Conta Financeira é Responsável por 96,6% da Entrada de Dólares em 2007

Documentos relacionados
Análise Macroeconômica Brasileira

DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO DECRESCENTE SIGNIFICA POLÍTICA FISCAL SOB CONTROLE?

Banco Central anuncia novo status da dívida externa brasileira

INDX apresenta estabilidade em abril

Aula 01 Balanço de Pagamentos

Conceito: Balanço de Pagamento. Conceito: Balanço de Pagamento. Aula 1: Balanço Pagamentos e Câmbio. O Balanço de Pagamentos no Brasil

Aumento do emprego contrasta com desindustrialização em SP e RJ

Conceito: Balanço de Pagamento. Conceito: Balanço de Pagamento. Aula 1: Balanço Pagamentos e Câmbio. O Balanço de Pagamentos no Brasil

Empresas abertas ganham fôlego para investir

Metas de Inflação e Evolução da Taxa de Câmbio no Brasil Afonso Bevilaqua

Economia e Negócios Internacionais MACROECONOMIA

Endividamento recua em dezembro

Boletim Econômico Edição nº 52 dezembro de Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico

Aula 01 Balanço de Pagamentos e Contas Nacionais

Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) JOINVILLE

PESQUISA FEBRABAN DE PROJEÇÕES MACROECONÔMICAS E EXPECTATIVAS DE MERCADO

PERSPECTIVAS MERCADO DE AÇÕES

II Semana Contábil e Fiscal de Estados e Municípios Estatísticas de Finanças Públicas Tesouro Nacional

Macroeconomia aberta: conceitos básicos

O levantamento anual envolveu sete instituições financeiras: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú, Safra e Santander.

Noções de Economia Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata

Resumo Aula-tema 04: A Macroeconomia do Setor Externo: Uma Introdução

Segunda Parte: Economia aberta

CONFIANÇA DO EMPRESÁRIO CAI 2,3% NO TRIMESTRE

Rodrigo Leandro de Moura Gabriel Leal de Barros

Cesta básica volta a subir na maior parte das capitais

EDUCAÇÃO SOBE MAIS QUE INFLAÇÃO NOS ÚLTIMOS SETE ANOS

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

OS MECANISMOS INSTITUCIONAIS DE ACOMPANHAMENTO E CONTROLE DO SISTEMA ECONÔMICO

ALGODÃO Período: 06 a 10/04/2015

Gilmar Ferreira Maio de 2010

OS FUNDAMENTOS DA ECONOMIA NO BRASIL

Economia Brasileira: performance e perspectivas

ANÁLISE DO COMÉRCIO INTERNACIONAL CATARINENSE 2014

Diagnóstico da Convergência às Normas Internacionais IAS 21 - The Effects of Changes in Foreign Exchange Rates

Pesquisa Mensal de Emprego

Conceitos Básicos A função BP. O Mercado Cambial. Março 2014

O que não é dito sobre os indicadores fiscais (tradicionais) de 2005

Visão. O efeito China sobre as importações brasileiras. do Desenvolvimento. nº dez 2010

Políticas macroeconômicas para um crescimento robusto e sustentável

Tabela 1 - Preço médio da Soja em MS - Período: 02/06 á 06/06 junho de Em R$ por saca de 60Kg. Praça 02/jun 03/jun 04/jun 05/jun 06/jun Var.

INDX registra alta de 3,1% em Março

PROVA DO CONCURSO BANCO DO BRASIL Professor Joselias -

SUPERÁVIT PRIMÁRIO E GASTOS EM EDUCAÇÃO

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio

Cenário internacional e desempenho da economia brasileira

no Estado do Rio de Janeiro

Política cambial e fluxo de comércio no Brasil: perspectivas para 2013

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE EMPRESAS PETROLÍFERAS

Boletim Informativo de Crédito Imobiliário e Poupança

As despesas primárias fora de controle

COMENTÁRIOS. Em maio o emprego industrial ficou praticamente estável frente ao mês

Sumário do Pronunciamento Técnico CPC 02 (R2) Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis

Embraer diz que real desvalorizado ajuda, mas é preciso cuidado

O Setor de Saúde na Perspectiva Macroeconômica.

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS CÓD. 14

Evolução do Déficit em Transações Correntes: decomposição por principais contas, financiamento e determinantes

Finanças dos clubes brasileiros em 2014

Crise financeira mundial e a América Latina Colóquio Internacional O Capitalismo com dominância financeira, IE-UNICAMP, outubro 2009

Fazer face à queda dos preços das matérias-primas

Macroeconomia. Prof. Regis Augusto Ely. Fevereiro Componentes do produto

Antecipações, Especulação e Regulação das Taxas de Câmbio

Parte III: Abordagem Histórica da Economia Brasileira

SORGO GRANÍFERO EM MATO GROSSO

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio. Balança Comercial do Agronegócio Maio/2016

Confab Anuncia Resultados para o Primeiro Trimestre de 2008

ANO 5 NÚMERO 34 FEVEREIRO DE 2015 PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO

FUNDAMENTOS DE MACROECONOMIA. Prof. Eliezer Lopes DÉFICIT PÚBLICO E DÍVIDA PÚBLICA

Paineiras Hedge FIC FIM

N o 12 Junho PIB fraco mostra efeito prolongado da crise

ENDIVIDAMENTO DAS FAMÍLIAS NAS CAPITAIS BRASILEIRAS

PARTICIPAÇÃO FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO 1

Aula 26 - TP002 - Economia 31 /05/2010 Capítulo 32 MANKIW (2007) continuação...

Resumo Aula-tema 06: O Setor Externo da Economia Brasileira

Considerações sobre a Lei da Partilha. Adriano Pires Junho de 2015

BANGLADESH INTERCÂMBIO COMERCIAL DO AGRONEGÓCIO --- BANGLADESH --- Brasil: Bangladesh:

Perspectivas Econômicas. Pesquisa Macroeconômica Itaú Unibanco

Geografia População (Parte 2)

NOVO CONTRATO FUTURO DE AÇÚCAR TOMA FORMA NA EUROPA

GLOBEX UTILIDADES S.A. CNPJ n o / NIRE:

Ao crescer 6,9% em 2015, economia chinesa manteve a tendência de gradual desaceleração, com forte ajuste da indústria e do setor de construção

LEIS DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS. Metas e Projeções Fiscais para Governo Central ( art. 4º, 1º da Lei Complementar nº 101, de 2000)

Tendências recentes da atividade econômica em Araxá: empresas, trabalho formal

Cacau Amêndoa Período: Fevereiro de 2015

LISTA 6A GABARITO ANOTAÇÕES

Rumo a um Novo Ciclo de Desenvolvimento

Juros recuam diante de dados fracos no Brasil e fala de Janet Yellen nos EUA;

Administração AULA- 8. Macro Economia - Políticas. Prof. Isnard Martins. Bibliografia:

CONTROLE DE GASTOS PÚBLICOS RESULTA EM MENOR TAXA DE JUROS

EXODUS Institucional -Junho/15

A INVESTIGAÇÃO SOBRE OCORRÊNCIAS E AS CAUSAS DA CORRELAÇÃO ENTRE O RISCO PAÍS E O RISCO CAMBIAL

Teoria da Paridade da Taxa de Juros

Contas Financeiras CEMEC Informativo Poupança Financeira São Paulo Julho/2014

PESQUISA DE ENDIVIDAMENTO E INADIMPLÊNCIA DO CONSUMIDOR - PEIC

ANÁLISE DE BALANÇOS DOS CLUBES DE FUTEBOL DA 1ª DIVISÃO DO CAMPEONATO BRASILEIRO - RESULTADOS DE 2004 E 2003

Programação monetária para o terceiro trimestre de 1997

Macroeconomia da Economia Aberta. Antony Mueller UFS Dezembro 2011

BOLETIM DO EMPREGO DE PANAMBI 1 Ano 2- N 5 Maio de 2015

Fluxo Circular da Renda. Fluxo Circular da Renda. Aula 2: Agregados Macroeconômicos

LISTA 6A GABARITO ANOTAÇÕES

Transcrição:

Conta Financeira é Responsável por 96,6% da Entrada de Dólares em 7 Valorização Cambial não está relacionada ao setor real da economia Diante da superoferta de dólares com a qual convive a economia brasileira, a cotação do dólar perdeu o piso, dizem os operadores de mercado nos últimos meses. Polarizados entre a euforia da Bolsa e o lamentar dos produtores, muitos acreditavam ou queriam acreditar que o fenômeno demoraria a repercutir no lado real da economia brasileira. De fato, ainda é cedo para afirmar, mas o crescimento das importações, em agosto, em ritmo quase três vezes superior ao das exportações brasileiras, é um presságio de transformações importantes na economia brasileira. No mês de agosto de 7 em relação ao mesmo mês em 6, as vendas externas brasileiras expandiram-se 1,2% contra um aumento de 27,5% das importações. Alegase, dentre outros fatores, que os atrasos no embarque da soja e os problemas no refino de petróleo foram umas das causas para a queda no ritmo das exportações de 15,8%, Saldo Acumulado do Balanço de Pagamentos Brasileiro no acumulado do ano, para 1,2%, em agosto. Do lado das importações, por sua vez, seriam a aceleração dos investimentos e o aquecimento da demanda interna no Natal os principais motivos da aceleração das compras externas. Mas, colocada a questão sob a ótica setorial, o resultado da balança comercial de agosto ganha um aspecto mais circunstancial do que estrutural, escondendo os problemas de competitividade nas exportações causados pela apreciação cambial e pela superoferta de dólares. Em apenas 18 meses, somando o primeiro semestre de 7 e todo o ano de 6, entrou no Brasil um valor superior a todo o período correspondente entre 1973 e 5, ou 396 meses. Em 33 anos, o Brasil teve saldo equivalente à US$ 92,17 bilhões, contra US$ 92,18 bilhões somente nos 18 meses analisados. 1 396 Meses 18 Meses 9 92,17 92,18 8 7 6 Meses 6 5 4 61,61 3 1 1973 / 5 6 / 7 7* 1

Diante do influxo de dólares sem precedentes no País (US$ 61,6 bilhões só no primeiro semestre de 7), muitos economistas têm se posicionado de maneira favorável ao aumento das importações. Alegam que a diminuição do saldo seria positiva para elevar a taxa de câmbio, o que por sua vez aumentaria a renda do setor exportador. Pressupõe-se, nesse argumento, que o superávit da balança comercial exerce o papel de protagonista na determinação da taxa de câmbio atual o que em 7 corresponde a um diagnóstico imperfeito. Além da balança comercial, o resultado do Balanço de Pagamentos (BP) é composto por diversas outras contas. Grosso modo, as três principais contas do BP são as transações correntes, a conta financeira e a conta de capital. As transações correntes são compostas pela balança comercial e pela balança de serviços (ex: aluguéis, fretes, seguros, renda de investimentos e serviço da dívida). Por essa característica, comumente se diz que seu resultado está ligado ao lado real da economia, ao contrário da conta financeira, que tem características mais monetárias. A conta financeira registra os fluxos decorrentes de transações entre ativos e passivos financeiros entre residentes e nãoresidentes. Incluem-se nessa conta o Investimento Estrangeiro Direto, os investimentos em carteira, os derivativos e outros investimentos, que serão explicados mais adiante. Por último, a conta de capital registras as transferências unilaterais de capital de migrantes ou cessão de patentes e marcas. No primeiro semestre de 7, o resultado das transações correntes apresentou um superávit de modestos US$ 4,4 bilhões, sugerindo que o saldo comercial, embora significativo, seria suficiente apenas para pagar os serviços internacionais e os juros da dívida brasileira. A situação muda completamente de figura quando se considera a conta financeira e de capitais, que nos primeiros seis meses de 7 apresentaram nada menos do que US$ 59,8 bilhões de superávit. Contas do Balanço de Pagamentos (exceto erros e omissões) 1995-7* 8 6 4 34, 29,7 17,3 13,9 16, 13,6 1995 1996 1997 1998 1999 1 2 3 4 5 6 7-9,5 27,1 Conta Financeira ultrapassa as Transações Correntes em saldo 59,8 4,4 - -18,4-23,2-4 -33,4 * Primeiro semestre de 7 Transações Correntes Conta Financeira e de Capitais 2

Em outras palavras, o superávit das transações correntes, que está mais relacionado ao comportamento do lado real do que financeiro da economia, representou apenas 7,1% da oferta de dólares no Brasil em 7, sendo despropositado imputar-lhe a responsabilidade pela valorização do câmbio. Além disso, o aumento das importações e a conseqüente diminuição do saldo comercial pouco resolveria a superoferta de dólares, que está mais relacionada à arbitragem entre taxas de juros e na captação recorde de investimento estrangeiro direto do que no superávit comercial. De fato, o argumento a favor do aumento das importações para conter a valorização do Real frente ao dólar foi verdadeiro entre 3 e meados de 6. Em 3, o saldo do balanço de pagamentos foi de US$ 8,5 bilhões, dos quais US$ 4,2 bilhões advindos das transações correntes. No ano seguinte, o saldo das transações correntes aumentou 178,6%, alcançando US$ 11,7 bilhões, muito superior ao saldo no balanço de pagamentos que foi de US$ 2,2 bilhões. Devido ao déficit na conta financeira, em 5 tem lugar um novo recorde no balanço de pagamentos e o valor é, novamente, superior ao saldo do balanço de pagamentos: US$ 14, bilhões contra apenas US$ 4,3 bilhões. A partir de 6, no entanto, a importância das transações correntes na oferta de dólares foi relativizada. O saldo atingiu US$ 13,6 bilhões, porém, esse montante representou apenas 44,1% do saldo do balanço de pagamentos (US$ 3,6 bilhões). Em 7, este impacto se mostrou ainda mais agudo, foram apenas US$ 4,4 bilhões das transações, de um total de US$ 61,6 bilhões do balanço de pagamentos. Como ilustrado no gráfico anterior, por volta do último semestre de 6 a conta financeira inicia uma rápida ascensão, saindo de US$ 9,5 bilhões negativos e saltando para incríveis US$ 59,8 bilhões até meados de 7. 7 6 5 Conta Financeira Detalhada (3-7*) 59,5* 11, 4 3 1-1 - 24,2 15,1* 4,6* -1,1* 14,6 4,8 5,2-7,9* 24,3 12,5 9,9 8,3 1, -5,4 3 4 5 6 7-1,4-9,4-1,8-27,5-3 -4 * Primeiro semestre de 7 * Saldo Total Outros investimentos Investimentos em carteira e Derivativos Investimento direto 3

A partir de meados de 6, o crescimento explosivo da conta financeira e de capitais teve grande influência na valorização do Real, reforçando a pressão para que a cotação se estabilizasse em um patamar inferior a dois reais por dólar. As transações correntes, pelo maior crescimento das importações e conseqüente redução do saldo, tiveram, em 7, uma participação imensamente inferior à conta financeira, respondendo apenas por 7,1% dos dólares entrados em 7, ou US$ 4,4 bilhões. Isso posto, cabe averiguar a responsabilidade de cada conta do balanço de pagamentos para a valorização do Real. Ao se avaliar a conta financeira buscando entender o inédito saldo, nota-se que esta apresentou crescimento geral de seus itens. O investimento Estrangeiro Direto saiu de US$ 8,3 bilhões, em 4, para US$ 24,3 bilhões só no primeiro semestre de 7 um salto de 191,5%. Os investimentos em carteira também atingiram patamar inédito, de US$ 24,2 bilhões no primeiro semestre de 7, contra US$ 1 bilhões de 6. Dentre os investimentos em carteira, destacam-se os investimentos em renda fixa (títulos públicos e privados), que no primeiro semestre de 7 foi responsável por 7,8% dos ingressos, contra 29,2% dos investimentos em renda variável (ações, em geral). Ou seja, os investimentos em carteira, de US$ 24,2 bilhões, se explicam mais pelas altas taxas de juros vigentes no mercado brasileiro do que pelo bom desempenho da Bolsa, sugerindo que a queda da SELIC pode, sim, impedir a apreciação cambial. Nitidamente, a melhora de todos esses itens foi responsável pelo expressivo saldo na conta financeira. Contudo, cabe mencionar o comportamento positivo do item outros investimentos, que está compreendido na conta financeira. Eles apresentavam sucessivos e crescentes déficits até o ano de 6, a partir do qual passaram a registrar um superávit expressivo. No ano de 5, os outros investimentos fecharam com saldo de US$ 27,5 bilhões negativos e, nos últimos 18 meses, o saldo total deste item já soma US$ 25,6 bilhões. Outros Investimentos Total e FMI (3-7*) 15 14,6 1 11, 5 4,8-5 -1,, 3 4 5 6 7-4,4-1,4-1,8-15 - -25-3 * Primeiro semestre de 7-23,3-27,5 Total Outros Investimentos (líquido) FMI 4

A conta outros investimentos é composta por um número extenso de sub-itens, dentre os quais destacam-se os créditos comerciais e os empréstimos com organismos e agências internacionais, entre outros. Entretanto, o mais relevante dentre todos é o de empréstimos de longo e curto prazos vinculados ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A necessidade de saldar a dívida foi responsável, até 6, por grande parcela de envio de dólares ao exterior. A partir de então, a dívida com o Fundo foi eliminada e os demais itens da conta outros investimentos a tornaram superavitária. O próximo gráfico mostra a evolução dos outros investimentos e a evolução do FMI dentro desta conta. É possível visualizar uma tendência similar entre ambas, evidenciando a relevância que esta conta tinha para o Brasil até 6. Posteriormente às amortizações junto ao FMI, a conta outros investimentos saiu de um déficit de US$ 27,5 bilhões, dos quais US$ 23,3 bilhões referiam-se ao Fundo (ou 84,7% do déficit), para um superávit em 6 de US$ 14,6 bilhões. Até junho de 7, esse número alcançou US$ 11, bilhões. Deste modo, os dados sustentam que a conta financeira constitui o principal fator da valorização cambial desde meados de 6. Primeiro, porque o saldo comercial, a partir de maio de 7, vem apresentado ligeira queda com o aumento das importações a um ritmo superior às exportações. Segundo, com a melhora do risco-país e a continuidade dos altos juros praticados pelo Banco Central a atração de capitais se tornou mais intensa e, em contrapartida, não mais se observa grande fluxo de saída de capitais, visto que a responsável central por esta saída, a amortização com o FMI, inexiste desde 6. Reservas Internacionais e Taxa de Câmbio (3-7*) 16 14 3,53 4, 147,1 3,5 3,13 1 1 8 6 2,89 2,67 64,3 11,1 1,93 3, 2,5 2, 1,5 R$ 49,3 4 38,8 1,,5, jan/3 mar/3 mai/3 jul/3 set/3 nov/3 jan/4 mar/4 mai/4 jul/4 set/4 nov/4 jan/5 mar/5 mai/5 jul/5 set/5 nov/5 jan/6 mar/6 mai/6 jul/6 set/6 nov/6 jan/7 mar/7 mai/7 * Primeiro semestre de 7 Reservas Câmbio 5

Diante da melhora generalizada das contas do balanço de pagamentos brasileiro, as reservas internacionais brasileiras tiveram um salto inédito. Em 5, elas somavam US$ 53,2 bilhões, ao passo que, em junho de 7, esse número havia crescido para US$ 147,1 bilhões, incremento de 176,5%. Em outubro, atingiram US$ 162,1 bilhões. Com mais dólares na economia, o resultado foi uma grande apreciação do Real frente à moeda norte-americana. Em maio de 4, o valor médio do dólar norte-americano foi de R$ 2,3, ao passo que, no mesmo mês em 7, o valor caiu para 1,93, ou 16,1% menor. Hoje a cotação oscila na casa dos R$ 1,8, mas o mercado já projeta R$ 1,7 para os próximos meses. A cotação do dólar perdeu o piso, é verdade. Mas não por conta da balança comercial e de uma suposta doença holandesa que acometeria a economia brasileira, mas devido um fluxo de capitais vigoroso, atraído pelos juros elevados e pelas oportunidades de arbitragem existentes no mercado brasileiro. 6

Conclusões As importações vêm crescendo a uma taxa quase três vezes superior às exportações brasileiras, segundo dados de agosto de 7. Esse resultado é um forte indicativo de que a desvalorização do dólar terá reflexos mais rápidos do que se esperava na balança comercial brasileira. A valorização do câmbio esteve relacionada a uma superoferta de dólares nos últimos 18 meses. Nesse período, entrou no Brasil um valor superior a todo o período correspondente entre 1973 e 5, ou 384 meses. Em 32 anos, o Brasil teve saldo equivalente à US$ 92,17 bilhões, contra US$ 92,18 bilhões, somente nos 18 meses analisados. Em 7, diante dos resultados da conta financeira e de capitais, perdeu força a tese segundo a qual o aumento das importações seria capaz de conter a valorização do Real. Isso porque as transações correntes foram responsáveis por apenas 7,1% da oferta de dólares no primeiro semestre de 7. O investimento estrangeiro direto trouxe, no primeiro semestre de 7, cerca de US$ 24,3 bilhões. Por sua vez, os investimentos em carteira, que estão relacionados diretamente à política de juros altos, foram responsáveis por US$ 24,2 bilhões. Juntos, totalizam 48,5 bilhões. 7