AVALIAÇÃO DA UTILIDADE DO 99m Tc(V)DMSA NA DETECÇÃO DE METÁSTASES ÓSSEAS



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE TECNOLOGIA E GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE ENERGIA NUCLEAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS ENERGÉTICAS E NUCLEARES AVALIAÇÃO DA UTILIDADE DO Tc(V)DMSA NA DETECÇÃO DE METÁSTASES ÓSSEAS MARÍLIA BEZERRA LIBÓRIO CORREIA RECIFE PERNAMBUCO - BRASIL SETEMBRO 2007

AVALIAÇÃO DA UTILIDADE DO P PTc(V)DMSA NA DETECÇÃO DE METÁSTASES ÓSSEAS

MARÍLIA BEZERRA LIBÓRIO CORREIA AVALIAÇÃO DA UTILIDADE DO P METÁSTASES ÓSSEAS PTc(V)DMSA NA DETECÇÃO DE Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares, do Departamento de Energia Nuclear, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito para obtenção do título de mestre. Área de concentração: Aplicação de radioisótopos. ORIENTADORA: MARIA TERESA JANSEM DE A. CATANHO CO-ORIENTADORA: FABIANA FARIAS DE L. GUIMARÃES RECIFE PERNAMBUCO - BRASIL SETEMBRO 2007

C824a Correia, Marilia Bezerra Libório. Avaliação da utilidade do Tc (V) DMSA na detecção de metástase ósseas / Marilia Bezerra Libório Correia. - Recife: O Autor, 2007. 92 folhas, il : figs., tabs. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Energéticas e Nucleares, 2007. Inclui bibliografia, Apêndice e Anexos. 1. Energia Nuclear. 2. Metástase Óssea. 3.Radiodiagnóstico. 4.Radiofarmácia I. Título. UFPE 621.4837 CDD (22. ed.) BCTG/2008-003

À minha família, em especial, à minha querida avó Neide in memoriam

AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer, antes de qualquer coisa, a Deus, Senhor da minha vida, que me propiciou todas as oportunidades e me deu discernimento para realizar as escolhas certas. Agradeço a minha família, presente de Deus, sempre um porto seguro, pelo amor, incentivo e apoio dedicados. Além de minha família, não poderia deixar de agradecer todas as pessoas que colaboraram com a minha formação moral e intelectual. A professora Teresa, que me acolheu desde a iniciação científica e cumpriu com mais do que a palavra orientadora sugere, sendo uma verdadeira mãe. A Fabiana, a quem dedico grande amizade, por ter aceitado me orientar, por todo embasamento científico-intelectual desse trabalho e por ter dado cada passo junto a mim em seu desenvolvimento. A todos os meus colegas da biofísica, em especial Simey e Jailson. A meus colegas do PROTEN, do CRCN, do curso de farmácia e dos tempos de escola técnica; não poderia enumerar-lhes os nomes, mas fazem parte de minha vida. Quero agradecer àquelas pessoas que contribuíram tecnicamente com esse trabalho e acabaram por tornarem-se novas amizades. A Denise, que tanto me ajudou com a prática da radiofarmácia, e a Wellingta, pela preciosa colaboração com o manejo dos camundongos. A professora Helen pelos conhecimentos quanto à instrumentação e as nuances de medições nucleares. A Alexandra e Paulo, médicos que foram fundamentais na crítica análise dos resultados. A todos os funcionários do Serviço de Medicina Nuclear do HC-UFPE, em especial a Clara e Jobson, que muito me ensinaram. Desejo, ainda, agradecer de forma especial aos pacientes voluntários, que além de sua disponibilidade e confiança depositada no trabalho, partilharam comigo parte de sua história, colaborando não só com o desenvolvimento científico, mas acima de tudo, com o desenvolvimento humano. Agradeço, também, às instituições que contribuíram com o desenvolvimento desse trabalho. Ao PROTEN, sempre acessível e disponibilizando os meios necessários, ao CRCN, pelo apoio financeiro e estrutural e ao IPEN, na pessoa de Jorge, pela doação dos kits de radiofármacos. A todos esses, meu muito obrigada pela disponibilidade, amizade, esforços e conhecimentos compartilhados.

AVALIAÇÃO DA UTILIDADE DO Tc(V)DMSA NA DETECÇÃO DE METÁSTASES ÓSSEAS Autora: Marília Bezerra Libório Correia Orientadora: Maria Teresa Jansem de Almeida Catanho Co-orientadora: Fabiana Farias de Lima Guimarães RESUMO As metástases ósseas são uma grande causa de morbidade e mortalidade nos pacientes com câncer, podendo acarretar em dores, hipercalcemia, fraturas patológicas e deficiências neurológicas. A cintilografia óssea, empregada na detecção dessas metástases, é um método sensível à alterações no metabolismo ósseo, no entanto, como as lesões benignas também captam os fármacos Tcdifosfonatos, sua especificidade torna-se baixa tendo sido propostas novas alternativas para orientar um diagnóstico mais específico. Radiofármacos marcados com Tc para diagnóstico de tumores são limitados quanto a seus propósitos, mas muitos estudos tem se dirigido ao Tc(V)DMSA, que é um radiofármaco com afinidade tumoral cuja captação é descrita em metástases ósseas e tumores de tecidos moles. Seu mecanismo de acumulação tem sido investigado para elucidar o comportamento biológico e aplicabilidade clínica, no entanto o Tc(V)DMSA ainda não é produzido no Brasil como um kit liofilizado. O objetivo deste trabalho foi obter o Tc(V)DMSA a partir de um kit liofilizado nacional de DMSA e avaliar sua utilidade na detecção de metástases ósseas em humanos mediante imagem cintilográfica, com emprego prévio em modelo animal. O Tc(V)DMSA foi preparado a partir de kits comercialmente viáveis de DMSA (IPEN), pela redução do ph, o Tc-DMSA e o Tc-MDP foram preparados segundo as instruções do fabricante. A qualidade dos fármacos foi analisada por testes de ph, pureza radionuclídica e radioquímica. Os ensaios de biodistribuição foram realizados em camundongos: os grupos controle receberam Tc-DMSA (veia da cauda), enquanto os grupos experimentais receberam Tc(V)DMSA, após 30min ou 1h, os animais foram sacrificados e a atividade específica dos órgãos determinada. Na experimentação humana, dez pacientes com neoplasias malignas comprovadas histologicamente se submeteram à aquisição de imagens de corpo inteiro 3h após a administração de Tc-MDP (exame de rotina) assim como 3h e 24h após a administração de Tc(V)DMSA, foram analisados ainda outros exames de imagem (TC, RMN, Rx). Os resultados do controle de qualidade indicaram que o Tc(V)DMSA apresentou marcação e estabilidade adequadas para o uso clínico. A biodistribuição revelou uma redução na razão rim/osso de 16,30 ± 2,24 (III-DMSA) para 0,77 ± 0,24 (V-DMSA), estando os percentuais de captação/g de acordo com a literatura. Na experimentação humana, as imagens de Tc(V)DMSA foram concordantes com as de Tc-MDP em 80% dos casos. O Tc(V)DMSA não foi captado em lesões provocadas por trauma e houve um caso de falso negativo. Os resultados deste estudo sugerem que o Tc(V)DMSA poderia ser útil da diferenciação entre lesões traumáticas e metastáticas, devendo a captação do Tc(V)DMSA ser observada quanto às implicações prognósticas. Palavras chave: Tc(V)DMSA, metástase óssea, radiodiagnóstico, radiofarmácia.

EVALUATION OF Tc(V)DMSA UTILITY IN THE BONE METASTASIS DIAGNOSIS Author: Marília Bezerra Libório Correia Adviser: Maria Teresa Jansem de Almeida Catanho Co-adviser: Fabiana Farias de Lima Guimarães SUMMARY Bone metastasis are cause of morbidity and mortality in oncological patients, that often develop debilitating pain, hypercalcemia, pathologic fractures and neurologic deficits. The bone scintigraphy is a sensitive diagnostic method to detect this metastasis, however, because benign bone lesions also accumulates Tcdiphosphonates, its specificity is quite low, thus alternatives has been purposes to become the diagnosis more specific. The Tc(V)DMSA is a tumor-seeking agent which has been reported in bone metastasis and other tumor scintigraphies. Its bone affinity and tumor uptake have been evaluated to elucidate its accumulation mechanism and medical application, but in Brazil the Tc(V)DMSA isn t manufactured as a lyophilized kit yet. The aim of this study was to obtain the Tc(V)DMSA from a national DMSA kit and to evaluate its utility in bone metastasis diagnosis by scintighaphy, with previous animal experimentation. DMSA kits (produced by IPEN) were used to prepare Tc(V)DMSA by ph reduction, both (III) DMSA and MDP were prepared according to manufacturer instructions. The radiopharmaceuticals quality control was carried out through ph, radionuclidic and radiochemical tests. The biodistribution assays were made mice: for every assay, the control group (n=5) received Tc-DMSA and the experimental group (n=5) received Tc(V)DMSA, both of them by tail vein. After 30 or 1h, the animals were sacrificed, the organs excised and the specific activity measured by gamma counting. In the human study, ten patients with malignant diseases proved by histology, in initial staging as well in treatment control, were submitted to both Tc-MDP and Tc(V)DMSA scintigraphy. The Tc(V)DMSA whole-body scans, obtained 3h and 24h after radiopharmaceutical injection, were compared to conventional 3h Tc- MDP scans and compared to another image exams (CT, MRI, Rx). The quality control results showed that the Tc(V)DMSA had stability and percent labeling suitable for clinical use. In the biodistribution assay, there was a decrease in kidney/bone activity ratio from 16.30 ± 2.24 (III-DMSA) to 0.77 ± 0.24 (V-DMSA), being the organ percent uptake/g compatible with literature data. In the human study, in 80% of cases the Tc(V)DMSA scan was comparable to Tc-MDP scan. The Tc(V)DMSA was not uptaken in trauma lesions and there was one false negative case related to Tc-MDP uptake. The results of the present study indicate that the 3h and 24h Tc(V)DMSA scans might be of utility in differentiating between trauma and metastatic lesions. Moreover, the level of Tc(V)DMSA uptake should be observed as far as the prognostic implications are concerned. Key words: Tc(V)DMSA, bone metastase, radiodiagnosis, radiopharmacy

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Posição do tecnécio na tabela periódica... 23 Figura 2: Série de decaimento do 99 Mo.... 24 Figura 3: (a) Esquema do gerador 99 Mo - Tc; (b) curva de formação do Tc no gerador... 25 Figura 4: Esquema de gama câmara e processamento de imagem... 30 Figura 5: Estruturas dos fármacos baseados em fosfatos... 34 Figura 6: (a) molécula de DMSA; (b) molécula de Tc(v)-DMSA... 38 Figura 7: Esquema cromatográfico (TLC) do controle radioquímico..... 43 Figura 8: Camundongos albinos Mus musculus... 43 Figura 9: Sistema contador gama do LMRI.... 45 Figura 10: Representações gráficas dos espectros de energia de 241 Am, 57 Co, Tc e 137 Cs..... 45 Figura 11: Curva de calibração..... 46 Figura 12: Representação gráfica da janela de leitura.... 47 Figura 13: Gama câmara STARCAM 3200... 49 Figura 14: diagrama em espinha de peixe das incertezas na eficiência..... 50 Figura 15: Diagrama em espinha de peixe da incerteza na atividade específica.... 51 Figura 16: (A) Cromatogramas de Tc-DMSA nos sistemas acetona e salina em 2, 4, e 6 horas após a marcação; (B) Rf das espécies químicas no Tc-DMSA para os respectivos sistemas.... 54 Figura 17: (A) Cromatogramas de Tc(v)-DMSA nos sistemas acetona e n- BuOH:AcOH:H 2 O (3:2:3) em 2, 4, e 6 horas após a marcação; (B) Rf das espécies químicas no Tc(v)-DMSA para os respectivos sistemas.... 55 Figura 18: Perfis cromatográficos do DMSA e (V)DMSA no sistema n:buoh:acoh:h 2 O (3:2:3).... 56 Figura 19: Perfil do MDP eluído em salina e acetona..... 57 Figura 20: Gráfico comparativo da captação em animais de idades diferentes..... 62 Figura 21: (A) cintilografia anterior e posterior com MDP; (B) cintilografia anterior e posterior com (V)DMSA em 3h.... 64 Figura 22: Cintilografia com (V)DMSA obtidas em 3h (A) e 24h (B)..... 66

Figura 23: TC de tórax da paciente 2..... 66 Figura 24: Cintilografia da paciente 3 com MDP (A) e (V)DMSA (B)..... 68 Figura 25: Cintilografia do paciente 4 com MDP (A) e (V)DMSA em 3h (B) e 24h (C).... 69 Figura 26: Exames complementares do paciente 4..... 69 Figura 27: Cintilografia do paciente 5 com MDP (A) e (V)DMSA em 3h (B) e 24h (C).... 71 Figura 28: Cintilografia da paciente 6 com MDP(A) e (V)DMSA (B)..... 73 Figura 29: TC de tórax e abdômen da paciente 6.... 74

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Dosimetria para scans ósseos... 35 Tabela 2: Sistemas de eluição e Rf para Tc-DMSA, Tc(V)-DMSA e Tc- MDP... 42 Tabela 3: Determinação das janelas de leitura para 57 Co e Tc... 46 Tabela 4: Variações na eficiência do sistema detector... 47 Tabela 5: Resultados de pureza radionuclídica... 52 Tabela 6: Especificações de qualidade para radiofármacos estabelecidos pelas farmacopéias americana (USP-XXIII) e européia (EP)... 53 Tabela 7: Biodistribuição de Tc-DMSA e Tc(V)-DMSA em 30 min e 1h... 59 Tabela 8: Comparação de dados da literatura quanto ao % captação/g de tecido em relação à atividade administrada... 61 Tabela 9: Quadro clínico dos pacientes em estudo... 63

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS (V)DMSA ácido dimercaptossuccínico marcado com tecnécio pentavalente 14 CDG desoxiglicose marcada com carbono-14 18 FDG desoxiglicose marcada com flúor-18 Tc(V)DMSA Tc-DMSA Tc-MDP AcOH Bq Ci cpm cps DEN DMSA F.BRAS.IV FAK H 2 O HC IPEN LMRI MDP MEK NaCl NaHCO 3 NaOH Na 4 P 2 O 7.10H 2 O n-buoh OR/S ácido dimercaptossuccínico marcado com tecnécio pentavalente ácido dimercaptossuccínico marcado com tecnécio trivalente metileno difosfonato marcado com tecnécio ácido acético bequerel Curie contagens por minuto contagens por segundo Departamento de Energia Nuclear ácido dimercaptossuccnínico Farmacopéia Brasileira quarta edição quinase de adesão focal (focal-adhesion kinase) água Hospital das Clínicas Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares Laboratório de Metrologia das Radiações Ionizantes metileno difosfonato metiletilcetona cloreto de sódio bicarbonato de sódio hidróxido de sódio pirofosfato de sódio decahidratado butanol normal razão entre a atividade captada no órgão e no sangue

P P - PTcOB4PB PET ph R/OS Rf RMN SG SnClB2B.2HB2BO SPECT T6 TC TLC pertecnetato tomografia por emissão de pósitrons potencial hidrogeniônico razão entre atividade captada no rim e no osso fator de retenção ressonância magnética nuclear sílica gel cloreto estanoso dihidratado tomografia computadorizada por emissão de fótons simples sexta vértebra torácica tomografia computadorizada cromatografia de camada delgada (thin layer chromatography)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 17 2 OBJETIVOS... 19 2.1 OBJETIVO GERAL... 19 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 19 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 20 3.1 PRINCÍPIOS DE RADIOFARMÁCIA... 20 3.1.1 Medicina Nuclear e Radiofarmácia... 20 3.1.2 Aplicações e Características dos Radiofármacos... 21 3.1.3 O tecnécio metaestável (P P Tc)... 23 3.1.4 Controle de qualidade de radiofármacos marcados com P P Tc... 26 3.1.4.1 ph... 27 3.1.4.2 Pureza radionuclídica... 27 3.1.4.3 Pureza radioquímica... 28 3.2 CINTILOGRAFIA ÓSSEA... 29 3.2.1 Cintilografia... 29 3.2.2 Metástases e Cintilografia Óssea... 31 3.2.3 Radiofármacos empregados em cintilografias ósseas... 33 3.3 O P 99M TC(V) ÁCIDO DIMERCAPTOSSUCCÍNCO P 99MM TC(V)DMSA... 36 3.3.1 O DMSA marcado com P P Tc... 37 3.3.2 Cintilografias com P P Tc(V)DMSA... 38 4 METODOLOGIA... 40 4.1 PREPARAÇÃO DOS RADIOFÁRMACOS... 40 4.1.1 Preparação do P P Tc-DMSA... 40 4.1.2 Preparação do Tc(V)DMSA... 40 4.1.3 Preparação de Tc-MDP... 41

4.1.4 Controle de qualidade... 41 4.1.4.1 Pureza radionuclídica e determinação de ph... 41 4.1.4.2 Pureza radioquímica... 42 4.2 BIODISTRIBUIÇÃO... 43 4.2.1 Calibração do Sistema de Detecção... 44 4.3 EXPERIMENTAÇÃO HUMANA... 48 4.3.1 Local da Pesquisa... 48 4.3.2 Pacientes... 48 4.3.3 Exames Cintilográficos... 48 4.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA... 49 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 52 5.1 PREPARAÇÃO DOS RADIOFÁRMACOS... 52 5.1.1 Pureza radionuclídica e determinação de ph... 52 5.1.2 Pureza radioquímica... 53 5.2 BIODISTRIBUIÇÃO... 58 5.3 EXPERIMENTAÇÃO HUMANA... 63 6 CONCLUSÕES... 79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 80 APÊNDICES A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...83 B - Ficha de cadastro dos pacientes...84 C - Planilhas para avaliação de Incertezas...85 ANEXOS A - Parecer do Comitê de Ética Animal...91 B - Parecer do Comitê de Ética Humano...92

15 1 INTRODUÇÃO Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (INCA) o Brasil terá mais de 466 mil novos casos de câncer no ano de 2008, previsão válida também para o ano de 2009 (INCA, 2007). Estima-se que 30% dos pacientes desenvolverão metástases no esqueleto. Em muitos casos, a metástase óssea é o primeiro sinal de disseminação dos cânceres de mama, próstata e pulmão, evoluindo para um quadro clínico que varia de dores intensas, hipercalcemia, fraturas patológicas e deficiências neurológicas, resultando em aumento da morbidade e mortalidade desses pacientes. Conceitos emergentes de biologia celular, relativos à multiplicação e invasividade de células tumorais, reforçam a importância na agressividade e precocidade quanto ao tratamento das metástases. A combinação de avanços terapêuticos e diagnóstico precoce tem aumentado a qualidade de vida e o tempo de sobrevida dos pacientes com doença metastática. Para detecção de metástases ósseas, o método diagnóstico mais empregado é a cintilografia óssea, utilizando como radiofármacos compostos difosfonatos marcados com tecnécio metaestável ( Tc). Essa técnica apresenta excelente sensibilidade para anormalidades no metabolismo ósseo; entretanto, sua especificidade é baixa, o que dificulta a distinção entre processos degenerativos e metastáticos. Inovações técnicas têm sido propostas na tentativa de transpor esse inconveniente. Métodos como o PET e o SPECT-CT mostram eficiência significativa quanto à especificidade; contudo, por razões tanto técnicas quanto econômicas, esses métodos não estão disponíveis para a grande maioria da população. A pesquisa por novos radiofármacos que apresentem maior especificidade, tanto com propósitos diagnósticos quanto terapêuticos, tem sido uma constante na prática da radiofarmácia. Em 1985, a partir dos trabalhos de Yokoyama et al., foi desenvolvido um novo agente para obtenção de imagens tumorais, chamado

16 Tc(V)DMSA (ácido dimercaptossuccínico marcado com tecnécio pentavalente). Atualmente, para o emprego hospitalar, esse radiofármaco pode ser adquirido pronto, como um kit liofilizado, ou preparado a partir de um kit de DMSA trivalente, viável para cintilografia renal. O Brasil, no entanto, ainda não produz o kit de Tc(V)DMSA e sua obtenção a partir do agente renal deve ser avaliada quanto aos componentes da fórmula e condições de marcação. No âmbito clínico, a similaridade entre a captação de P PTc(V)DMSA e P MDP (metileno difosfonato), fármaco padrão em cintilografias ósseas, é alvo de grande interesse. Várias pesquisas têm demonstrado que o P PTc- PTc(V)DMSA é captado com menor intensidade pelo osso normal do que os fármacos baseados em fosfato, fornecendo um contraste maior entre os pontos com e sem distúrbio metabólico (YÜKSEL et al., 2000; SAHIN et al., 2000). Nesse contexto, surge a importância na disponibilização e determinação do valor do P PTc(V)DMSA na prática diagnóstica, uma vez que esse radiofármaco não está incorporado à clínica e reserva aspectos que precisam ser melhor investigados, especialmente diante da possibilidade de uma nova alternativa no estadiamento oncológico que apresente melhor especificidade na captação em tecidos ósseos tumorais.

P 17 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a utilidade do ácido dimercaptossuccínico (DMSA) marcado com PTc(V), preparado a partir de um kit nacional de DMSA trivalente, na detecção de metástases ósseas em humanos mediante imagem cintilográfica, com emprego prévio em modelo animal. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Certificar a técnica de obtenção do DMSA marcado com a forma pentavalente do P PTc, a partir do DMSA(III)P PTc fornecido pelo IPEN, em camundongos Mus musculus, comprovando a alta afinidade do radiofármaco por ossos em estágio imaturo e baixa afinidade pelos rins; Avaliar a qualidade do fármaco obtido pelo processo de marcação através dos testes de ph, pureza radioquímica e pureza radionuclídica. Avaliar o desempenho do P PTc(V)DMSA na detecção de metástases ósseas em humanos através de imagens cintilográficas obtidas em 3 e 24h após administração do fármaco comparado ao P PTc-MDP;

18 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 PRINCÍPIOS DE RADIOFARMÁCIA 3.1.1 Medicina Nuclear e Radiofarmácia A medicina nuclear é a especialidade médica voltada ao uso diagnóstico ou terapêutico de compostos radioativos, os chamados radiofármacos. A riqueza e capacidade diagnóstica dessa técnica residem na diversidade dos radiofármacos disponíveis atualmente (THRALL; ZIESSMAN, 2003). Os procedimentos em medicina nuclear tiveram aplicação desde o início do século XX. Em 1910, Wickman e Degrais referiram-se ao uso de injeções de rádio em lesões cutâneas de lúpus e mais tarde, em 1913, Frederick Proescher publicou sobre a injeção intravenosa de rádio para tratamento de várias doenças (TUBIS; WOLF, 1976) No campo diagnóstico, a aplicação de técnicas traçadoras no estudo em humanos começou na década de 1920 com Herrman Blumgart, quando, pela primeira vez, foram aplicados isótopos radioativos naturais em estudos de circulação sangüínea em humanos. Os isótopos radioativos artificiais foram introduzidos por Lawrence, por volta de 1932. Indicadores Radioativos, clássico de George Hevesy, 1948, trouxe princípios básicos posteriormente incorporados às técnicas de diagnóstico (TUBIS; WOLF, 1976). Finalmente, em 1946, o Instituto Oak Ridge (Tennessee - EUA) começou a produzir radionuclídeos com propósitos médicos. O Conselho Federal de Farmácia, pela resolução 456, define a radiofarmácia como a prática farmacêutica no estudo, preparação, controle e dispensação dos medicamentos radiofármacos, tanto na vertente industrial quanto hospitalar.

19 Fisicamente, a radiofarmácia é o local onde são preparadas, estocadas e dispensadas as drogas radioativas, ou um centro de pesquisa para o desenvolvimento de novos radiofármacos (CFF, 2005). Assim, desenvolvida em paralelo à medicina nuclear, a radiofarmácia inclui conhecimentos de diversas áreas da ciência como química, física, farmácia e biologia. Seu objetivo traduz-se na pesquisa e desenvolvimento, produção, controle, distribuição e manejo de medicamentos radiofármacos, preenchendo os requisitos de segurança e eficácia. 3.1.2 Aplicações e Características dos Radiofármacos O radiofármaco é uma preparação farmacêutica, sem ação farmacológica, que tem na sua composição um radionuclídeo, fonte de radiação, e um fármaco, responsável pela seletividade biológica do composto (OLIVEIRA et al, 2006). Na medicina nuclear, a aplicação dos radiofármacos, como fontes não seladas, tem finalidades terapêuticas e diagnósticas. Os radionuclídeos utilizados podem ser produzidos em reatores ou aceleradores de partículas, ou serem disponibilizados por sistemas geradores de radionuclídeo, isto é, um sistema que acondiciona um nuclídeo pai (de meia vida longa) que, por decaimento radioativo, gera um nuclídeo filho (de meia vida curta) a ser extraído do sistema. No tratamento de tumores, o radiofármaco é empregado para irradiar uma determinada região. Ele pode ser administrado localmente, diretamente no sitio a ser irradiado, ou de forma sistêmica, por via oral ou endovenosa. Quando o objetivo é uma distribuição sistêmica, os radiofármacos devem ter características de absorção seletiva no órgão ou tecido alvo (GENNARO, 1999). O critério de seleção do radionuclídeo, para uso terapêutico, baseia-se em sua meia-vida efetiva e no tipo de emissão. Como se deseja uma irradiação circunscrita, são empregados emissores beta puros para que os efeitos sobre a matéria se façam apenas na vizinhança da fonte (ARANO, 2002). Os isótopos 131 I, 177 Lu, 153 Sm e 89 Sr são exemplos de radionuclideos emissores beta que compõe radiofármacos com aplicação terapêutica.

20 Outra modalidade terapêutica é a radioimunoterapia, na qual anticorpos monoclonais desenvolvidos contra tumores específicos são conjugados com radionuclídeos, permitindo o ataque seletivo ao tumor (GOLDENBERG; SHARKEY, 2006). Apesar do avanço na vertente terapêutica, mais de 95% dos radiofármacos na medicina são usados com propósito diagnóstico. A medicina nuclear obtém imagens, que retratam a fisiologia e a fisiopatologia do sistema em estudo, através da administração do radiofármaco, detectando externamente a radiação emitida que atravessa o corpo do paciente. Nessa situação, o radiofármaco, além de apresentar seletividade por um órgão, deve ter uma curta meia-vida, metabolização e excreção eficientes e uma atividade que permita a detecção no organismo. Segundo Banerjee et al. (2001), no desenvolvimento de um radiofármaco, para o âmbito do diagnóstico, devem ser levadas em consideração algumas características importantes do ponto de vista físico, químico e biológico: Fácil obtenção; Emissão raios gama de energia adequada (100 a 200keV); Curta meia-vida efetiva; Alta razão de atividade do tecido alvo/tecido não alvo; Estabilidade in vivo; Solubilidade; Passível de reações de marcação. Além desses aspectos, os radiofármacos têm de atender a todas as exigências de um medicamento de uso parenteral, tal como ser estéril e apirogênico, ter ph e osmolaridade adequados ao meio fisiológico e ser concebido dentro das boas práticas de fabricação e de manipulação de medicamentos (EANM, 2003). Para fins diagnósticos mantém-se a radiação no nível mais baixo possível. O radionuclídeo pode ser uma fonte de radiação gama, no caso de cintilografias, ou de pósitrons, no caso do PET, sendo desejável que não emita nem radiação beta nem alfa. A cintilografia constitui-se o exame de rotina na medicina nuclear, dentre os radionuclídeos empregados estão o 67 Ga, 201 Tl, 111 In e, sobretudo, o Tc que é encontrado como traçador na maioria das formulações radiofarmacêuticas (OLIVEIRA et al., 2006).

21 3.1.3 O tecnécio metaestável (P PTc) Aproximadamente 80% de todos os radiofármacos usados na medicina nuclear são compostos marcados com tecnécio metaestável (P PTc). A razão dessa preferência são as características físico-químicas extremamente favoráveis que esse isótopo apresenta: emissão de raios gama de energia ótima (140keV), meia-vida de 6h, facilidade de conjugação com outras moléculas e viabilidade de obtenção pelo gerador molibdênio tecnécio (P radiofármacos com P base de isótopos do rênio (P O P 99 PMo-P PTc). Além disso, o desenvolvimento de PTc permite o planejamento de radiofármacos terapêuticos à 186 PRe e P 188 PRe) (ARANO, 2002). PTc é um isótopo considerado ideal para as aplicações médicas. Sua meia-vida é suficientemente longa para permitir a preparação, administração do fármaco e realização dos exames, mas suficientemente curta para que as doses que o paciente receba sejam mínimas. A ausência de emissão beta diminui ainda mais as doses recebidas pelo paciente (OLIVEIRA et al., 2006). O tecnécio (z = 43), descoberto em 1937 por Segré, está situado no meio da tabela periódica na segunda família da série de transição, família VIIB (Mn, Tc, Re), e não tem isótopos estáveis na natureza [Fig. 1]. O P PTc pode existir em oito estados de oxidação, de -1 a +7, como resultado da perda de elétrons nos orbitais 4d e 5s ou do ganho no orbital 4d. Essa variedade de estados de oxidação permite ao tecnécio ligar-se quimicamente a diferentes moléculas (BANERJEE et al., 2001). Figura 1: Posição do tecnécio na tabela periódica (Enciclopédia virtual Wikipédia) O P PTc é obtido a partir de um gerador P 99 PMo-P PTc que é um dos sistemas mais antigos na medicina nuclear. Largamente empregado, foi desenvolvido pelo Brookhaven National Laboratory e utiliza o molibdênio-99 (P 99 PMo), meia-vida de 67h,

P como nuclídeo pai gerando, por emissão beta, o P PTc, nuclídeo filho com meia-vida de 6h [Fig. 2]. 99 A degradação do P PMo gera, em 85% das vezes, P PTc. Na série de 99 desintegração, o P PTc origina um produto de terceira geração, o tecnécio-99 (P PTc); 5 esse, por sua vez, tem uma meia-vida muito longa (tb1/2b=2x10p P anos), decaindo, por emissão beta, para rutênio-99, elemento estável que encerra a série de decaimento [Fig. 2] (TUBIS; WOLF, 1976). 22 Figura 2: Série de decaimento do 99 Mo (Tubis; Wolf, 1976). Fisicamente o gerador constitui-se num cilindro, blindado por chumbo, que acondiciona na estrutura interna o molibdênio, de maneira que permita a extração do PTc de forma apropriada para a marcação dos kits de radiofármacos [Fig. 3]. O P 99 PMo utilizado na confecção dos geradores pode ser obtido de por ativação de nêutrons num alvo de P 98 PMo ou por fissão do urânio-235. O gerador mais viável e empregado nos centros de medicina nuclear utiliza uma coluna cromatográfica sobre sílica gel, na qual o P 99 PMo encontra-se sob a forma de molibdato fortemente adsorvido na coluna de alumina [Fig. 3a]. A eluição é feita com salina (NaCl) 0,9%, solução na qual, por não ter afinidade pela alumina, o P pertecnetato (BANERJEE et al., 2001). PTc é arrastado dissolvido na forma de

23 Figura 3: (a) Esquema do gerador 99 Mo - Tc; (b) curva de formação do Tc no gerador A coluna pode ser eluída diariamente. A relação entre as meias-vidas, do isótopo pai e do isótopo filho é aproximadamente 10. O tempo para se atingir o equilíbrio entre as concentrações dos referidos isótopos é o correspondente a 4 meias-vidas do isótopo filho, isto é, 24h. Observa-se também que após seis horas de uma eluição prévia, 50% de um máximo de P PTc pode ser obtido novamente [Fig. 3b] (ROCHA, 1976). 99 O P PTc é obtido a partir do gerador P PMo-P PTc na forma de pertecnetato de +7-2 - sódio, cujo ânion [(TcP POB4PB P)P P] apresenta-se num estado de oxidação não reativo (+7), prestando-se apenas ao preparo de colóides sulfurados. Para viabilização de outros radiofármacos é necessária uma reação de redução, para que, num estado de oxidação mais baixo, haja ligação química. O estado de oxidação a ser alcançado depende do agente redutor empregado, das condições específicas da reação (como temperatura e ph), da natureza e número de coordenação dos ligantes presentes (MEASE; LAMBERT, 2001). As espécies reduzidas de P PTc podem combinar-se com vários quelantes, que usualmente doam um único par de elétrons para formar ligação coordenada covalente. Tem-se encontrado que boa parte dos complexos-p PTc é estabilizada por grupos oxi e contendo um oxitecnécio (Tc=O), o número de coordenação varia de 4 a 9 (SAHA, 1998).