003) e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira (BRASIL, 2005) o tema torna-se mais emergente. Referências BRASIL. Conselho Nacional de Educação (2004). Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília, Ministério da Educação Brasília: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/Secretaria de Educação Continuada/Alfabetização e Diversidade. Out. 2004. MACHADO, Vanda. Ilê Axé: vivências e invenções pedagógicas as crianças do Opô Afonjá. Salvador: EDUFBA, 1999. QUINTANA, Eduardo. No terreiro também se educa: relação candomblé-escola na perspectiva de candomblecistas. Tese (Doutorado em Educação) Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2012. SANTOS, Ana Katia Alves dos. Infância e afrodescendente: epistemologia critica do ensino fundamental. Salvador: EDUFBA, 2006. 46

SARMENTO, M. J. As culturas da infância nas encruzilhadas da segunda modernidade. In: SARMENTO, M.J.; CERIZARA, A.B. Crianças e miúdos: perspectivas sociopedagógicas da infância e da educação. Porto: ASA, 2004.