Liberdade provisória sem fiança.



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Transcrição:

Liberdade provisória sem fiança. OBJETIVO DESSE AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM SERÁ A APRESENTAÇÃO DO INSTITUTO DA LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA LIBERDADE PROVISÓRIA LIBERDADE PROVISÓRIA A liberdade provisória é um sucedâneo da prisão em flagrante, ou seja, trata-se de um substitutivo à prisao em flagrante legal.

O instituto da liberdade provisória encontra-se previsto expressamente no Art. 5º, inciso LXVI da Constituição Federal, que determina in verbis: "ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança". A concessão de liberdade provisória é um direito subjetivo do preso, sobretudo, trata-se de um direito humano mais do que fundamental. Ademais, a liberdade provisória está prevista, também no Art. 7º, item 5 do Pacto de San José da Costa Rica. Os Arts. 321 e seguintes do Código de Processo Penal, também regulamentam a liberdade provisória. A liberdade provisória é uma medida alternativa, de caráter substitutivo em relação à prisão preventiva, que pode ser concedida quando o individuo foi preso em flagrante delito. NÃO SE ESQUEÇA: A liberdade prosivória se estrutura diretamente sobre as bases da prisão em flagrante legal. Neste tópico abordaremos a liberdade provisória sem fiança. LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA A Constituição Federal autoriza a liberdade provisória com fiança, bem como sem o pagamento de fiança. Ademais, o juiz ao receber o auto de prisão em flagrante, caso não seja hipótese de relaxamente da prisão em flagrante ou de conversão em prisão preventiva, poderá conceder liberdade provisória sem fiança (vide Art. 310, inciso II do Código de Processo Penal). A liberdade provisória sem fiança tem cabimento nas seguintes hipóteses: 1) Liberdade provisória sem fiança, mas com obrigação de comparecer a todos os atos do processo, quando o agente praticar o fato ao abrigo de uma causa excludente da antijuridicidade, conforme Art. 310, parágrafo único do Código de Processo Penal. 2) Liberdade provisória sem fiança, mas com submissão à(s) medida(s) cautelar(es) diversa(s) prevista(s) no Art. 319 do Código de Processo Penal; A primeira hipótese tem cabimento, conforme Art. 310, parágrafo único do Código de Processo Penal. Nesta situação o juiz não poderá arbitrar fiança, haja vista a redação expressa do dispositivo supracitado. Assim, concederá a liberdade provisória sem fiança com a obrigação do individuo de comparecer a todos os atos processuais, sob pena de revogação. O Art. 310, parágrafo único, do Código de Processo Penal regulamenta uma situação em que o sujeito

preso em flagrante delito praticou o fato sob o manto de uma das excludentes de ilicitude previstas no Art. 23, incisos I a III do Código Penal. Nessa situação, conforme Art. 314 do Código de Processo Penal não caberá prisão preventiva. Assim, será concedida liberdade provisória sem o pagamento de fiança, mediante termo de comparecimento a todos os atos do processo, de modo que esta é a única obrigação que pode ser imposta ao individuo. A segunda hipótese de liberdade provisória sem fiança, será aplicada com observância das medidas cautelares diversas da prisão previstas no Art. 319 do Código de Processo Penal. Existe possibilidade de concessão da liberdade provisória sem fiança caso o individuo não tenha condições de pagar a fiança, conforme prevê o Art. 350 do Código de Processo Penal. Assim, o juiz deverá submetê-lo às condições dos Arts. 327 e 328 ambos do Código de Processo Penal, bem como, se necessário, às medidas cautelares diversas. Ademais, será possível conceder liberdade provisória sem fiança com submissão às medidas cautelares, nos casos crimes inafiançáveis. LIBERDADE PROVISÓRIA NOS CASOS DE CRIMES INAFIANÇÁVEIS A Constituição Federal, conforme interpretação recente do Supremo Tribunal Federal, admite liberdade provisória sem fiança para todos os crimes, sem exceções. A Constituição da República, em algumas situações taxativas, impede, apenas, a concessão de liberdade provisória com fiança, ou seja, regulamentou as hipóteses de inafiançabilidade. Sendo assim, pode-se afirmar que que as hipóteses de inafiançabilidade proíbem apenas a concessão da liberdade provisória com fiança, mas não a liberdade provisória vinculada às medidas cautelares diversas (vide Art. 319 do Código de Processo Penal). Os Arts 323 e 324 do Código de Processo Penal proibem a concessão de liberdade provisória com fiança, nas seguintes hipóteses: - Nos crimes de racismo (vide Lei 7.716/1989); - Nos crimes de tortura (vide Lei 9.455/1997);

- No crime de tráfico ilícito de drogas (vide Lei 11.343/2006); - No terrorismo (vide Art. 20 da Lei 7.170/1083); - Nos definidos como crimes hediondos (vide Art. 1º da Lei 8.072/1990; - Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático de Direito (vide Lei 7.170/1983); - Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida; - Aos que infringirem, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os Arts. 327 e 328 do CPP; - Em caso de prisão civil (vide Art. 324, inciso II do CPP c/c Art. 733 1º do CPC - vide Art. 528 3º da Lei 13.105/2015); - Prisão militar (vide Art. 324, inciso II, segunda parte c/c Art. 142 da CF e Decreto-Lei 1.002/1969); - Quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (vide Art. 324, inciso III do CPP). Diante da alteração operada pela Lei 12.403/2011, percebe-se que o Art. 323 do Código de Processo Penal vedou a fiança para os crimes enumerados expressamente no Art. 5º, incisos XLII, XLII e XLIV da Constituição Federal. No entanto, não significa que não caiba liberdade provisória sem fiança, apenas que está vedada a fiança. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade dos Arts. 14, parágrafo único, 15, parágrafo único e 21, todos da Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) que vedava

liberdade provisória. Nesse sentido, foi o julgamento da ADI nº 3.112-1, em 02/05/2007. Ademais, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do Art. 44 da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas), haja vista que vedava por completo a liberdade provisória para o crime de tráfico ilícito de drogas. Nesse sentido, segue o Habeas Corpus nº 104.339/SP de Relatoria do Ministro Gilmar Mendes. http://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/stf/it/hc_104339_sp_1356480075553.pdf?signature=q1j 6wU9nD%2BgzMofa%2F%2BPSQtfHj60%3D&Expires=1445808235&AWSAccessKeyId=AKIAIPM2XE MZACAXCMBA&response-content-type=application/pdf&x-amz-met- -md5-hash=6d026ec92f5bd60824d2143777a0a121 Portanto, como a Constituição da República não vedou expressamente a liberdade provisória sem fiança, ela será cabível para todos os crimes, ressalvadas as hipóteses de vedação expressa, ou quando necessário a decretação de prisão preventiva. Quiz 1 Caberá liberdade provisória, exceto: Quando a prisão em flagrante for legal. Quando a prisão em flagrante for ilegal. Nos casos de crimes inafiançáveis.

No crime de tráfico ilícito de drogas. 2 Não caberá liberdade provisória com fiança ao: Crime de homicídio simples. Crime de lesão corporal simples. Crime de embriaguez ao volante. Crime de genocídio. 3 Aponte a assertiva que representa um crime inafiançável: Crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor. Crime de racismo. Crime de corrupção ativa. Crime de corrupção passiva.

Referências ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TÁVORA, Nestor. Curso de Direito Processual Penal. 8.ed. Salvador, BA: JusPODIVM, 2013. BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 7.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: Teoria do garantismo penal. 4.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. LOPES, Aury. Direito Processual Penal. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 5d. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 14.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2014.