Iluminismo e Despotismo Esclarecido



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Transcrição:

Precussores do século das luzes As bases do pensamento no século XVIII assentavam-se nas idéias geradas no século XVII. René Descartes, Francis Bacon, John Locke e Isaac Newton foram precursores das teorias do Século das Luzes. René Descartes (1596-1650) É considerado o fundador da filosofia moderna. Em seu livro Discurso sobre o método, publicado em 1637, lançou os fundamentos do moderno racionalismo. A razão seria o único caminho para o conhecimento, excluindo todo o saber baseado na autoridade e na tradição. Matemático e físico francês Descartes afirmava que, na filosofia, era necessário partir de alguns axiomas (verdades indiscutíveis, que não precisam ser demonstradas) para depois, usando o método matemático da dedução, atingir verdades mais amplas. Para chegar a um axioma, Descartes utilizava-se antes do princípio da dúvida sistemática. Afirmou: Enquanto queria pensar que tudo era falso, era preciso, necessariamente, que eu, que tinha tal pensamento, fosse alguma coisa; e, observando que essa verdade [axioma] penso, logo existo era tão sólida e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de derrubá-la, considerei que podia recebê-la sem escrúpulo como primeiro princípio da filosofia que eu procurava. Mas Descartes não é importante apenas como pai do novo racionalismo. Deve-se também em grande parte a ele a introdução de um conceito mecanicista do universo. Ensinava que todo o mundo material, tanto orgânico como inorgânico, podia se definido em função da extensão e do movimento. Francis Bacon (1561-1626) Enquanto na França do início do século XVII Descarte lançava os fundamentos da corrente racionalista do pensamento ocidental, na Inglaterra, Francis Bacon começava a desenvolver o Empirismo. Afirmava Bacon que a inteligência pode ser comparada a um espelho imperfeito que dá uma imagem deformada da natureza das coisas. O conhecimento racional sozinho não seria suficiente para se chegar à verdade. Para um conhecimento adequado do mundo seria necessário: 1) Afastar as prenoções; 2) Realizar experiências utilizando os sentidos para conhecer. Na época, a física encontrava-se misturada à filosofia. Bacon foi filósofo, mas também precursor da física como ciência, chegando à importante conclusão de que a quantidade de matéria existente no universo é constante. Suas principais obras foram: Novum organum e Progresso do conhecimento. John Locke (1632-1704) Filósofo inglês e teórico da Revolução Gloriosa é considerado o pai do liberalismo político. Propunha, em substituição ao absolutismo, uma relação contratual entre governantes e governados, devendo as bases desse relacionamento ser estabelecidas por um conjunto de leis escritas, a Constituição. Todo homem, afirmava Locke, possui alguns direitos naturais: liberdade, propriedade privada e resistência contra governos tirânicos. Sua teoria política influenciou a Revolução Gloriosa (que pôs fim ao absolutismo John Locke na Inglaterra), a independência dos Estados Unidos e os teóricos que pregaram a Revolução Francesa. A maior contribuição de Locke para a revolução intelectual foi sua Teoria do conhecimento, em que rejeitou a doutrina das idéias inatas, defendida por Descartes. Ao contrário do filósofo francês, não acreditava que os homens nascessem com algumas idéias já formadas, mas considerava a percepção sensorial elemento básico para aquisição do conhecimento. Nesse sentido afirmava: Suponhamos que a mente é, por assim dizer, um papel em branco, sem nada escrito, sem nenhuma idéia; de que forma então ela se enche? De onde vêm todos os materiais da razão e do conhecimento? A isto responderei com uma palavra: experiência. O empirismo (doutrina cuja base é a experimentação) de Locke baseava-se no princípio de que as idéias derivam de duas fontes: a sensação e a percepção da operação na própria mente. Ora, como só se pode pensar elaborando idéias e como estas procedem da experiência, conclui-se que nada no conhecimento pode anterior à experiência. Essa teoria de que o homem vem ao mundo com a mente sem nenhuma idéia preconcebida é conhecida como tábula rasa. Isaac Newton (1642-1727) Embora não fosse um filósofo na acepção da palavra, mas sim um físico, contribuiu decisivamente para uma mudança radical na visão de mundo em sua época. Aprofundando as teses desenvolvidas por Copérnico, Kepler e Galileu, no Renascimento, e por Descartes, na primeira metade do século XVII, rejeitou a concepção medieval de um universo imóvel e estático. Com ele surge uma nova perspectiva de universo, na qual o movimento é considerado absoluto e o repouso, relativo. Acrescentou que esse Isaac Newton movimento não ocorre de forma anárquica, mas sim regido por leis físicas invariáveis, que podem ser conhecidas pelo homem através 3

WWW.ALUNONOTA10.COM.BR da ciência. O universo é, portanto, mecanicista. Seu princípio da gravidade, matéria atrai matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias, revolucionou as concepções e idéias da época. A filosofia de Newton não excluía Deus, mas negava sua intervenção no cotidiano do universo, o qual funcionaria por leis próprias sem necessidade de uma força divina que zelasse por seu movimento. Iluminismo O ponto mais alto da revolução intelectual, o ápice de seu desenvolvimento, ocorreu durante o século XVIII, na França. Chamado de Iluminismo ou Ilustração constitui uma fermentação de idéias que terminou por exercer profunda influência no pensamento e nas ações da humanidade. Os iluministas foram os grandes críticos do Antigo Regime e propunham outro tipo de organização da sociedade. 4 Os iluministas criticavam: Absolutismo e Mercantilismo; Permanência da servidão; Igreja Católica; Desigualdade de direitos e deveres entre os indivíduos. Propostas dos iluministas: Fim do Absolutismo; Separação dos poderes; Liberdade religiosa; Fim dos privilégios de classe; Fim da política mercantilista; Anti-clericalismo. Duas idéias, herança de Descarte e Newton, foram comuns a todos os pensadores iluministas: A razão é o único guia infalível para se chegar ao conhecimento e à sabedoria; O universo é uma máquina governada por leis físicas que podem ser determinadas e estudadas, não se submetendo a interferências de cunho divino, como milagres por exemplo. Os filósofos iluministas Os ideais iluministas se espalharam por vários países da Europa, mas foi na França, dominada pelo Antigo Regime, que eles mais se difundiram. Entre os principais pensadores iluministas, destacam-se: Voltaire (1694-1778) Foi o mais representativo vulto do Iluminismo francês e o inspirador da nova forma política do século XVIII na Europa, o despotismo esclarecido. Sua principal arma nos ataques dirigidos à nobreza e à administração real era a sátira. Isso lhe valeu prisão e deportação para a Inglaterra, onde viveu três anos. Em suas obras, mostrou-se um incansável lutador pelas liberdades individuais: Posso não concordar com uma só palavra do que disseres, mas me baterei a vida toda pelo direito que tens de dizê-las, sentenciava Voltaire. Voltava-se contra a tirania dos monarcas absolutos e, ao mesmo tempo, atacava a Igreja e seus membros. É sua a afirmação: Se Deus criou o homem, o homem pagou-lhe na mesma moeda. Contrário ao absolutismo, Voltaire, entretanto, era favorável ao regime monárquico, desde que ele se mostrasse sensível aos interesses e direitos da burguesia. Inspirou com suas obras os chamados déspotas esclarecidos, tendo trocado correspondência com alguns deles. Chegou a viver na corte de Frederico II, da Prússia. O filósofo adotava uma posição de extremo desprezo para com as camadas mais pobres da população. Julgava-as merecedoras de sua sorte devido à sua ignorância e grosseria, defendendo de forma completa os interesses da rica burguesia da França. Com exceção de D Alembert e Rousseau, todos os grandes filósofos de sua época tinham por características a manifestação de desprezo pelas camadas mais humildes. Montesquieu (1689-1755) Nobre de origem escreveu sua principal obra, O Espírito das Leis, no correr de 30 anos. Quando foi publicada, obteve um êxito fulminante. Nela, Montesquieu desenvolvia a teoria da separação dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário. Cada um desses poderes deveria agir de forma a limitar a força dos outros dois, estabelecendo-se um relacionamento equilibrado e harmônico. Enquanto o Executivo poderia vetar as decisões do Legislativo, este, por sua vez, teria o poder de declarar o impeachment (impedimento) do Executivo. Ao Judiciário caberia averiguar se as decisões dos outros poderes encontravam-se de acordo com as leis vigentes, julgando os delitos e salvaguardando as liberdades individuais. Na França do século XVIII, a teoria da separação dos poderes significava a restrição dos poderes do rei, mas Montesquieu, da mesma forma que Voltaire, possuía uma atitude de desprezo pelo povo, que ele classificava de ralé. Assim, defendeu o liberalismo político, mas estava muito longe de ser um democrata na acepção plena do termo. As palavras liberalismo e democracia não eram, pelo menos originalmente, sinônimas. A democracia e os democratas possuíam uma conotação popular que o liberalismo não tinha. Democracia significava soberania popular, enquanto o liberalismo se preocupava, exclusivamente, com um aspecto da soberania popular, as liberdades individuais. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) É, em certo sentido, difícil de ser enquadrado entre os iluministas. Naturalista, criticava aqueles que elevavam a razão à categoria de uma verdadeira deusa. Enquanto Voltaire e Montesquieu expressavam os ideais da burguesia francesa, Rousseau representou o pensamento das camadas populares da época. Exigia uma república e afirmava que a fonte de poder era o próprio povo. Em seu livro Da origem da desigualdade entre os homens, Rousseau afirmava: O primeiro que concebeu a idéia de cercar uma parcela de terra e de dizer isto é meu, e que encontrou gente suficientemente ingênua que lhe

desse crédito, este foi o autêntico fundador da sociedade civil. De quantos delitos, guerras, assassínios, desgraças e horrores teria livrado o gênero humano aquele que, arrancando as estacas e enchendo os sulcos divisórios, gritasse: cuidado, não dai crédito a esse trapaceiro, perecereis se esqueceres que a terra pertence a todos. Para Rousseau, a propriedade induzia a desigualdade entre os homens, a diferenciação entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco (...) até a predominância da lei do mais forte. O homem era corrompido pelo poder e esmagado pela violência. Dennis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond d Alembert (1717-1783) Foram os responsáveis pela Enciclopédia. A Enciclopédia tinha por finalidade reunir os conhecimentos esparsos e transmiti-los, de maneira que fosse evitado o esquecimento daquilo que foi criado pelas gerações. Além disso, havia a pressuposição de que o conhecimento fosse capaz de tornar os homens mais felizes. A Enciclopédia apresentou os conhecimentos em forma de verbetes e em ordem alfabética, apresentando teorias e desenhos dos engenhos produzidos pelas gerações passadas. Entretanto, ela foi bastante perseguida e, em vários anos, a sua produção foi realizada em tipografias fora da França, uma vez que chegou a ser proibida por Luís XIV, por conta das críticas que fazia às autoridades dos reis e da Igreja. Mesmo assim, ela podia ser encontrada nas casas de nobres e clérigos. Os filósofos influenciaram alguns príncipes que, sem abrir mão de seu poder absoluto, procuraram colocar em prática algumas das idéias dos iluministas. Esses ficaram conhecidos como Déspotas Esclarecidos. O Despotismo Esclarecido Diderot Significado do Despotismo O chamado absolutismo ilustrado ou despotismo esclarecido constituiu a primeira tentativa de levar à prática alguma das idéias sociais e políticas desenvolvidas no século XVIII. No entanto, é curioso notar que esta primeira aplicação das novas idéias foi realizada em alguns dos países mais atrasados da Europa da época: Prússia, Áustria, Rússia, Portugal e Espanha, países dominados por um feudalismo decadente e sem um desenvolvimento capitalista como o da Inglaterra, França e Holanda. O despotismo procurou realizar reformas visando à modernização da vida econômica, social, política e cultural dos países onde se implantou. As reformas variaram de país para país. No entanto, apresentaram características gerais. Levaram à diminuição dos poderes e privilégios da nobreza e do clero. A servidão e obrigações feudais dos camponeses foram extintas ou diminuídas. A criação de códigos de leis modernos eliminou a tortura judicial, a pena de morte, as discriminações raciais e religiosas, estabelecendo o casamento civil e o divórcio. Alguns déspotas desenvolveram largamente a educação pública criando numerosas escolas. Quanto à economia, o despotismo, dado o atraso dos países em que se implantou, manteve a política mercantilista ainda que com uma certa renovação no comércio e na manufatura. As reformas do despotismo conseguiram modernizar, em parte, os países onde foram implantadas. No entanto, o clero e a nobreza se mobilizaram para combater as abomináveis idéias francesas e, por meio de pressões as mais diversas, conseguiram revogar parte das medidas reformistas. Experiências de Despotismo Além da Península Ibérica, cujos governos despóticos estudaremos mais adiante, o despotismo teve grande importância na Prússia, Áustria e Rússia. Nesses três países os governos dos déspotas se notabilizaram pela realização de reformas internas e por uma política externa expansionista. Na Prússia, o déspota Frederico II governou o país de 1740 a 1780. Conquistou territórios da Áustria e da Polônia e, com ajuda da Inglaterra, travou vitoriosamente a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) contra França, Áustria e Rússia. Maria Teresa retratado com o marido, Francisco I, e o príncipe herdeiro José. Catarina II Consolidado, o Estado prussiano tornou-se, no século XIX, a principal força para realização da unidade alemã. No Império Austríaco, o despotismo esclarecido chegou ao apogeu durante o governo de José II (1780-1790). Realizou-se um 5

WWW.ALUNONOTA10.COM.BR importante programa de reformas, acompanhado pela diminuição dos poderes da Igreja Católica e da nobreza. O império foi expandido pela conquista de territórios da Polônia. Catarina II, a Grande, governando entre os anos de 1763 e 1796, foi a grande déspota do Império Russo. Continuou a Política de Portos Quentes, iniciada pelo governo de Pedro, o Grande (1672-1725), que consistiu na conquista de territórios de mares quentes como o Báltico e o mar Negro. Catarina aproximou a Rússia do Ocidente conquistando territórios, equivalentes à França, da Polônia e da Turquia. Em 1793 a ação de Catarina foi fundamental para o desaparecimento do Estado polonês, dividido entre Prússia, Áustria e Rússia. O Liberalismo Econômico Para combater a doutrina mercantilista, surgiu na França a Escola Fisiocrata. O termo fisiocracia, criado por Dupont de Nemours, significa governo da natureza. Para os fisiocratas, assim como a natureza é regulada por leis inflexíveis, a intervenção do Estado na economia era contrária à natureza, portanto prejudicial. Dentre os principais fisiocratas podemos destacar: Ä Quesnay, que considerava ser a terra a única fonte de riqueza; Ä Gournay, discípulo de Quesnay, acrescentou que, além da terra, a indústria também era uma fonte de riqueza. A Escola Clássica A Escola de Manchester, mais conhecida como Escola Clássica, surgiu paralelamente à consolidação da produção capitalista na Inglaterra, a partir de Revolução Industrial. Esses novos teóricos defendiam a plena liberdade econômica, a liberdade de mercado, a propriedade privada e o individualismo econômico. O principal nome dessa escola foi o escocês Adam Smith (1723-1790) que, em sua obra A Riqueza das Nações, defendeu que o trabalho, aliado ao capital, é fator determinante de riqueza. 01. (PUC-DF) O primeiro homem a quem ocorreu pensar e dizer isto é meu, e encontrou gente suficientemente ingênua para acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras e assassínios teriam sido evitados ao gênero humano se aquele, arrancando as estacas, tivesse gritado: Não, impostor. Apud: C. Vicentino Op. cit., p. 237. Essa afirmação, feita por Jean-Jacques Rousseau, permite concluir que esse pensador estava criticando especialmente: a) a burguesia e a noção de propriedade privada que, segundo ele, compunham a raiz das infelicidades humanas. b) o Estado absolutista que, defendendo a intensa intervenção oficial na esfera econômica, impedia o acesso à propriedade para os mais pobres. c) os socialistas utópicos que, contrários à propriedade privada, pregavam a criação de colônias comunitárias. d) os sacerdotes católicos que, ao pregarem o reino de Deus, mostravam-se contrários ao surgimento da sociedade civil. e) os marxistas que, ao proporem a abolição da propriedade privada, incentivavam as revoluções proletárias. 02. (UFRS) As idéias reformistas de Voltaire e as idéias revolucionárias de Rousseau contestavam o tradicionalismo religioso e a desigualdade social em que se apoiava o Antigo Regime, no qual os principais beneficiados eram: a) monarquia, Igreja e nobreza. b) Igreja, nobreza e burguesia. c) monarquia, Igreja e campesinato. d) burguesia, Igreja e monarquia. e) campesinato, nobreza e burguesia. 03. (UECE) Analise o seguinte comentário acerca da sociedade européia, no século XVIII: Os filósofos se erigiram como preceptores do gênero humano. Liberdade de pensar, eis seu brado, e este brado se propagou de uma extremidade a outra do mundo. Denúncia do Advogado Séquier, em 1770. In DUPÂQUIER, J. e LACHIEUR, M. Les Temps Modernes. Paris: Bardas, 1970, p. 221. De acordo com o seu conteúdo, é correto afirmar que: a) os filósofos franceses apoiaram o absolutismo, a fim de garantir a difusão do saber. b) a ideologia dos pensadores iluministas direcionava-se contra o absolutismo monárquico. c) a implantação da República Francesa, na 1ª metade do século XVIII, resultou da aliança da burguesia com o clero. d) a teoria do Direito Divino, fruto do iluminismo, consistia numa crítica à nobreza e aos desmandos da Igreja. 04. (UNIFOR-CE) Em O espírito das leis afirma-se: É uma verdade eterna: qualquer pessoa que tenha poder tende a abusar dele. Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder. Essa afirmação reflete: a) o espírito clássico renascentista. b) a filosofia política do Cardeal Richelieu. c) os princípios da teoria do Direito Divino. d) o pensamento político de Luís XIV. e) o liberalismo político iluminista. 05. (UEM-PR) Em meados do século XVIII, surgiu na Europa uma profunda crítica intelectual à sociedade do Antigo Regime, o Iluminismo. Sobre esse movimento intelectual, assinale o que for correto: 01) A Enciclopédia, editada por Diderot e D Alembert, foi elaborada pelos iluministas como uma forma de difundir as novas idéias. 02) O Iluminismo surgiu do embate entre a Monarquia Constitucional e os defensores das liberdades sociais e expressou, entre outras questões, a luta por uma sociedade economicamente igualitária. 04) Dentre os principais pensadores iluministas destacam-se Montesquieu, autor de O Espírito das Leis, Voltaire, que ridicularizou o absolutismo, e Jean Jacques Rousseau, autor da obra O Contrato Social. 6

08) Foi um movimento exclusivamente francês, haja vista não terem existido pensadores iluministas na Inglaterra, na Itália e em outros países da Europa. 16) Dentre as principais idéias dos iluministas destacam-se a igualdade jurídica, a liberdade individual e a tolerância religiosa. 06. (UFRS) Na sua obra clássica, publicada em 1776, A Riqueza das Nações, o escocês Adam Smith descrevia o funcionamento de uma forma de produção de alfinetes: um homem puxa o arame, o outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto o afia, um quinto o esmerilha na outra extremidade para a colocação da cabeça; para se fabricar a cabeça são necessárias duas ou três operações distintas; a colocação da cabeça é muito interessante, e o polimento final dos alfinetes também; até a sua colocação no papel constitui, em si mesma, uma atividade Smith dizia que 10 homens, dividindo o trabalho, produziam ao fim de um dia 48 mil alfinetes. Se a produção fosse artesanal, um homem produziria apenas 20 alfinetes por dia e os dez homens juntos somente 200 alfinetes. Com base nas informações acima, assinale a alternativa que responde corretamente às questões abaixo. Que forma histórica do trabalho está sendo descrita por Smith? Quais as principais conseqüências econômicas dessa nova forma de produção, defendida por Smith como real avanço para a sociedade? a) a divisão manufatureira do trabalho o aumento da produção e a liberdade de comércio. b) a produção artesanal a industrialização e a liberdade de comércio. c) a divisão manufatureira do trabalho o aumento da produção e o monopólio do comércio. d) a produção artesanal o aumento da produção e a liberdade de comércio. e) a cooperação fabril a industrialização e o monopólio do comércio 07. (UFRN) No século XVIII, alguns monarcas europeus conciliaram as teorias iluministas com as práticas absolutistas de governo. O "Despotismo Esclarecido", como foi chamada essa forma de governar, deu início às: a) mudanças que eliminaram a intervenção do Estado na economia, permitindo total liberdade à iniciativa privada. b) reformas que tentaram adequar as estruturas econômicas dos respectivos Estados à ordem liberal burguesa em ascensão. c) práticas colonialistas que transformaram as estruturas econômicas, com base no desenvolvimento manufatureiro. d) medidas econômicas que ampliaram a participação da aristocracia na relação entre metrópoles e colônias. Gabarito 01. a 02. a 03. b 04. e 05. V, F, V, F, V 06. a 07. b 7