O ENSINO DE MÚSICA NO PROGRAMA DE INCLUSÃO ATRAVÉS DA MÚSICA E DAS ARTES (PRIMA) EM CAMPINA GRANDE-PB



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Transcrição:

O ENSINO DE MÚSICA NO PROGRAMA DE INCLUSÃO ATRAVÉS DA MÚSICA E DAS ARTES (PRIMA) EM CAMPINA GRANDE-PB Rainere de Azevedo Travassos Universidade Federal da Paraíba raineretravassos@hotmail.com Tarcia Paulino da Silva Universidade Estadual da Paraíba tarcia_cg@hotmail.com RESUMO O presente trabalho visa descrever as atividades desenvolvidas no Programa de Inclusão Através da Música e das Artes (PRIMA) no municípi o de Campina Grande. Assim, considerando que o PRIMA objetiva a promoção da cidadania e da inclusão de crianças e adolescentes através do ensino de música, realizou-se uma abordagem de cunho bibliográfico sobre a importância da música como vetor de inclusão social, paralelamente à descrição do PRIMA, com ênfase no funcionamento do polo de ensino de música em Campina Grande, destacando sua fundação e estrutura de funcionamento, a partir dos pressupostos do estudo de caso. Quanto à abordagem bibliográfica, contribuíram para o referencial teórico, autores como BASTIAN, 2009; HUMMES, 2004; RIBEIRO, 2012. Justifica-se a presente pesquisa, na medida em que a música possui a função de contribuir para a integração da sociedade levando os seus membros a se reunirem para participarem de atividades que precisam da colaboração de todos os envolvidos. Porquanto, a música é utilizada como ação de inclusão, pois promove a socialização das pessoas. Sendo assim, concluiu-se que o ensino de música a partir da formação de grupos, orquestra ou coral, como ocorre com o programa implantado pelo governo do estado, é relevante na medida em que crianças e adolescentes tem oportunidade de participar de uma atividade musical que promove a atuação social do indivíduo. PALAVRAS-CHAVES: Inclusão Social. Ensino de Música. PRIMA.

Introdução A musicalização de crianças e adolescentes vem ganhando destaque como prática apta a proporcionar cidadania, inclusão, socialização, diminuição da violência, entre outras transformações, principalmente, em lugares carentes. Por isso, a música é utilizada, frequentemente, seja em projetos sociais da iniciativa privada, seja em programas governamentais. Como exemplo desta proposta do ensino de música, podemos incluir o Programa de Inclusão Através da Música e das Artes (PRIMA) que é um programa do Governo do Estado da Paraíba que visa à formação de orquestras, bandas e corais junto às crianças e adolescentes que são atendidos pela rede pública de ensino. Sendo assim, o presente trabalho tem como temática o ensino de música no PRIMA, especificamente, no município de Campina Grande/PB. Neste contexto, indagou-se sobre qual a importância do ensino de música a partir dos grupos de coral e orquestra. Sobre a importância do contato com a música, Hans Günther Bastian destaca que Não importa em que currículo da música ou da educação musical alguém se esforce: a familiaridade com a música contribui para que as crianças e os jovens, em sua compreensão e em seu agir, também sejam capazes de ver suas perspectivas no espelho das perspectivas dos demais. Nos espaços da música se pode apreender a relativizar as próprias posições e introduzi-las na totalidade do jogo, em nossa opinião, mais amplamente do que no esporte ou em outras atividades exercitadas conjuntamente (BASTIAN, 2009, p. 82) Não por acaso, países europeus, a exemplo da Alemanha, França, Espanha, Suécia e Finlândia, desenvolvem programas de integração entre a comunidade e as orquestras. Em geral, tais programas têm como objetivo a educação musical em escolas e instituições comunitárias e socioculturais (KRÜGER, 2003 apud SILVA, 2007).

Pelo exposto, verifica-se o contato com a música é mais do que o aprendizado de uma expressão artística particular, já que propicia interação social, sobretudo, considerando sua prática coletiva. Metodologia Objetivando descrever o funcionamento do PRIMA na cidade de Campina Grande, destacando a importância do ensino coletivo da música para inclusão social, realizou-se um estudo de caso através da observação in loco, bem como o levantamento bibliográfico sobre o ensino de música na perspectiva da inclusão social. A observação consistiu em visitas, no período de uma semana, na escola onde funciona o Polo, além do levantamento de dados disponibilizados pela coordenação local do programa que subsidiaram a descrição da estrutura física, de pessoal e das atividades desenvolvidas. Análise dos resultados Inicialmente, verifica-se que a música possui diversas funções, destacando-se dez categorias principais, quais sejam: função de expressão emocional;função do prazer estético; função de divertimento, entretenimento;função de comunicação; função de representação simbólica; função de reação física; função de impor conformidade às normas sociais; função de validação das instituições sociaise dos rituais religiosos; função de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura; e função de contribuição para a integração da sociedade (MERRIAN, 1964 apud HUMMES, 2004). Sobre a última função citada, afirma-se que a música contribui para a integração da sociedade na medida em que (...) fornece um ponto de convergência no

qual os membros da sociedade se reúnem para participar de atividades que exigem cooperação e coordenação do grupo (MERRIAN, 1964 apud HUMMES, 2004, p. 19). Já Hans GüntherBastian (2009) ao responder sobre a nossa necessidade de música, apresenta não funções, mas fundamentações da música, entre as quais se destaca a pedagógico-social, sobre a qual o autor afirma que (...) a música é, sem dúvida, a mais social das artes. A familiaridade com a música abre as pessoas aos seus semelhantes (BASTIAN, 2009, p. 39). O Programa de Inclusão Através da Música e das Artes (PRIMA) 1 trata-se de um projeto de cunho social do governo estadual em convênio com as Secretarias Estaduais de Educação e de Cultura, com participação também da FUNESC (Fundação Espaço Cultural da Paraíba) e da OSPB (Orquestra Sinfônica da Paraíba). A respeito do ensino da música erudita como vetor da cidadania e da inclusão social, destaca-se que, no Brasil, desde os anos de 1990, a música vem sendo utilizada em comunidades de baixa renda como forma de diminuir a violência e despertar a cidadania, projetos com este objetivo demonstram que a arte é uma ferramenta importante para os jovens e que a música clássica é acessível (PAVLOVA, 2006 apud SILVA, 2007). Tal programa tem como inspiração projetos que utilizam a música como instrumento de inclusão social, a exemplo El Sistema na Venezuela e do NEOJIBA (Núcleos de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), com suporte na formação de orquestras, considerando que a orquestra é exemplo de uma estrutura que demonstra a cidadania, respeito, cooperação e responsabilidade. Quanto à importância da orquestra para o ensino de música, verifica-se total relação com o papel social da música, já que 1 http://www.primaparaiba.com/#!prima/crz1

(...) A prática da música exige o juntar-se com frequência, e isso, de acordo com o conhecimento da psicologia social, aumenta a probabilidade de simpatia mútua, quando os membros dos grupos experimentam suas necessidades e interesses comuns. O desenvolvimento socioemocional também acontece lá onde, em grupos, pode-se aprender juntos a respeito de problemas complexos. Onde isso poderia acontecer melhor senão na prática conjunta da música e na orquestra? (BASTIAN, 2009, p. 82) No mesmo sentido, entende-se que o aprendizado musical em grupo e a consequente atividade de uma orquestra de estudantes favorece os sentidos de socialização, responsabilidade e solidariedade (GALINDO, 1998 apud CRUVINEL, 2003, p. 52). Confirmando a importância da orquestra para o ensino de música visando o trabalho social, no site do Programa encontram-se os seguintes esclarecimentos 2 Respeito ao próximo Em orquestras, músicos estão dispostos lado-a-lado, com seu espaço individual, e no momento da criação musical todos são igualmente importantes, independente de suas funções. O curriculum do PRIMA enfatiza que na sociedade as pessoas também precisam de seu espaço individual, e de serem vistos por outros como igualmente importantes, cada um dentro de sua função. Responsabilidade O trabalho orquestral requer responsabilidade pessoal, dedicação à sua parte individual, estudo, cobrança pessoal, antes de haver uma cobrança externa ou divisão de responsabilidades com colegas ou uma exigência de um professor. No PRIMA ensinamos que também na sociedade o indivíduo tem deveres, e deve exercê-los com dedicação e autonomia. Quanto à estrutura funcional do programa, optou-se pela divisão em polos de ensino, preferencialmente, instalados em escolas estaduais localizadas em áreas carentes ou com acentuados problemas sociais. O primeiro pólo de ensino foi fundado no município de Cabedelo, o qual expandiu formando polos satélites e subpolos. 2 http://www.primaparaiba.com/#!cidadania-por-intermdio-da-orquestra/cod6

Atualmente, o PRIMA tem um total de 16 (dezesseis) locais de ensino (polos ou polos satélites), distribuídos em 9 (nove) municípios paraibanos. Quanto à estrutura de pessoal, o Programa é formado por um diretor geral, um diretor executivo, um coordenador pedagógico, coordenadores de polo, professores e inspetores, além de outros profissionais de apoio. Ressalta-se que no início de 2012 foi realizada uma convocatória, para formação do quadro de professores, que consistiu em uma seleção norteada por uma prova prática audição anônima exigindo-se que os postulantes fossem bacharéis ou licenciados em música. Já em relação ao instrumental, destaca-se que, atualmente, cada polo conta com praticamente todo o instrumental pertinente a uma orquestra sinfônica. Especificamente em relação ao polo do município de Campina Grande, verifica-se que foi fruto da expansão do programa para o interior da Paraíba, já que até então só funcionava na região metropolitana da capital João Pessoa. A fundação do polo foi marcada por um concerto da Jovem Orquestra de Cabedelo com participação dos corais de Jacaré, Renascer e Fortaleza (polos de Cabedelo), no dia 6 de abril de 2013 na Escola Estadual CAIC José Joffily, Bairro das Malvinas, onde atualmente funciona o polo. Inicialmente, o polo foi instalado em uma única sala de aula da escola CAIC e foram designados 3 (t rês) professores 1 coordenador e professor de contrabaixo acústico e 2 professores de piano, que ministravam as aulas duas vezes por semana, com duração de duas horas, atendendo as crianças e adolescentes no contra turno. Importante frisar que nos primeiros meses, as atividades predominantes eram de musicalização através do canto coral, já que não haviam os instrumentos, mas apenas um teclado que já era da escola. Em junho de 2013 foi realizado o primeiro recital, no qual os alunos apresentaram musicas juninas.

A partir do mês de agosto o polo de Campina Grande passa apresentar uma nova fase, tendo em vista a contratação de 5 novos professores ( professor de metais, professor de madeiras, professor de violino/viola, professor de percussão e professora de canto e musicalização infantil) e da chegada dos primeiros instrumentos. Assim, tiveram início as aulas de instrumentos como violino, clarinete, contrabaixo, piano, bateria e percussão orquestral. No mês seguinte foi instalado o polo satélite no bairro do Mutirão, que funcionava em uma fundação. Já em outubro foi realizada a primeira apresentação fora da escola, na qual os alunos do CAIC cantaram em um evento realizado no Teatro Municipal da cidade. Ao final do ano de 2013, o polo de Campina Grande (CAIC e Mutirão) contava com 93 alunos, dos quais 35 fizeram sua primeira viajem para se apresentarem na capital juntamente com os demais alunos do programa de todo o Estado. Para 2014, a meta era a formação de uma orquestra, a qual foi alcançada e no mês de julho foi realizado o primeiro concerto com a orquestra e coral de crianças e adolescentes do programa, contanto com mais de 40 alunos, tanto do polo sede como do satélite. Atualmente, o projeto conta com 8 profissionais 1 coordenador e professor, 6 professores e 1 inspetor) e 298 alunos. Quanto ao instrumental do polo, tem-se o expressivo número de 90 (noventa) instrumentos, quais sejam: 28 violinos, 10 violas, 8 violoncelos, 5 flautas transversais, 4 oboés, 6 clarinetes, 2 fagotes, 1 flautim, 5 trompetes, 4 trombones, 2 trompas, 2 tubas, 1 piano, 1 teclado, 1 vibrafone, 1 marimba, 1 xilofone, 1 bateria, 1 bumbo sinfônico, 1 gongo e 5 tímpanos. Quanto à metodologia de ensino, verifica-se a predominância das aulas coletivas por classe de instrumento, ou seja, aulas de grupo de instrumentos cordas, metais, percussão, palhetas, piano e teclado, canto e coral - combinado com o ensino da teoria musical, uma vez que, como já mencionado, as atividades do PRIMA visam a

formação de corais e orquestras, considerando a importância destas atividades para a inclusão social. A sala de aula se transformou numa sala de ensaio da orquestra, os quais se realizam um dia por semana nos dois turnos. Já aulas funcionam em outras salas, em sete turnos (manhã e tarde) de segunda à quinta. A orquestra é formada por 37 alunos utilizando o seguinte instrumental: percussão (bateria, tímpanos, xilofone, vibrafone, marimba e bombo sinfônico), violinos, violoncelos, fagote, oboé, clarinetes, flautas transversais, trombone, trompete, piano e teclado. Ressalte-se que os professores dos ensaios da orquestra orientando os alunos. Já no coral tem-se uma média de 30 alunos. São realizados 2 (dois) concertos mensais, os quais estão ocorrendo nas escolas circunvizinhas. Como visto, com pouco mais de um ano de atividade, o polo de Campina Grande vem consolidando as atividades do ensino de música com uma perspectiva do ensino coletivo, através da prática coral e orquestral com foco na inclusão social. Sobre o ensino coletivo de música e a inclusão social, pode-se afirmar que O Ensino Coletivo é uma importante ferramenta para o processo de democratização do ensino musical, contribuindo de forma bastante significativa neste processo. A musicalização através do ensino coletivo, pode dar acesso a um maior número de pessoas à Educação Musical, aumentando a razão professor/aluno por esforço hora/aula ministrada. Alguns projetos ligados a essa filosofia de ensino vêm surgindo no país, alcançando êxito, tanto na área pedagógica quanto na social. Pode-se afirmar que o estudo da música, através do ensino coletivo, veio democratizar o acesso do cidadão à formação musical (CRUVINEL, 2003, p. 02) afirmar ainda que Além de promover o acesso à música numa perspectiva de inclusão, pode-se A participação de crianças, adolescentes e jovens em aulas de música não deixa de ser uma forma de afastá-los do crime, das drogas e da violência. A música apresenta-se, então, como um importante elemento de formação de

identidade e construção da cidadania onde agentes multiplicadores de cultura assumem o papel de transformadores da realidade social. Mais do que isso, a formação musical e de cidadania tem proporcionado desenvolvimento pessoal e possibilidade de profissionalização. Nesse sentido, o ensino coletivo de Música permite desenvolver a capacidade de trabalhar em equipe, interagir socialmente e atuar em colaboração(ribeiro, 2012, p. 8-9) Assim sendo, verifica-se que o PRIMA no município de Campina Grande vem fazer parte dos projetos sociais que buscam através da música promover a inclusão de crianças e adolescentes, observando-se que a estratégia de ensino partindo da formação de orquestra e coral é importante para a consolidação de atividades sociais. Conclusão Este artigo pretendeu apresentar a proposta do Programa de Inclusão através da Música e das Artes (PRIMA), implantado em 2012 no estado da Paraíba, com o objetivo de promover a inclusão social a partir do acesso ao ensino de música através da formação de orquestras e corais para crianças e adolescentes atendidas pela rede estadual de ensino. Em 2013, o programa foi implantado na cidade de Campina Grande que vem apresentando resultados expressivos constatando-se que o acesso à música, além de promover o contato do aluno com instrumentos de orquestras, promove, principalmente, a inclusão social e o exercício da cidadania na medida em que é norteado por atividades em grupo - orquestra e coral - que se destacam pela necessidade de colaboração e interação social. Logo, pode-se concluir que o Prima se inclui nas propostas de ensino de música na perspectiva de inclusão social voltadas para crianças e adolescentes, com ênfase no ensino da cidadania através da música, já que por meio da música orquestral

podem ser exercitados o apoio mútuo e respeito ao próximo transferindo-os também para a esfera social do aluno. Referências BASTIAN, Hans Günther. Música na escola: acontribuição do ensino da música no aprendizado e no convívio social da criança. Trad. Paulo F. Valério. 1.ed. São Paulo: Paulinas, 2009. CRUVINEL, Flavia Maria. Efeitos do ensino coletivo na iniciação instrumental de cordas: a educação musical como meio de transformação social. Goiânia: Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Goiás, Escola de Música, 2003, 321 f. HUMMES, Júlia. Por que é importante o ensino da música? Considerações sobre as funções da música na sociedade e na escola. Revista da ABEM, Porto Alegre, v.11, p. 17-25, set. 2004. RIBEIRO, Raimundo Luiz. Inclusão através do projeto Música no Munim: musicalizando crianças e jovens. São Luis: Monografia de Licenciatura em Música Universidade Federal do Maranhão, 2012, 40f. SILVA, Gabriele Mendes da.cidadania e inclusão social através da música erudita: projetos sócio-educacionais em Florianópolis. Florionópolis: Monografia de Bacharelado em Música - Universidade do Estado de Santa Catarina, 2007, 61 f.