Fortaleza (CE) - Vandalismo esconde a beleza e história das Iracemas da Capital Atos de vandalismo têm prejudicado obras históricas, escondendo a importância de parte do patrimônio da Capital. Na Messejana, a estátua da virgem dos lábios de mel, que orna a lagoa do bairro, passou por pintura em janeiro, mas as placas informativas sobre a índia e sua história, estão pichadas e ilegíveis, também devido ao sol. Quem leu as obras ou conhece um pouco da história do escritor José de Alencar, sabe que o seu personagem mais conhecido é a índia Iracema, a virgem dos lábios de mel. Todo o enredo da história se passa no Ceará e, em sua homenagem, cinco estátuas foram erguidas em Fortaleza. Porém, apesar de intervenções do poder público, atos de vandalismo continuam depredando essas obras artísticas que ressaltam o valor cultural da Capital. O problema da pichação, por exemplo, não é uma situação recente na cidade de Fortaleza. As pinturas irregulares se estendem por prédios, muros, casas e, sobretudo, monumentos históricos. Localizada na Praia de Iracema, a obra Iracema Guardiã, no ano passado, passou dois meses ausente do local após ser danificada por atos de vandalismo. Só em julho voltou ao lugar, depois de passar por um processo de restauração. Entretanto, quem passa agora pelo monumento, hoje, vê novas
pichações. O acontecimento recente trouxe à tona um problema antigo, porém comum em Fortaleza: a depreciação dos monumentos históricos da cidade. Por mais que o poder público restaure, pouco tempo depois a maioria das estruturas estão novamente depredadas. De acordo com dados da Central Única das Favelas (Cufa), em pesquisa realizada em 2010, existe na Região Metropolitana de Fortaleza cerca de 18 mil pichadores. A maioria deles são jovens de baixa renda, geralmente envolvidos com drogas e responsáveis por pequenos delitos, a exemplo das depredação de monumentos históricos. Histórica A pichação, porém, é considera crime ambiental. A detenção para quem for pego em flagrante varia de três meses a um ano, podendo ser aplicada também uma multa, dependendo da gravidade. Caso o delito seja em estruturas de valor artístico, histórico ou arqueológico, a pena varia de seis meses e um ano. Arte urbana Conforme Juliana Almeida Chagas, graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e artista urbana, a pichação é uma cultura majoritariamente urbana que promove destaque ao jovem que se sente invisível na vida social.
Já na Av. Beira-Mar, a estátua passou por reparo recente, já que a imagem de Martim Soares Moreno estava danificada. Essa prática para os jovens, conforme diz Juliana, é uma forma de obter destaque e de sair da invisibilidade. Ela considera o problema da pichação algo difícil de ser solucionado, pois, embora saibam que a atividade é ilegal, os responsáveis estão dispostos a arriscar suas vidas para atingir status dentro do grupo. Na sua opinião, é preciso investimento em políticas sociais, que mostrem novos caminhos aos jovens envolvidos com pichação, a exemplo do grafite. O grafite tem maior aceitação na sociedade porque trabalha uma linguagem por meio de desenhos e frases coloridas destacam a paisagem urbana, tão carente de cores e de áreas verdes, explica. O grafite também, na visão da artista, é positivo porque pensa a cidade em sua coletividade, permitindo, por meio da arte, uma discussão sobre o que é a cidade, o que ela significa para seus moradores e o que é ser cidadão. A assessoria de imprensa da Secretaria Executiva Regional (SER II) esclarece que o último reparo da Iracema Guardiã foi executado em outubro de 2012 e não há previsão para nova ação. Informa, ainda, que o projeto de requalificação da Beira-Mar contempla obras no entorno das duas estátuas. Sobre as placas das muretas da Lagoa de Messejana, a
reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Regional VI, mas não obteve resposta. Fique por dentro Turismo social pode ser a saída para o zelo Por enquanto, não há nenhum projeto da Prefeitura ou Estado que contemple essas esculturas ou mesmo exalte a memória da Iracema de José de Alencar. A iniciativa animaria a fortalezenses como o professor Fernando Freitas, que acredita na importância dessas obras históricas para alavancar o turismo. Para tentar reverter esse cenário, a ONG Caminhos de Iracema elaborou um projeto que iria envolver os idosos atendidos pelos Cras e os pacientes dos Caps. Eles produziriam artesanato, com temas ligados à índia Iracema para vender em casas ao lado das estátuas. A Secretaria do Turismo de Fortaleza promete avaliar a proposta, comemora o coordenador da ONG, Gérson Linhares. Quando a arte transforma vidas O primeiro contato com o grafite foi de encantamento, de surpresa. Para o estudante Lucas Costa de Alencar, 16, um novo mundo se abriu quando ele conheceu as técnicas da grafitagem. O menino, que antes pichava os muros do bairro Santa Maria, hoje, faz parte de projeto na Igreja Batista Central de Fortaleza, Ecografiti.
Projeto da Igreja Batista visa sensibilizar adolescentes para a arte urbana e, assim, expressar o que pensam por meio das tintas. Foto: Kid Júnior O objetivo da ação é sensibilizar adolescentes maioria não integrante da Igreja e morador do entorno do Ancuri para a arte urbana, dialogando com a juventude para passar, através do colorido das tintas, mensagens de conscientização ambiental, principalmente. Cerca de 40 meninos já começaram, desde setembro, capacitações, e hoje se preparam para finalizar um grande painel nos muros da IBC. Para a coordenadora da ação, a assistente social Deive Ulhôa, o projeto tem muitos adeptos, está mudado a realidade do bairro. Nesse diálogo com a comunidade, a gente foi vendo as vulnerabilidades em que eles vivem e conseguido trabalhar a pauta da conscientização. Através da arte, os jovens podem mostrar sua mensagem, indignações, apontar para uma mudança no seu bairro, afirma a assistente. E Lucas já sabe bem o que vai estampar nos muros. Quer um desenho bonito que fala de paz e cuidado com a natureza, disse, enquanto rabiscava, ontem de manhã, uma flor no papel, já treinando para o traço futuro na parede. Eu até já pichei muro um dia, fiz coisa errada. Mas quem nunca fez na vida?
Agora mudei, gosto de fazer desenho bonito, fico feliz quando dizem que agora sou artista, comenta. Tamanha foi a paixão pela grafitagem que o menino até rabiscou as paredes da sua casa. Essa arte empolga muito, deixa a gente mais feliz, procurando um rumo certo na vida, afirma Lucas. Para o professor e também grafiteiro Bulan, o momento é de conquista, de chamar esses garotos para conhecerem um novo mundo que se abre agora. Esses jovens da periferia muitas vezes não tem acesso algum à cultura e arte. O grafite é uma chance de conta com isso e de, através da educação, promover novos valores, tirar do crime, das drogas e apostar no futuro. Nesses mais de seis meses de projetos, essa turma de 40 meninos já fez arte em vários pontos da região, pintaram muros de escolas e também da Igreja. Fonte original da notícia