A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTORES PARA O ISOLAMENTO SONORO DAS FACHADAS

Documentos relacionados
RELATÓRIO TÉCNICO N O RT0112/12 Isolação sonora de parede Drywall e mantas de fibra plástica

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA ACÚSTICA DE UM EDIFÍCIO MBT

série KAT Unidades de transferência de ar acústica

REABILITAÇÃO DE FACHADAS O ISOLAMENTO ACÚSTICO COMO FACTOR CONTRIBUTIVO

Mapa de Ruído do Concelho de Alfândega da Fé. Resumo Não Técnico. Actualização de acordo com o Dec.-Lei n.º 9/2007. Equipa Técnica do Mapa de Ruído:

Características das Figuras Geométricas Espaciais

46º CONGRESO ESPAÑOL DE ACÚSTICA ENCUENTRO IBÉRICO DE ACÚSTICA EUROPEAN SYMPOSIUM ON VIRTUAL ACOUSTICS AND AMBISONICS

ISOLAMENTO SONORO EM LAJES FUNGIFORMES ALIGEIRADAS COM MOLDES PERDIDOS: SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS

Os Eurocódigos Estruturais: Estado da sua implementação em Portugal

Projecto cbloco Aspectos Estruturais

E.P. ESTRADAS DE PORTUGAL, S.A.

ANEXO I AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DAS SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS PARA PAVIMENTOS CÁLCULO

COMPLEXO DESPORTIVO DE VIMIOSO

Fachada Plasma, um novo tipo de fachada ventilada, cujo revestimento exterior é constituído por telhas cerâmicas Plasma.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA TRANSMISSÃO MARGINAL NO VALOR DO ÍNDICE DE ISOLAMENTO SONORO A SONS DE IMPACTO

MARINHA DO BRASIL DIRETORIA DE ENSINO DA MARINHA (CONCURSO PÚBLICO PARA INGRESSO NO CORPO DE ENGENHEIROS DA MARINHA / CP-CEM/2016 )

1.2. Grandezas Fundamentais e Sistemas de Unidades

As fachadas de dupla pele e o ambiente acústico interior

FMF Indústria e Comércio de Esquadrias Ltda - Rua: Pedro Ripoli, Barro Branco - Ribeirão Pires - SP

AVALIAÇÃO EM LABORATÓRIO DO COMPORTAMENTO TÉRMICO DE SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS EM MADEIRA

1.1. Enumere as principais características e tendências da distribuição alimentar em Portugal.

Análise dos requisitos da parte 4 da NBR para vedações internas de drywall ABNT INSTITUTO DE ENGENHARIA DIVISÕES TÉCNICAS

ORIENTAÇÕES PARA DESENVOLVIMENTO DE PLANTAS ARQUITETÔNICAS

ESTUDO DE UM CIRCUITO RC COMO FILTRO

Escalas ESCALAS COTAGEM

Fise Fechoplast Indústria de Sistemas para Esquadrias Ltda - Rua dos Inocentes, 393 Socorro - São Paulo

Prova Final de Matemática

COTAÇÕES pontos pontos. 52 pontos. 48 pontos. 16 pontos Subtotal pontos. TOTAL pontos

MINISTÉRIO DO AMBIENTE DIRECÇÃO REGIONAL DO AMBIENTE DO ALGARVE AVALIAÇÃO DO GRAU DE INCOMODIDADE SONORA BAIXA DE LAGOS

FMF Indústria e Comércio de Esquadrias Ltda - Rua: Pedro Ripoli, Barro Branco - Ribeirão Pires - SP

FMF Indústria e Comércio de Esquadrias Ltda - Rua: Pedro Ripoli, Barro Branco - Ribeirão Pires - SP

FMF Indústria e Comércio de Esquadrias Ltda - Rua: Pedro Ripoli, Barro Branco - Ribeirão Pires - SP

Relativamente ao isolamento acústico em Apartamentos, Moradias e Lojas, é necessário alertar para alguns pontos em termos de execução em obra:

Toda situação acústica envolve, necessariamente, 3 elementos:

ANÁLISE DE CIRCUITOS LABORATÓRIO

FMF Indústria e Comércio de Esquadrias Ltda - Rua: Pedro Ripoli, Barro Branco - Ribeirão Pires - SP

Prova Final de Matemática

FMF Indústria e Comércio de Esquadrias Ltda - Rua: Pedro Ripoli, Barro Branco - Ribeirão Pires - SP

Tabela 1 Identificação das amostras ensaiadas. Espessura (mm) 01 Manta PISO EBIOS AM A 10 Referência Laje+contrapiso+porcelanato 170

Resistência ao Fogo. Por exemplo:

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA LUMÍNICA NATURAL DE UMA SALA DE AULA COM JANELAS VOLTADAS AO SUDESTE 1

FSP FACULDADE SUDOESTE PAULISTA. Curso: Engenharia Civil. Prof.ª Amansleone da S. Temóteo APONTAMENTO DA AULA

IGREJAS MODERNAS COM PROBLEMAS ACÚSTICOS O CASO DA IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (PORTO)

Arfised, lda, Lisboa Acustiprojecto, lda, Lisboa Acústica XXI, lda, Lisboa

Relatório de Ensaio PD A.0886A/RE-01-AC. Ensaios e Medição de Pressão Sonora no Operador Sentado

MEDIÇÃO DO ISOLAMENTO SONORO A SONS DE CONDUÇÃO AREA E DE PERCUSSÃO. ENSAIO DE COMPARAÇÃO LABORATORIAL

Perfil Alumínio do Brasil S.A. - Rua Fernando Coelho, Ilha dos Ayres - Vila Velha ES

especificação das características de desempenho térmico de janelas, portas e fachadas leves com vidro

46º CONGRESO ESPAÑOL DE ACÚSTICA ENCUENTRO IBÉRICO DE ACÚSTICA EUROPEAN SYMPOSIUM ON VIRTUAL ACOUSTICS AND AMBISONICS

L A U D O T É C N I C O. Segurança estrutural contra incêndio

PLANEJAMENTO E MODELAGEM

Regulamento do Plano de Pormenor da Rua das Flores CAPÍTULO I. Disposições gerais. Artigo 1.º Âmbito e aplicação

Método do Lugar das Raízes

MEDIDAS DE VAZÃO ATRAVÉS DE VERTEDORES

PROGRAMA MODELAR. Deverá ainda, nesse âmbito, atender-se ao disposto no Artigo 9.º sobre a elegibilidade das despesas.

Educação Física. Código: 28. Agrupamento de Escolas de Abação. Escola EB 2,3 Abação. Informação n.º 1. Data: 12/05/2014

Objetivos da disciplina:

Pressão Construtiva ÁREAS METROPOLITANAS (volume 1) CONCELHOS COM CIDADES MÉDIAS (volume 2)

Come On Labels. Common appliance policy All for one, One for all Energy Labels. Contrato N : IEE/09/628/SI

FIGURAS DE LISSAJOUS

DESEMPENHO ACÚSTICO DE DIVISÓRIAS VERTICAIS EM BLOCOS DE GESSO: UMA AVALIAÇÃO A PARTIR DE MEDIÇÕES DE CAMPO E EM LABORATÓRIO

FUNÇÕES MATEMÁTICAS NÚMERO : PI() SENO E COSSENO: SEN() E COS()

Romeu Reguengo Novembro Estruturas Pré-fabricadas em Betão

A f e r i ç ã o da Qu a l i d a d e de Se r v i ç o

Case study of acoustic performance of corrections in junctions of internal wall and curtain wall façade

Ondas Eletromagnéticas. Cap. 33

Estimativa da taxa de desemprego em abril: 13,0%

Curso de Certificação de Projetista de Térmica- REH

Os dados quantitativos também podem ser de natureza discreta ou contínua.

TRANSMISSÃO INDIRETA DO RUÍDO DE PERCUSSÃO: PROPOSTA DE METODOLOGIAS SIMPLIFICADAS DE PRE EVISÃO

URE Edifícios. URE - Edifícios. 1

Consequências da Utilização de Parâmetros Padronizados nas Alterações do Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios

44º CONGRESO ESPAÑOL DE ACÚSTICA ENCUENTRO IBÉRICO DE ACÚSTICA EAA EUROPEAN SYMPOSIUM ON ENVIRONMENTAL ACOUSTICS AND NOISE MAPPING

MÓDULO 2 ÓPTICA E ONDAS Ronaldo Filho e Rhafael Roger

Certificação do Controlo da Produção das Centrais de Betão

1 Propagação em sistemas rádio móveis

Óptica Geométrica 9º EF

Erros e Incertezas. Rafael Alves Batista Instituto de Física Gleb Wataghin Universidade Estadual de Campinas (Dated: 10 de Julho de 2011.

Aparelhos de Laboratório de Electrónica

Influência no conforto visual

Análise comparativa do isolamento do ruído aéreo entre diferentes painéis de vedação utilizados no Brasil

MEDIDAS FÍSICAS FEX 1001

Razões, proporções e taxas. Medidas de frequência.

Informação. Nota: Tradução feita por José Carlos Valente de Oliveira.

TOPOGRAFIA II 2 NIVELAMENTO

Reabilitação e Reforço de Estruturas

OS ETICS COMO SISTEMAS MULTIFUNCIONAIS MARIA DO ROSÁRIO VEIGA SOFIA MALANHO

Acessórios de montagem AREJADORES (ENTRADAS DE AR) Acessórios NORMATIVA TIPOS DE ENTRADAS DE AR

A integral indefinida

PROJECTO DE LEI N.º 356/IX DEFINIÇÃO DO NOVO REGIME JURÍDICO DAS FARMÁCIAS PRIVADAS. Exposição de motivos

Dossier Promocional. Edifício em Portimão Rua 5 de Outubro nº 6

BT 34. Boletim Técnico. Montagens. Destaques deste número. Dezembro / Revisão dos gráficos pressão de ensaio e segurança. Linha Master pag 8

ESCOLA SECUNDÁRIA FERREIRA DIAS AGUALVA - SINTRA. Física e Química A (11º ANO) MÓDULO 4 MATRIZ DA PROVA

Construção Civil. Lajes Nervuradas com EPS / Fachadas e Rodatetos em EPS. A leveza do EPS, gerando economia

= i= Com a aplicação ou uso da primeira expressão obtém-se 18,50m 2. Area=(1*(1 5 )+ 3*(2 6)+ 5*(5 5)+ 7*(6-4) + 9*(5-2)+4*(4-1)+3*(2-2))/2= 18,50m 2.

Deve ainda ser tido em consideração o Despacho Normativo n.º 24-A/2012, de 6 de dezembro, bem como o Despacho n.º 15971/2012, de 14 de dezembro..

Dia Europeu sem Carros: Avaliação de 3 anos de iniciativa na cidade de Aveiro

Cordilheira Alta. Distribuição dos alunos matriculados no município de Cordilheira Alta em 2005

TOM, SEMITOM, SUSTENIDO, BEMOL.

Habitação em recuperação e Obras Públicas em queda

Transcrição:

A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTORES PARA O ISOLAMENTO SONORO DAS FACHADAS PACS : 43..Ev Bragança, Luís 1 ; Silva, Sandra 1 ; Patrício, Jorge 2 1 UM, Dep. Eng. Civil, Azurém, 4800 Guimarães, Portugal Tel: 1 3 5 0 Fax: 1 3 5 217 E-mail: braganca@civil.uminho.pt; sms@civil.uminho.pt 2 LNEC, Av. do Brasil 1700 Lisboa, Portugal Tel: 1 218 443 273 Fax: 1 218 443 028 E-mail: jpatricio@lnec.pt ABSTRACT This paper presents the results of an experimental set of tests carried out on a selected new housing building with a view to study the influence of roller shutters contribution on noise insulation of façades. These tests were done in 3 different rooms with different window dimensions - on the first floor - and in a similar room and window, for the 3 subsequent upper floors, in accordance to what is prescribed in the international standards en iso 1-5 and 717-1, using a loudspeaker as a noise source. For the purpose several shutters positions were considered: totally opened, half closed, partially closed with internal blades exposed and completely closed. For the last two shutter positions, the study was performed also with the window opened. The results have shown that the transmission loss curve for each shutter position differs with some significance whilst the noise insulation index of the façade remains almost constant for all positions, exception made for the position to which the shutter is completely closed. RESUMO Neste artigo apresentam-se os resultados de um conjunto de testes realizados num edifício novo de habitação colectiva, seleccionado com o objectivo de estudar a influência a contribuição dos estores no isolamento sonoro das fachadas. Estes testes foram realizados em fogos pertencentes a quatro pisos distintos do edifício e de acordo com o que é prescrito nas normas europeias EN ISO 1-5 e 717-1, usando uma fonte sonora como fonte de ruído exterior. No primeiro piso os ensaios foram realizados em três quartos diferentes de uma das habitações, cada um com diferentes dimensões da janela. Nos três pisos superiores os ensaios foram realizados em três quartos de características semelhantes. As posições dos estores ensaiadas foram: totalmente aberto, parcialmente fechado, parcialmente fechado com as lâminas internas expostas, e completamente fechado. Complementarmente, para as duas últimas posições dos estores e num dos pisos deste edifício (piso 1), o estudo foi também realizado com a janela aberta. Os resultados mostraram que a curva da perda de transmissão para cada posição do estore difere de modo significativo enquanto que o índice de isolamento sonoro da fachada se mantém quase constante para todas as posições, com excepção para a posição em que o estore está completamente fechado. - 1 -

1. INTRODUÇÃO O isolamento sonoro das fachadas in situ é o resultado da contribuição de todos os elementos da fachada (paredes exteriores e janelas) e do modo como estes elementos estão ligados entre si e com todas as divisórias interiores adjacentes (horizontais e verticais). É também sobejamente conhecido que em relação ao isolamento sonoro das fachadas, a janela (vidro e caixilharia) é o ponto mais fraco. Em Portugal, há ainda dois elementos adicionais correntemente propostos e usados pelos projectistas para fachadas de edifícios: as varandas, como elementos construtivos integrados na estrutura do edifício, e os estores, como elementos protectores e decorativos. Estudos anteriores desenvolvidos pelo LNEC [1] mostraram que as varandas não influenciam significativamente o isolamento sonoro de todo o sistema da fachada, a menos que o ângulo de incidência das ondas sonoras seja demasiado elevado de tal forma que num determinado piso, a superfície inferior da varanda superior possa funcionar como um plano reflector que causa um incremento do ruído global incidente na fachada. Relativamente à contribuição dos estores para um melhor isolamento sonoro global da fachada, pouca ou nenhuma informação está actualmente disponível [2]. Geralmente, tanto na fase de projecto como no processo da verificação do cumprimento dos regulamentos nacionais aplicáveis, a contribuição dos estores para o isolamento sonoro das fachadas ao ruído exterior não é tida em consideração. Esta situação é francamente aconselhável pois os moradores têm o direito de exigir que a satisfação das exigências de isolamento sonoro sejam efectivamente cumpridas sem a necessidade de fechar os estores. Também na avaliação in situ, os seus efeitos não são considerados porque as medições são geralmente feitas com os estores completamente abertos. É de salientar que no texto da regulamentação portuguesa nada é dito sobre esta necessidade [3]. Apenas é referido que para edifícios sujeitos a licenciamento para construção, renovação ou reabilitação, o índice de isolamento sonoro das fachadas, R', deve ser inferior a um determinado valor de acordo com a classificação do local de implantação do edifício no que se refere ao nível do ruído ambiente exterior (concretamente, menor que db para locais pouco ruidosos, db para locais ruidosos e db para locais muito ruidosos) [3]. Assim, o objectivo deste estudo foi avaliar a possível contribuição dos estores para um aumento adicional do isolamento sonoro global das fachadas, considerando-os como uma medida a ser tomada em compromisso com as necessidades de garantir o sombreamento dos envidraçados e o conforto visual dos ocupantes. Os testes foram realizados em duas situações distintas, com a janela fechada (situação normal) e com a janela aberta (situação de maximização da ventilação natural). Nos testes realizados com a janela fechada (JF) foram consideradas as seguintes posições dos estores: i) totalmente abertos (); ii) parcialmente fechados (); iii) parcialmente fechados com as lâminas internas expostas (LE); iv) completamente fechados(). As Figuras 1 e 2 ilustram a fachada do edifício testado e a posição LE do estore. - 2 -

Figura 1 - Fachada do edifício testado Figura 2 - Posição LE do estore Nos testes realizados com a janela aberta (JA) foram consideradas apenas as seguintes posições dos estores: iii) parcialmente fechados com as lâminas internas expostas (LE); iv) completamente fechados(), por se entender que só para estas duas posições do estore é que faz sentido poder-se esperar alguma contribuição do estore no isolamento sonoro da fachada. 2. TEORIA De acordo com a norma EN ISO 1-5 [4], o isolamento sonoro de fachadas e de elementos de fachada, medidos in situ, é dado pela seguinte equação: S = L1,s L + log db - 1,5 db (1) A R 2 onde: L 1,s é o nível médio de pressão sonora na superfície da fachada; L 2 é o nível médio de pressão sonora no recinto receptor; S é a área da fachada; e A é a área de absorção sonora equivalente no recinto receptor. Esta equação é válida sempre que a fonte de ruído é uma fonte sonora, quando se assume que as ondas sonoras têm um ângulo de incidência de º, e quando o campo sonoro do recinto receptor é difuso. Contudo, em testes in situ, nem sempre é possível ter ângulos de incidência de º e as fachadas estão cumulativamente sujeitas a outras fontes de ruído como, por exemplo, o ruído de tráfego. Contudo, estas fontes de ruído estão localizadas sempre na mesma posição, de acordo com a localização da estrutura viária. Então torna-se importante converter os valores de isolamento sonoro obtidos in situ para diferentes ângulos de incidência, R θ (correspondente ao ângulo formado pela altura da fachada e a distância entre o edifício e a localização da fonte sonora, considerada normalmente no eixo da via) em valores de R', de modo a poder fazer uma comparação entre aquilo que é oferecido e proposto em campanhas publicitárias e o que é realmente conseguido e sentido pelos ocupantes dos edifícios. Assim, para elementos homogéneos [5]: R θ 2 m ω 2 = log cos θ 2 Z (2) 0 onde: θ é o ângulo da incidência; Z 0 é a impedância acústica do ar; ω é a frequência angular; e m é a massa por unidade de área. A partir da equação (2) pode obter-se a seguinte equação de conversão [5]: R 1 = R θ + log 2 (3) 2 cos θ A equação usada, em fase de projecto, para determinar os valores do isolamento sonoro de fachadas a partir de valores dos índices R w relativos a cada componente da fachada do edifício, i.e., dos elementos opacos e das janelas, é a seguinte [6]: S i R = i w log R / (4) w i S i i onde: R wi representa o índice do isolamento sonoro de cada tipo de componente da fachada e S i a sua correspondente área. Normalmente, os valores obtidos em laboratório de R wi não representam estritamente o desempenho do sistema de isolamento quando é sujeito a um ângulo da incidência de º porque são obtidos em câmaras reverberantes onde se estabelecem campos difusos. - 3 -

3. ENSAIOS REALIZADOS Para este estudo foi realizado um conjunto de ensaios num edifício novo seleccionado para esse efeito de acordo com o que é prescrito nas normas europeias EN ISO 1-5 e 717-1 [7,8]. Para a geração de um campo sonoro foi utilizada uma fonte sonora da marca Brüell & Kjaer. Conforme já referido, foram realizados testes com a janela fechada e aberta. Os ensaios com a janela fechada foram efectuados, no primeiro piso, em 3 quartos com janelas de dimensões diferentes: - janela do Quarto 1: 1.58 m 1.87 m; - janela do Quarto 2: 0.78 m 1.87 m; - janela do Quarto 3: 1.58 m 1.58 m; e num quarto com uma janela semelhante ao Quarto 1 (janela: 1.58 m 1.87 m) para os 3 pisos superiores subsequentes. As fachadas em cada quarto são iguais e têm as dimensões de 3.2 m 2.8 m. A parede exterior é homogénea e dupla de tijolo vazado, tendo cada pano uma espessura de 0.11 m. A caixa de ar tem 4 cm de espessura e está completamente preenchida com poliestireno expandido. As caixilharias das janelas são de alumínio e o vidro é duplo com 5 milímetros de espessura em cada pano, estando estes separados por uma caixa de ar com 6 milímetros de espessura. Todo o sistema foi convenientemente selado. Os estores são de plástico. A execução da obra foi fiscalizada por uma entidade independente que garantiu que todas as especificações técnicas do edifício estivessem de acordo com o projecto. Além dos ensaios realizados com a janela fechada para as diversas posições dos estores, foram também realizados ensaios com a janela aberta no Quarto 1 do primeiro piso. Estes ensaios foram efectuados para as seguintes posições dos estores: i) totalmente abertos; ii) parcialmente abertos com as lâminas expostas e iii) completamente fechados. 4. RESULDOS Os resultados do índice de isolamento sonoro R θ, em db, obtidos para os ensaios realizados no edifício com as janelas fechadas são apresentados na Tabela 1. Os valores de θ são: 1º Piso - º; 2º Piso - 59º; 3º Piso 66º; 4º piso - 72º. Tabela 1 - Índices de isolamento sonoro R q Mesmo Quarto / Pisos Diferentes Piso LE TF Mesmo Piso / Quartos Diferentes 1º Piso 27 27 27 33 Quarto LE TF 2º Piso 24 23 24 Q1 27 27 27 33 3º Piso 26 27 27 32 Q2 41 41 41 41 4º Piso 28 26 26 Q3 34 34 33 36 A Tabela 2 apresenta os resultados do índice de isolamento sonoro R θ, em db, tendo sido realizados os cálculos com uma precisão de 0.1 db, ou seja, sem o ajuste da curva de referência em intervalos de 1 db. O procedimento normalizado de arredondamento pode introduzir diferenças de quase 1 db entre os valores dos índices. Tabela 2 - Índices de isolamento sonoro (valores não arredondados) Mesmo Quarto / Pisos Diferentes Piso LE TF Mesmo Piso / Quartos Diferentes 1º Piso 27,6 27,8 27,6 33,1 (+0.6) (+0.8) (+0.6) (+0.1) Quarto LE TF 2º Piso 24,2 23,9 24,9,2 27,6 27,8 27,6 33,1 Q1 (+0.2) (+0.9) (+0.9) (+0.2) (+0.6) (+0.8) (+0.6) (+0.1) 3º Piso 26,1 27,0 27,0 32,2 41,6 41,5 41,3 41,3 Q2 (+0.1) (+0.0) (+0.0) (+0.2) (+0.6) (+0.5) (+0.3) ((+0.3) 4º Piso 28,0 26,1 26,5,6 34,9 34,6 33,9 36,8 Q3 (+0.0) (+0.1) (+0.5) (+0.6) (+0.9) (+0.6) (+0.9) (+0.6) - 4 -

Considerando a correcção obtida pela equação 3, os valores de R' para os 2º, 3º e 4º pisos devem ser, respectivamente, aqueles que se apresentam na Tabela 3: o índice calculado obtém-se por adição com o valor apresentado entre parêntesis. Tabela 3 - Índices de isolamento sonoro R' Piso LE TF 2º Piso 24 (+3) 23 (+3) 24 (+3) (+3 ) 3º Piso 26 (+5) 27 (+5) 27 (+5) 32 (+5) 4º Piso 28 (+7) 26 (+7) 26 (+7) (+7) Nas situações de janela fechada e de janela aberta, a Tabela 4 mostra, para o Quarto 1 do 1º piso, a contribuição do estore no isolamento global da fachada. Quando a janela está fechada, a contribuição do estore na posição LE é de 0 a 1 db e na posição TF é de 5 a 6 db em relação à posição. Quando a janela está aberta, a contribuição do estore no isolamento global da fachada é maior, verificando-se que os acréscimos de isolamento em relação à posição são de 2 a 3 db, na posição LE, e de 6 a 7 db, na posição TF. Tabela 4 - Influência da abertura da janela no isolamento sonoro Estado da Janela do Posições do Estore Quarto 1 do 1º piso LE TF Fechada 27 27 33 Aberta 18 21 As Figuras 3 e 4 ilustram, para pisos diferentes, com a janela fechada, a influência da posição dos estores no isolamento sonoro da fachada, no domínio da frequência. De forma semelhante é ilustrada nas Figuras 5 e 6 a influência da posição dos estores no mesmo piso mas para dimensões diferentes da janela. A Figura 7 mostra as diferenças encontradas entre a posição e as outras posições. A Figura 8 mostra a influência da abertura da janela no isolamento. R' (db) LE 0 1 2 0 6 00 10 20 Figura 3 Isolamento sonoro - 1º Piso/Quarto 1 R' (db) LE 0 1 2 0 6 00 10 20 Figura 5 Isolamento sonoro - 1º Piso/Quarto 2 5 0-5 R' (db) LE 0 1 2 0 6 00 10 20 Figura 7 Isolamento sonoro - 3º Piso/Quarto 1 R' (db) LE 0 1 2 0 6 00 10 20 Figura 4 Isolamento sonoro - 4º Piso/Quarto 1 R' (db) LE 0 1 2 0 6 00 10 20 Figura 6 Isolamento sonoro - 1º Piso/Quarto 3 5 0 R' (db) (JA) LE (JA) (JA) (JF) LE (JF) (JF) 0 1 2 0 6 00 10 20 Figura 8 Influência da abertura da janela na contribuição do estore para o isolamento sonoro - 5 -

Dos resultados apresentados nas figuras precedentes pode-se ver que, apesar dos valores dos índices de isolamento sonoro permanecerem quase constantes para todas as posições dos estores, excepto quando completamente fechado, há diferenças significativas desse isolamento no domínio da frequência. 6. CONCLUSÕES Com os resultados obtidos é possível formular diversas conclusões importantes e práticas. A variação do isolamento sonoro da fachada com as posições dos estores no domínio da frequência torna-se menor com o aumento da distância ao solo (ver Figuras 3 e 4). A posição do estore nas janelas de dimensões pequenas (Quarto 2/Piso 1) não interfere com o desempenho global da fachada (ver Figuras 3, 5 e 6). Em relação aos valores dos índices do isolamento sonoro, a posição é aquela que conduz a maiores diferenças (ver Tabela 1). Em relação aos valores obtidos para o 2º piso, parece que a diferença (3 db) entre estes valores e os de todos os restantes pisos pode ser devido a uma perda do isolamento sonoro da janela originada por efeitos de ressonância dentro de caixa de ar definida pelos panos do vidro duplo. Os valores de R' θ e de R', para as posições do estore, e LE, são praticamente iguais (ver os valores dos índices dos 1º, 3º e 4º pisos na Tabela 1), excepto para a posição. Para esta posição, verifica-se que há um decréscimo de isolamento sonoro com o aumento da altura ao solo (ver Tabela 3). Quando a janela se encontra aberta, a contribuição do estore no isolamento global da fachada é maior do que quando a janela está fechada, verificando-se que há um acréscimo de isolamento sonoro de 2-3 db, na posição LE, e de 6-7 db, na posição TF (ver Tabela 4). Quando a janela está aberta, a influência da posição do estore no isolamento sonoro da fachada, no domínio da frequência, é mais significativa para as médias e altas frequências do que para as baixas frequências (ver Figura 8). 7. REFERÊNCIAS [1] Martins da Silva, P. Ruído de tráfego rodoviário urbano: Caracterização e modelos de previsão como estímulo físico e avaliação como factor de incomodidade, LNEC, Lisboa 1974. [2] Patricio, Jorge, Bragança, Luís - The Influence of Shutters Position on Noise Insulation of Facades, Proc. of Internoise 00, Nice, 00. [3] PORTUGAL Regulamento geral sobre o ruído (RGR). Decreto-Lei nº 1/87 de 24 de Junho. [4] CEN: COMITE EUROPEEN DE NORMALISATION Acoustics. Measurement of sound insulation in buildings and of building elements. Part 5: field measurements of façade elements and façades. EN ISO 1-5, 1998. [5] Josse, R. A L usage des architectes ingénieurs urbanistes. Éditions Eyrolles, Paris, 1977. [6] CEN: COMITÉ EUROPÉEN DE NORMALISATION Building Acoustics. Estimation of acoustic performance of buildings from the performance of elements. Part 2: Airborne sound insulation between rooms. EN 124-1, 1999. [7] CEN: COMITÉ EUROPÉEN DE NORMALISATION Acoustics. Measurement of sound insulation in buildings and buildings elements. Part 5: Field measurements of airborne sound insulation of façade elements and façades. EN 1-5, 1998. [8] CEN: COMITE EUROPEEN DE NORMALISATION Acoustics. Rating of sound insulation in buildings and of building elements. Part 1: Airborne sound insulation. EN ISO 717-1, 1996. - 6 -