O ARTIGO PROPAGANDA SOCIAL NA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DO ALUNO DO ENSINO MÉDIO Leonice Fancelli de Souza * AGRADECIMENTO À Dra. Aparecida de Fátima Peres pela orientação, pela amizade e pelo carinho. * Graduada em Letras Anglo-Português pelas Faculdades Integradas de Marilia-SP. e Pós-graduada pela Universidade Salgado de Oliveira - Niterói- RJ. e-mail: www.lfancelli@hotmail.com
Resumo. Este artigo tem como objetivo apresentar uma prática de leitura verbal e imagética -, análise linguística e produção textual do gênero discursivo propaganda social, desenvolvidas na terceira série do ensino médio do Colégio Estadual Cianorte, nas aulas de língua portuguesa, tendo como objeto de estudo alguns textos do gênero em questão. Foram exploradas propagandas sociais com os temas: tabagismo, doenças sexualmente transmissíveis, violência no trânsito, dengue, inclusão, etc. Interdisciplinarmente, a proposta foi complementada com pesquisas que subsidiaram a sua finalização, ou seja, a produção de textos cartazes em formato de banner, os quais foram expostos à comunidade escolar. Os temas abordados nos trabalhos dos alunos foram: doenças sexualmente transmissíveis, combate ao alcoolismo, violência no trânsito, dengue, aquecimento global e preservação do meio ambiente. O trabalho apresentou o resultado esperado pois sensibilizou o educando, mobilizando-o para a conscientização sobre os problemas sociais e a produção de texto obteve um bom nível de linguagem, atendendo a proposta. Palavras-chave. Propaganda social; leitura crítica; comportamento; cidadania. Abstract. This paper has as aim to present a reading pratice- verbal and imagetic -, linguistic analyses and textual production of discursive gender social propaganda, developed with students of the final year of High School in Colégio Estadual Cianorte, during Portuguese Language classes, having as focus of study some texts of the gender highlighted previously. It was explored social propagandas with the following themes: tabagism, transmissible sexual diseases, driving violence, dengue fever, inclusion, etc. In the interdisciplinely field, this study was complemented with researches which subsidized its conclusion, that is, the production of texts posters made in the form of banner which were displayed to students. The themes focused in the students banners were: transmissible sexual diseases, alcoholism, driving violence, dengue fever, global warming and environmental preservation. The displayed presented the expected results because it touched the students sensibility, mobilizing them into a conscientization about social problems and the textual production has gotten a good level of language, reaching the aim of the themes focused. Key words. Social propaganda; reflexive readind; behaviour; citizenship. 1. Introdução Durante algumas décadas os professores de língua portuguesa vinham trabalhando o ensino de redação privilegiando as modalidades escritas: narração, descrição, dissertação, focando apenas nas características linguísticas e, muitas vezes, o texto era usado também para se ensinar a gramática. Documentos oficiais como os PCN (BRASIL, 1998) e os PCNEM (BRASIL, 1999), Parâmetros Curriculares Nacionais para os Ensinos Fundamental e Médio, respectivamente, passaram a sugerir uma nova proposta para o ensino de leitura e
produção de texto, fundamentada nos gêneros textuais, ou seja, uma perspectiva discursiva baseada em um trabalho pedagógico com a linguagem. Pautados nas propostas de reforma curricular para o Ensino Médio, propusemos mudanças na metodologia das aulas de Língua Portuguesa como forma de enfrentar os desafios. Tendo como princípio a formação do aluno, procuramos explorar os conhecimentos básicos somando-se às experiências e à criatividade, pois, de acordo com os PCNEM, Propõe-se, no nível de Ensino Médio, a formação geral, em oposição à formação específica, o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés de simples exercício de memorização (BRASIL, 1999, p.16) Portanto, para compreender bem as propostas dos PCNEM de Língua Portuguesa e para que os professores possam aplicá-las, é necessário discutir com mais detalhes a noção do gênero discursivo, proposta por Bakhtin. Uma atividade discursiva é feita por meio da linguagem de maneira que os interlocutores se comuniquem verbalmente a partir de sua finalidade e dos conhecimentos que acreditam que possuam sobre o assunto. Na maioria da vezes, os textos são organizados conforme determinadas intenções comunicativas a que chamamos de gêneros. Assim, o conceito bakhtiniano de gênero discursivo referese a formas típicas de enunciados falados ou escritos que se realizam em condições e com finalidades específicas nas diferentes situações de interação social. (LOPES-ROSSI, 2002, p.25). Com o intuito de enriquecer e instrumentalizar as aulas de língua portuguesa, foi utilizado o material didático-pedagógico Sequência Didática, que consiste num conjunto de atividades ligadas entre si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa por etapa, organizadas de acordo com os objetivos que o professor quer alcançar para a aprendizagem de seus alunos. Além das atividades de aprendizagem, a seqüência didática deve ser também instrumento de avaliação. Com esse recurso, tivemos o propósito de propiciar ao aluno aprofundamento dos conhecimentos como meta para continuar aprendendo e aprimorando-se como pessoa humana, ao mesmo tempo que contribuímos com sua formação ética e com o seu desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. As atividades trouxeram propostas interativas com procedimento de estudo de
dimensão dialógica que possibilitaram a construção de um conhecimento significativo, pois A interação é o que faz com que a linguagem seja comunicativa. (BRASIL, 1999, p. 139). Para a elaboração do material acima citado, foram explorados textos verbais e imagéticos que, por dialogarem entre si, conduziram o aluno ao entendimento da propaganda social e trouxeram resultados positivos. Segundo as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação Básica, A ação pedagógica referente à linguagem precisa pautar-se na interlocução, em atividades planejadas que possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão e o uso da linguagem em diferentes situações (PARANÁ, 2006, p. 21), Portanto, o objetivo deste artigo foi desenvolver uma proposta de trabalho para a terceira série do ensino médio do Colégio Estadual Cianorte, ancorada nas teorias bakhtinianas do gênero textual e na concepção do letramento, para orientar os alunos no sentido de torná-los leitores e produtores proficientes de textos. Tratase de um trabalho de conclusão do curso PDE (Programa de Desenvolvimento da Educação), turma 2008. Quanto à organização deste artigo, inicialmente apresentamos a fundamentação teórica que sustenta a nossa prática, em seguida, a metodologia aplicada no desenvolvimento das atividades e os seus resultados e, finalmente, nossas considerações finais. 2. Fundamentação Teórica O homem pode ser conhecido pelos textos que produz. (BRASIL, 1999, p. 142), porém muitas vezes não somos compreendidos naquilo que dizemos por conta das múltiplas interpretações que um texto pode apresentar. A ambiguidade presente na linguagem é um outro fator que interfere na interpretação. Isso pode ser intencional é o caso da propaganda, mas pode também causar certo desconforto e até prejuízo é o caso dos juristas diante das leis. Daí o pensamento de que quanto mais dominamos a língua, mais eficácia teremos na comunicação estabelecida, já que Compreender a língua é saber avaliar e interpretar o ato interlocutivo, julgar,
tomar uma posição consciente e responsável pelo que se fala/escreve. (BRASIL, 1999, p. 143) De acordo com os PCN, ensinar língua significa ensinar diferentes gêneros textuais. Mas, afinal, o que são gêneros textuais? Existem diferenças entre gêneros textuais e tipos textuais? Por que os PCN sugerem o gênero textual como instrumento adequado para o ensino das práticas de leitura e produção de textos? Para responder os questionamentos acima, recorremos a Marcuschi: a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de seqüência teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). Em geral, os tipos textuais abrangem categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para refletir textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros (MARCUSCHI, 2002). Tipos textuais são definidos pela forma em que as informações são organizadas nos textos, pela predominância das categorias gramaticais que levam o leitor/ouvinte a compreender o texto, ou seja são definidos pelas características linguísticas (escolha das palavras, construções gramaticais, tempos verbais, relações lógicas) de sua composição. Assim, uma seqüência descritiva pode ser comparada a um retrato, uma pintura, caracterizada por adjetivos; uma seqüência narrativa pode ser comparada a um filme, caracterizada pela evolução dos fatos, pela mudança de estado e pelas relações de conseqüência; já uma dissertação caracteriza-se por analisar e interpretar fatos e dados de uma realidade, usando para isso conceitos abstratos. Outra característica importante dos tipos textuais é aparecer sempre em conjunto, geralmente com a predominância de um deles. Por exemplo, um texto pode ser do tipo narrativo e apresentar muitos trechos de descrição (descrição da personagem, do lugar, objeto, etc.) e ser classificado como narrativo devido à predominância desse último.
Os gêneros textuais, por sua vez, são definidos pelas características de uso, de acordo com os conteúdos, objetivos, estilo e composição característica. Desse modo, não é o aspecto formal e estrutural da língua que vão determinar o gênero, mas a sua natureza funcional e interativa. O gênero é, então, uma unidade de linguagem em uso na vida real, inserida num rol comunicativo de interlocutores e intenções, o que facilita e viabiliza o ensino nas práticas de leitura e produção de texto. O estudo dos gêneros textuais, muito em evidência atualmente nas questões concernentes ao ensino de Língua Portuguesa, mostra-nos que essa teoria há muito vem sendo defendida por estudiosos da área. Conforme Fiorin (2006, p.60), desde a Grécia, o Ocidente opera com a noção de gênero. No Brasil, a partir da década de 1990, teóricos do círculo de Bakhtin propõem o estudo de Língua Portuguesa fundamentado na teoria bakhtiniana dos gêneros. Para Bakhtin: A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica em determinado campo (BAKHTIN, 2003, p. 262). Os seres humanos estabelecem uma relação sócio-comunicativa em todas as esferas da sociedade: na escola, no trabalho, na igreja, na política, etc. Em todas essas esferas de atividades é imprescindível a linguagem em forma de enunciados que são determinados pelas condições específicas e pelas finalidades de cada esfera. Esses enunciados ora se mantêm estáveis, ora mudam em função das alterações nessas esferas de atividades. Donde a definição de gêneros como tipos de enunciados relativamente estáveis, caracterizados por um conteúdo temático, uma construção composicional e um estilo. Falamos sempre por meio de gêneros no interior de uma dada esfera de atividade. (FIORIN, 2006, P. 61) Por isso, gêneros não se definem por aspectos formais ou estruturais da língua, estão ligados à natureza interativa do texto, ou seja, à sua funcionalidade, ao seu uso e é através do desenvolvimento da competência sociocomunicativa que aprendemos a organizar e a identificar os diferentes gêneros textuais. Na definição de gênero foi empregado o termo relativamente estáveis, pois os gêneros estão em constante alteração. À medida que as esferas de atividades se desenvolvem, os gêneros se diferenciam, podem surgir novos e outros podem até
desaparecer. Por exemplo, com a criação da internet, surgiram muitos gêneros, como o blog, o e-mail, o chat. O trabalho com os gêneros textuais na Educação Básica enriquece e amplia o conhecimento de língua portuguesa porque seu processo é interativo, não segue modelos prontos e acabados e, portanto, o aluno tem a oportunidade de aprimorar a sua competência linguística. Já o ensino de produção de texto baseado no tradicional - explorando as tipologias narração, descrição e dissertação mostrou-se insuficiente. Pesquisas científicas comprovaram que uma considerável parcela de alunos que cursavam o ensino superior não apresentavam condições básicas necessárias para dar continuidade no estudo ou mesmo no exercício do trabalho, quando o assunto era a produção textual. Afirma Lopes-Rossi (2002, p. 20) que as conclusões, de maneira geral, mostraram um ensino comprometido por sérios problemas conceituais e conteudísticos, pedagógicos e que as condições de produção de redação na escola são consideradas inadequadas. Isto significa que no contexto escolar os textos são produzidos com artificialidade, porque propostos a partir de temas artificiais, sem objetivo, apenas para o professor, que muitas vezes é um mero corretor de textos. Textos dessa natureza não correspondem com a prática sociodiscursiva de nossa sociedade requer, pois não se realizam em situações reais de comunicação. Assim, como afirma ainda Lopes-Rossi (2002, p. 23) considerar os textos, para leitura ou para escrita, apenas pela perspectiva dos modos de organização do discurso é um risco de limitá-los a fórmulas ou esquemas e descaracterizá-los de seus propósitos enunciativos. Por outro lado, a nova proposta visa a um trabalho com base em uma linguística textual inspirada na orientação sociointeracionista como prática pedagógica voltada para um desenvolvimento mais amplo da competência comunicativa dos alunos, ou seja, uma forma de ver a língua como algo concreto, fruto da interação social dos participantes em situação real de comunicação. Para entendermos bem o que se propõe atualmente, inclusive pelos PCN, é preciso que tenhamos clara a diferença entre um ensino baseado em narração, descrição e dissertação, por um lado, e em gêneros discursivos, por outro. (LOPES-ROSSI, 2002, p. 21).
Propondo um ensino de Língua Portuguesa amparado nos gêneros, o que se espera é que o aluno, ao escrever, não o faça como mero mecanismo de aprendizagem, mas sim que ele interaja com o meio, que ele escreva para um suposto leitor e espere que este seja o seu interlocutor. Assim, estabelece-se uma interconexão da linguagem, pois, como afirma Bakhtin, Essa orientação da palavra em função do interlocutor tem uma importância muito grande. Na realidade toda palavra comporta duas fases. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte (BAKHTIN, 2006, p.117). Nenhum texto deve ser escrito no vazio. Deve estar inserido em um contexto e em um momento histórico, e, para cada situação, pressupõem-se um emissor e um receptor, que na compreensão e interpretação do texto, interajam e ampliem o seu significado. Segundo Orlandi (1988, p. 43), as leituras têm suas histórias e uma leitura não é possível e/ou razoável em si, mas em relação às suas histórias. Os gêneros textuais são um modo de se entender a realidade. Através deles, podem-se obter novos gêneros, mas que somente ganham sentido quando há correlação entre forma e atividade e são originados da necessidade de se utilizar a linguagem nas atividades humanas. A cada esfera de ação específica pode ocasionar o aparecimento de certos tipos de enunciados que, na interação, motiva outros enunciados. Segundo Fiorin (2006, p. 61), O gênero estabelece, pois, uma interconexão da linguagem com a vida social. Dessa forma, com o objetivo de levar para a sala de aula um didática diferenciada que atenda as Diretrizes Curriculares da Educação Básica, propôs-se um trabalho de intervenção pedagógica, fundamentado em Marcondes at al (2003) e na teoria de J. B. Pinho (1990), enfocando a propaganda social como forma de aproximar o aluno da problemática cotidiana e entender a importância da sua participação no exercício da cidadania, pois, como afirma Marcondes,... ler textos que circulam socialmente é também agir como cidadão, ou seja, é responder a perguntas que devem ser feitas pelos leitores, buscar respostas para elas, isto é, interagir socialmente, pois a leitura não pára na esfera da compreensão, vai muito além, uma vez que tem conseqüências sociais
imediatas. Nesse sentido, vale dizer que ler o que circula socialmente é também agir socialmente. (MARCONDES, at al, 2003, p. 13) Procedimentos metodológicos A atividade proposta neste trabalho foi implementada em uma sala de quarenta e três alunos da 3ª série do ensino médio do Colégio Estadual Cianorte. Optamos por providenciar e distribuir a cada aluno uma cópia do material didático-pedagógico produzido, uma Sequência Didática. Fizemos um esclarecimento acerca do gênero textual a ser estudado e a sua importância. Ao fazer uma sondagem inicial, percebemos que os alunos, apesar de ter constante contato com os meios de comunicação, não apresentavam clareza a respeito das características específicas do gênero discursivo propaganda social e não conseguiam distinguir uma propaganda de marketing de uma propaganda social, mas mostraram grande interesse pelo assunto, fazendo críticas e apresentando sugestões. O primeiro passo do trabalho foi analisar o poema Eu etiqueta, de Carlos Drummond de Andrade (Texto I). Texto I EU ETIQUETA (Carlos Drummond de Andrade) Em minha calça está grudado um nome Que não é meu de batismo ou de cartório Um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida Que jamais pus na boca, nessa vida, Em minha camiseta, a marca de cigarro Que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produtos Que nunca experimentei Mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido De alguma coisa não provada Por este provador de longa idade.... Agora sou anúncio Ora vulgar ora bizarro. Em língua nacional ou em qualquer língua (Qualquer principalmente.) E nisto me comparo, tiro glória De minha anulação.
... Por me ostentar assim, tão orgulhoso De ser não eu, mas artigo industrial, Peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é Coisa. Eu sou a Coisa, coisamente. Com esse poema, objetivou-se provocar no aluno uma reflexão a respeito de como a propaganda pode influenciar no comportamento do indivíduo e, por isso, a importância de se estudar esse gênero. Em seguida, observamos dois tipos de propaganda (textos II e III) e através de questionamentos tivemos o propósito de conduzir o aluno a diferenciar uma propaganda de marketing da propaganda social, com base nos conceitos de Pinho (1990, p. 22-23), que define propaganda como o conjunto de técnicas e atividades de informação e persuasão destinadas a influenciar, num determinado sentido, as opiniões, os sentimentos e as atitudes do público receptor, e propaganda social como todas as campanhas voltadas para as causas sociais: desemprego, adoção de menor, desidratação, tóxicos, entre outras. São programas que procuram aumentar a aceitação de uma idéia ou prática social em um grupo-alvo. Texto II Texto III Nesta etapa do trabalho, além de analisar as imagens que marcam a diferença entre os dois tipos de propagandas, foram feitos vários questionamentos a respeito das propagandas sociais, tais como: Que temas podem ser explorados nas propagandas sociais? Qual a importância de estudá-las e de reconhecê-las? Que influência o leitor pode sofrer com a leitura das propagandas? Que função elas exercem sobre as pessoas. Após o estudo acima, com nossas instruções e acompanhamento como professora, percebemos que os alunos conseguiram absorver com mais clareza os
diversos tipos de publicidade e propaganda. Depois disso, direcionamos o estudo enfatizando o gênero propaganda social. Estudo do Gênero propaganda social Apesar do empenho dos órgãos públicos no sentido de conscientizar para a prevenção de doenças e de outros problemas sociais, as propagandas veiculadas na mídia parecem não atender às expectativas, pois doenças antes já controladas voltam em forma de epidemias e, todos os dias, a mídia divulga estatísticas assustadoras relacionadas aos problemas sociais. O projeto pedagógico de leitura, análise linguística e pesquisa da propaganda social, objetivando a posterior produção desse gênero, atende a proposta dos PCN, quando observam que O espaço da Língua Portuguesa na escola é garantir o uso ético e estético da linguagem verbal, fazer compreender que pela e na linguagem é possível transformar/reiterar o social, o cultural, o pessoal. (BRASIL, 1999, p. 144) O trabalho com a propaganda social também é um forte aliado das artes, pois permite explorar o planejamento gráfico, a diagramação, o uso das cores, o tipo de letra, imagens, etc. Esse gênero proporciona, portanto, uma rica associação de elementos das linguagens verbal e não-verbal. Para melhor reconhecimento e entendimento do gênero em questão, estudamos e analisamos algumas propagandas, a fim de sensibilizar e informar os alunos, jovens e adolescentes que em um futuro próximo serão os responsáveis pelas questões sociais. Para tanto, procuramos organizar as atividades sob três aspectos: leitura e análise lingüística para a interpretação da propaganda; pesquisa de aprofundamento do tema; e produção de propaganda social. Iniciando o estudo desse gênero textual, em um primeiro momento, analisamos uma propaganda de cigarros (texto IV). Foram explorados aspectos como: o público alvo da propaganda, o texto imagético em relação ao texto verbal, o apelo, as inferências possíveis para a interpretação da propaganda e as metáforas tranca a porta, empregada no texto verbal, e a caixa de cigarro, no texto imagético, representando o vício, como uma perfeita cilada. Texto IV
Para complementar o estudo, foi desenvolvida uma pesquisa sobre os malefícios do tabagismo, sobre o fumante passivo e, ainda, sobre a Lei que proíbe fumar nos locais públicos. Essa pesquisa foi feita extraclasse e, para tanto, os alunos utilizaram a internet como referência. Os dados dessa pesquisa foram amplamente debatidos na aula seguinte. A próxima propaganda analisada foi sobre o uso do preservativo (texto V). Texto V A respeito desta, propusemos questões que levaram o aluno a ler e interpretar tanto o texto verbal quanto o imagético. Observamos no texto palavras com sentido ambíguo, a intenção da ambigüidade e sua compreensão, o emprego do artigo definido a personalizando a mensagem da propaganda, os verbos no imperativo, a função apelativa da linguagem e, em seguida, foi encaminhada uma nova pesquisa sobre as DST. Nesta segunda investigação, também realizada
extraclasse, foram utilizados como referência os seguintes recursos: a internet, livros didáticos, além de folders e cartazes fornecidos pela Secretaria de Saúde Pública. Com essa etapa de atividade, foram esclarecidos os seguintes questionamentos: O que são e quais são as DST? Como elas se manifestam no organismo? Quais as formas de evitá-las? Uma terceira propaganda social trabalhada teve como tema a violência no trânsito (Texto VI). Texto VI Neste caso foi possível compreender o slogan, percebendo nele a ironia. Tivemos, com a leitura dessa propaganda, o objetivo de levar o aluno a perceber que no trânsito o prejuízo não é somente material, mas também psicológico e até mesmo vital. Na sequência analisamos o texto salientando a importância dessa propaganda na vida social, visto que os prejuízos tanto materiais quanto psicológicos atingem diretamente a sociedade, pois verbas que poderiam ser empregadas na saúde da população são priorizadas em casos de acidentes. Fechamos o estudo solicitando uma pesquisa extraclasse, a ser realizada na internet, sobre as medidas de segurança previstas pelo Código Nacional de Trânsito e sobre a Lei Seca. Com a análise dessa propaganda e com a pesquisa colocamos em pauta a imagem chocante apresentada pela propaganda e, com isso, abrimos discussão a respeito da imprudência no trânsito e dos resultados estatísticos divulgados pela mídia, os quais apresentam alto índice de (ir)responsabilidade dos jovens.
A quarta propaganda analisada abordou a Dengue (texto VII). Como se pode observar, essa propaganda faz uso de um sinal de trânsito. Estudando o texto verbal e imagético, procuramos levar os alunos a compreender a carga semântica de cada palavra, bem como cada imagem apresentada e seus respectivos significados na mensagem. Questionamo-los a respeito da doença que tem sido recorrente a cada período de chuvas e refletimos com eles sobre a necessidade de se estar constantemente vigilantes para combatê-la. Também houve discussão sobre os sintomas da dengue e as conseqüências dela. Texto VII Outros dois textos trabalhados (textos VIII e IX) apresentaram o tema da inclusão das pessoas com necessidades especiais. Texto VIII Texto IX
Na leitura desses textos, os alunos foram instigados a refletir a respeito do comportamento da sociedade em relação aos portadores de alguma deficiência, pois ambas as propagandas dizem por si só. Ao discutir sobre o assunto, constatamos o quanto é importante o respeito e a quebra do preconceito, uma vez que esses fatores são as maiores dificuldades encontradas pelas pessoas com necessidades especiais. Chegamos à conclusão de que as barreiras que a sociedade impõe chegam a tirar delas a dignidade. O último texto estudado (texto X) é destinado à criação de um slogan para a propaganda, buscando fazer o aluno pensar a respeito do voto consciente, pois sabemos que isso pode fazer muita diferença na nossa sociedade. Texto X Durante as atividades de leitura, exploramos a língua portuguesa fazendo uma análise linguística dos textos verbais presentes no material pedagógico ao mesmo tempo em que serviram de base para a produção do gênero em estudo. Vale destacar que as pesquisas realizadas durante o desenvolvimento do estudo foram muito importantes porque trouxeram para a sala de aula assuntos de várias áreas do conhecimento com as quais foi possível analisar, refletir e discutir, interdisciplinarmente, assuntos que serviriam como apoio para a produção da propaganda social que os alunos deveriam fazer posteriormente. A última etapa do trabalho foi dividir a sala em grupos para a produção do texto. Formadas as equipes, os alunos escolheram o tema de sua preferência, tomando o cuidado para não haver repetição. Houve a orientação para que a linguagem usada na produção fosse acessível e direcionada ao público mais jovem, ou seja, a comunidade interna da escola.
As propagandas sociais produzidas pelos alunos abordaram os seguintes temas: DST, dengue, violência no trânsito, combate ao tabagismo, combate ao alcoolismo, aquecimento global e preservação da natureza. Para a edição final dos cartazes, foi usado o computador (programa Corel Draw). As imagens foram adquiridas de diferentes formas: fotografadas, escaneadas ou retiradas da internet. Depois foram juntadas ao texto e ao slogan criados pelos alunos, compondo a propaganda. Os textos finais foram reproduzidos em banners e afixadas no interior da escola. Essa etapa de reprodução em banner foi terceirizada. É preciso ressaltar que a avaliação dos trabalhos foi realizada com base nos resultados da circulação social que tiveram na comunidade, pois os alunos foram sujeitos reais que interagiram socialmente com outros sujeitos, usando a língua como instrumento dentro de um contexto real, e não diante de uma simulação, como normalmente se faz quando só o professor é o leitor da produção textual dos alunos. Propagandas sociais elaboradas pelos alunos Equipe I Assunto: DST Enfoque temático: O preservativo é indispensável nas relações sexuais. Apelo: humorístico A produção acima trouxe imagens leves e carregadas de humor, passando a mensagem de que não importa o estilo ou a classe social a que o indivíduo pertence: todos, indistintamente, devem se prevenir usando o preservativo nas
relações sexuais. Trata-se de uma propaganda que faz uso de imagens coloridas e, de certa forma, até infantis, porém chamando o leitor à responsabilidade. Equipe II Assunto: Violência no Trânsito Enfoque temático: As consequências da imprudência no trânsito. Apelo: impactante Como forma de ironizar a postura do motorista imprudente que dirige em alta velocidade nas ruas e estradas, causando acidente com prejuízos materiais e até mesmo vitais, os alunos optaram por exibir, na propaganda acima, imagens chocantes, com pessoas mutiladas. Para acentuar ainda mais a ironia, a estrada parece conduzir até o céu, dialogando com o slogan da propaganda. Equipe III
Assunto: Combate ao tabagismo Enfoque temático: O cigarro é prejudicial e pode até levar à morte. Apelo: irônico Para abordar um tema já bastante explorado nas propagandas sociais - o tabagismo, os alunos optaram por fazer ironia em relação à própria vida, ou seja, mostrar que o cigarro nos ilude: causa prazer, mas também traz muitos prejuízos e pode levar até a morte. Equipe IV Assunto: Combate ao alcoolismo Enfoque temático: O maior problema do álcool é o uso excessivo. Apelo: dramático
Como forma de sensibilizar as pessoas que fazem uso excessivo de bebidas alcoólicas, os alunos optaram por exibir fotos bem atrativas de bebida e outras com pessoas já deprimidas pelo uso do álcool. O texto verbal alerta que o uso da bebida alcoólica pode ser uma forma de prazer quando usado com moderação. Equipe V Assunto: Dengue Enfoque temático: Estar sempre alerta em relação aos cuidados com o mosquito Aedes Aegypti. Apelo: humorístico Para abordar um tema já bastante desgastado nas propagandas, porém não menos importante, devido à reincidência da doença periodicamente, os alunos optaram pelo humor, usando a linguagem utilizada para procurar criminosos. A intenção foi fazer uma comparação do mosquito com o criminoso, pois ambos não nocivos e estão sempre escondidos. Equipe VI
Assunto: Preservação da Natureza Enfoque temático: A destruição da natureza é ação do homem. Apelo: contraste Os alunos, nesta produção, fizeram um questionamento: Qual é o futuro do planeta?. Em seguida dão a resposta: É você quem decide!. Interessante notar que eles apresentaram uma foto em que se põe fogo em uma árvore que já está parcialmente queimada, propiciando o entendimento de que a destruição da natureza é um ato humano e que precisamos repensar nossas atitudes. Equipe VI O mundo está em suas mãos... Hoje você está acabando com o mundo, amanhã ele acabará com você.