Omissão no dever de prestar contas enseja aplicação de multa e determinação de ressarcimento*

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Transcrição:

Omissão no dever de prestar contas enseja aplicação de multa e determinação de ressarcimento* TOMADA DE CONTAS ESPECIAL N. 737.734 EMENTA: Tomada de Contas Especial Secretaria Estadual Convênio com Município Cooperação técnica e financeira Recursos repassados ao Município pelo Estado Ausência de prestação de contas comprobatória da aplicação dos recursos e da devida comprovação do depósito da contrapartida do Município Revelia do responsável à citação provida por este Tribunal Impossibilidade de comprovação do efetivo atendimento do objeto avençado Julgamento pela irregularidade das contas Imputação de débito no valor total do repasse Aplicação de multa ao gestor responsável. (...) o que restou comprovado é que não foi apresentada a prestação de contas pelo interessado, não obstante as inúmeras oportunidades que lhe foram concedidas, não sendo, portanto, possível constatar que os recursos foram destinados e vinculados a obra consoante acordado, isto é, não há como comprovar nos autos o efetivo atendimento do objeto avençado. RELATOR: CONSELHEIRO EDUARDO CARONE COSTA RELATÓRIO Trata-se de Tomada de Contas Especial, instaurada pela Secretaria de Transportes e Obras Públicas (Setop), em virtude da omissão de prestar contas do recurso de Convênio n. 052/04, firmado em 14/06/04, cujo prazo limite foi estabelecido para 14/12/04, conforme cláusula 7.2 do instrumento (fls. 30). O convênio em tela foi firmado em 14/06/04, teve por objeto a conjugação de esforços e efetiva participação dos convenentes para a execução, mediante cooperação técnica e financeira, das obras de pavimentação urbana, no Município de Imbé de Minas, no valor de R$77.966,65, sendo R$40.000,00 referentes às despesas da Setop e R$37.966.65 relativos à contrapartida financeira do Município. * Cumpre informar que até o fechamento desta edição a decisão proferida pelo Tribunal nos autos epigrafados não havia transitado em julgado. 115

Conforme se infere do instrumento de convênio, os recursos seriam movimentados exclusivamente em conta do Banco do Brasil, Caratinga/MG. Não tendo sido comprovada a aplicação dos recursos repassados pelo Estado e a devida comprovação do depósito da contrapartida do Município, a Comissão de Tomada de Contas Especial e o órgão de Controle Interno da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) instauraram a Tomada de Contas Especial, encaminhando o processo a esta egrégia Corte de Contas (fls. 02-146), esclarecendo que após apurados os fatos, permanece a irregularidade, caracterizada pela falta da prestação de contas comprobatória da aplicação dos recursos. A Diretoria Técnica deste Tribunal em sua análise a fls. 147-149 aponta a ausência da prestação de contas comprobatória da aplicação dos recursos, repassados pela Setop e a contraprestação por parte do Município de Imbé de Minas, beneficiado, ensejando, inclusive dano ao erário, consoante apurado a fls. 135 dos autos, manifestando-se no sentido de que a não prestação de contas pelo responsável impede a comprovação da aplicação do valor de R$77.966,65, (R$40.000,00 repassados pelo Setop e R$37.966,65 de contrapartida do Município), no objeto do convênio. Consequentemente determinei a citação do Prefeito de Imbé de Minas, Sr. Reinaldo Cezar do Carmo, signatário do instrumento de convênio, bem como seu sucessor, Sr. Antônio Gomes Peixoto, responsável pela apresentação de prestação de contas do referido instrumento, para que, querendo, apresentassem, no prazo regimental as documentações e justificativas pertinentes, nos termos do art. 79 da Lei Complementar n. 102, vigente à época. O Sr. Antônio Gomes Peixoto, em suas alegações a fls. 158-163, informou que na transmissão do cargo não lhe foram apresentados os documentos relativos à execução orçamentária e financeira do Município, motivo pelo qual ajuizou Ação de Responsabilidade Civil por Ato de Improbidade Administrativa (fls. 56-60) e que não possui novos documentos que possam instruir os autos, fazendo anexar cópia de boletim de ocorrência confeccionado no ato de posse do atual prefeito descrevendo o extravio de vários documentos da gestão anterior. O Sr. Reinaldo Cézar do Carmo, ex-prefeito de Imbé de Minas e signatário do instrumento de convênio sob comento, não se manifestou dentro do prazo concedido. O órgão técnico em seu reexame a fls. 167-172, se manifestou no sentido de que as contas sejam julgadas irregulares, nos termos do art. 48, inciso III, a, da Lei Complementar n. 102/2008, vigente à época. Proferindo juízo similar, o douto Ministério Público, em seu pronunciamento a fls. 173-174, destacou que o Prefeito à época da assinatura do convênio, Sr. Reinaldo 116

Cézar do Carmo, se omitiu no seu dever de prestar contas, contrariando o disposto na cláusula sétima do instrumento de convênio (fls. 29-30), além dos princípios regedores da Administração Pública. Ressaltou, ainda, que apesar de ter sido várias vezes provocado a se manifestar nos autos, o interessado se quedou inerte, consoante documento a fls. 164. O douto Ministério Público concluiu seu pronunciamento manifestando-se no sentido de que restou caracterizada irregularidade, na forma do art. 44 da Lei complementar n. 33/94, vigente à época, bem como o disposto no art. 48 da Lei Complementar n. 102/2008, devendo o valor ser ressarcido aos cofres públicos, sem prejuízo da aplicação de multa ao responsável. É o relatório. VOTO Inicialmente cumpre esclarecer a natureza da tomada de contas especial. Pareceres e decisões A tomada de contas especial se reveste de natureza peculiar, cuja finalidade é apurar responsabilidade e quantificar o montante do ressarcimento dos débitos causados ao erário com maior celeridade. Mister assentar o entendimento de Jorge Ulisses Jacoby Fernandes a respeito da natureza dos processos dessa espécie: Tomada de contas especial é um processo excepcional, de natureza administrativa, que visa apurar responsabilidade por omissão ou irregularidade no dever de prestar contas ou por dano causado ao erário (JACOBY FERNANDES, Jorge Ulisses. Tomada de contas especial: processo e procedimento nos tribunais de contas e na administração pública. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2005, p. 31). No tocante ao substrato constitucional aplicável aos processos de tomadas de contas especiais, pode-se citar o disposto no art. 71, II, da CR/88, o qual preceitua: Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: (...) II julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário; (...) (grifo nosso). Norma de simetria constitucional no âmbito estadual está prevista no art. 76, III, da Constituição do Estado de Minas Gerais, consoante disposto in verbis: Art. 76. O controle externo, a cargo da Assembléia Legislativa, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas, ao qual compete: 117

(...) III fixar a responsabilidade de quem tiver dado causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que tenha resultado prejuízo ao Estado ou a entidade da administração indireta. Conforme se depreende dos textos constitucionais, verifica-se que dois são os elementos caracterizadores da responsabilidade do agente, sujeitos à apuração nos processos de tomada de contas especial: a) a comprovação de causa, perda, extravio ou outra irregularidade relacionada a dinheiro, bens e valores públicos; e b) a demonstração de prejuízo ao erário ou a entidade da administração indireta. Por fim, cabe ressaltar, em consonância com o art. 44 da Lei Complementar n. 33/94, vigente à época, que a procedência da investigação e o julgamento da irregularidade das contas ocorrem quando comprovado: a) grave infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial; b) injustificado dano ao erário, decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico; c) desfalque, peculato, desvio de dinheiro, bens ou valores públicos. A Diretoria Técnica em sua manifestação a fls. 147-149, aponta a permanência de irregularidade, caracterizada pela falta da prestação de contas comprobatória da aplicação dos recursos, e a contraprestação por parte do Município beneficiado, ensejando, inclusive, a quantificação do dano ao erário, consoante apurado pelo relatório de Auditoria sobre tomada de contas especial a fls. 135. Consequentemente foi devidamente notificado para apresentar suas alegações o Sr. Antônio Gomes Peixoto, sucessor do Sr. Reinaldo César do Carmo, na gestão do Município, solicitando a remessa da prestação de contas do convênio, assim como o Prefeito Municipal, signatário do instrumento. O Sr. Antônio Gomes Peixoto apresentou a documentação acostada a fls. 47-67, que noticiam as medidas intentadas para reaver a documentação. Esclareceu ainda que, conforme apurado a fls. 134 dos autos, não restou comprovado o depósito no valor de R$37.966,65, correspondente à contrapartida do Município, na conta do convênio, infringindo assim o disposto no art. 12, XX, c/c art. 25 do Decreto n. 43.635/03. O Sr. Reinaldo César do Carmo, Prefeito Municipal à época e signatário do instrumento de convênio, por sua vez, não apresentou qualquer justificativa, deixando o prazo escoar in albis. A Diretoria Técnica em seu reexame, a fls. 167-170, informa que permanece a irregularidade apontada, isto é, omissão do responsável em apresentar contas dos recursos recebidos. Salienta que não houve comprovação do depósito no valor de R$37.966,65, correspondente à contrapartida do Município (fls. 134), na conta do convênio, conforme exigência do art. 12, XX, c/c art. 25 do Decreto n. 43.635/03. 118

O órgão técnico esclarece, ainda, que o Departamento de Estradas e Rodagem (DER), por meio de visita técnica realizada no Município de Imbé de Minas, em 08/02/07, apurou que a obra foi parcialmente executada, atingindo os percentuais de 68% do físico e 78% do financeiro em relação ao proposto no plano de trabalho e no convênio (fls. 86-90). Todavia, em que pese a situação fática demonstrada pelo laudo do DER, o que restou comprovado é que não foi apresentada a prestação de contas pelo interessado, não obstante as inúmeras oportunidades que lhe foram concedidas, não sendo portanto possível constatar que os recursos foram destinados e vinculados à obra consoante acordado, isto é, não há como comprovar nos autos o efetivo atendimento do objeto avençado. Vale destacar que, no caso sob comento, não foi comprovado o depósito da contrapartida do Município, nem tampouco há como identificar o destino do recurso retirado da conta bancária específica da avença. Consequentemente, não há comprovação de que esses recursos foram, de fato, utilizados para o pagamento das despesas com a obra, objeto do Convênio n. 052/04. Portanto, não há meio de estabelecer o nexo de causalidade entre a quantia transferida e as despesas constantes da execução da obra. Pareceres e decisões Cumpre ressaltar que este tem sido o entendimento do Tribunal de Contas da União, conforme se infere das decisões abaixo relacionadas: Acórdão 7/2003 Segunda Câmara. Processo 012.461/1999-7 (...) 7 Diante dos novos elementos, verifica-se que o TCE/PB (...) Constatou a execução de obras, no exercício de 1996, custeadas com recursos do MEC/FNDE. Como o único convênio celebrado entre o FNDE e a Prefeitura de Jurú, naquele exercício, foi o convênio objeto da presente Tomada de Contas Especial, infere-se que as obras, cuja execução foi constatada pelo TCE/PB, são realmente aquelas referentes ao convênio em discussão. Todavia, entendo que o débito a ser imputado aos responsáveis é aquele correspondente ao montante integral dos recursos transferidos, ou seja, R$79.600,00, pois, ainda que se tenha constatado a execução da obra, não existem, nos autos, elementos que comprovem se a meta pactuada foi alcançada, se a totalidade dos recursos foi aplicada, se os procedimentos licitatórios foram realizados, se as normas financeiras foram observadas, etc. Apenas a análise da prestação de contas poderia concluir que a única irregularidade constatada foi o superfaturamento, ou se existiram outras irregularidades ensejadoras do débito. 8 Destaca-se que cabe aos responsáveis o ônus de comprovar a boa e regular aplicação dos recursos transferidos. Acórdão 4242/2009 Primeira Câmara. Processo 005.078/2007-3 119

1 A ausência de nexo de causalidade entre os recursos do convênio e as prestações de contas permite concluir que não há comprovação da boa e regular aplicação dos recursos. 2 A ausência de comprovação da boa e regular aplicação dos recursos importa no julgamento pela irregularidade das contas, na condenação em débito e na aplicação de multa ao responsável. TCU AC 0458-08/07, Sessão 20/03/2007 Classe II Relator: Ministro Augusto Sherman Cavalcanti 1 Os dados constantes dos autos não deixam dúvidas quanto à omissão do responsável no dever de prestar contas dos recursos federais recebidos, bem como sua revelia em relação à citação promovida por este Tribunal. 2 Desta forma, concordo com a proposta de encaminhamento da unidade técnica, no sentido do julgamento pela irregularidade das contas, com imputação de débito no valor total do repasse, além da aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/92, proposta pelo MP/TCU. 3 Entendo também cabível o envio de cópia da documentação pertinente ao Ministério Público da União, para ajuizamento das ações que entender cabíveis em face do disposto no art. 209, 6, in fine, do Regimento Interno. Ante o exposto, verifico que os dados constantes dos autos não deixam dúvidas quanto à omissão do responsável no dever de prestar contas dos recursos recebidos, bem como a sua revelia em relação à citação provida por este egrégio Tribunal. Nesse sentido, concordo com as manifestações da Diretoria Técnica (fls. 167-172) e do douto Ministério Público (fls. 173-174) no sentido de julgamento pela irregularidade das contas, com imputação de débito no valor total do repasse, além da aplicação da multa. Desta forma, determino aplicação de multa no valor de R$4.000,00 ao ex-prefeito do Município de Imbé de Minas e signatário do instrumento de convênio, Sr. Reinaldo Cezar do Carmo, nos termos do art. 44 da Lei complementar n. 33/94, vigente à época, bem como o disposto no art. 48 da Lei complementar n. 102/2008. Determino, ainda, a responsabilização do gestor pelo débito, que, segundo o que pôde apurar a Diretoria Técnica desta Casa, totaliza R$87.825,28 sendo R$45.057,87 repassado pelo Setop e R$42.767,41 de contrapartida do Município, atualizado em 16/04/07, consoante se vê no Quadro Demonstrativo a fls. 167 da informação técnica, que deverá ser recolhida ao erário, devidamente corrigida. Desde já, proponho o envio de cópia da matéria ao douto Ministério Público para adoção das medidas que, a seu juízo, julgar cabíveis à espécie. Por remate, ressalta-se que, com fulcro nas vigentes disposições regimentais, o prazo para recolhimento do débito fixado e das multas cominadas com fulcro no 120

disposto no art. 317 do RITCEMG, é de 30 dias, como previsto no caput do art. 364 do citado Regimento. Expirado o referido prazo, sem manifestação do responsável, deverá ser remetida a certidão de débito ao douto Ministério Público de Contas, para fins do disposto no inciso V do art. 32 da Lei Complementar n. 102/08. A Tomada de Contas Especial em epígrafe foi apreciada pela Segunda Câmara na sessão do dia 11/03/10 presidida pelo relator dos autos Conselheiro Eduardo Carone Costa; presentes o Conselheiro Elmo Braz e o Conselheiro Sebastião Helvecio que aprovaram o voto exarado pelo relator. Pareceres e decisões 121