LIBERDADE E LIVRE-ARBÍTRIO EM NIETZSCHE FREEDOM AND FREE WILL IN NIETZSCHE



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Transcrição:

LIBERDADE E LIVRE-ARBÍTRIO EM NIETZSCHE FREEDOM AND FREE WILL IN NIETZSCHE Vanessa Cristina Moretti Mestranda em Direitos Humanos Fundamentais pela UNIFIEO. Professora da USF. RESUMO Neste artigo pretendemos abordar o conceito de liberdade em Nietzsche, bem como propomos uma reflexão à crítica desenvolvida por este pensador ao livre-arbítrio cristão trazido por Tomás de Aquino e que até hoje influência o comportamento humano. Para tanto, abordaremos as principais escolas filosóficas que tratam da noção de liberdade, desde a aristotélica para qual a liberdade é autodeterminação, passando pela interpretação de Espinosa que a entende como necessidade e autocausalidade, até a concepção de Kant para quem a liberdade está fundada na razão e na lei moral de cada indivíduo. Nesse passo, trataremos, ainda, mais detidamente do conceito de livre-arbítrio para o cristianismo dando enfoque ao pensamento tomista sobre o tema. Por fim, discorreremos sobre ambos os conceitos na visão de Nietzsche destacando a crítica presente no pensamento do filósofo alemão. Palavras Chaves: Liberdade. Vontade. Livrearbítrio. ABSTRACT

This article aims to address the concept of freedom in Nietzsche, and we propose a reflection on the critical thinker developed by this free will Christian brought by Thomas Aquinas and even today influence human behavior. To do so, we discuss the major philosophical schools that address the notion of freedom from the Aristotelian to which freedom is selfdetermination, through the interpretation of Spinoza that understands how necessity and autocausalidade until the conception of Kant for whom freedom is founded on reason and moral law of each individual. In this step, we will also more closely the concept of free will to Christianity by focusing the Thomistic thought on the subject. Finally, we will discuss both concepts in Nietzsche's view highlighting the critical thinking present in the German philosopher. Keywords: Freedom. Will. Free will. INTRODUÇÃO Em nosso cotidiano, frente aos diversos caminhos que a existência nos apresenta, estamos sempre às voltas com a necessidade de escolhermos, decidirmos, determinarmos diante desta ou daquela situação. Não é a toa que frequentemente acreditamos que realmente somos os senhores absolutos de nossas vidas. Mas será que somos realmente livres? Afinal, o que é liberdade? Somos totalmente livres desde que nos responsabilizemos pelas consequências de nossas escolhas? Ou, não somos livres, na medida em que nos desprendemos de

nós mesmos em função de padrões e valores morais predefinidos e preestabelecidos? Fazer uma abordagem com base no pensamento nietzschiano nos pareceu essencial na busca por respostas a que questionamentos como os acima elencados, uma vez que o filósofo alemão entende a liberdade de maneira peculiar, colocando, inclusive, em dúvida padrões e valores cristãos balizadores do livre-arbítrio. Além de Nietzsche, trataremos das concepções de Aristóteles, Espinosa, Kant, Santo Agostinho e São Tomás de Aquino sobre liberdade e livre-arbítrio. 1. NIETZSCHE E A LIBERDADE CRISTÃ O conceito de liberdade é certamente um dos principais temas da filosofia. Podemos dizer que especialmente no que tange ao campo da filosofia prática a questão sobre a liberdade é tema central e constante, uma vez que é a através dela que o homem crê alcançar a tão sonhada felicidade. Nietzsche alicerça sua crítica ao livrearbítrio e à liberdade cristã que tiveram como grande expoente Tomás de Aquino, filósofo da idade média que incorporou conceitos aristotélicos ao cristianismo. O filósofo alemão discute em suas obras esta suposta noção de liberdade e nos instiga a refletir e questionar se realmente os nossos atos são regidos por nossa mais pura e genuína vontade.

Nietzsche critica a existência do livrearbítrio da vontade, uma vez que para ele essa ideia foi incutida ao pensamento ocidental pelo cristianismo como forma de controle do homem, que tem maculada sua livre escolha pelo temor de uma responsabilização futura. Há uma falsa sensação de vontade autônoma, o indivíduo é influenciado em sua decisão, até porque ao exercer sua faculdade, por ser dotado de razão, o faz por eleição e é justamente neste momento que os padrões e valores previamente estipulados podem alterar o caminho escolhido. CONCLUSÃO Nietzsche foi um grande entusiasta da liberdade. Para ele ser livre é ser autêntico sem influências de nenhuma ordem. O homem livre para ele é aquele que tem condições de estabelecer seus próprios valores. A liberdade em Nietzsche é fundada na essência humana, de forma artística e criativa. O homem livre é aquele que se desprende dos moldes e se volta para si, se identifica e se lança a vida com todas as suas nuances, sejam elas belas ou trágicas. REFERÊNCIAS ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. D. Ross. São Paulo: Abril, 1984. CHAUÍ, Marilena. Espinosa: poder e liberdade. En publicacion: Filosofia política moderna. De Hobbes a Marx Boron, Atilio A. CLACSO,

Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales; DCP-FFLCH, Departamento de Ciências Politicas, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, USP, Universidade de São Paulo. 2006. ISBN: 978-987-1183-4. Disponível em http://biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/secret/filop olmpt/06_chaui.pdf. Acesso em: 16 de jul. 2013. HUGON, Padre Edouard, O.P. Os princípios da filosofia de São Tomás de Aquino: as vinte e quatro teses fundamentais. Tradução de Odilão Moreira. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Genealogia da Moral. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. SILVA, Ivan de Oliveira. O Livre-Arbítrio da Vontade: Uma reflexão agostiniana. São Paulo: Reflexão, 2010.