Interpretação dos resultados dos testes de sífilis. Aula 10. Interpretação dos resultados



Documentos relacionados
Cuidados com a amostra de líquor para fazer o VDRL

Características gerais dos testes treponêmicos

Fatos e Conceitos Procedimentos e Habilidades Atitudes, Normas e Valores

Febre amarela. Alceu Bisetto Júnior. Divisão de Doenças Transmitidas por Vetores

INFLUENZA A (H1N1) Protocolo de Manejo Clínico e Vigilância Epidemiológica da

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato Acadêmico

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE SAÚDE PÚBLICA DEPARTAMENTO DE EPIDEMIOLOGIA DISCIPLINA - EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS 2006

Importância da associação do ELISA IgM e Soroaglutinação Microscópica para diagnóstico e epidemiologia da leptospirose humana

Papel do Laboratório de Microbiologia no Diagnóstico Laboratorial: Orientações para a Prática e

PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE INFLUENZA A(H1N1)

HPV Vírus Papiloma Humano. Nome: Edilene Lopes Marlene Rezende

Acesso às Consultas Externas do Serviço de Estomatologia do Hospital de Santa Maria do Centro Hospitalar Lisboa Norte

Suely Gonçalves Cordeiro da Silva - Bióloga Laboratório de Sorologia e NAT Serviço de Hemoterapia INCA Hospital do Câncer I Rio de Janeiro

Probabilidade pré-teste de doença arterial coronariana pela idade, sexo e sintomas

TEMA: Broncoscopia com lavado broncoalveolar + biópsia

UNIVERSIDADE POTIGUAR PRÓ REITORIA DE GRADUAÇÃO DE AÇÃO COMUNITÁRIA ESCOLA DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DISCIPLINA: EDUCAÇÃO EM SAÚDE

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO PARECER COREN SP Nº 021/CAT/2010

Aula 03 - Equipamentos de proteção individual - EPI

Glaucoma. Juarez Sabino da Silva Junior Técnico de Segurança do Trabalho

Diagnóstico da sífilis

O QUE É? O RETINOBLASTOMA

HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA NÍVEIS DE PREVENÇÃO I - HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

INFORME EBOLA (10/10/2014)

Avaliação de Teste de Triagem para Pesquisa de Anticorpos contra o Vírus da Imunodeficiência Humana

ALERGIA INTOLERÂNCIA ALIMENTAR. Laíse Souza. Mestranda Programa de Pós Graduação em Alimentos e Nutrição PPGAN / UNIRIO

Procedimentos de Operação Padrão. Planos de Segurança Local. Saúde & Segurança

[LEPTOSPIROSE]

INFORME TÉCNICO SEMANAL: DENGUE, CHIKUNGUNYA, ZIKA E MICROCEFALIA RELACIONADA À INFECÇÃO CONGÊNITA

Ministério da Saúde esclarece boatos sobre infecção pelo vírus Zika

Equipamentos de Proteção Individual Quais as evidências para o uso? Maria Clara Padoveze Escola de Enfermagem Universidade de São Paulo

Augusto de Lima, 1715, Belo Horizonte, Minas Gerais. 1 Laboratório de Pesquisas Clínicas, Centro de Pesquisas René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz. Av.

Filariose Linfática. - Esses vermes, chamados de filarídeos, não são geo-helmintos. Eles precisam de um vetor (mosquito) para completar seu ciclo.

NOTA TÉCNICA DVS/DVE/SESACRE Nº 09/2009 INFLUENZA A (H1N1)

NOTA TÉCNICA 12/2014 DIVEP/SVS. Assunto: Definição e atualização internacional de casos.

SEGURANÇA EM LABORATÓRIO

POR FAVOR, LEIA ESTES TERMOS DE USO (OS TERMOS ) COM ATENÇÃO ANTES DE USAR O SITE.

SÍFILIS: UMA ABORDAGEM GERAL

Briefing hepatites. Números gerais da Hepatite casos confirmados

Diretrizes Assistenciais. Protocolo de Diagnóstico e Tratamento de ITU no CTIA

Doença pelo Vírus Ebola. Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro

Configurar conta corrente para cada Forma de Pagamento

NECESSÁRIO IR PARA O LABORATÓRIO, SERÁ PERMITIDA SUA ENTRADA SOMENTE SE ESTIVER COM ESTE KIT. Desejamos um excelente semestre letivo à todos!

ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SANTA MARCELINA NASF UBS JD. SILVA TELLES E JD. JARAGUÁ PROJETO PREVENÇÃO DE QUEDAS

DOENÇA DE GUMBORO PERSPECTIVAS DE CONTROLO FUNCHAL. 15 de Março de 2010 Rui Sereno

Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo Coordenação da Atenção Básica ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE BUCAL

TÍTULO: PSORÍASE: PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FARMÁCIA

Capacitação para a realização do teste rápido Alere para diagnóstico sorológico da leishmaniose visceral canina (LVC)

Qual é a função do cólon e do reto?

UNIDADE I. INTRODUÇÃO À METODOLOGIA RDS - RESPODENT DRIVEN SAMPLING ( Amostragem conduzida pelo entrevistado ) Lisa Johnston

O HPV é um vírus que ataca homens e mulheres. Existem mais de 200 tipos diferentes de

Vacinação Contra a Gripe 2015 Perguntas e Respostas

Gestante com Sífilis na APS

OS-SantaCatarina. Um novo modo de pensar e fazer saúde. COMBATE AO MOSQUITO AEDES AEGYPTI

Dúvidas frequentes. Quantas etapas podem ter a Avaliação de Desempenho?

Assunto: Posicionamento do Ministério da Saúde acerca da integralidade da saúde dos homens no contexto do Novembro Azul.

Exames para propedêutica de polineuropatia

Medidas de Prevenção da Transmissão Nosocomial do Vírus da Gripe Aviária (GA)

O NOVO VÍRUS INFLUENZA A (H1N1) E A PRÁTICA DO FISIOTERAPEUTA

História Natural da Doença

Lição 5 Medidas Descritivas Medidas de Dispersão

Serviço Público Federal CONCURSO PÚBLICO 2014 INSTRUÇÕES GERAIS. Nº do doc. de identificação (RG, CNH etc.): Assinatura do(a) candidato(a):

ANÁLISE DO ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS EM UMA CRECHE PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA

CADASTRO. Quem pode se inscrever para fazer esses cursos? Qualquer professor em exercício da rede pública estadual ou municipal.

NORMAS INTERNAS DA UTILIZAÇÃO DO LABORATÓRIO DE MICROBIOLOGIA DO CÂMPUS DE AQUIDAUANA - UFMS/CPAq

Não jogue este impresso em via pública. Preserve o meio ambiente. Universidade Federal do Espírito Santo. Medicina. Centro de Ciências da Saúde

TESTE DE INTOLERÂNCIA ALIMENTAR DIETA MEDITERRÂNICA

Precauções e isolamentos

ENFERMAGEM SAÚDE DA MULHER. Doenças Sexualmente Transmissíveis Parte 2. Profª. Lívia Bahia

A ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO EM SAÚDE MENTAL. Coordenação Estadual de Saúde Mental Março 2014

Controle de qualidade dos testes de floculação. Aula 5. Soros controles. A qualidade dos resultados é fundamental na prática laboratorial.

Definir febre. Identificar os aspectos peculiares da avaliação e condução de pacientes com febre no ambiente de atenção primária à saúde / atenção

TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO

Tudo vem dos sonhos. Primeiro sonhamos, depois fazemos.

FAQ Extratos Eletrônicos. FAQ Extratos Eletrônicos

Telefone laboratório Fax . Telefone (Chefe laboratório) Pessoal? Trabalho? Contacto Coordenador Regional o Distrital

Ciências Contábeis. PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR EM GRUPO Tema: Contabilidade geral 1º semestre

Cobertura do teste Papanicolaou e

Taxa de utilização de cateter venoso central (CVC) na UTI Adulto

Ano: 8 Turmas: 8.1 e 8.2

Torneio MegaSprint 2016

DOENÇA DE CHAGAS AGUDA

Gerenciamento de Acesso Vascular PDP

Sequência Didática: A Ditadura Civil Militar

Meningite: O que você PRECISA SABER

PREVALÊNCIA DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) EM MULHERES JOVENS APÓS O PRIMEIRO PARTO EM SÃO PAULO-BRASIL

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM IMPLANTODONTIA. Coordenador: Prof. Ms. Alex Casati Lopes

Dr. Ayrton Roberto Massaro - neurologista São Paulo. Dra. Carla Heloísa Cabral Moro neurologista Hospital Municipal São José Joinville, SC

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE BARUERI

Desvio Padrão ou Erro Padrão

Transcrição:

Aula 10 Interpretação dos resultados dos testes de sífilis Os testes para o diagnóstico da sífilis devem ser feitos em duas etapas, uma de triagem e outra confirmatória. Independentemente da sistemática de trabalho adotada em seu serviço para a triagem das amostras, é fundamental que toda amostra seja submetida a um teste não treponêmico quantitativo e a um teste treponêmico. Interpretação dos resultados Os resultados dos testes devem ser interpretados pelo médico, em associação com os dados da história clínica do indivíduo e com os dados epidemiológicos. A seguir apresentamos a possível interpretação para diferentes combinações de resultados. Teste O que significa? Reagente Reagente Podem significar sífilis ativa, sífilis latente ou sífilis tratada. O que fazer? Para esclarecer o caso, deve-se analisar a história do indivíduo (dados clínicos e epidemiológicos). Reagente (geralmente em títulos baixos) Provavelmente é uma reação cruzada e esse resultado um falso-positivo. Neste caso, é preciso investigar doenças autoimunes e crônicas, doenças infecciosas agudas, bem como outras situações fisiológicas e biológicas que o médico considerar pertinentes para explicar a reatividade do teste não treponêmico. 1

Teste Reagente O que significa? Podem significar sífilis primária (com possível presença do cancro) ou sífilis tratada. O que fazer? O médico deve examinar o indivíduo, buscando a lesão primária, e verificar a história clínica e epidemiológica dele. Provavelmente o indivíduo não tem sífilis, ou a infecção é muito recente, por isso os anticorpos ainda não são detectáveis pelos testes utilizados. Caso persista a suspeita clínica, os testes devem ser repetidos após cerca de 20 a 30 dias. Interpretação dos resultados Cicatriz sorológica é o termo utilizado para as situações nas quais o indivíduo, comprovadamente tratado, mas ainda apresenta reatividade nos testes. Nestes casos, os testes treponêmicos tendem a ser s, e os testes não treponêmicos quantitativos apresentam baixos títulos. É um erro considerar títulos baixos apenas como cicatriz sorológica ou como reação falsamente positiva. Lembremos que a sífilis não confere imunidade permanente e os indivíduos podem se recontaminar tantas vezes quantas forem expostos ao Treponema pallidum. No início de cada infecção os títulos esperados são baixos. Só é possível determinar que se trata de cicatriz sorológica quando for comprovado que o indivíduo teve sífilis e realizou tratamento adequado.! Títulos baixos também são encontrados na sífilis primária, quando os anticorpos estão circulando em baixas concentrações, e na sífilis latente não tratada. Como avaliar a resposta ao tratamento da sífilis? Somente os testes não treponêmicos quantitativos são indicados para avaliar a eficácia do tratamento da sífilis. Recomenda-se a realização de testes para acompanhamento da resposta ao tratamento a cada seis meses, até o final do segundo ano após o tratamento. 2

Negativação dos testes não treponêmicos Quanto mais precoce for o tratamento após a infecção, mais rapidamente haverá desaparecimento dos anticorpos circulantes, com a consequente negativação dos testes não treponêmicos ou sua estabilização em títulos baixos. Para a maioria dos usuários tratados, espera-se que haja reversão dos resultados, e que os testes tornem-se não s entre 6 e 30 meses após o tratamento. Entretanto, na sífilis tratada tardiamente os testes podem nunca se negativar, persistindo a detecção de anticorpos em títulos baixos. A sorologia, quando se apresenta repetidamente em títulos baixos em usuários corretamente tratados, não tem significado clínico e devem ser considerados curados. Segundo a literatura, os títulos diminuem cerca de quatro vezes após três meses e oito vezes aos seis meses após o tratamento. Alguns autores já relataram que o teste permaneceu nas seguintes percentagens, conforme o período de progressão da doença em que foi feito o tratamento: Tempo 6 meses 12 meses 30 meses Pacientes tratados com sífilis primária 16,5% 11,4% 6,6% Pacientes tratados com sífilis secundária 27,6% 17,0% 8,4% Quadro 1 Percentual de reatividade nos testes não treponêmicos no monitoramento do tratamento da sífilis. Durante o monitoramento do tratamento, o aumento de dois ou mais títulos no teste sugere reinfecção ou tratamento inadequado.! A infecção pelo Treponema pallidum não confere imunidade, por isso um indivíduo pode contrair sífilis tantas vezes quantas for exposto ao agente etiológico. 3

Limitações dos testes treponêmicos Os testes treponêmicos não podem ser utilizados no monitoramento de tratamento. Segundo a literatura, cerca de 85% das amostras de indivíduos adequadamente tratados permanecem positivas nos testes treponêmicos durante muitos anos em alguns casos, durante toda a vida 2. 2 - Ver referência no final da aula: Schroeter AL, Lucas JB, Price EV, Falcone VH. 3 - Ver referência no final da aula: LARSEN S.A., STEINER, B.M., RUDOLPH, A.H. Além disso, aproximadamente 1% da população em geral apresenta reações falsamente positivas nos testes treponêmicos 3. descuide de sua própria segurança. Lembre-se de que você vai lidar com material potencialmente infectante. Outros cuidados necessários Lembre-se sempre da sua segurança. Utilize os equipamentos de proteção individual quando for colher amostras de sangue ou realizar os testes: avental ou jaleco de comprimento abaixo dos joelhos, com mangas longas, sistema de fechamento nos punhos por elástico ou sanfona e fechamento até a altura do pescoço; protetor facial ou óculos de proteção e máscara; luvas descartáveis; sapatos fechados; calças compridas. Para que você possa trabalhar observando todos os cuidados necessários, faça o curso Biossegurança, da Série TELELAB, e aprenda mais sobre esse tema. 4

Referências AVELLEIRA J.C.R.; BOTTINO, G. Diagnóstico, tratamento e controle da sífilis. An. Bras. Dermatol. 2006; 81(2):111-26. BIRNBAUM, N.R.; GOLDSCHMIDT, R.H.; BUFFETT, W.O. Resolving the common clinical dilemmas of syphilis. Am Fam Physician. 1999; 59:2233-40, 2245-6. BRAUNER, A.; CARLSSON, B.; SUNDKVIST, G.; OSTENSON, C.G. False-positive treponemal serology in patients with diabetes mellitus. J Diabetes Complications. 1994; 8:57-62. BROWN, S.T.; ZAIDI, A.; LARSEN, S.A., REYNOLDS, G.H. Serological response to syphilis treatment. A new analysis of old data. JAMA. 1985; 253:1296-9. CENTERS FOR DISEASES CONTROL AND PREVENTION (CDC). Recommendations for Partner Services Programs for HIV infection, Syphilis, Gonorrhea and Chlamydia infections. Morbid Morttal Wkly Rep, Recomm Rep. 57(RR-9): 1-93, 2008. HAAS, J.; BOLAN, G.; LARSEN, S.; CLEMENT, M.; BACCHETTI, P.; MOSS, A. Sensitivity of treponemal tests for detecting prior treated syphilis during human immunodeficiency virus infection. J Infect Dis. 1990; 162:862-866. LARSEN S.A., STEINER, B.M., RUDOLPH, A.H. Laboratory Diagnosis and Interpretation of Tests for Syphilis. Clin. Microbiol. Rev., Washington, v.8, n.1, p.1-21, 1995. PEELING R. W; HTUN Y. Diagnostic tools for preventing and managing maternal and congenital syphilis: an overview. 2004. Bulletin of the WHO. V. 82, p 439-446. SCHROETER, A. L., J. B. Lucas, E. V. Price, and V. H. Falcone. 1972. Treatment of early syphilis and reactivity of serologic tests. JAMA 221:471 476. 5

ATÉ A PRÓXIMA! Caro aluno, parabéns por ter se dedicado a este curso. Desejamos que os conteúdos estudados possam contribuir de alguma forma para o seu sucesso profissional e pessoal. Agora, não deixe de se informar a respeito dos demais cursos disponibilizados pelo TELELAB no endereço eletrônico www.telelab.aids.gov.br.