CONSELHO DA MAGISTRATURA PROCESSO Nº 0257353-26.2011.8.19.0001 RELATOR: DES. RICARDO COUTO DE CASTRO A C Ó R D Ã O Reexame necessário. Dúvida formulada pelo Oficial do 9 Ofício de Registro de Imóveis da Capital. Requerimento para registro de Carta de Sentença extraída dos autos da separação consensual. Existência de cláusula de doação. Sentença que julgou a Dúvida improcedente. Apreciação do feito em razão do reexame necessário. Desnecessidade de escritura pública. Sentença homologatória tem a mesma eficácia da escritura pública. Confirmação da sentença. Precedente do STJ e TJRJ.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de n 0257353-26.2011.8.19.0001 em que é interessado HARLEY FRAMBACH DE MOURA JÚNIOR e suscitante o CARTÓRIO DO 9º OFÍCIO DO REGISTRO DE IMÓVEIS/RJ, ACORDAM os Desembargadores integrantes do CONSELHO DA MAGISTRATURA, por unanimidade, em manter a sentença que julgou a duvida improcedente, nos termos do relatório e voto do Relator. Trata-se de Dúvida suscitada pelo Oficial do 9 Ofício de Registro de Imóveis da Capital, que se iniciou através de requerimento formulado por Harley Frambach de Moura Júnior, para registro de Carta de Sentença extraída dos autos da separação consensual de Harley Frambach de Moura e Jacira Pinto Quintanilha de Moura, processada na 1ª Vara Cível Regional de Jacarepaguá. No título apresentado para registro consta doação do imóvel, situado na Rua Pinto Teles, nº 320, apartamento 804, bloco 01, nesta cidade, para os três filhos do casal, Patrícia Maria Quintanilha de Moura, Harley Frambach de Moura Junior e Soraya Quintanilha de Moura, bem como usufruto para a ex- cônjuge Jacira Pinto Quintanilha de Moura. O Oficial Registrador entendeu não proceder ao requerido sob o fundamento de que a sentença de homologação da partilha alcançou terceiros, o que não seria possível em sede de Juízo de Família.
Manifestação do interessado perante o Oficial Registrador às fls. 32/34, afirmando que o ato de doação dos ex-cônjuges em favor de seus três filhos procedeu-se diante da autoridade judicial, de acordo com as formalidades legais, do art. 541 do Código Civil de 2002, antigo art. 1168 do Código Civil de 1916. O Oficial, às fls. 39, reitera os termos da Dúvida. Promoção do Ministério Público, às fls. 40, pela improcedência da dúvida, entendendo assistir razão ao interessado. Sentença de improcedência às fls. 41/42, considerando que a partilha homologada corporifica a doação com reserva de usufruto, sendo desnecessária a lavratura de escritura pública de doação. Remetidos os autos ao E. Conselho da Magistratura, o Ministério Público oficiou às fls. 45/53, pela reforma do julgado. É O RELATÓRIO. DECIDO A questão travada nos autos trata da possibilidade de inclusão, no bojo da Carta de Sentença expedida por ocasião da separação consensual do casal Harley Frambach de Moura e Jacira Pinto Quintanilha de Moura, de doação com reserva de usufruto, para os três filhos do casal, do único imóvel adquirido pelos ex-cônjuges.
Nos autos, a parte interessada afirma que o ITD incidente fora recolhido, o que não fora contestado pelo Oficial, a quem cabe a fiscalização acerca do recolhimento de tributos. Assim, a única controvérsia reside sobre a necessidade de realização de escritura pública específica para formalização da doação praticada na partilha de bens homologada por sentença. Neste âmbito, entende-se que a doação praticada perante um magistrado é ato que se reveste da formalidade e da solenidade exigidas para os atos que envolvem a transferência de domínio, possuindo a mesma característica de solenidade e de importância civil que possui a manifestação de vontade realizada perante o tabelião, no momento da lavratura da escritura pública. Em sendo assim, não há necessidade da lavratura de escritura pública, valendo transcrever jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça nesse sentido: DIREITO CIVIL SEPARAÇÃO CONSENSUAL PARTILHA DE BENS DOAÇÃO PURA E SIMPLES DE BEM IMÓVEL AO FILHO HOMOLOGAÇÃO SENTENÇA COM EFICÁCIA DE ESCRITURA PÚBLICA ADMISSIBILIDADE. Doado o imóvel ao filho do casal, por ocasião do acordo realizado em autos de separação consensual, a sentença homologatória tem a mesma eficácia da escritura pública, pouco importando que o bem esteja gravado por hipoteca. Recurso especial não conhecido, com ressalvas do relator quanto à terminologia. (REsp 32895 / SP RECURSO ESPECIAL 1993/0006403-7 - Relator(a) Ministro CASTRO
FILHO (1119) - Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA - Data do Julgamento 23/04/2002 - Data da Publicação/Fonte DJ 01/07/2002 p. 335). No mesmo sentido posiciona-se este E. Tribunal: APELAÇÃO CÍVEL - DECISÃO MONOCRÁTICA - AÇÃO DE DIVÓRCIO CONSENSUAL - SENTENÇA QUE DECRETOU O DIVÓRCIO, MAS RESSALVOU A EXISTÊNCIA DE BENS A PARTILHAR - REQUERENTES QUE ACORDARAM A PROMESSA DE DOAÇÃO DE IMÓVEIS EM FAVOR DOS FILHOS DO CASAL - JURISPRUDÊNCIA QUE TEM ACEITO A INCLUSÃO DE CLÁUSULA DE PROMESSA DE DOAÇÃO, NAS AÇÕES DE DIVÓRCIO OU DE SEPARAÇÃO JUDICIAL, RETIRANDO-LHE, CONTUDO, A NATUREZA DE MERA LIBERALIDADE REQUERENTES QUE NÃO COMPROVAM A POSSE OU A PROPRIEDADE DOS IMÓVEIS, TAMPOUCO DISCRIMINAM O IMÓVEL QUE CABERÁ A CADA UM DOS FILHOS IMPOSSIBILIDADE DE HOMOLOGAÇÃO DA PARTILHA ACORDADA - RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO, NA FORMA DO ARTIGO 557, CAPUT, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. (APELACAO Nº 0003131-70.2011.8.19.0073DES. MARIO GUIMARAES NETO - Julgamento: 27/09/2012 - DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL ) Finalmente, ressalte-se que, nos autos dos processos nº 235098-40.2012.8.19.0001 e 0231478-20.2012.8.19.0001, relatados pelo E. Desembargador André Gustavo Correa de Andrade, já houve manifestação nesse sentido.
Assim, apreciando o feito em razão do reexame necessário, julga-se improcedente a dúvida suscitada. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2013. Desembargador RICARDO COUTO DE CASTRO Relator