Caracterização Morfo-anatômica das Folhas de Symphytum officinale L. (Boraginaceae)

Documentos relacionados
ILUSTRAÇÃO DE CARACTERES MICROSCÓPICOS DE DROGAS vegetais PARA O CONTROLE DE QUALIDADE FARMACOGNÓSTICO SPRENG.

ISSN: Anatomia foliar comparada de três espécies do gênero Oxalis L. (Oxalidaceae)

Calyptranthes widgreniana

ANATOMIA ECOLÓGICA FOLIAR DE Qualea multiflora Mart.

ANATOMIA FOLIAR DE Cobaea scandens Cav. Elisa Mitsuko Aoyama 1 & Alexandre Indriunas 1

CURSO DE FARMÁCIA Autorizado pela Portaria nº 991 de 01/12/08 DOU Nº 235 de 03/12/08 Seção 1. Pág. 35 PLANO DE CURSO

TÍTULO: ANÁLISE MORFOANATÔMICA E HISTOQUÍMICA DE FOLHA DE GENIPA AMERICANA

ANATOMIA E MICROMORFOLOGIA FOLIAR DE Melanopsidium nigrum Colla RESUMO ABSTRACT LEAF ANATOMYAND MICROMORPHOLOGY OF

DIAGNOSE ANATÔMICA FOLIAR E CAULINAR DE FRUTO-DE-POMBO: Rh a m n u s s p h a e r o s p e r m a Sw. v a r. p u b e s c e n s

CAPIM-LIMÃO, folha Cymbopogonis foliae

GOVERNO DO ES TADO DA BAHIA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA PRO-REITORIA ACADÊMICA Depto. de CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DUARTE, M. do R.; GOLAMBIUK, G.

CARACTERES ANATÔMICOS DE FOLHA DE Vernonanthura tweedieana (BAKER) H.ROB., ASTERACEAE

Anatomia foliar de Odontonema strictum (Nees) O. Kuntze (Acanthaceae)

Caracteres Anatômicos de arnica-do-campo: Chaptalia nutans

CARACTERES MACRO E MICROSCÓPICOS DE FOLHA DE LOURO (Laurus nobilis L., LAURACEAE)

ANATOMIA FOLIAR DE ALGODÃOZINHO-DO-CERRADO: Cochlospermum regium (SCHRANK) PILG., BIXACEAE LEAF ANATOMY OF YELLOW COTTON TREE:

Artigo Original / Original Article

ANATOMIA FOLIAR EM SECÇÃO TRANSVERSAL DE Elaeis guineesis Jacq (Dendê).

HISTOLOGIA VEGETAL CEFET PETROLINA VITICULTURA E ENOLOGIA BIOLOGIA GERAL PROF. ROBERTO MACHADO

Consulta Pública 38/2009

RESUMO. Palavras-chave: anatomia, tricomas, cistólitos INTRODUÇÃO

Morfoanatomia Foliar e Caulinar de Leonurus sibiricus L., Lamiaceae

ILLUSTRATION OF VEGETAL DRUG MICROSCOPIC CHARACTERS FOR THE PHARMACOGNOSTIC QUALITY CONTROL.

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DO AMENDOIN CULTIVADO NA REGIÃO DE MINEIROS, GOIÁS 1. Katya Bonfim Ataides Smiljanic 2

Caracterização morfoanatômica de raiz e rizoma de Symphytum officinale L. (Boraginaceae)

ANATOMIA COMPARATIVA DE TRÊS ESPÉCIES DO GÊNERO Cymbopogon

Structural aspects of Ocotea odorifera (Vell.) Rohwer (Lauraceae) leaves in two distinctive environments

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ENSINO DEPARTAMENTO CCENS BIOLOGIA. Plano de Ensino

CRAVO-DA-ÍNDIA, botão floral Caryophylli flos

ANATOMIA COMPARATIVA DE TRÊS ESPÉCIES DO GÊNERO Cymbopogon

Morfoanatomia Foliar e Caulinar de Dedaleiro: Lafoensia pacari A. St.-Hil. (Lythraceae)

ANÁLISE FOTÔNICA E ULTRA-ESTRUTURAL DA EPIDERME FOLIAR DE Galinsoga parviflora CAV. E G. ciliata (RAF.) BLAKE, ASTERACEAE

ANATOMIA FOLIAR DE QUATRO ESPÉCIES DE ORCHIDACEAE EPÍFITAS DAS MATAS CILIARES DO RIO ARAGUARI (TRIÂNGULO MINEIRO)

ILUSTRAÇÃO DE CARACTERES MICROSCÓPICOS DE DROGAS vegetais PARA O CONTROLE DE QUALIDADE FARMACOGNÓSTICO

ANATOMIA FOLIAR COMPARADA DE ESPÉCIES DE TILLANDSIAS (BROMELIACEAE-TILLANDSOIDEAE) OCORRENTES EM PEDRO II-PI

Romário Carvalho de Sousa 2 ; Profª. Drª. Maria de Fátima de Oliveira Pires 3. 2 Aluno de Graduação em Ciências Biológicas/UESPI;

Diagnose Morfoanatômica de Folha e Caule de Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers, Bignoniaceae

Anatomia dos Órgãos Vegetativos de Vernonia brasiliana (L.) Druce 1

FLAVESCENS (BONG.) RUHL. S. L. (ERIOCAULACEAE)

Caracteres Anatômicos de Folha e Caule de Piper mikanianum (Kunth) Steud., Piperaceae

42 Souza, W. M. de; Santos, C. A. de M.; Duarte, M. do R.; Bardal, D. INTRODUÇÃO Eriobotrya japonica Lindley, Rosaceae, é uma árvore de origem asiátic

CÉLULA VEGETAL E PAREDE CELULAR

TÍTULO: MORFOANATOMIA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE EUCALYPTUS UROGRANDIS, CULTIVADO NA REGIÃO DE CAMPO GRANDE MS.

Programa Analítico de Disciplina BVE230 Organografia e Sistemática das Espermatófitas

ESTUDO COMPARATIVO DA EPIDERME DE TRÊS ESPÉCIES DE Deguelia AUBL. (FABACEAE)

Caracteres anatômicos de folha e caule de Calea uniflora Less., Asteraceae

CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS E MORFOLÓGICAS DA ESTRUTURA FOLIAR

ANÁLISE MICROSCÓPICA FOLIAR DE MUTAMBA (Guazuma ulmifolia LAM., MALVACEAE)

ANATOMIA FOLIAR COMPARADA DE ESPÉCIES DE AROEIRA: Myracrodruon urundeuva ALLEMÃO E Schinus terebinthifolius RADDI

Morfoanatomia de folhas de Himatanthus sucuuba (Spruce) Woodson, Apocynaceae

ANATOMIA E HISTOQUÍMICA DE ÓRGÃOS VEGETATIVOS DE

AULA 4 CAPÍTULO 4 PARÊNQUIMA, COLÊNQUIMA E ESCLERÊNQUIMA

Estudo anatômico de folha e caule de Pereskia aculeata Mill. (Cactaceae) M.R. Duarte*, S.S. Hayashi

Espécies estudadas Voucher Localidade Herbário A.M.G. Azevedo Flores 420 Santana do Riacho SPF C. pallida Aiton Devecchi 33 Devecchi 47

ESTUDOS MORFO-ANATOMICO EM FOLHA E CAULE DE Didymopanax moro to toai, DECNE

ANATOMIA FOLIAR E CAULINAR DE DUAS ESPÉCIES DE Rollinia (ANNONACEAE): R. rugulosa E R. mucosa

ANATOMIA FOLIAR DE Mentha x villosa HUDS SOB DIFERENTES ESPECTROS DE LUZ

MORFODIAGNOSE DE Psidium guajava L., MYRTACEAE. MORPHO-DIAGNOSIS OF Psidium guajava L., MYRTACEAE

Estudo Farmacobotânico das Folhas de três Espécies do Gênero Strychnos L. (Loganiaceae) do Nordeste do Brasil

Morfo-anatomia do caule e da folha de Piper gaudichaudianum Kuntze (Piperaceae)

PODOCARPUS LAMBERTII KLOTZSCH

AULA 11 CAPÍTULO 11 CAULE

Sedum dendroideum Moc. et Sessé ex DC, Crassulaceae

CÉLULA VEGETAL 17 TECIDOS VEGETAIS 35

A ANATOMIA FOLIAR PODERIA EXPLICAR A PRESENÇA DE ESPÉCIES PERENES NAS FLORESTAS ESTACIONAIS DECIDUAIS?

IDENTIFICAÇÃO ANATÔMICA DE FOLHA E CAULE DE SALSEIRO: LEAF AND STEM ANATOMICAL IDENTIFICATION OF CREOLE WILLOW: DUARTE, M. R. 1 ; CHELLA, L.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ESTUDO MORFO-ANATÔMICO DAS FOLHAS DE Urera baccifera GAUDICH 1

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DE Protium aracouchini OCORRENTE NO PARQUE URBANO DO MUNICIPIO DE SINOP-MT

A Cultura do Linho. (Linum usitatissimum L.)

Anatomia Foliar de Ocimum basilicum L. Genovese (Lamiaceae)

Morfoanatomia foliar comparada de Gomphrena elegans Mart. e G. vaga Mart. (Amaranthaceae)

Ruta graveolens L.: USO POTENCIAL EM AULAS PRÁTICAS DE ANATOMIA VEGETAL

8º GRANDE ENCONTRO SOBRE VARIEDADES DE CANA DE AÇÚCAR 2014 GRUPO IDEA FISIOLOGIA DA ISOPORIZAÇÃO E SEUS EFEITOS NA CULTURA DA CANA

3º. CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS OLEAGINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E BIODIESEL

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUTOS NATURAIS E SINTÉTICOS BIOATIVOS

Análise Morfo-anatômica de Folhas de Pereskia grandifolia Haw., Cactaceae

PRINCIPAIS FITORMÔNIOS

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DE FOLHA E CAULE DE Erythrina falcata BENTH. (FABACEAE)

MERISTEMAS TECIDOS PERMANENTES SISTEMA FUNDAMENTAL - PARÊNQUIMA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE BIOLOGIA

PLANO DE ENSINO I IDENTIFICAÇÃO. CURSO: Ciências Biológicas. MODALIDADE: ( X ) Bacharelado. ( X ) Licenciatura

Anatomia comparada de espécies de arnica: Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass. e Chaptalia nutans (L.) Pohl

PROGRAMA ANALÍTICO DISCIPLINA NOME: ANATOMIA DA MADEIRA CÓDIGO: IF 301 CRÉDITOS: 04 (T-02 P-02) DEPARTAMENTO DE PRODUTOS FLORESTAIS

Caracteres morfoanatômicos de folha e caule de Cupania vernalis Cambess., Sapindaceae. Sílvia Raquel Mundo, Márcia do Rocio Duarte*

Farmacobotânica foliar e caulinar de guanandi - Calophyllum brasiliense Cambess. (Clusiaceae)

Morfo-Anatomia Foliar de Aphelandra Longiflora Profice. (Acanthaceaea) L. Zottele¹*, A. Indriunas¹ & E. M. Aoyama¹

Consulta Pública 38/2009

MÉTODOS DE ANÁLISE DE DROGAS VEGETAIS (COMPARAÇÃO COM MONOGRAFIAS FARMACOPEICAS) IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIE VEGETAL (taxonomista) exsicata 20/03/2017

Morfoanatomia de folhas de Psidium guajava L. (Myrtaceae)

Article. Morfoanatomia de folha e caule de Genipa americana L., Rubiaceae. Marianna Erbano,¹ Márcia R. Duarte *

MORPHO-ANATOMY ANALYSIS OF AERIAL VEGETATIVE PARTS OF Pereskia aculeata Mill., CACTACEAE

DIAGNOSE MORFOANATÔMICA DE CANAFÍSTULA: Peltophorum dubium (SPRENG.) TAUB. (FABACEAE)

Caracterização anatômica de folhas e inflorescências de espécies de Lavanda (Lamiaceae) utilizadas como medicinais no Brasil

Anatomia foliar e caulinar de Forsteronia glabrescens, Apocynaceae

CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA FOLIAR DE Oncidium cebolleta Jacq. SW. (ORCHIDACEAE)

Morfo-anatomia de espécies arbóreo-arbustivas do cerrado

Caracterização anatômica das folhas de Cunila microcephala Benth. (Lamiaceae)

FARMACOGNOSIA II. Profª. Ana Carla Gheller

Transcrição:

Acta Farm. Bonaerense 23 (3): 359-64 (2004) Recibido el 08 de diciembre de 2003 Aceptado el 04 de junio de 2004 Trabajos originales Caracterização Morfo-anatômica das Folhas de Symphytum officinale L. (Boraginaceae) Ana Cristina Oltramari TOLEDO 1 *, Márcia do Rocio DUARTE 2 & Tomoe NAKASHIMA 2 1 Pós-graduanda do Departamento de Botânica, Universidade Federal do Paraná 2 Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná Rua Pref. Lothário Meissner, 3400-80210-170 Curitiba, PR, Brasil RESUMO. Symphytum officinale L. é uma planta herbácea, cujo nome popular mais conhecido no Brasil é confrei. Suas folhas são empregadas na fitoterapia como antiinflamatório, emoliente e anestésico suave de uso tópico. Com a finalidade de contribuir com a identificação da planta medicinal recomendada pela RDC N 17/2000 - ANVISA, foram analisadas a morfologia externa e a anatomia da folha. O material foi fixado, seccionado à mão livre e corado ou submetido a testes histoquímicos. A folha é ovalado-oblonga ou lanceolada, com ápice agudo ou acuminado, base cuneada e margem levemente ondulada. A epiderme é uniestratificada, com estômatos anomocíticos, tricomas tectores unicelulares retos e glandulares capitados em ambas as faces. Tricomas tectores unicelulares unciformes ocorrem na superfície abaxial. Mesofilo dorsiventral, células com mucilagem, nervura central apresentando um a oito feixes vasculares colaterais, e pecíolo com vários feixes colaterais em arco aberto são observados. SUMMARY. Leaf Morpho-anatomical Characterization of Symphytum officinale L. (Boraginaceae). Symphytum officinale L. is a herbaceous species, commonly known as comfrey in Brazil. Its leaves are employed in phytotherapy as topical anti-inflammatory, emollient and mild anesthetics. Aiming to contribute to the medicinal plant identification, which was recommended by RDC N 17/2000 - ANVISA, the leaf external morphology and anatomy were carried out. The material was fixed, free-hand sectioned, either stained or undergone histochemical tests. The leaf is ovate-oblong or lanceolate, with acute or acuminate apex, cuneate base and slightly wavy margin. The epidermis is uniseriate, having anomocytic stomata, straight unicellular non-glandular trichomes and capitate glandular ones on both sides. Unciform unicellular non-glandular trichomes occur on the lower surface. Dorsiventral mesophyll, cells containing mucilage, midrib showing from one to eight collateral bundles, and petiole having various collateral bundles distributed as an open arc are observed. INTRODUÇÃO Symphytum officinale L. (Boraginaceae), espécie originária da Europa e da Ásia temperada, naturalizada nos Estados Unidos 1, introduzida no Brasil e cultivada em vários Estados como planta forrageira 2, é conhecida popularmente como confrei, consólida-maior, erva-do-cardeal em português 3,4, como consuelda em espanhol, como comfrey em inglês, como sinfito em italiano e grande consoude em francês 2,5. É uma erva vivaz, de rizoma grosso e raiz fusiforme, pivotante, longa e fibrosa 2. As folhas são pilosas 6, ovalado-agudas ou oblongo-lanceoladas, acuminadas, levemente onduladas, decrescentes da base para o ápice, sendo as apicais sésseis e as demais atenuadas, com pecíolo tanto mais comprido quanto mais inferiores 2,6, com nervuras proeminentes na face abaxial 7. As flores são branco-amareladas, púrpuras ou róseas, tubulosas, hermafroditas, diclamídeas, pentâmeras, pêndulas e dispostas no ápice dos ramos em cimeiras geminadas curtas e escorpióides 2,8. As folhas são indicadas na forma de extratos, tinturas, cremes, pomadas ou géis para uso tópico, devido à sua ação antiinflamatória, emoliente e anestésica suave, no tratamento de lesões, hematomas e distensões, e na promoção da cicatrização óssea 1,4,8,9. As folhas contêm alantoí- PALAVRAS-CHAVE: Boraginaceae, Folha, Morfo-anatomia, Symphytum officinale. KEY WORDS: Boraginaceae, Morpho-anatomy, Leaf, Symphytum officinale. * Autor a quem dirigir a correspondência: E-mail: acotoledo@uol.com.br ISSN 0326-2383 359

Toledo, A.C.O., M. do R. Duarte & T. Nakashima na, substância ativa associada à ação antiinflamatória, alguns aminoácidos, ácido rosmarínico e alcalóides pirrolizidínicos 6,8. Com a finalidade de contribuir para a caracterização da planta medicinal, recomendada pela RDC N 17/2000 da ANVISA 9, que dispõe sobre o registro de fitoterápicos, foram realizadas análises da morfologia externa e anatomia foliar de Symphytum officinale L. (Boraginaceae). MATERIAL E MÉTODOS Material botânico A coleta de Symphytum officinale (Fig. 1) foi efetuada no Parque Castelo Branco, região metropolitana de Curitiba, 25º 23 03 S e 45º 07 02 W, altitude de 911 m, em junho de 2002. Foram também coletados exemplares floridos para confecção de exsicata, a qual foi depositada no Herbário do Museu Botânico Municipal de Curitiba sob registro MBM 269350, após identificação pelo Dr. Gert Hatschbach. realizada em lâmina foliar; sendo as amostras fixadas em FAA 70, desidratadas em série etanólica crescente e pelo ponto crítico no equipamento Baltec CPD-030, e submetidas à metalização com ouro em aparelho Balzers Sputtering SCD- 030. As eletromicrografias foram realizadas em microscópio eletrônico de varredura Jeol JSM- 6360LV. RESULTADOS Morfologia externa A folha (Fig. 2) é ovalado-oblonga ou lanceolada, de consistência cartácea, áspera, com ápice agudo ou acuminado, base atenuada ou cuneada e margem levemente ondulada, com 15-40 cm de comprimento e 4-13 cm de largura. A face adaxial é verde e com nervuras deprimidas. A face abaxial é de cor verde mais clara, com uma trama bem aparente de nervuras, sendo a principal fortemente desenvolvida e as laterais dirigidas à margem em ângulo agudo, caracterizando venação peninérvea. O pecíolo é longo, chegando a medir 27 cm, é normal e canaletado, de inserção lateral à margem foliar, de aspecto geral reto, e apresenta em toda sua extensão alas laterais, progressivamente maiores em direção ao pecíolo distal. As folhas jovens são longamente pecioladas e as adultas apresentam pecíolos medianos a curtos. Figura 1. Symphytum officinale L. (Boraginaceae) - aspecto geral. Metodologia Folhas adultas foram fixadas em FAA 70 10 e, após 7 dias, armazenadas em etanol a 70% 11. Foram feitas lâminas semipermanentes, por meio de secções transversais e paradérmicas, à mão livre, utilizando-se isopor como suporte 12, do terço inferior do limbo, incluindo a nervura principal, e do pecíolo. Os cortes foram corados com azul de toluidina 13 e com fucsina básica e azul de astra 14. Efetuaram-se testes histoquímicos com cloreto férrico para verificação de compostos fenólicos 10, lugol para amido 11, azul de metileno para mucilagem 15, floroglucina clorídrica para lignina 16 e Sudam III para substâncias lipofílicas 17. O registro fotográfico foi realizado por meio de microscópio fotônico Olympus BX40 acoplado à unidade de controle PM20. A análise ultra-estrutural de superfície (Microscopia eletrônica de Varredura - MEV) 18 foi Figura 2. S. officinale - faces adaxial (adx) e abaxial (abx) da epiderme. Anatomia A epiderme é uniestratificada (Fig. 3) e, em vista frontal, exibe células de paredes anticlinais ondeadas na face adaxial (Fig. 4) e sinuosas na abaxial (Fig. 5). Em secção transversal, as células epidérmicas mostram-se alongadas no sentido periclinal. São observados, em ambas as faces, estômatos anisocíticos e predominantemen- 360

acta farmacéutica bonaerense - vol. 23 n 3 - año 2004 Figura 3. S. officinale - secção transversal do limbo, onde se notam parênquima paliçádico (pp) e parênquima esponjoso (pe), determinando mesofilo dorsiventral. Figura 4. S. officinale - vista frontal da face adaxial da epiderme, indicando estômato (es). Figura 6. S. officinale - secção transversal do limbo, revelando estômatos (es) inseridos no mesmo nível das demais células epidérmicas. Figura 5. S. officinale - vista frontal da face abaxial da epiderme da folha, mostrando estômato (es) e cicatriz deixada pela abscisão de tricoma tector (tr). Figura 7. S. officinale - tricoma tector unicelular reto. Figura 8. S. officinale - detalhe dos tricomas tectores unicelulares retos (MEV). te anomocíticos (Figs. 4,5), inseridos no mesmo nível das demais células epidérmicas (Fig. 6), e numerosos tricomas tectores unicelulares retos (Figs. 7, 8) e alguns glandulares. Estes são capitados, formados de um pedicelo curto e de uma glândula arredondada unicelular (Fig. 9). Observam-se também tricomas tectores unicelulares unciformes (Fig. 10), exclusivamente na face abaxial. Nesta, aparecem várias cicatrizes correspondentes à inserção dos tricomas tectores, circundadas por seis células epidérmicas sinuosas (Fig. 5). Na superfície adaxial, as cicatrizes são rodeadas por três células ondeadas. A epiderme 361

Toledo, A.C.O., M. do R. Duarte & T. Nakashima Figura 10. S. officinale - tricoma tector unicelular unciforme. Figura 9. S. officinale - tricoma glandular capitado (MEV). Figura 12. S. officinale - nervura principal, em secção transversal, mostrando colênquima (co) e feixes vasculares (fx) distribuídos em arco aberto no parênquima fundamental (pf). Figura 11. S. officinale - detalhe da cutícula granulosa revestindo tricomas unciformes (MEV). Figura 13. S. officinale - detalhe de feixe vascular colateral da nervura principal, observando-se xilema (xi), floema (fl) e zona cambial (zc). e seus anexos são revestidos por uma cutícula delgada e lisa, com exceção dos tricomas unciformes, cuja cutícula apresenta ornamentações granulosas (Fig. 11). O mesofilo é dorsiventral (Fig. 3), constituído freqüentemente de uma camada de parênquima paliçádico e sete a dez estratos de parênquima esponjoso. Os feixes vasculares de menor porte são colaterais e envoltos por bainha parenquimática. A nervura principal (Fig. 12), em secção transversal, é côncavo-convexa em ângulo fechado e apresenta uma faixa contínua de colênquima angular subjacente à epiderme. Mergulhados no parênquima fundamental encontram-se de um a oito feixes vasculares colaterais, dispostos em arco aberto. A zona cambial é evidente nos feixes de maior porte (Fig. 13). O pecíolo, em secção transversal, tem contorno côncavo-convexo em ângulo fechado, com projeções laterais e epiderme uniestratificada, com tricomas tectores unicelulares retos e glandulares, com as mesmas características descritas anteriormente, e estômatos localizados no mesmo nível das demais células epidérmicas. Em posição subjacente, uma faixa contínua de colênquima angular é observada, circundando o parênquima fundamental, que é percorrido por vários feixes vasculares colaterais (Fig. 14), dispostos em arco aberto, nos quais a zona cambial pode ser evidenciada. Células contendo mucilagem distribuem-se no pecíolo, no mesofilo e na nervura principal. 362

acta farmacéutica bonaerense - vol. 23 n 3 - año 2004 Figura 14. S. officinale - pormenor de feixe vascular do pecíolo, indicando xilema (xi) e floema (fl) em arranjo colateral. DISCUSSÃO A morfologia externa foliar observada em Symphytum officinale L. foi coincidente com a descrição de Joly 19 para a família, e de Saito e Oliveira 6 para a espécie, embora esses autores não tenham feito referências à descrição do pecíolo. Metcalfe e Chalk 20 descrevem para a família Boraginaceae epiderme abaxial coberta de papilas e mesofilo cêntrico ou isobilateral. Entretanto, na espécie estudada, papilas não foram evidenciadas e o mesofilo foi classificado como dorsiventral. Uma das características mais evidentes das espécies herbáceas de Boraginaceae é a presença de tricomas tectores unicelulares rígidos, que tornam a folha áspera ao tato. Esses tricomas freqüentemente apresentam cristais de carbonato de cálcio na base e ocasionalmente as células que os ladeiam também 21,22. Na espécie estudada, a aspereza das folhas foi evidente e a presença de tricomas tectores unicelulares retos foi evidenciada em ambas as faces epidérmicas. No entanto, não se observou depósito de carbonato de cálcio na base ou ao redor desses anexos epidérmicos. Contudo, na opinião de Metcalfe e Chalk 21 e Cronquist 22, o número e tamanho desses cristais depende da disponibilidade de material calcáreo no solo e pode variar durante o ano, dificultando a sua evidenciação. Por outro lado, tricomas com características se- melhantes às descritas no presente trabalho constam da monografia de S. officinale da British Herbal Pharmacopoeia 7. Quanto à constatação de outros tipos de tricoma, como de tectores unciformes, Raven et al. 23 mencionam que a forma em gancho favorece a apreensão de insetos e larvas, que acabam transfixados por esse anexo epidérmico peculiar. Tricomas glandulares capitados são citados para a família e para o gênero Symphytum, embora sejam considerados menos freqüentes 21, a exemplo dos poucos observados em S. officinale. Na opinião de Cutter 24, várias secreções em órgãos vegetativos são repelentes de insetos, que as detectam por meio de quimiorreceptores localizados nas patas, ou que são presos quando constituem-se em exsudatos pegajosos. Concordantemente com o verificado na espécie em questão, estômatos anomocíticos são comuns em Boraginaceae 21,22 e podem estar no mesmo nível ou elevados em relação às demais células epidérmicas em espécies de localidades úmidas, como verificado em Cordia 21. A ocorrência de estômatos anisocíticos na espécie analisada foi também mencionada para a família por Metcalfe e Chalk 20 e em Cordia ecalyculata Vell. por Saito e Oliveira 25. Quanto à ocorrência de sistema de sustentação ao redor de feixes vasculares, Metcalfe e Chalk 20 e Esaú 26, referem que os mesmos são acompanhados de esclerênquima entre as Boraginaceae, característica não confirmada neste estudo. Dentre as características anatômicas mencionadas para a família, tais como, cristais de oxalato de cálcio em diferentes formas, ausência de hipoderme, feixes vasculares em arco aberto no pecíolo 21 e mesofilo dorsiventral 25, apenas não se confirmou em S. officinale a ocorrência de cristais de oxalato de cálcio. CONCLUSÃO Os caracteres morfo-anatômicos observados devem ser considerados no conjunto para a identificação farmacognóstica das folhas de S. officinale, podendo-se destacar tricomas tectores unicelulares retos e glandulares capitados em ambas as faces, tricomas unciformes na superfície abaxial, mesofilo dorsiventral, feixes vasculares colaterais dispostos em arco aberto na nervura principal e no pecíolo. A atribuição, de possível valor taxonômico para esses caracteres demanda estudo anatômico para outras espécies de Symphytum. 363

Toledo, A.C.O., M. do R. Duarte & T. Nakashima REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. PDR for herbal medicines (2000), 2 nd ed., Medical Economics, New Jersey, págs. 212-4 2. Corrêa, M.P. (1958) Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, Vol. 2, pág. 368 3. Cruz, G.L. (1995) Dicionário das plantas úteis do Brasil, 5 ed., Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, págs. 289-90 4. Newal, C.A., A. Anderson & J.D. Phillipson (2002) Plantas medicinais - guia para profissional de saúde, Editorial Premier, São Paulo, págs. 89-91 5. Font Quer, P. (1980) Plantas medicinales - el dioscórides renovado, 6 ed., Labor, Barcelona, págs. 549-50 6. Saito, M.L & F. Oliveira (1986) Rev. Bras. Farmácia 1: 74-85 7. British Herbal Pharmacopoeia (1983), 5 th ed., British Herbal Medicine Association, Bournemouth, pág. 202 8. Sousa, M.P., M.E.O. Matos, F.J.A. Matos, M.I.L. Machado & A.A. Craveiro (1991) Constituintes químicos ativos de plantas medicinais brasileiras, EUFC, Fortaleza, págs. 237-41 9. ANVISA. Resolução-RDC N 17 de 24 de fevereiro de 2000. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Relator: Gonzalo Vecina Neto. Diário Oficial da União, Brasília, 25 fev 2000. 10. Johansen, D.A. (1940) Plant microtechnique, MacGraw Hill Book Company, New York, págs. 41, 193 11. Berlyn, G.P. & J.P. Miksche (1976) Botanical microtechnique and cytochemistry, Iowa State University, Ames, págs. 121, 276 12. Quintas, A.T. (1963) Rev. Fac. Agronomia UFRGS 6: 51-5 13. O Brien, T.P., N. Feder & M.E. McCully (1965) Protoplasma 59: 368-73 14. Roeser, K. R. (1962) Mikrokosmos 61: 33-6 15. Oliveira, F. & M.L. Saito (1991) Práticas de morfologia vegetal, Atheneu, São Paulo, pág. 107 16. Foster, A.S. (1949) Practical plant anatomy, 2 nd ed., D. Van Nostrand, Princeton 17. Sass, J.E. (1951) Botanical microtechnique, 2 nd ed., Iowa State College, Ames 18. Souza, W. (1998) Técnicas básicas de microscopia aplicadas às ciências biológicas, Sociedade Brasileira de Microscopia Eletrônica, Rio de Janeiro 19. Joly, A.B. (1979) Botânica - introdução à taxonomia vegetal, 5 ed., Nacional, São Paulo, págs. 578-79 20. Metcalfe, C.R. & L. Chalk (1988) Anatomy of dicotyledons: systematic anatomy of leaf and stem, with a brief history of the subject, 2 nd ed., Clarendon Press, Oxford, Vol. 1, págs.198-207 21. Metcalfe, C.R. & L. Chalk (1950) Anatomy of dicotyledons: leaves, stem, and wood in relation to taxonomy with notes on economic uses, Clarendon Press, Oxford, Vol. 1, págs. 945-48 22. Cronquist, A. (1981) An integrated system of classification of flowering plants, 22, Columbia University Press, New York, págs. 917-21 23. Raven, P.H., R.F. Evert & S.E Eichorn (2001) Biologia vegetal, 5 ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, pág. 562 24. Cutter, E.G. (1986) Anatomia vegetal - células e tecidos, 2 nd ed., Roca, São Paulo, págs, 117, 223-5 25. Saito, M.L. & F. Oliveira (1986) Rev. Bras. Farmacognosia 67: 3-10 26. Esau, K. (1976) Anatomia das plantas com sementes, Edgard Blücher, São Paulo, pág. 221 364