PARECER Nº 14.424 IPERGS. OS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE PENSÃO AO MARIDO SÃO OS ELENCADOS NA LEI Nº 7.672/82, COM A REDAÇÃO DA LEI Nº 7.716/82. O Secretário da Administração e dos Recursos Humanos encaminha a esta Procuradoria-Geral do Estado sugestão do Presidente do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul IPERGS, para exame e manifestação. Trata-se, na realidade de uma manifestação do Chefe da Divisão de Previdência do IPERGS, indagando da possibilidade de serem habilitados como dependentes para fins previdenciários, ainda que post-mortem, os maridos e conviventes de seguradas contribuintes Alega que, apesar de contribuintes obrigatórias, as servidoras não legam o benefício da pensão aos seus cônjuges ou conviventes, o que faz com que muitos desses busquem habilitar-se ao benefício na esfera judicial. Invoca o amparo da Lei Complementar nº 12.134/04, que reconhece aos cônjuges e conviventes varões a dependência como beneficiários do IPE-SAÚDE. A Assessoria-Jurídica da Autarquia instada a se manifestar, diz que o assunto está sub iudice, daí a necessidade de ser consultada previamente a Procuradoria-Geral do Estado. Foi pedida prioridade na tramitação artigo 71 do Estatuto do Idoso - por JOSÉ FAGUNDES DA FONSECA, dizendo-se viúvo e economicamente dependente de sua falecida mulher. Nada mais a relatar. 1
O Instituto de Previdência do Estado continua a reger-se, salvo no que diz respeito à assistência à saúde regrada pela Lei Complementar nº 12.134, de 26 de julho de 2004 pela Lei nº 7.672, de 18 de junho de 1982, com as modificações posteriormente ocorridas. Assim, pode-se até conjeturar da inadequação de seu regramento ao momento atual, em face das modificações ocorridas na estrutura familiar contemporânea. Mas isso não autoriza a adotar as normas que dispõe sobre o IPE- SAÚDE, no exame dos requisitos necessários à obtenção da condição de pensionista pelo cônjuge ou convivente varão. Ao contrário, deve-se sempre ter presente que se está tratando da administração pública e, por conseqüência, de finanças públicas, que obriga o seguimento ao princípio da legalidade estrita, o que se constitui em orientação remansosa desta Procuradoria-Geral do Estado. Conveniente trazer as ponderações do mestre Carlos Maximiliano, in Hermenêutica e Aplicação do Direito, Ed. Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1941, p. 142-143: O abandono da fórmula explícita constitui um perigo para a certeza do direito, a segurança jurídica; por isso é só justificável em face de um mal maior, comprovado: o de uma solução contrária ao espírito dos dispositivos examinados em conjunto. As audácias do hermeneuta não podem ir a ponto de substituir, de fato, a norma por outra". Aceitar a aplicação simples e direta da lei que regulamenta um plano de saúde à relação previdenciária que se estabelece entre os servidores e o seu regime próprio de previdência, seria criar, ampliar ou restringir direitos não estabelecidos pela lei. Se assim o fosse, estaria o Poder Executivo deixando de observar a lei e usurpando as competências do Poder Legislativo. No caso, as exigências legais para o enquadramento dos que, como dependentes do servidor segurado, podem vir a ser beneficiados com pensão após sua morte existem e estão contidas nos artigos que integram o Capítulo II Dos Dependentes da Lei nº 7.672/82: Art. 9º - Para os efeitos desta lei, são dependentes do segurado: I - a esposa; a ex-esposa divorciada; o marido inválido; os filhos de qualquer condição enquanto solteiros e menores de dezoito anos, ou inválidos, se do sexo masculino, e enquanto solteiros e menores de vinte e um anos, ou inválidos, se do sexo feminino; II - a companheira, mantida como se esposa fosse há mais de cinco anos, desde que se trate de solteira, viúva, desquitada, separada judicialmente ou divorciada, e solteiro, viúvo, desquitado, separado judicialmente ou divorciado seja o segurado. III - o tutelado e o menor posto sob guarda do segurado por 2
determinação judicial, desde que não possuam bens para o seu sustento e educação; IV - a mãe, desde que não tenha meios próprios de subsistência e dependa economicamente do segurado; V - vetado - 1º - (...) 2º - (...) 3º - 4º - A condição de invalidez, para os efeitos desta lei, deverá ser comprovada periodicamente, a critério do Instituto. 5º - Os dependentes enumerados no item I deste artigo, salvo o marido inválido, são preferenciais e a seu favor se presume a dependência econômica; os demais comprová-la-ão na forma desta lei. (I e 5º alt. p/l 7.716/82 - DOE de 26.10.82; grifei) As exigências legais permanecem íntegras, fazendo com que, para ser aceito como dependente previdenciário da servidora segurada, deva o marido ser inválido e dependente econômico da mulher. Dependência esta que há de ser comprovada, porque não se presume, a teor do 5º do artigo 9º da Lei nº 7.672/82, com a redação dada pela Lei nº 7.716/82. Estado: Nesse sentido tem se manifestado o Tribunal de Justiça do APELAÇÃO CÍVEL. PREVIDENCIÁRIO. INCLUSÃO DE MARIDO INVÁLIDO DE FUNCIONÁRIA PÚBLICA COMO PENSIONISTA. HIPÓTESE QUE SE ENQUADRA NO ART. 9º DA LEI Nº 7.672/82. Em se tratando de marido inválido, de funcionária pública falecida, possível a sua inclusão como beneficiário da pensão por morte por esta deixada, pois hipótese que se enquadra no permissivo legal do art. 9º da Lei nº 7.672/82. Invalidez satisfatoriamente comprovada. (...) Apelo improvido. Com explicitações. (Apelação Cível nº 70010011971, Primeira Câmara Cível, TJRS, 2004). PREVIDENCIÁRIO. PREVIDÊNCIA PÚBLICA. IPERGS. PENSÃO PREVIDENCIÁRIA PARA O CÔNJUGE VARÃO. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE INVALIDEZ E DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. A inscrição do marido como dependente da previdência estadual necessita de lei específica regulamentadora, exceto se comprovadas a invalidez e a dependência econômica, nos termos do art. 9º, inc. I, 5º e do art. 13, ambos da Lei Estadual nº 7.672/82, em cuja vigência ocorreu o óbito. APELAÇÃO PROVIDA. REEXAME NECESSÁRIO PREJUDICADO. (Apelação/Reexame Necessário nº 70011732104, Vigésima Segunda Câmara Cível, TJRS, 2005). 3
Quanto às alegações de cabimento do marido como dependente da servidora segurada com supedâneo no princípio constitucional da igualdade entre homens e mulheres, o Supremo Tribunal Federal fixou, desde 2001, entendimento exigindo lei própria e indicação de fonte de custeio, conforme pode ser visto no fecho do voto do Relator Ministro Carlos Velloso, ao julgar o processo que norteou a jurisprudência: Em suma: a extensão automática da pensão ao viúvo, em decorrência do falecimento da esposa-segurada, assim considerado aquele como dependente desta, exige lei específica, tendo em vista as disposições inscritas no art. 195, caput, e seu 5º, e art. 201, V, da Constituição Federal. (RE 204.193-RS, 30.5.2001). Em igual sentido as demais primeiras decisões que firmaram a orientação: RE 204.735-RS, rel Min. Carlos Velloso, 30.5.2001; RE 207.260-RS, rel Min. Carlos Velloso, 30.5.2001; RE 201.572-RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/acórdão Ministra Ellen Gracie, 30.05.2001; RE 205.896-RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/acórdão Ministra Ellen Gracie, 30.05.2001; RE 207.189-RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/acórdão Ministra Ellen Gracie, 30.05.2001. Assim, não resta à administração pública outra conduta senão, apoiada no princípio da legalidade que se impõe, continuar exigindo dos servidores segurados e de seus dependentes o que previsto na Lei nº 7.672/82. Este o parecer. Porto Alegre, 23 de novembro de 2005. ELIANA SOLEDADE GRAEFF MARTINS, PROCURADORA DO ESTADO. Processo nº 022425-24.42/05.9 IPERGS. 4
Processo nº 022425-24.42/05-9 Acolho as conclusões do PARECER nº 14.424, da Procuradoria de Pessoal, de autoria da Procuradora do Estado Doutora ELIANA SOLEDADE GRAEFF MARTINS. Restitua-se o expediente ao Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos. Em 28 de dezembro de 2005. Helena Maria Silva Coelho, Procuradora-Geral do Estado.