Boletim de Pesquisa 223 e Desenvolvimento ISSN Dezembro, 2008

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Transcrição:

Boletim de Pesquisa 223 e Desenvolvimento ISSN 1676-340 Dezembro, 2008 Análise por hibridização in situ da expressão de metalotioneínas em Arachis stenosperma após inoculação com Meloigogyne arenaria (Nematoda)

ISSN 0102 0110 Dezembro, 2008 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 223 Análise por hibridização in situ da expressão de metalotioneínas em Arachis stenosperma após inoculação com Meloigogyne arenaria (Nematoda) Pedro Ítalo Tanno Silva Simone Ribeiro Karina Proit Patrícia M. Guimarães Soraya C. M. Leal- Bertioli David Bertioli Regina Carneiro Ana Cláudia Guerra Araújo Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Brasília, DF 2008

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Serviço de Atendimento ao Cidadão Parque Estação Biológica, Av. W/5 Norte (Final) Brasília, DF CEP 70770-900 Caixa Postal 02372 PABX: (61) 448-4600 Fax: (61) 340-3624 http://www.cenargen.embrapa.br e.mail:sac@cenargen.embrapa.br Comitê de Publicações Presidente: Miguel Borges Secretária-Executiva: Maria da Graça Simões Pires Negrão Membros: Diva Maria de Alencar Dusi Luiz Adriano Maia Cordeiro José Roberto de Alencar Moreira Regina Maria Dechechi G. Carneiro Samuel Rezende Paiva Suplentes: João Batista Tavares da Silva Margot Alves Nunes Dode Supervisor editorial: Maria da Graça Simões Pires Negrão Normalização Bibliográfica: Rosamares Rocha Galvão Editoração eletrônica: Maria da Graça Simões Pires Negrão Figura capa: Micrografias de secções transversais de raízes de A. stenosperma inoculadas (c e d) e não inoculadas (a e b) com M. arenaria raça 1 incubadas com laranja de acridina para confirmar a integridade da amostra e preservação do RNA no tecido (em verde) em microscopia de epifluorescência. Barras = 50µm 1ª edição 1ª impressão (2008): Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Embrapa 2008

Sumário Resumo... 5 Abstract... 6 Introdução... 7 Materiais e Métodos... 8 Resultados... 9 Agradecimentos... 10 Referências... 10

Análise por hibridização in situ da expressão de metalotioneínas em Arachis stenosperma após inoculação com Meloigogyne arenaria (Nematoda) Pedro Ítalo Tanno Silva 1 Simone Ribeiro 2 Karina Proite 3 Patrícia M. Guimarães 4 Soraya C. M. Leal- Bertioli 5 David Bertioli 6 Regina Carneiro 7 Ana Cláudia Guerra Araújo 8 Resumo O amendoim (Arachis hypogaea L.) é uma espécie de grande importância nas regiões semi-áridas dos trópicos, porém altamente susceptível a diversos fatores bióticos e abióticos, para os quais algumas espécies silvestres são resistentes ou tolerantes. Dentre os fatores bióticos, o nematóide de galha Meloigogyne arenaria é responsável pela diminuição do crescimento e até morte prematura da planta, ocasionando perdas na produtividade. Estudos anteriores avaliando a expressão diferencial de genes após inoculação com M. arenaria raça 1 por meio de RT-PCR e Northern Blot indicaram que o gene da metalotioneína do tipo 2 (AS2) tem sua expressão reduzida enquanto que o da metalotioneína do tipo 3 (AS5) aumenta em plantas de A. stenosperma. Estes genes estão possivelmente associados aos mecanismos de defesa nesta planta, que é resistente a infecção. Neste trabalho foi avaliada a distribuição espacial e temporal da expressão desses dois genes em secções de raízes de plantas de A. stenosperma inoculadas com M. arenaria por meio de hibridização in situ utilizando sondas de RNA. As análises corroboraram a expressão diferencial desses dois genes em tecido radicular. Entretanto, a implicação dessa regulação gênica diferencial no processo de resistência a infecção não está definida. PALAVRAS-CHAVE: expressão diferencial, nematóide de galha, hibridização in situ, metalotioneína 1 Graduando em Eng. Florestal, Universidade de Brasília. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, email: pedroitalo.tanno@gmail.com 2 PhD. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, email:simone@cenargen.embrapa.br 3 PhD. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, email: kproite@gmail.com 4 PhD. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, email: messenbe@cenargen.embrapa.br 5 PhD. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, email: soraya@cenargen.embrapa.br 6 PhD. Universidade Católica de Brasília, email: david@pos.ucb.br 7 PhD. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, email: rcar@cenargen.embrapa.br 8 PhD. Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, email: guerra@cenargen.embrapa.br

Abstract Peanut (Arachis hypogaea L.) is one of the most important oilseed crops in semi-arid regions, but it is very susceptible to different biotic and abiotic stresses, which some wild species are resistant or tolerant. The root-knot nematode Meloigogyne arenaria is responsible for stunted plant growth or even premature plant death, resulting in loss of productivity. Previous studies by RT-PCR and Northern Blot showed gene differential expression after nematode inoculation, suggesting up-regulation of metallothionein type 2 gene (AS2) and down-regulation of metallothionein type 3 (AS5) in A. stenosperma. These genes are potentially related to the pathogenesis defence process in this resistant species. The present study shows the spatial and temporal expression of these two genes in root sections of A. stenosperma in response to M. arenaria race 1 inoculation by in situ hybridization using RNA probes. The analyses corroborated the differential expression of these two genes in A. stenosperma. However, the role of the differential regulation during the resistance process is yet unknown. KEY WORDS: differential expression, root knot nematode, in situ hibridization, metallothionein

Introdução O amendoim, Arachis hypogaea L., está entre as oleaginosas mais cultivadas no mundo, ocupando a 4ª posição dentre as mais produzidas, sendo superado apenas pela soja, canola e algodão (USDA, 2008). Devido ao seu grande valor energético e nutricional, o amendoim é importante matéria-prima para a indústria alimentícia (farelo para ração animal, extração de óleo e para consumo humano), além de produtos medicinais. Diferentemente das outras espécies que pertencem ao gênero, a espécie cultivada é tetraplóide com dois genomas (2n=4x=40, genoma AABB), tendo surgido provavelmente de um cruzamento eventual entre duas espécies silvestres diplóides, A. duranensis (genoma AA) e A. ipaënsis (genoma BB), que sofreu duplicação do número de cromossomos, formando assim um híbrido tetraplóide fértil (VALLS e SIMPSON, 2005; SEIJO et al, 2007). Possivelmente, devido a esse isolamento reprodutivo, A. hypogaea apresenta uma base genética estreita quando consideradas características de interesse agronômico. Já as espécies silvestres apresentam maior variabilidade genética, sendo então uma importante fonte de genes associados à resistência e tolerância a estresses bióticos e abióticos (FÁVERO e SUASSUNA, 2007). Um dos maiores responsáveis pela perda de produtividade, crescimento reduzido e morte prematura de plantas de amendoim é a infecção pelo nematóide de galha Meloidogyne arenaria raça 1. Genes associados à resistência foram encontrados apenas nos cultivares NemaTam e COAN de A. hypogaea (SIMPSON, 1991), sendo portanto essencial a identificação de novos mecanismos de defesa e o desenvolvimento de novas variedades resistentes, uma vez que o uso de nematicidas é economicamente inviável e ambientalmente prejudicial. Para tal, estudos envolvendo análises da expressão gênica vêm sendo conduzidos visando identificar e caracterizar genes associados à resistência a M. arenaria em Arachis silvestres. Bibliotecas de cdna contendo genes diferencialmente expressos foram obtidas a partir de plantas de A. hypogaea e A. stenosperma, susceptível e resistente, respectivamente. Estudos comparativos dessas bibliotecas e análises histopatológicas confirmaram que o mecanismo de resistência à infecção se dá por reação de hipersensibilidade (HR) (PROITE, 2007). Vários genes relacionados à defesa foram identificados nos ESTs (Expressed Sequence Tags) da biblioteca de cdna de A. stenosperma infectada. Por meio de Northern Blot, RT-PCR e análises in silico, foi observado que algumas dessas seqüências apresentavam expressão diferencial durante o processo de infecção na espécie resistente (Fig. 1), sugerindo que estes genes estão potencialmente associados ao processo de resistência a esse patógeno (PROITE, 2007). Dentre esses genes com expressão diferencial, dois foram selecionados para caracterização mais detalhada do perfil de expressão utilizando hibridização in situ: o primeiro que apresentou identidade com a metalotioneína do tipo 3 (AS5 contig 874), e outro com identidade a metalotioneína do tipo 2 (AS2 contig 154). 7

Metalotioneína é uma família de proteínas envolvidas com a proteção contra os efeitos danosos das espécies reativas de oxigênio (ROS), atuando como agentes antioxidantes (INÁCIO, 2006). Para compreendermos melhor os mecanismos de resistência à M. arenaria em Arachis, a distribuição espacial e temporal da expressão de AS2 e AS5 foi analisada em secções de raízes de plantas de A. stenosperma inoculadas e não-inoculadas com nematóides da galha por meio de hibridização in situ. Materiais e Métodos Raízes de cinco plantas de A. stenosperma germinadas 90 dias antes foram inoculadas com 5.000 indivíduos de M. arenaria raça 1 em estádio de desenvolvimento juvenil 2 (J2). As plantas foram mantidas em casa de vegetação juntamente com outras cinco plantas controle (não inoculadas) e a irrigação iniciada três dias após inoculação, com água estéril. A porção central de várias raízes de uma planta inoculada e outra planta controle foi coletada 2, 4, 9 ou 16 dias após a inoculação (DAI). As amostras foram fixadas em solução de tampão cacodilato de sódio 0,05M ph 6,8 contendo 0,5% de glutaraldeído e 2% de paraformaldeído por 24h a 4 o C. Após desidratação em solução aquosa de etanol em concentrações crescentes (30% a 100%) durante dois dias a 4 o C, as amostras foram lentamente infiltradas com resina de metacrilato (butil metil metacrilato) por 3-4 dias a 4 o C. Amostras foram colocadas em microtubos e polimerizadas a -20 C, sob luz UV por 24h. Secções semi-finas com 2,5-4 m de espessura foram obtidas e montadas sobre lâminas Probe On Plus (Fisher Scientific # 15-188-52). Para verificar a integridade da secção e conservação do RNA no tecido, uma lâmina de cada material foi tratada com acetona para remoção da resina e corada com tampão acetato 0,05%, ph 2,1 contendo laranja de acridina, que se liga a ácidos nucléicos. Estas secções foram observadas em microscópio de epifluorescência Zeiss Axiophot com iluminação ultravioleta (faixa de comprimento de 395 nm e 510 nm) e imagens com amostras contendo fluorescência verde, que correspondiam a presença de RNA, foram adquiridas utilizando o software AxioVision. As seqüências selecionadas dos contigs 154 e 874 foram amplificadas por PCR e clonadas com o kit pgem-t Easy (Promega, #A1360). Med-preps foram preparadas e os clones linearizados com enzima de restrição SSTI ou SSTII. As sondas senso e anti-senso dos clones linearizados foram obtidas a partir da transcrição in vitro utilizando as RNA polimerases T7 e SP6 e o kit DIG-RNA Labeling (Roche #11 175 025 910), onde moléculas de digoxigenina foram adicionadas durante a síntese. Após remoção da resina das secções e desidratação das amostras utilizando souluções de etanol em concentrações crescentes, as lâminas foram hibridizadas com as sondas de RNA (2ng/µl de solução de hibridização) por 12h a 42 o C em câmara úmida. Os sítios de hibridização foram detectados em microscopio epifluorescente por reação imunocitoquimica utilizando o anticorpo anti-digoxigenina associado a enzima fosfatase alcalina. Após a imunoreação, as amostras foram incubadas com BCIP/NBT (5-bromo-4-chloro-3-8

indolyphosphate p toluidine salt/nitro-blue tetrazolium chloride) por 6h em ambiente escuro. Após lavagem em tampão Tris EDTA, as lâminas foram montadas em glicerol para observação. Resultados A integridade das secções e preservação de RNA nelas foi comprovada por meio da coloração com laranja de acridina e observação em microscopia de fluorescência (Fig. 2). Portanto, as demais amostras puderam ser utilizadas para detecção dos transcritos dos genes selecionados por hibridização in situ. As raízes coletadas 2 e 4 DAI não apresentaram sinal evidente apos hibridização com nenhuma das duas sondas testadas (não mostrada), tanto nas amostras de planta inoculada quanto na controle. Após hibridização com a sonda AS2, o sinal observado foi mais intenso e freqüente nas amostras nãoinoculadas do que naquelas inoculadas. O nível de expressão detectado nas raízes coletadas 9 e 16 DAI e hibridizadas com AS2 foi similar (Figura 3). O sinal de hibridização após incubação com a sonda AS5 foi detectado tanto nas raízes de plantas inoculadas quanto nas não-inoculadas. Entretanto, o sinal foi mais intenso e freqüente no primeiro grupo (Figura 4). O nível de expressão detectado nas raízes coletadas 9 e 16 DAI e hibridizadas com AS5 foi similar. Discussão A técnica de hibridização em secções de tecidos permite determinar a distribuição espacial e temporal de transcritos de genes específicos, permitindo uma avaliação mais detalhada do seu perfil de expressão e regulação. Essas análises auxiliam na elucidação do papel desses genes no processo de resposta de defesa de plantas contra doenças, sendo assim uma importante ferramenta em estudos de genômica funcional. A identificação e caracterização de genes de resistência em A. stenosperma ao nematóide de galha M. arenaria vem sendo buscadas com o objetivo de trazer mais informações sobre função e regulação de genes candidatos durante o processo de infecção. Análises realizadas anteriormente indicaram uma expressão diferencial de genes do tipo metalotioneínas em A. stenopserma inoculadas com M. arenaria raça 1. Resultados da hibridização in situ confirmaram a ocorrência de expressão diferencial desses genes do tipo metalotioneína. Metalotioneínas são proteínas de baixo peso molecular (4-7 kda), ricas em cisteína (Cys), e que desempenham um papel importante na proteção contra os efeitos danosos das espécies reativas de oxigênio (ROS), atuando como agentes antioxidantes (INÁCIO, 2006). A função biológica das metalotioneínas envolve detoxificação e homeostase de metais, representando uma resposta específica de exposição a metais como zinco e cádmio, podendo estar envolvidas em reações de hipersensibilidade (HR) 9

e respostas de defesa a fatores bióticos e abióticos. As metalotioneínas também estão envolvidas no seqüestro de ROS, protegendo o tecido. Acredita-se que a metalotioneína do tipo 2 em A. stenosperma atua como um sequestrador de ROS, e sua diminuição de expressão em resposta ao patógeno pode estar associada à supressão de mecanismos de desintoxicação, que conseqüentemente resulta em morte celular no sítio de alimentação do nematóide, impedindo assim um desenvolvimento maior do patógeno (PROITE, 2007). A metalotioneína do tipo 3, possivelmente está relacionada à desintoxicação de metais com o objetivo de prevenir mutações. Portanto, as análises por hibridização in situ corroboraram a expressão diferencial dos genes AS 2 e AS 5 em raízes de plantas da espécie selvagem A. stenosperma após inoculação por M. arenaria raça 1. Entretanto, a implicação dessa regulação gênica diferencial no processo de resistência ainda não está esclarecida. Outros estudos estão em andamento para definir o papel desses genes no processo de resistência. Generation Challenge Program TL1. Agradecimentos Referências FÁVERO, A. P.; SUASSUNA, T. F. Obtenção de três eventos-elite através da hibridação entre A. hypogaea e anfidiplóides sintéticos e sua inserção no programa de melhoramento da Embrapa. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2007. (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Comunicado Técnico, 165). INÁCIO, F. A. Metalotioneína e metais em Geophagus brasiliensis acará. 2006. 78 f. Dissertação (Mestrado) - Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2006. PROITE, K. Busca de genes envolvidos na resistência de amendoim silvestre ao Nematóide das Galhas (Meloidogyne arenaria). 2007. 213 f. Tese (Doutorado em Biologia Molecular) Departamento de Biologia Celular, Universidade de Brasília, Brasília, DF. SEIJO, G. J.; LAVIA, G. I.; FERNÁNDEZ, A.; KRAPOVICKAS, A.; DUCASSE, D. A.; BERTIOLI, D. J.; MOSCONE, E. A. Genomic relationships between the cultivated peanut (Arachis hypogaea, Leguminosae) and its close relatives revealed by double GISH. American Journal of Botany, Bronx, N. Y., v. 94, p. 1963-1971, 2007. SIMPSON, C. E. Pathways for introgression of pest resistence into Arachis hypogaea L. Peanut Science, Raleigh, US, v. 18, p. 22-26, 1991. UNITED STATES. Department of Agriculture Foreign Agricultural Service. Approved by the World Agricultural Outlook Board/USDA. (Circular Series, novembro, 2008). Disponível em: <http://www.usda.gov>. Acesso em: nov. 2008. VALLS, J. F. M.; SIMPSON, C. E. New species of Arachis (Leguminosae) from Brazil, Paraguay and Bolivia. Bonplandia, Corrientes, Argentina, v. 14, n. 1-2, p. 35-63, 2005. 10

FIGURAS Figura 1: ESTs diferencialmente expressos das bibliotecas de cdna de raíz de A. stenosperma infectada com M. arenaria analisadas por Fisher (p<0,005). ARP1 Auxin Repressed Protein, Hypot(Nt) Proteína hipotética com identidade com proteína hipotética de Nicotiana tabacum, Mettalo-2 Metalotioneína do tipo 2, CytocOx citocinina-oxidase hidrogenase, AlcDeh álcool desidrogenase, Mettalo-3 metalotioneína do tipo 3, Hypot(Os) Proteína hipotética com identidade com proteína hipotética de Oryza sativa, ResvSynth resveratrol sintase. 11

Figura 2: Micrografias de secções transversais de raízes de A. stenosperma inoculadas (c e d) e não inoculadas (a e b) com M. arenaria raça 1 incubadas com laranja de acridina para confirmar a integridade da amostra e preservação do RNA no tecido (em verde) em microscopia de epifluorescência. Barras = 50µm 12

Figura 3: Micrografias de secções de raízes não inoculadas de A. stenosperma (a, c) e inoculadas e coletadas 9 DAI (b) e 16 DAI (d) hibridizadas com sonda de RNA AS2 (metalotioneína do tipo 2). Barras = 50 m. 13

Figura 4: Micrografias de secções de raízes não inoculadas de A. stenosperma (a, c) e inoculadas e coletadas 9 DAI (d) e 16 DAI (b) hibridizadas com sonda de RNA AS 5 (metalotioneína do tipo 3). Barras = 20 m. 14