Grupo de Trabalho (GT15): Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos



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Transcrição:

VIII Encontro da ANDHEP Políticas Públicas para a Segurança Pública e Direitos Humanos 28 a 30 de abril de 2014, Faculdade de Direito, USP, São Paulo, SP Grupo de Trabalho (GT15): Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos Título do trabalho: Violência doméstica contra a mulher: uma análise sobre a política de abrigamento em Macapá. Ana Caroline Bonfim Pereira Universidade Federal do Amapá Jocenildo Teixeira de Souza Universidade Federal do Amapá Joice Cunha de Sousa Universidade Federal do Amapá

Violência doméstica contra a mulher: uma análise sobre a política de abrigamento em Macapá Ana Caroline Bonfim Pereira 1 Jocenildo Teixeira de Souza 2 Joice Cunha de Sousa 3 Resumo: O presente artigo é o resultado prático de um projeto de pesquisa realizado na disciplina Estágio Supervisionado I, do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amapá, no ano de 2013. O projeto de pesquisa sobre abrigamento de mulheres na cidade de Macapá tem como problemática por que as mulheres vítimas de violência doméstica em risco eminente de morte são compelidas a deixar seu lar para morar em Casa Abrigo? O objetivo geral foi o de identificar os critérios que levam às mulheres vítimas de violência doméstica a ficarem abrigadas em casas de proteção. Este trabalho demandou pesquisa bibliográfica e de campo para obtenção dos dados. Conduzimos entrevistas com as responsáveis das instituições de apoio e atendimento à mulher e às vítimas de violência doméstica. Já foi possível perceber que alguns princípios, leis, ações merecem ser revistos para um melhor atendimento às mulheres vítimas de violência. Em última análise nosso intuito é o de suscitar debate em ambiente acadêmico, considerando que há necessidade de promoção do mesmo, pois o dever do pesquisador é o de provocar e proporcionar questionamentos que auxiliem a comunidade acadêmica e a sociedade em geral a avançar nas discussões pertinentes ao tema, objetivando a promoção das garantias fundamentais de cidadania das mulheres, inclusive contribuindo para a erradicação da violência doméstica. Palavras-chave: Violência Contra a Mulher, Lei Maria da Penha, Política de Abrigamento. Abstract: This article is the practical result of a research project conducted in the discipline Supervised I of the Social Sciences, Federal University of Amapá, in 2013. The research project on women's shelters in the city of Macapá is as problematic for women victims of domestic violence at imminent risk of death are compelled to leave his home to "live" in Shelter? The overall objective was to identify the criteria that lead to women victims of domestic violence to remain sheltered in homes for protection. This work demanded bibliographical and field research to obtain data. We conducted interviews with the leaders of supporting institutions and assistance to women and victims of domestic violence. It has been possible to realize some principles, laws, actions deserve to be revised to better care for women victims of violence. Ultimately our goal is to spark debate in academia, whereas there is a need to promote it as the duty of the researcher is to provoke and provide questions that help the academic community and society in general to advance in discussions relevant to subject, aiming to promote the fundamental guarantees of women's citizenship, including contributing to the eradication of domestic violence. Keywords: Violence Against Women, Maria da Penha Law, sheltering Policy. 1 Acadêmica do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais da Universidade Federal do Amapá. Bolsista do Programa de Educação Tutorial PET. Membro Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Violências e Criminalizações (GEPVIC). E-mail: ana.caroline_ap@hotmail.com 2 Acadêmico do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais da Universidade Federal do Amapá. Membro Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Violências e Criminalizações (GEPVIC). E-mail: jocenildo_teixeira@hotmail.com 3 Acadêmica do Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais da Universidade Federal do Amapá. Bolsista do Programa de Educação Tutorial PET. Membro Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Violências e Criminalizações (GEPVIC). E-mail: joice_2310@hotmail.com

INTRODUÇÃO Em meio às discussões atuais em torno da violência contra a mulher, à ampla divulgação e da repercussão de crimes dessa natureza, o sentimento de revolta que atinge parte da sociedade brasileira, foram as causas que nos motivaram a escolher a temática: violência doméstica contra a mulher, em especial ao tratamento dispensado as que correm perigo eminente de morte, tendo em vista que atualmente as brasileiras são amparadas pelos direitos humanos fundamentais, bem como pela lei Maria da Penha e outros dispositivos jurídicos. O presente artigo é o resultado prático de um projeto de pesquisa realizado na disciplina Estágio Supervisionado I, do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amapá, no ano de 2013. Primeiramente, faz-se necessário para a compreensão da temática uma análise histórica a respeito da violência doméstica contra a mulher no Brasil e a luta do movimento feminista para a criação de políticas voltadas para as mulheres. Destaca-se a Lei Maria da Penha, um exemplo de lei que visa ao estabelecimento de novas relações em meio às conflituosas vivenciadas por mulheres vítimas de agressão doméstica intrafamiliar e o pioneirismo do estado do Amapá no trato quanto à problemática da violência doméstica. Posteriormente, aborda-se a política nacional e amapaense de abrigamento, as Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de mulheres em situação de risco e de violência e o trabalho da Rede de Atendimento à Mulher em Macapá. Por fim, destacam-se as percepções de campo em uma visão geral sobre o atendimento oferecido às mulheres vítimas de violência doméstica nos órgãos de apoio e atendimento à mulher, e a análise dos dados obtidos em campo. HISTÓRICO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER E AS NOVAS PERSPECTIVAS JURÍDICAS Historicamente a violência praticada contra as mulheres, especialmente a doméstica, era tida como natural, de tal forma que os atos privados não tomavam o domínio da esfera pública e os agressores não eram punidos por atos praticados que violassem a dignidade, a moral e a vida das vítimas. Não há dados sobre quantas mulheres ao longo da história, especificamente, no Brasil foram vítimas de violência doméstica, desde tempos do Brasil colônia, quando as mulheres não tinham personalidade jurídica de capacidade civil, pois as mesmas eram tuteladas pelos pais e ao casarem-se a tutela passava ao marido.

A capacidade jurídica da mulher era fruto das relações sociais patriarcais vigentes em nossa sociedade. Somente com o advento de umas novas ordenações jurídicas e código civil é que as mulheres passaram a ter autonomia, cidadania e capacidade civil reconhecidas, entretanto esse processo foi muito lento e sua consolidação se deu no período que ficou conhecido na historiografia como o Estado Novo. Deduz-se que anteriormente a esse novo período as mulheres estavam sujeitas a toda sorte de tratamento, sendo mesmo equiparadas à propriedade de seus maridos, o que as tornava mais susceptíveis às vontades e despotismos maritais. Como não supor que a violência doméstica intrafamiliar poderia ser prática recorrente e enublecida do espaço público, visto que as questões familiares eram de foro privado, como ainda são, salvo se houver qualificação de crime. O movimento feminista, juntamente com o engajamento político de esquerda contribuiu para que a partir de 1970, em plena ditadura, muitos direitos, de toda natureza, civis, políticos fossem estabelecidos ou mesmo restaurados no país, a partir de então uma nova perspectiva político-ideológica passa a fazer parte da pauta no quesito cidadania no país, o direito das mulheres, entra definitivamente na agenda das discussões e ganha mais força com a entrada de outros atores sociais que protestavam pelo fim da ditadura e a redemocratização do país. Com a abertura política e a outorga da nova Constituição Federal, tivemos, finalmente, a equiparação jurídica em todos os sentidos entre homens e mulheres, conforme disposto no Art. 5º, Inciso 1º: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações [...]. Combinado com o Art. 228, Inciso 8º 4. Aparentemente algo banal, para nossos dias, representou uma conquista e o reconhecimento da equidade entre homens e mulheres e a partir de então outros ordenamentos jurídicos surgiriam para proteger a integridade das mulheres em seus múltiplos aspectos. Considerando o ambiente familiar em que as mulheres estão inseridas, constata-se que o lar é na verdade um lugar em que as mulheres tornam-se potencialmente mais suscetíveis à violência, segundo Saffioti: Ao refletirmos sobre violência doméstica contra a mulher, os dados revelam que a casa, espaço da família, antes considerada lugar de proteção e próprio do mundo feminino, passa a ser um local de grande desproteção, desamor e risco para as mulheres. Contrariando o senso comum, pesquisas comprovam que o lugar menos seguro para a mulher é o seu próprio lar. Tais dados reiteram que o risco de uma mulher ser agredida em sua residência, pelo marido/companheiro, ex-marido/companheiro é nove vezes 4 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

maior do que o de sofrer alguma violência na rua (SAFFIOTI apud GROSSI, 2008). Essa insegurança no lar levou ativistas, juristas e legisladores a implementarem leis que visam à proteção da vida das vítimas, em risco eminente de morte e graves ameaças. A Lei Maria da Penha é um exemplo de lei que tem como objetivo estabelecer novas relações em meio às conflituosas vivenciadas por mulheres vítimas de agressão doméstica intrafamiliar. A Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, surgiu do clamor de ativistas e foi promulgada depois de vinte anos de tramitação no congresso, ainda sob fortes pressões internacionais que exigiram do Brasil o desfecho de uma lei que desse maiores garantias e proteção às mulheres vítimas de violência doméstica. A Lei Maria da Penha destaca em seu Art. 1º: Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do 8º da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica familiar. Os destaques da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) são, evidentemente, os mecanismos para combater a violência contra a mulher que passa a ser considerada qualquer ação ou omissão que causa ou visa causar lesão, agressão física, sexual, psicológica, morte, desvalorização, humilhação, dano moral ou patrimonial à mulher. A partir da Lei Maria da Penha, cria-se o Juizado da violência doméstica e familiar contra a mulher, a pena do agressor passa a ser aumentada para três anos e este pode ser preso em flagrante e ter sua prisão preventiva decretada e ainda afastado do lar. Outro destaque refere-se a proteção efetiva às vítimas de violência doméstica no Art. 23, que versa sobre o encaminhamento das mesmas para casas de proteção, o que resulta na reclusão da vítima para sua própria segurança. Apesar da criação da Lei 11.340/2006, percebe-se ainda haver a cultura da violência doméstica contra a mulher. Somam-se a essa cultura o fato de que alguns mecanismos e aparatos ainda não foram implementados, conforme consideram Maria del Carmen Cortizo e Priscilla Larratea Goyeneche: Faltam ainda políticas públicas e instituições do Estado que garantam a efetividade e a eficácia da Lei Maria da Penha. Embora não dependa de regulamentação, na prática, a efetivação da Lei tem se dado de maneira lenta e desigual. Em algumas localidades faltam casas-abrigo, centros de

orientação e atendimento às vítimas, e centros de recuperação dosagressores, e mais, muitas vezes, as mulheres agredidas são orientadas, dentro da própria Delegacia, a não prestarem queixa contra seus agressores. Além disso, falta a expansão de uma nova cultura democrática com novos valores. Vivemos em um tempo de relações sociais perversas, é preciso quebrar com este ciclo paternalista e machista que a priori já violenta as mulheres aprisionando-as em papéis imaginários. É preciso libertar nossos homens, também, igualmente vítimas deste sistema que não os permite chorar, nem tampouco sofrer. Somente com a passagem do tempo poderemos fazer uma análise mais detalhada da eficácia da Lei Maria da Penha na prevenção e repressão da violência doméstica contra a mulher. Porém o que já se pode dizer é que é extremamente punitiva, introduzindo novos tipos penais e expandindo o direito penal, impondo medidas privativas de liberdade quepossivelmente não serão eficazes do ponto de vista psicossocial e sociocultural. Este trabalho pretende trazer para a reflexão alguns dos paradoxos presentes na Lei Maria da Penha, que são os paradoxos da nossa cultura jurídica eem particular da cultura jurídica da administração dajustiça contemporânea. (CORTIZO & GOYENECHE, 2010). Semelhantemente à Lei Maria da Penha, a Política Nacional de Abrigamento promulgada em 2011, tem por objetivos: O presente documento tem por objetivos resgatar a Casa-Abrigo como espaço de segurança, proteção, (re) construção da cidadania, resgate da autoestima e empoderamento das mulheres, a partir de valores feministas. Além disso, após a sanção da Lei Maria da Penha, é fundamental e necessário redefnir, em linhas gerais, o atendimento nas Casas-Abrigo. Assim como é necessário ampliar o conceito de abrigamento, incluindo também outros tipos de violência contra as mulheres (como por exemplo, o tráfico de mulheres) e suas interfaces com a violência urbana (p.e., mulheres em situação de violência envolvidas com homens ligados ao tráfico de entorpecentes). É importante notar que a Política Nacional de Abrigamento deverá ser implementada, nos estados e nos municípios, sob a coordenação do organismo estadual de políticas para as mulheres no âmbito das Câmaras Técnicas Estaduais e Municipais de Gestão e Monitoramento do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e da rede estadual de atendimento à mulher em situação de violência. Ressalta-se que a implementação da Política de Abrigamento, apesar de ser um ordenamento jurídico, relativamente, recente no Brasil, anteriormente questões de violência doméstica já eram tratadas por Delegacias Especializadas, em vários estados da Federação, inclusive no Amapá. O estado do Amapá destaca-se nacionalmente por apresentar pioneirismo no trato quanto à problemática da violência doméstica, visto que, além de possuir Delegacia Especializada de Crimes contra a Mulher (DECCM) desde os anos de 1980, também criou a Casa Abrigo Fátima Diniz através da Lei estadual 224 de 28 de agosto de 1995, e no ano de 2005 criou o CAMUF (Centro de Atendimento à Mulher e a Família) órgão de acolhimento da mulher vítima violência. O CAMUF presta atendimento psicossocial e jurídico, focado na educação em gênero, visando o rompimento da situação conflituosa e a equidade entre

gêneros. Para tanto se sustenta em um tripé de atendimento que envolve acolhimento e cuidados à família em situação de violência doméstica, a educação em gênero. Quando a situação de violência é extrema e oferece risco à vida da vítima, a mesma pode ser acolhida pelos centros de atendimento a mulher (CRAM ou CAMUF, por exemplo) e então é encaminhada a DECCM, ou por Ordem Judicial a Casa Abrigo Fátima Diniz. Percebe-se que no estado a política de abrigamento está sendo cumprida, apesar de, no seu âmago, considerarmos uma contradição latente, pois a vítima de violência doméstica é compelida a ficar reclusa em uma casa, ainda que de proteção, para garantir sua segurança, pois este é o último recurso quando os demais não garantem a sua proteção. Assim, a Casa Abrigo cumpre uma função social importante, porém é o reflexo e resultado último da cultura ainda presente de violência contra as mulheres. Os dispositivos jurídicos são o último recurso para salvaguardar o que a cultura presente em nosso país ainda não mudou. Enquanto houver essa referida cultura, haverá necessidade de enfrentamento, seja com campanhas de esclarecimentos, conforme previsto na Lei 11.340/2006, Art. 8º, Inciso VIII, seja com medidas restritivas, elencadas no Art. 22 5 e/ou protetivas previstas no Art. 23 6, sem prejuízo de outros enquadramentos jurídicos dispostos no Código Penal. POLÍTICA NACIONAL E AMAPAENSE DE ABRIGAMENTO As Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e de Violência tem por objetivos resgatar a Casa-Abrigo como espaço de segurança, proteção, na construção e reconstrução da cidadania, resgate da autoestima das mulheres, a partir de valores feministas. E atualmente amplia o conceito de abrigamento, incluindo 5 Segundo o art. 22, as medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor, incluem a: I suspensão de posse ou restrição do porte de arma; II afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III proibição de determinadas condutas entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e seu agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; IV restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V) prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 6 Constituem medidas protetivas de urgência à ofendida, segundo o previsto no Art. 23: I encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; II determinar a recondução da ofendida e de seus dependentes ao respectivo domicílio, após o afastamento do agressor; III determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo de seus direitos relativos a bens, à guarda dos filhos e aos alimentos; IV) determinar a separação de corpos.

também outros tipos de violência contra as mulheres (como por exemplo, o tráfico de mulheres) e suas interfaces com a violência urbana (por exemplo, mulheres em situação de violência envolvidas com homens ligados ao tráfico de entorpecentes). Ainda de acordo com Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e de Violência tem se buscado atualmente a implementação da Política Nacional de Abrigamento em todos os estados e nos municípios do Brasil em virtude da expansão das políticas para as mulheres e principalmente com a firmação de um Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e da criação de uma rede estadual de atendimento à mulher em situação de violência e inclui quatro eixos para o enfrentamento à violência contra as mulheres: a prevenção, o combate, a assistência (como os centros de referência de atendimento à mulher, juizados especializados de violência doméstica e familiar contra a mulher, Central de Atendimento à Mulher Ligue 180, etc.) e a garantia de direitos. Quanto ao Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência tem como prioridades a garantia do acesso das mulheres aos serviços especializados e a do atendimento no âmbito da rede de serviços, o abrigamento nesse sentido ganha destaque como política pública que visa garantir o acesso ampliado das mulheres em situação de violência a locais seguros e protegidos, assim como a medidas de proteção em relação às diversas formas de violência contra as mulheres. A promulgação da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) representou um passo importante para o enfrentamento da violência contra as mulheres no Brasil. Esta lei institui mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar prevê a aplicação de medidas protetivas de urgência (as que obrigam o agressor Art. 22 e aquelas destinadas à ofendida Arts. 23e 24 7 ). Tais medidas são consideradas fundamentais para garantir os direitos das mulheres e ampliar o seu acesso à rede de atendimento especializada, que inclui desde o acolhimento psicossocial e jurídico até o abrigamento das mulheres e seus filhos (as) nos casos de grave ameaça e risco de morte. A Rede de Atendimento à Mulher (RAM) foi institucionalizada no estado do Amapá pelo Governo do Estado em 2005 e se tornou referência nacional por conta de suas ações no enfrentamento de crimes contra a mulher. A RAM é vinculada à Secretaria Extraordinária 7 Constituem medidas para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher no Art. 24: I restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor a ofendida; II proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização judicial; III suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor; IV prestação de causa provisória, mediante deposito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência domestica e familiar contra a ofendida

de Políticas para as Mulheres (SEPM), e oferece atendimento na maioria dos municípios do estado. A RAM é composta por vários órgãos do Estado, como DECCM, CAMUF e o Centro de Referência e Atendimento à Mulher-Bem-Me-Quer (CRAM), Casa Abrigo Fátima Diniz, entre outros. As portas de entrada para a denúncia de crimes contra a mulher no Estado são as delegacias especializadas, postos de saúde municipais, Hospital da Mulher Mãe Luzia (HMML) e Hospital de Emergência (HE), Corpo de Bombeiros Militar (CBM/A) e unidades móveis da Polícia Militar (PM/AP). Segundo as Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e de Violência: No sentido de cumprir o previsto na Lei Maria da Penha, na Política e no Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (e em políticas afins), bem como de ampliar o acesso das mulheres à rede de atendimento -, a SPM estabelece as Diretrizes Nacionais de Abrigamento às Mulheres em situação de Violência, que redefinem as possibilidades de acolhimento provisório para mulheres em situação de violência no intuito de garantir-lhes segurança e proteção. (Secretaria de Políticas para as Mulheres / Presidência da República - SPM/PR, 2011). Neste sentido o conceito de abrigamento diz respeito a gama de possibilidades (serviços, programas, benefícios) de acolhimento provisório destinado a mulheres em situação de violência (violência doméstica e familiar contra a mulher, tráfico de mulheres, etc) que se encontrem sob grave ameaça e risco de morte, ou não. As Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e de Violência aponta que, no sentido de garantir às mulheres vítimas de violência, o acesso a locais seguros e protegidos, foram criadas, as casas-abrigo, casas-de-passagem, casas de acolhimento provisório de curta duração, albergues etc. Na maioria dos casos de violência doméstica, alguns serviços têm utilizado instrumentos para inferir os riscos aos quais a mulher está submetida, com base nos seguintes critérios (relacionados ao comportamento/histórico do agressor): uso de armas brancas ou de fogo; histórico criminal; abuso de animais domésticos; histórico de agressões a conhecidos estranhos e/ou policiais; tentativa ou ideação suicida recentes; não cumprimento de medidas protetivas de urgência; ser autor de abuso sexual infantil; histórico de agressão aos filhos; abuso de álcool ou drogas; minimização extrema ou negação da situação de violência doméstica e familiar, entre outros. (Secretaria de Políticas para as Mulheres / Presidência da República - SPM/PR, 2011). Segundo os dados do sistema da rede de atendimento à mulher da Secretaria de Políticas para as Mulheres, as mulheres em situação de violência têm acesso a um número reduzido de serviços de abrigamento no país. No caso específico de Macapá, a capital conta

apenas com a Casa Abrigo Fátima Diniz, referência no estado e no País, tendo em vista que foi inaugurada no dia 16 de março de 2001, cinco anos antes da Lei Maria da Penha. A Casa Abrigo Fátima Diniz é um espaço de acolhimento provisório (90 dias), em caráter sigiloso, destinado ao atendimento de mulheres e seus filhos (de 0 a 12 anos) que se encontram em situação de violência doméstica e familiar com risco de morte. A casa abrigo presta serviço psicosociopedagógico; oficinas terapêuticas e artesanais e temáticas; encaminhamento da mulher abrigada a RAM, para capacitação e inserção no mercado de trabalho, acompanhamento e assistência à saúde, assistência jurídica, entre outros serviços. Os critérios de abrigamento do abrigo Fátima Diniz são: mulheres vítimas de violência doméstica com risco de morte; que não tenha outro lugar que lhe ofereça segurança; que seja maior de 18 anos e; que tenha registrado ocorrência na DECCM, Macapá e Santana. PERCEPÇÕES ANÁLISES DA PESQUISA DE CAMPO Para uma visão geral sobre o atendimento oferecido às mulheres vítimas de violência doméstica foi realizada uma pesquisa aos órgãos de apoio e atendimento à mulher, para tanto foram visitados: CAMUF, CRAM, DECCM e SEPM. No CRAM e no CAMUF são oferecidos alguns atendimentos psicológicos, jurídicos e sociais, o CRAM, atende às mulheres vítimas de violência doméstica e tem crescido a sua abrangência, bem como sua área de atuação. Atualmente há CRAMs em vários bairros de Macapá, em Santana e alguns no interior, oferecendo maior facilidade de acesso às mulheres. O CAMUF possui um diferencial em seu trabalho, pois além do atendimento à mulher, também atende a família, proporcionando tratamento à mulher, ao agressor e aos demais envolvidos, como os filhos. A SEPM, é responsável pela elaboração e desenvolvimento de ações e políticas públicas, articula campanhas educativas e de prevenção à violência doméstica. Numa análise preliminar, constata-se a necessidade de mais órgãos de atendimento à família, pois no caso de violência doméstica e familiar temos outros envolvidos além do casal, como por exemplo: os filhos e outras pessoas, que se tornam violentadas simbolicamente ou diretamente e que também precisam de acompanhamento. E no Estado temos apenas um órgão que faz esse atendimento à família.

Em todos os órgãos percebe-se um problema em comum: a falta de profissionais no quadro efetivo, o corpo de funcionários que em sua maioria é do contrato administrativo dificulta o desempenho dos trabalhos nesses órgãos, porque é feita a habilitação desses funcionários que iniciam as atividades, fazem cursos de capacitação e são investidos neles uma série de conhecimentos e depois são desperdiçados, perdidos, pois esses funcionários saem do cargo e outros assumem, sendo necessário novo investimento em capacitação de recursos humanos. Esses órgãos fazem parte da rede de atendimento à mulher, os quais têm participação atuante e envolvidos com os outros órgãos que visam à disseminação de campanhas educativas e proteção às mulheres vítimas de violência doméstica. Nas visitas à DECCM, foram presenciados três episódios que serão narrados adiante. Registre-se a demora no atendimento, embora já houvesse agendamento para entrevista com a administração, pois numa primeira diligência não fora possível tal feito. Supondo que fosse uma vítima de agressão, como seria inconveniente, para não dizer absurdo ter de esperar várias horas para conseguir um atendimento? Depois de várias situações de violência sofridas, restando a possibilidade de até mesmo desistirem por causa da espera, morosidade e desídia dos servidores públicos, além das péssimas instalações, mobiliário e um banheiro quase inutilizável. Episódio I: Conflitos interpretativos da Lei Em meio a esse contexto, ainda no aguardo para entrevistar um administrador da referida Delegacia, presencia-se a chegada de um casal acompanhado de policiais militares, a mulher pretendia denunciar um homem, assim como ele também pretendia registrar ocorrência contra sua denunciante, motivo de uma controvérsia na delegacia porque ela podia denunciá-lo e ele não, posto que, no local ela era vítima, então ele não podia denunciá-la, embora naquela circunstância tivessem vindo de outra delegacia da qual foram encaminhados para a delegacia das mulheres. No fim o homem foi mandado para uma cela, para a qual se negava a ir, afirmando não ser bandido para ser tratado daquela forma, ele ofereceu resistência e os policiais o imobilizaram agressivamente, sendo conduzido à força. Por esse episódio, percebe-se a falta de preparo tanto da polícia e como dos servidores da delegacia para lidarem com a situação deviolência conjugal, demonstravam não saber o que fazer naquela na ocasião quando fora decidido mandar o homem para cela e a mulher ficou esperando atendimento, enquanto esperava discutiu com uma senhora que estava também aguardando e que achou errada a atitude da mulher de ter ido à casa dele atrás de dinheiro, que resultou em toda a confusão que os levara à delegacia, à senhora dizia que a culpada de toda aquela situação era a mulher e não o homem. Percebe-se a reprodução de uma

cultura machista, que segundo Pierre Bourdieu, muitas vezes é reproduzida de forma inconsciente entre homens e mulheres que vivem numa estrutura de dominação masculina, que se estabelece, se naturaliza e se mantém no processo histórico e, como tal, se adequou às mudanças sociais, bem como se reproduziu e continua se reproduzindo. Episódio II: Negação de direito e cidadania Ainda na espera, percebeu-se uma senhora que aguardava para ser atendida, com aparência cansada e humilde, cuja mesma queria informações e já estava cansada de esperar, então chamou um servidor o qual se dirigiu de forma agressiva e perguntou: Qual é o seu caso? É de violência doméstica? A senhora respondeu que fora agredida por um vizinho, de prontidão o servidor replicou em voz alta e ironicamente: Minha senhora aqui nós só atendemos casos de violência doméstica que está prevista na Lei Maria da Penha, sabe?, ou seja, só se o agressor for o marido, irmão, um parente ou alguém próximo de você. A senhora ficou indignada e disse que falaria com outra pessoa e não mais com aquele servidor e retirou-se da delegacia. Resta claro que a forma de tratamento na delegacia é diferente dependendo da pessoa e que é difícil para mulheres que não têm conhecimento sobre os seus direitos continuar o processo de denúncia, pois na delegacia é questionado que medida essa mulher necessita (Art. 18, Lei 11.340/2006) e é o delegado ou delegada que faz essa análise. Em conversa com o mesmo servidor, questionou-se: quais tipos de violências vocês atendem? São somente as previstas na lei Maria da Penha? E o servidor respondeu: Não, atendemos todos os casos e tipos de violência doméstica contra as mulheres. Há uma contradição no que se observou momentos antes para com a senhora que não tinha nenhum conhecimento e precisava de informação e para o que foi respondido para os pesquisadores. Segundo a lei Maria da Penha, o servidor prevaricou ao não cumprir o disposto no Art. 5º, Inciso I, que trata sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher, no âmbito da unidade doméstica, compreendida como espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive esporadicamente agregadas. Episódio III: Descaso e negligência com as vítimas de violência doméstica Em entrevista com uma servidora da delegacia, a mesma disse que a delegacia atendia a todos os crimes conta à mulher, também foi questionada sobre que a Lei Maria da Penha, ao que respondeu que: a lei beneficia, mas deve ser mais específica, principalmente quanto às medidas protetivas, que deveria haver restrições quanto às mesmas, pois há

mulheres que nem precisam dessas medidas de verdade, que muitas vezes o homem diz que vai fazer algo e nem faz, é só ameaça verbalizada e que em muitos mandados de prisão a mulher volta com o marido. E que ela não considera homem que bate em mulher um bandido. E que alguns casos de violência doméstica "é caso amoroso e não crime". E também a lei deveria prever como trabalhar a família. E quando questionada se os servidores estavam preparados para atenderem às mulheres que procuram à delegacia, a mesma respondeu que os servidores não estão qualificados. Esse episódio será analisado adiante. RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS DA PESQUISA Conforme exposto, este artigo foi o resultado de uma pesquisa extensa de cunho qualitativo que demandou várias metodologias e análises. Inicialmente parte-se do pressuposto de cinco hipóteses iniciais, para os motivos que levam às mulheres vítimas de violência doméstica a ficarem reclusas em casas de abrigo, quais sejam: 1. Por não terem outro lugar seguro pra sua proteção; 2. Devido à morosidade e ineficiência do estado em garantir segurança às vítimas em seus lares, bem como por não fazer cumprir as leis; 3. Devido ao medo de represália de seus agressores; 4. Devido à incredulidade das mulheres vítimas de violência nas medidas preventivas de segurança e proteção e; 5. Devido à estrutura e aparato de segurança e leis estarem impregnadas pelo patriarcalismo/machismo. Para obtenção dos dados e comprovação das hipóteses previamente levantadas foram diligenciadas visitas e entrevistas à DECCM, CAMUF, CRAM e SEPPM, em todos esses órgãos buscou-se informações, dados estatísticos que pudessem subsidiar a pesquisa. Também foram efetuadas entrevistas com duas vítimas de violência doméstica que passaram pela Casa Abrigo Fátima Diniz, entre 2012 e 2013, além de entrevistas os agentes responsáveis pela segurança das mesmas; foram analisadas a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) e as Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e Violência. As entrevistas foram o ponto mais crítico da pesquisa tendo em vista a dificuldade ao acesso as ex-abrigadas, pois dependia-se exclusivamente da Casa Abrigo para obtenção de informações de caráter sigiloso. Tornando-se possível o contato através da Diretora do abrigo, de apenas duas ex-abrigadas.

Para o escopo proposto para a pesquisa, em termos abrangentes, quando se confrontam os dados estatísticos, relatórios e entrevistas infere-se que todas as hipóteses foram confirmadas, da seguinte forma: No episódio III que trata do Descaso e negligência com as vítimas de violência doméstica foi possível confirmar a hipótese de que existe um certo "machismo" impregnado nas leis e/ou nas pessoas que lidam com esse problema, pois esta servidora tem um papel importante nesse processo, o que dificulta todo o trabalho que é feito de apoio às mulheres, a desconstrução de uma cultura machista e todo o processo de prevenção e inibição da violência doméstica e familiar contra as mulheres. As mulheres sofrem violência dupla, pois quando chegam à delegacia são violentadas novamente, o que Pierre Bourdieu chama de violência simbólica, violência doce, insensível, invisível para suas vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias simbólicas da comunicação e do conhecimento ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do sentimento. Com base na própria Política Nacional de Abrigamento e no regimento interno da casa abrigo Fátima Diniz foi possível constatar que as mulheres abrigadas são na sua maioria provenientes de regiões próximas ou do próprio estado, que na sua maioria não têm lugar para ficar no estado e quando têm não podem ficar por não terem segurança. Em duas entrevistas realizadas com ex-abrigadas as mesmas informaram que não podiam ficar na casa de parentes ou conhecidos porque não se sentiam seguras. A primeira entrevistada 8 relatou que sofrera várias formas de violência infligidas pelo seu esposo, à época, durante dezoito anos, quando ainda morava no município de Porto Grande, distante 100 km de Macapá, afirmou que não se sentia segura em nenhum lugar e que talvez um único lugar em ela, estivesse segura fosse num presídio (até o momento do seu abrigamento a mesma desconhecia a existência da casa-abrigo), tendo em vista que ela já tinha uma medida protetiva contra o agressor e que o mesmo ainda assim a perseguia constantemente e lhe ameaçava se eu quiser te matar, eu mato! Não vai ser um pedaço de papel que vai me impedir. A segunda entrevistada 9 revelou que se sentia sufocada com o ciúme do seu companheiro e que gostaria de dar um tempo na relação e provar que ela tinha direitos e que não se submeteria aos seus caprichos, no entanto não tinha nenhum lugar para onde ir, no dia em que a mesma foi encaminhada à Casa Abrigo seu agressor furou o tanque de sua moto em frente à auto-escola que a mesma frequentava. 8 Entrevista realizada dia 19/12/2013. 9 Entrevista realizada dia 27/12/2013.

Portanto resta claro que tanto a primeira entrevistada quanto a segunda não possuíam outro lugar seguro para sua proteção. Quanto à situação da primeira entrevistada, registra-se a morosidade e ineficiência do Estado em garantir segurança às vítimas em seus lares, bem como por não fazer cumprir as leis, uma vez que o inquérito policial que tramitou no município de Porto Grande não resultou em qualquer tipo de penalidade ao agressor como será exposto adiante. Apesar de a Casa Abrigo ser um lugar de proteção e segurança da mulher vítima de violência doméstica e familiar, percebe-se que existem falhas na sua segurança, principalmente no que se refere ao sigilo (o sigilo tem sido um pré-requisito para a implantação e existência do serviço) o que coloca em risco a segurança das abrigadas. A segunda entrevistada revelou que o seu companheiro sabia onde a mesma estava, o mesmo lhe contou quando ela saiu da Casa Abrigo que ele sabia que ela estava lá, inclusive ele havia ido ao abrigo prestar serviço pois trabalha no Corpo de Bombeiros. Alguns servidores e responsáveis pela rede de atendimento a mulher revelaram que isso é um problema tendo em vista que Macapá ainda é uma cidade pequena que muitas pessoas sabem a localização da casa, apesar das mudanças de endereço. A mudança de endereço tendo em vista essa busca de sigilo acarreta outro problema, encontrar um prédio para alugar com as condições mínimas necessárias para receber as abrigadas, seus filhos e a equipe do abrigo. Além de o aluguel consumir boa parte dos recursos do abrigo. Com as entrevistas, percebe-se até o momento em que a mulher decide romper o ciclo de violência, leva tempo para que a mesma possa sair da relação com a sensação de segurança. As que se encontram sob forte ameaça quando decidem por fim à violência nem sempre recebem o atendimento esperado e em tempo. A primeira entrevistada contou que após um processo demorado e difícil (esse foi o primeiro episódio em que a mesma contou com a ajuda da filha para denunciar o agressor e, fato havia ocorrido em Porto Grande, o que posteriormente iria ser motivo para que a prisão do agressor não fosse decretada). Mesmo a vítima mudando de município o seu agressor a seguiu e só depois de uma tentativa de homicídio a mesma foi amparada pelo Estado, sendo encaminhada para a casa abrigo Fátima Diniz, depois que a mesma ameaçou ir comprar drogas para poder ser presa e assim se ver livre do seu agressor. O interessante nessa história é que apesar da tentativa de homicídio o agressor não foi preso, porque não conseguiram localizá-lo e também não haver provas suficientes para incriminá-lo, mesmo ele estando respondendo a outro processo. A vítima relatou o fato de ele ter tentado matá-la não poderia ser

acrescentado ao novo processo, tento em vista que outro processo fora iniciado em Porto Grande e a ocorrência de tentativa de homicídio ocorreu em Macapá. Por fim o processo foi encerrado e o agressor absolvido por falta de provas. O que acabou de ser exposto acima demonstra a incapacidade do Estado em garantir a segurança às vítimas de violência doméstica no país e a ineficiência em fazer cumprir às leis, percebe-se que as queixas das vítimas da violência esbarram na burocracia que em vez de ser ágil nesses casos, prolonga o sofrimento da vítima que se vê desamparada, o que contribui para que muitas mulheres fiquem desacreditadas da lei e assim desistam de lutar por seus direitos o que contribui também para que os agressores tenham certeza da impunidade dos seus atos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando se analisam os dados relativos aos registros de Boletins de Ocorrência (B.O) na DECCM, que são em torno de 1000 (mil) por mês e o número de mulheres que frequentam o CAMUF, menos de 20 (vinte) por mês e o número de apenas 4 (quatro) mulheres abrigadas na Casa Abrigo Fátima Diniz, suscitam-se alguns questionamentos: Primeiro: por que há uma disparidade enorme, entre o número de mulheres que registram B.O e o número de mulheres que são atendidas posteriormente? Tanto no CAMUF, quanto na Casa Abrigo? Segundo: como essas mulheres são tratadas e que tipo de orientação psicossocial e jurídica recebem? Terceiro: essas mulheres que não frequentam o CAMUF ou não foram encaminhadas à Casa Abrigo deixaram de sofrer violência? Primeiramente é necessário elucidar os fatos por trás dos números, pois a simples catalogação dos mesmos, sem o devido apreço de uma análise pode obscurecer um norteamento pretensiosamente relevante e sério no âmbito da pesquisa. Segundo, não há dados oficiais que indiquem o porquê dessas disparidades. Portanto o Estado, através dos seus órgãos, não tem acompanhamento e não há verdadeiramente como saber os motivos para tal. Em terceiro lugar, pela pesquisa de campo empreendida junto ao CAMUF, fica claro que muitas mulheres e seus companheiros começam a fazer os acompanhamentos psicosociopedagógico e depois acabam perdendo o interesse ou há, primeiramente, resistência dos companheiros e o referido órgão não tem poder de coercitivo para obrigá-los a frequentar as reuniões e palestras.

Outro aspecto que se deve levar em consideração é a estrutura da Casa Abrigo, justamente, por ser uma casa não oferece condições para abrigar confortavelmente mais que duas famílias, considerando que podem ficar até noventa dias, não haveria espaço para novas famílias serem abrigadas nesse período. Levando às autoridades policiais e judiciais a tomarem decisões de caráter classificatório e eliminatório, pois apesar dos critérios de abrigamento serem claros e objetivos, serão essas autoridades que decidirão se haverá a imperiosa necessidade para o mesmo. Poder-se-ia inferir que as mulheres vítimas de violência doméstica que não participam do CAMUF e não são abrigadas, não mais sofreram violência de seus companheiros ou simplesmente pelo primeiro contato perceberam que não resultaria em resultado positivo e seria perda de tempo? O que inferir se não há subsídios para tal inferência? Os fatos mais concretos que podem ser apreendidos a partir dessa pesquisa são os que evidenciam a cultura do machismo, da dominação masculina, que resultam na opressão das mulheres, vitimadas de várias formas, quer psíquica, moral, sexual, física, enfim negando a condição das mesmas enquanto sujeito, portadoras de personalidade e capacidades equivalentes à masculina. Em entrevista com a própria diretora da casa-abrigo Fátima Diniz, foi revelado que no período de abrigamento as usuárias ficam restritas às normas da instituição, situação que pode gerar a sensação de prisão. Foi o caso da segunda entrevistada, a mesma revelou se sentir presa na casa-abrigo, não só por estar em um ambiente que não era seu lar e de ter que cumprir com as normas do abrigo, mas principalmente, pelo fato dela sentir que alguns funcionários tratavam-na como uma detenta. Ressalta-se que casa-abrigo cumpre uma função social importante, porém, a política de abrigamento apresenta também algumas contradições, na medida em que superproteger a mulher, a Lei nº 11.340/2006 viola princípios e normas assentados nas declarações universais de direitos, exemplos: ao restringir ou suspender crianças e adolescentes à convivência familiar; ao privar a mulher de exercer a liberdade de ir e vir. Além de instrumentalizar a materialização de concepções discriminatórias, sob o pretexto de tutelar ou proteger as mulheres vítimas de violência doméstica, tolhe, ainda que indiretamente, a liberdade dessa mesma pessoa que a norma pretende proteger (KARAM, 2006).

Para Maria Lúcia Karam (2006) o enfrentamento da violência de gênero, a superação dos resquícios patriarcais, não ocorrerá através da sempre enganosa, dolorosa e danosa intervenção do sistema penal. Voltar-se somente para a vítima da violência doméstica também não resolve o problema, faz-se necessário a criação de políticas públicas que visem a inserção de medidas educativas para uma mudança de mentalidade dos autores da violência doméstica, sob pena de em longo prazo, impor cada vez mais medidas privativas de liberdade que possivelmente não serão eficazes do ponto de vista psicossocial e sociocultural (CORTIZO & GOYENECHE, 2010). Sirvinskas questiona até que ponto as medidas protetivas de urgência não poderiam prejudicar terceiros, ou mesmo limitar a liberdade de tomada de decisão da vítima, tornado-a incapaz de reger sua própria vida e do seu patrimônio. Segundo Anjos (apud SIRVINSKAS), leis sozinhas não resolvem outros problemas de cunho social e cultural, e nesse sentido, o combate à violência contra a mulher depende, fundamentalmente, de amplas medidas sociais e profundas mudanças estruturais da sociedade. O processo cultural em vigor passa por transformações e a dinâmica da informação pode contribuir para a diminuição em curto prazo e a erradicação em longo prazo da violência doméstica contra a mulher. Esse processo já começou, foi lento no decorrer da história, apenas a partir do final do século XX começou a se intensificar. Com as novas relações culturais presentes e o nível de esclarecimento e de politização das pessoas, abrem-se novas perspectivas para a equidade e o respeito de gêneros.

REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. Constituição Federal de 1988 CORTIZO, Maria de Carmen. GOYENECHE, Priscila Larratea. Judiciarização do privado e violência contra a mulher. Florianópolis: Revista Katál, v. 13 n. 1 p. 102-109 jan/jun. 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rk/v13n1/12.pdf. Acesso em: 19/08/2013. Diretrizes Nacionais para o Abrigamento de Mulheres em Situação de Risco e de Violência. Brasília: 2011. Disponível em: http://spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2011/abrigamento. Acesso em: 19/08/2013 GROSSI, Patricia Krieger ET AL. A rede de proteção à mulher em situação de violência doméstica: avanços e desafios. Athenea Digital num. 14: 267-280 (otoño 2008) CARPETA. Disponível em: https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&ved=0ccgqfjaa&u rl=http%3a%2f%2fdialnet.unirioja.es%2fdescarga%2farticulo%2f2736196.pdf&ei=0vduoqhh5cikqe drihqbq&usg=afqjcnfibshi-yhgbfgukcqza0sb2vqa0a&bvm=bv.59568121,d.cwc. Acesso em: 19/08/2013. KARAM, Maria Lúcia. Violência de gênero: o paradoxal entusiasmo pelo rigor penal. Boletim IBCC, São Paulo, v. 14, n. 168, nov. 2006. Lei Maria da Penha. Lei Nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em: http://www.mulheresedireitos.org.br/publicacoes/lmp_web.pdf. Acesso em: 19/08/2013. SIRVINSKAS, Luís Paulo. Aspectos polêmicos sobre a lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Disponível em: http://www.ibccrim.org.br/site/artigos/_imprime.php?jur_id=9415. Acesso em: 03/07/2013.