Alternativas para a introdução de iniciativas ambientais no segmento hoteleiro



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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NA INDÚSTRIA Monografia Final Alternativas para a introdução de iniciativas ambientais no segmento hoteleiro Autora: Maria Auxiliadora de Abreu Macêdo Orientador: José Célio Silveira Andrade JULHO/2001

SUMÁRIO RESUMO i ABSTRACT ii 1-INTRODUÇÃO 01 2-EVOLUÇÃO DAS QUESTÕES AMBIENTAIS NA SOCIEDADE 09 3-OS PROBLEMAS AMBIENTAIS E OS SEUS REFLEXOS NA HOTELARIA 13 4-ALTERNATIVAS PARA A INTRODUÇÃO DE INICIATIVAS AMBIENTAIS NO SEGMENTO HOTELEIRO 20 4.1- AÇÕES PRELIMINARES IMPORTANTES 20 4.1.1- A DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES AMBIENTAIS 21 4.1.2- A REALIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO AMBIENTAL INICIAL 21 4.1.3- A EDUCAÇÃO AMBIENTAL 22 4.2- APRESENTAÇÃO DAS INICIATIVAS 24 4.2.1- INICIATIVAS TIPO A 25 4.2.1.1- INICIATIVAS RELACIONADAS COM O CONSUMO DE ÁGUA E ENERGIA 25 4.2.1.2- INICIATIVAS RELACIONADAS COM O USO EXCESSIVO DE PRODUTOS QUE PODEM AGREDIR O MEIO AMBIENTE 28 4.1.2.3- INICIATIVAS RELACIONADAS COM A MINIMIZAÇÃO E TRATAMENTO DE RESÍDUOS 31

4.2.1.4- INICIATIVAS RELACIONADAS COM OUTROS ASPECTOS AMBIENTAIS 34 4.2.2- INICIATIVAS TIPO B 35 4.2.2.1- IMPLANTAÇÃO DE UM PLANO VERDE CONSTRUÍDO POR TIMES DE TRABALHO 35 4.2.2.2- IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE PRODUÇÃO LIMPA 38 4.2.2.3- IMPLANTAÇÃO DA ISO-14001 44 4.2.2.4- OUTRAS INICIATIVAS 52 5.0- INICIATIVAS AMBIENTAIS NO PRAIA DO FORTE ECORESORT 55 5.1- INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O LOCAL ONDE ESTÁ SITUADO O EMPREENDIMENTO 55 5.2- INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O EMPREENDIMENTO 58 5.2.1- INFRA-ESTRUTURA 59 5.2.2.-ENFOQUE ECOTURÍSTICO E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 64 5.3 DESCRIÇÃO DAS INICIATIVAS AMBIENTAIS JÁ IMPLEMENTADAS NO EMPREENDIMENTO 68 6-CONSIDERAÇÕES FINAIS 76 7-RECOMENDAÇÕES FINAIS 80 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 82 ANEXOS 86

RESUMO Este trabalho tem como objetivo apresentar alternativas de iniciativas ambientais direcionadas para o segmento hoteleiro, de maneira a contribuir com as empresas hoteleiras no atendimento aos novos requisitos, que já vem sendo impostos pelas grandes agências internacionais de turismo e viagens. A metodologia utilizada para sua realização envolveu uma pesquisa do tipo exploratória na qual foram levantadas as principais iniciativas ambientais provenientes de empresas hoteleiras internacionais, tendo como principal fonte de pesquisa as publicações editadas pela IHEI- International Hotels Environment Initiative. A pesquisa realizada inclui uma descrição da evolução das questões ambientais na sociedade e apresenta os reflexos dos principais problemas na hotelaria, de forma a justificar a importância das alternativas apresentadas, as quais foram classificadas em dois tipos: Iniciativas do Tipo A: referem-se a iniciativas pontuais, associadas aos problemas ambientais mais comuns, tais como consumo de água, energia e o uso de produtos que agridem o meio ambiente; Iniciativas do Tipo B: referem-se a propostas metodológicas que permitem introduzir, de forma sistemática, qualquer tipo de iniciativa ambiental nos modelos de gestão hoteleira, associando-as a objetivos e metas ambientais e aos benefícios que essas poderão trazer à empresa. O trabalho também inclui um levantamento das ações que já foram implementadas no Praia do Forte EcoResort, Bahia, Brasil, com o objetivo de ilustrar, com exemplos práticos, iniciativas ambientais adotadas por uma empresa hoteleira localizada no Brasil, mais especificamente no Estado da Bahia. Como conclusão, essas pesquisa aponta os requisitos de competitividade que tenderão ser impostos, no futuro, ao segmento hoteleiro, fazendo recomendações que as universidades, centros de pesquisa e outras organizações intensifiquem suas ações no sentido de ajudá-lo a atender esses requisitos. PALAVRAS-CHAVE: gestão hoteleira, gestão ambiental, produção limpa, ISO-14001, educação ambiental, política ambiental, práticas ambientais. i

ABSTRATC The objective of this paper is to present ways to introduce various environmental initiatives in the hotel sector so as to help hotel companies to comply with the new requirements being introduced by the large international chains of tourism and travel. The methodology used to carry out this research can be described as exploratory. The main environmental initiatives being implemented by international hotel companies are considered. The main sources used were the publications of the IHEI International Hotels Environment Initiative. The paper includes a description of the background to the environmental issues that have emerged in society and presents those particular to the hotel industry. This is done in such a way as to emphasise the importance of the initiatives which are then classified into two groups: Type A Initiatives: these are specific initiatives associated with the most common environmental problems such as energy and water consumption and the use of chemical products that harm the environment. Type B Initiatives: these are suggested practices that systematically allow a particular environmental initiative to become an integral part of the hotel management model, linking it to objectives and environmental targets and the benefits that this could bring the company. This work also includes a survey of environmental work already carried out at the Praia do Forte EcoResort, Bahia, Brazil. The purpose of this is to show, through practical examples, environmental initiatives adopted by a hotel company located in Brazil, more specifically in the State of Bahia. To conclude, this research shows the increasing demands that competition is imposing on the hotel sector and recommends that the universities and other research centres and organisations intensify their work to help the sector deal with these new demands. KEYWORDS: hotel management, environmental management, clean production, ISO- 14001, environmental education, environmental policies, environmental practice. ii

1-INTRODUÇÃO A indústria do turismo mundial tem apresentado, nos últimos anos, um elevado índice de crescimento no contexto econômico mundial apresentando-se como um recurso econômico de expressiva importância. De acordo com a EMBRATUR (1996), dados emitidos pela OMT- Organização Mundial do Turismo indicam que essa indústria movimenta cerca de US$ 3,5 trilhões anualmente e, apenas na última década, expandiu sua atividade em 57%. Nesse contexto, a posição do Brasil vem evoluindo de forma gradativa. No ano de 1994, o país alcançou o 43 lugar, passando para o 29, em 1999, no concorrido ranking da OMT de destino turístico mais demandado no mundo. Mas isto ainda é pouco, considerando a dimensão continental, situação geográfica e o acervo natural, cultural e histórico que o País dispõe. Embora o turismo no Brasil já tenha conquistado um patamar consolidado na política econômica nacional, muito ainda tem que ser feito de forma a melhorar a posição do nosso país neste competitivo ranking, principalmente no que se refere a ações relacionadas com a proteção ambiental, já que o crescimento do turismo numa determinada região está associado a uma gestão sustentada do seu patrimônio natural e cultural. Pesquisas realizadas pelas agências de viagens e turismo constatam que os turistas definem seus destinos e rotas baseados na qualidade de clima, áreas naturais, qualidade das praias, cultura e história do lugar e que, não existindo estas qualidades, eles não voltam ao local. Assim, promover a gestão responsável e sustentada dos recursos naturais, fazendo com que os turistas nacionais e internacionais usufruam de um país detentor do maior banco de biodiversidade do planeta deverá ser um dos objetivos de qualquer empreendimento turístico brasileiro. Algumas organizações associadas ao turismo, em todo mundo, já estão tomando iniciativas relacionadas com a preservação ambiental movidas pela certeza que é sobre um ambiente limpo e preservado que se constroe a base da indústria de turismo. 1

Por outro lado, está ocorrendo um crescente envolvimento da sociedade, de modo geral, com as questões ambientais. O número de pessoas sensibilizadas com essas questões cresce a cada dia, principalmente nos países da Europa. Estas pessoas saem por aí, viajam, se hospedam, observam e exigem, fazendo com que, o segmento hoteleiro, em particular, venha sendo cada vez mais pressionado a demonstrar um bom desempenho em relação as suas questões ambientais. Assim, os hóspedes, sejam estes turistas ou pessoas que estão viajando a negócios, já começam a exigir dos hotéis que se hospedam um novo tipo de requisito que não está apenas atrelada à qualidade dos serviços a eles prestados, mas, fundamentalmente, associada com a QUALIDADE AMBIENTAL. Esse fato já vem sendo percebido, uma vez que as principais empresas internacionais de reserva já estão dando preferência aos hotéis e resorts que atendam a este requisito. No exterior, principalmente nos países de grande potencial turístico, o número de iniciativas relacionadas com a preservação ambiental provenientes do segmento hoteleiro vem crescendo exponencialmente, tornando este aspecto um diferencial competitivo muito significativo em relação às empresas hoteleiras brasileiras, cujas iniciativas ambientais só agora começam a despertar o interesse dos empresários desse setor. Nesse sentido, a ABIH- Associação Brasileira da Indústria de Hotéis lançou recentemente o Programa de Responsabilidade Ambiental Hóspedes da Natureza que tem como objetivo ajudar o segmento hoteleiro a preparar-se para atender os requisitos ambientais que já vem sendo exigidos pelas sistemas internacionais de reservas, tais como o American Express, Wagon Lits Cook e outros. De acordo com as informações fornecidas no documento ABIH (1999), o Programa. adota os seguintes princípios básicos, o quais orientam a sua composição: Identificação, adaptação e aplicação à realidade brasileira de conceitos, tecnologias, produtos e serviços já mundialmente consagrados. Os objetivos são reduzir o custo operacional do projeto viabilizando sua execução e incluir o Brasil na rede de informação internacional que promove o tema ambiente e turismo, utilizando-a como ferramenta de marketing na divulgação do destino brasileiro. Irradiação e difusão dos conceitos práticos da responsabilidade ambiental, promovendo ações que envolvam empresários, comunidade, poder público, fornecedores, funcionários e hóspedes. Os objetivos são estimular e viabilizar projetos de produção 2

limpa, fornecendo aos governantes em suas várias esferas dados sobre a infra-estrutura que facilitará ações futuras; estimular a relação com os fornecedores para o desenvolvimento de embalagens e produtos compatíveis à gestão ambiental; fortalecer a função de agente multiplicador da hotelaria através da divulgação da gestão ambiental entre seus hóspedes, funcionários e a comunidade do entorno. Aplicação dos fundamentos das técnicas de qualidade à melhoria contínua, propiciando que as ações simples e pontuais da adequação ambiental, se integrem ao sistema de gestão do meio de hospedagem, consolidando os resultados alcançados através do monitoramento constante. Embora a iniciativa da ABIH já tenha sido tomada no sentido de motivar e dar apoio a rede hoteleira brasileira para a introdução de iniciativas ambientais, observa-se que no Brasil, as principais iniciativas ambientais provenientes de empreendimentos hoteleiros são ainda referentes aqueles localizados em áreas onde a prática do ecoturismo é difundida e em que a própria beleza natural serve de principal atrativo para visitantes. Estas iniciativas, porém, não são ainda implementadas de forma sistemática e parecem ser adotadas com o objetivo mais voltado para o marketing e para a criação de uma boa imagem do empreendimento, já que as características peculiares do lugar impõem esse tipo de comportamento aos seus moradores e investidores. A pesquisa realizada por ANGELO- FURLAN (1996) permite questionamentos sobre o modo como o turismo tem sido desenvolvido no Brasil e apresenta uma preocupação com o enfoque do consumismo e da maximização dos lucros. Os autores também procuram demonstrar que, em geral, as atividades turísticas privilegiam comportamentos urbanos e afirmam que a paisagem natural é apenas um pano de fundo. Em áreas próximas ou caracterizadas como APAs 1 - Áreas de Proteção Ambiental, onde alguns empreendimentos hoteleiros estão instalados, as imposições referentes a proteção ambiental tendem a ser mais fortes, já que a legislação brasileira estabelece alguns 1 De acordo com a Lei 6.902/81 de 27/04/91, Resolução CONAMA 10/88 de 14/12/88, APAs são áreas de características ecológicas e paisagísticas especiais, nas quais serão limitados o uso de ocupação do solo, o exercício de atividades, e instalação de indústrias, potencialmente poluidoras ou degradadoras do ambiente. Não há proibição quanto à, habitação, residência e atividades produtivas nas APAs, contudo estas devem ser orientadas e supervisionadas pela entidade ambiental encarregada de assegurar o atendimento das finalidades da legislação instituidora. 3

princípios que devem ser adotados pelos proprietários de empreendimentos localizados nessas áreas. A Política Nacional de Ecoturismo, por sua vez, estabelece regras de conduta para aqueles que decidem investir no ecoturismo orientando-os para o uso racional dos recursos naturais, de forma a não comprometer a sua capacidade de renovação e sua conservação. De acordo com WESTERN (1995) o ecoturismo não deve ser visto meramente como uma pequena elite de amantes da natureza, mas encarado como uma viagem responsável a áreas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da população local. Para esse autor o ecoturismo deve satisfazer o desejo que temos de estar em contato com a natureza, porém evitando o impacto negativo à ecologia, à cultura e à estética. Assim, todos os setores que dão suporte a prática do ecoturismo, tais como hotéis, casas comerciais, agências de turismo devem demonstrar um cuidado especial com as questões ambientais do lugar. Considerando que os hotéis também geram resíduos que afetam o meio ambiente e utilizam os recursos naturais, tais como energia, água e materiais, os quais estão progressivamente ameaçados, é importante que o segmento hoteleiro intensifique suas ações no sentido de estimular pessoas aviabilizarem a aplicação das melhores práticas ambientais, contribuindo assim para a formação de uma sociedade sustentável. Vantagens econômicas estão também se agregando a questão ambiental. Atualmente, iniciativas ambientais já são vistas como um benefício econômico. As empresas de outros setores, tais como aquelas pertencentes ao segmento industrial clássico, que já vem sofrendo maiores pressões relacionadas a um bom desempenho ambiental, principalmente depois da chegada da série ISO-14000 2, começam a perceber que as ações direcionadas para esse objetivo podem trazer lucros para elas. 2 A ISO-14000 é uma série de normas internacionais que orienta as empresas a obterem um bom desempenho ambiental. A ISO-14001, uma das primeiras normas desta série e refere-se à implantação de Sistemas de Gestão Ambiental. Atualmente, essa norma é o alvo das empresas que desejam obter uma certificação ambiental. 4

Torna-se necessário que as empresas que atuam no segmento hoteleiro também comecem a priorizar essas ações, introduzindo-as, de forma sistemática nos seus modelos de gestão, assim como acompanhando e registrando os benefícios econômicos que estas poderão trazer para o empreendimento. Essa monografia tem como objetivo apresentar algumas propostas de implantação de iniciativas ambientais direcionadas para empresas hoteleiras, de forma a contribuir com essas empresas no atendimento dos requisitos de competitividade, que já vem sendo impostos pela indústria internacional de turismo e hotelaria. Para alcançar esse objetivo, foi realizada uma pesquisa do tipo exploratória na qual foram levantadas as principais iniciativas ambientais que vem sendo utilizadas pelas empresas hoteleiras internacionais, tendo como principal fonte de pesquisa as publicações editadas pela IHEI- International Hotels Environment Initiative, tais como Environmental Management for Hotels- The Industry guide to best practice, Environmental Action Pack for Hotels e as revistas Green Hotelier publicadas mensalmente pela IHIE. A utilização das publicações da IHIE, como principal fonte de referência da pesquisa, foi por essa se tratar de uma organização internacionalmente conhecida e totalmente direcionada para o segmento hoteleiro. A IHEI trata-se de uma organização composta de representantes de diversos hotéis internacionais que tem como objetivo divulgar e estimular a aplicação das melhores práticas ambientais no segmento hoteleiro, de forma a beneficiar o meio ambiente e garantir o sucesso dos negócios da grande indústria de hotéis, tornando-a mais competitiva e lucrativa. A IHEI foi criada em 1992, quando um grupo de executivos de 12 hotéis internacionais juntaram forças para promover a melhoria contínua da performance ambiental das empresas que atuavam e dar apoio a grande indústria do turismo. A partir dessa iniciativa, outros hotéis associaram-se ao grupo, buscando recursos e trocando experiências para ajudarem-se entre si e atingir o objetivo proposto pela organização. 5

A IHEI tem sede em Londres e faz parte da PWBLF -The Prince of Wales Business Leaders Forum, o qual tem o Príncipe de Wales como presidente. O conselho da organização é constituído de representantes dos seguintes hotéis internacionais: Accor, Bass Hotels & Resorts Worldwide, Forte Hotels, Hilton International, Mandarin Oriental Hotel Group, Marco Polo Hotels, Marriott International Inc., Radisson SAS Hotels Worldwide, Scandic Hotels AB, Starwood Hotels & Resorts Worldwide Inc., The Taj Group of Hotels and Touristik Union International. Atualmente a IHEI tem mais de 8.000 hotéis associados, localizados em diversos países ao redor do mundo. No início do ano 2000, a ABIH associou-se a essa organização de forma a receber suporte no lançamento do Programa de Responsabilidade Ambiental Hóspedes da Natureza. Assim, os princípios e orientações sugeridas pela IHEI tenderão a ser amplamente disseminados junto às empresas hoteleiras brasileiras. Através do site da IHEI, alguns estudos de caso lá apresentados, referentes a iniciativas ambientais aplicadas em hotéis internacionais, foram também analisados, os quais forneceram dados importantes que serviram de referenciais para realizar esse trabalho. A relação dos hotéis internacionais pesquisados, com seus respectivos endereços e fone/fax para contato, encontra-se no Anexo 1 dessa monografia. A metodologia de implantação da norma internacional ISO-14001 e aquela sugerida pela UNIDO/UNEP- United Nations Industrial Development Organization/United Nations Environmental Programme para a implantação de um Programa de Produção Limpa numa empresa, serviram também de referenciais teóricos para realizar esse trabalho. Por outro lado, os conhecimentos adquiridos pela sua autora, durante a realização de serviços de consultoria para a implantação da norma ISO-14001 para algumas empresas industriais, e durante a sua participação no trabalho de implantação de um Programa de Produção Limpa num empreendimento hoteleiro- Praia do Forte EcoResort - Bahia- Brasil -, serviram de subsídio para delinear as alternativas sugeridas nessa monografia. Outras iniciativas ambientais, adotadas por esse mesmo empreendimento, foram também levantadas, de forma a incluir no trabalho exemplos práticos referentes a uma empresa hoteleira localizada no território nacional, mais especificamente no Estado da Bahia. 6

As etapas de desenvolvimento do trabalho estão descritas a seguir: Etapa 1: Levantamento de iniciativas pontuais, capazes de serem aplicadas por qualquer empreendimento hoteleiro, e associadas com os problemas ambientais mais comuns, tais como uso excessivo de água, energia e produtos que agridem o meio ambiente. Essas iniciativas foram classificadas nessa monografia como Iniciativas do Tipo A e estão sendo apresentadas no item 4.2.1 Etapa 2: Estudo do descritivo do processo de implantação da Norma ISO-14001 e do Programa de Produção Limpa, de acordo com a metodologia sugerida pela UNIDO/UNEP e aplicada pelo CNTL- Centro Nacional de Tecnologias RS- Brasil Etapa 3: Elaboração de um descritivo simplificado das metodologias anteriores, adaptando-as para o segmento hoteleiro e criação de uma nova metodologia, de forma a sugerir alternativas capazes de aplicar as iniciativas anteriormente levantadas (ou outras que não foram citadas) de uma forma sistemática no modelo de gestão hoteleira, associando-as a objetivos e metas ambientais e permitindo o acompanhamento dos benefícios que essas poderão trazer à empresa. Essas propostas foram classificadas nessa monografia como Iniciativas do Tipo B e estão sendo apresentadas no item 4.2.2. A inserção desse tipo de iniciativas nesse trabalho, sob o ponto de vista da autora, fizeram-se extremamente necessárias, desde que a adoção de iniciativas pontuais, sem um devido direcionamento e monitoramento, podem não evidenciar as vantagens que estas podem trazer e assim, passarem a não ser priorizadas com o tempo, deixando de ter continuidade e não atingindo o real objetivo desejado: a melhoria de desempenho ambiental da empresa hoteleira. 7

Etapa 4: Levantamento das ações que já foram implementadas no EcoResort Praia do Forte- Bahia- Brasil, com o objetivo de ilustrar e complementar o trabalho com exemplos práticos desenvolvidos dentro da realidade nacional brasileira e, mais especificamente, dentro da realidade regional do Estado da Bahia. Espera-se que o trabalho possa apontar caminhos a serem seguidos pelos empresários hoteleiros que desejam atingir a excelência de gestão dos seus negócios, assim como nortear ações práticas para a aplicação de um modelo de turismo economicamente sustentável no Brasil, contribuindo assim, para potencializar e consolidar a vocação evidentemente turística do País. 8

2- A EVOLUÇÃO DAS PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS NA SOCIEDADE A responsabilidade ética ambiental, fator que vem incentivando as empresas a buscarem a melhoria de desempenho ambiental, é algo relativamente novo na nossa sociedade. Muitos fatos serviram de agentes catalisadores desta mudança de comportamento. Desde os tempos pré-históricos o homem vem buscando alternativas para melhorar sua qualidade de vida no planeta que habita. Na busca desenfreada das suas próprias vantagens, ele permaneceu, por muito tempo, alheio aos problemas que o progresso e desenvolvimento também lhe traziam. Entre as décadas de 70 e 80 ocorreram alguns acidentes ambientais que dizimaram muitas vidas e deixaram marcas profundas na humanidade, como foi o caso do acidente de Bophal na Índia, em 1984, quando um vazamento de um gás venenoso da empresa Union Carbide matou cerca de 2000 pessoas. Em 1986, em Chernobyil, situada na ex-urss, um acidente nuclear também vitimou muitas pessoas, além de ter deixado seqüelas irreparáveis na população e nos ecossistemas locais. Neste período, o homem também já estava sofrendo na pele outros problemas como a chuva ácida, o efeito estufa, os buracos da camada de ozônio, a destruição da fauna e da flora, etc. Olhando à sua volta, ele começou a perceber os impactos negativos oriundos de suas próprias ações. Foi então que, muitas pessoas, motivadas pela dor, pelo desapontamento, ideal ecológico ou outro sentimento qualquer, começaram a se mobilizar, adquirindo e exigindo da sociedade uma nova postura diante dos diversos problemas ambientais que já ameaçavam a própria vida do planeta. Grupos se uniram para exigir maior severidade nas leis. As empresas industriais, apontadas como as grandes vilãs da maioria dos problemas que vinham acontecendo, começaram a ser pressionadas. Um série de encontros internacionais começaram a acontecer com o objetivo de discutir os problemas ambientais que afetavam todos os povos. Um dos pioneiros, aconteceu em 9

junho de 1972, em Estocolmo, na Suécia. Naquele evento histórico a cúpula do mundo, representada por diversos chefes de Estados, se reuniram para discutir as medidas a serem adotadas para conter a degradação ambiental do planeta. Na ocasião, os representantes dos países mais industrializados chegaram à conclusão de que deveria haver uma certa prudência no processo de industrialização no mundo. Naquele momento, os representantes brasileiros, por acharem que o Brasil precisava da industrialização para sair do seu estágio de país subdesenvolvido, acusaram os países desenvolvidos de desejarem limitar o desenvolvimento dos países pobres e afirmaram, em alto e bom som, que a poluição era bem-vinda ao Brasil! e que os países que estivessem preocupados com degradação ambiental transferissem suas indústrias para o nosso país, pois nós precisávamos de empregos, dólares e desenvolvimento. A reação dos representantes brasileiros, até hoje, é lembrada por todos. Ainda na década de 70, talvez como resposta à solicitação dos representantes brasileiros na Conferência de Estocolmo, surgiram no Brasil muitos empreendimentos que sofreram restrições em outros países, como aqueles ligados à mineração e a alguns setores da petroquímica. Mas, muita coisa mudou e, aos poucos, também no Brasil, muitas pessoas começaram a agir em defesa do meio ambiente, passando a ter uma participação mais ativa nos movimentos relacionados com as questões ambientais. Na década de 80, intensificaram-se os movimentos ambientalistas, proliferaram as ONGs e as leis relacionadas com as questões ambientais aplicadas às indústrias tornaramse mais severas. As indústrias começaram a investir em tecnologias de fim de tubo (end of pipe) para tratar seus rejeitos. Ou seja, tecnologias que faziam uso de equipamentos que eram instalados no final de uma linha de produção, de forma a amenizar os poluentes já emitidos.tudo isto era feito apenas como uma obrigação legal, como uma forma de evitar problemas com a lei pois a consciência ética ambiental verdadeira, ainda não tinha chegado para os empresários daquela época. 10

Em 1987, a Comissão Mundial do Ambiente e Desenvolvimento da ONU estabeleceu o Modelo do Desenvolvimento Sustentável 3. A divulgação desse modelo despertou, no mundo inteiro, a atenção da sociedade, que se mostrava, a cada dia, mais sensível aos problemas ambientais. Ficou evidente que este modelo de desenvolvimento não estava sendo adotado pela maioria dos países, já que os recursos naturais estavam sendo usados indiscriminadamente e os problemas ambientais se avolumavam a cada dia. A ocorrência de outros acidentes ambientais, que já vinham acontecendo, com uma certa freqüência, foi outro fator que intensificou a sensibilização e mobilização da sociedade. À medida em que a sociedade se tornava mais consciente e sensível, cresciam as exigências em relação à performance ambiental das indústrias e os empresários começaram a ser pressionados. Dessa vez, não só pelos órgãos de proteção ambiental que exigiam o cumprimento da lei, mas também pelos clientes, consumidores, fornecedores, investidores, ONGs- Organizações Não Governamentais, comunidade, concorrentes e outros. Muitas indústrias começaram a defender a bandeira do Meio Ambiente, numa tentativa de adequar-se ao momento. Fazer campanhas em defesa de espécies em extinção tornou-se a estratégia mais utilizada pela maioria delas. Na corrida das empresas para mostrar ao público que estavam preocupadas em preservar o meio ambiente, o marketing ecológico começou a ser usado pela maioria delas. Os produtos recicláveis ficaram em alta. Proliferaram os selos verdes, que identificam produtos como ambientalmente saudáveis e que, de acordo com pesquisas efetuadas, havia alguns consumidores que estavam dispostos a adquiri-los, mesmo que tivessem que pagar mais caro por eles. Esse era o cenário do segmento produtivo na chegada do anos 90. Naquela época, já existia um grande número de pessoas sensibilizadas com a questão ambiental e a força com que elas agiam, era cada vez maior. O Rio de Janeiro serviu como sede para a realização da 3 ABREU (2001) (b) cita a definição de Desenvolvimento Sustentável, dada no Relatório Nosso Futuro Comum, em 1987, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: É o modelo de desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade que as gerações futuras atendam as suas próprias necessidades. 11

grande Cúpula da Terra ECO-92, uma nova reunião internacional que dava continuidade à Conferência de Estocolmo. Desta vez, os brasileiros, adotando uma nova postura, concordaram e aderiram a muitas decisões que ali foram tomadas. Em 1996, a ISO- International Organization for Standardization (Organização Internacional de Padronização), a mesma responsável pela ISO-9000, lançou as 05 primeiras normas da série ISO- 14000, consolidando a qualidade ambiental como um diferencial competitivo no mundo dos negócios. E graças as pessoas que resolveram agir, atuando como elementos de pressão, seja exercendo o papel de consumidores, definindo com precisão os tipos de produtos que querem adquirir e o perfil das empresas que querem negociar, seja no papel de hóspedes, utilizando o requisito da qualidade ambiental como o decisivo para escolher o lugar parar se hospedar, é que a responsabilidade ética ambiental chegou nas empresas demonstrando seus benefícios, conquistando assim, cada vez mais espaço em todos os segmentos na nossa sociedade. 12

3- OS PROBLEMAS AMBIENTAIS E OS SEUS IMPACTOS NA HOTELARIA Em princípio, alguns empresários hoteleiros podem imaginar que os impactos ambientais relacionados com um empreendimento hoteleiro não são relevantes e isto ficaria melhor caraterizado para algumas indústrias que poluem, jogam efluentes contaminados nos rios e mares, emitem gases de suas chaminés. De acordo com a ABNT, NBR ISO-14001 (1997) p.4, a definição de impacto ambiental é: Qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização. Considerando que um enfoque mais relevante deve ser dado ao impacto ambiental negativo, deve-se considerar nessa definição apenas as atividades, produtos e serviços relacionados com o segmento hoteleiro, que podem causar modificações negativas ao meio ambiente. Como os hotéis utilizam os recursos naturais, que são também utilizados por qualquer empresa e todos os indivíduos, a utilização desses recursos, tais como a água, alimentos, por exemplo, representa um impacto ambiental significativo. Assim, a idéia de que hotéis não causam impactos ao meio ambiente trata-se de uma visão distorcida da realidade. Sem mencionar os impactos ambientais decorrentes do lixo que é gerado nestes locais, dos equipamentos e produtos de uso diário que agridem o meio ambiente, dos efluentes líquidos, que são lançados em rios e mares misturados com detergentes e outros dejetos orgânicos, e tantas outros aspectos. Um outro fator que deve ser levado em consideração é que qualquer problema ambiental, ainda que não seja causado pelo empreendimento hoteleiro, pode afetar de forma significativa os seus negócios. Problemas ambientais locais, por exemplo, tais como o destino inadequado do lixo, a falta de saneamento básico podem fazer com que alguns hóspedes passem a dar preferência a hotéis localizados em regiões nas quais esses problemas não existem. Por outro lado, os problemas designados como problemas ou impactos globais, comentados diariamente pela mídia, tais como efeito estufa, destruição 13

da camada de ozônio, chuva ácida, podem também afetar um empreendimento hoteleiro. Da mesma forma, uma ação local pode fazer muita diferença na redução destes problemas. Para aqueles que possuem empreendimentos localizado em áreas ecoturísticas, onde os próprios recursos naturais e a qualidade ambiental servem como atrativo para os seus hóspedes, estas considerações tornam-se muito importante. A seguir são dados alguns exemplos de problemas ambientais mais comuns e como estes podem atingir o segmento turístico/hoteleiro. Efeito Estufa A energia proveniente do sol aquece a Terra sendo, em seguida, dissipada. As próprias nuvens ou alguns gases que ficam retidos na superfície da Terra, principalmente o dióxido de carbono (CO 2 ), impedem a dissipação desta energia, garantindo uma situação de equilíbrio térmico sobre o planeta, de forma que este possa se manter aquecido. Este efeito, perfeitamente natural, facilitou a evolução do planeta. Sem a ação destes gases, a superfície da Terra seria coberta de gelo. Nos últimos tempos, a camada de gases em volta do globo tem se tornado muito densa em conseqüência de atividades humanas, principalmente industriais, que geram gases capazes de agir como uma poderosa barreira que impede a dissipação do calor, fazendo que haja um aumento da temperatura da Terra. Desta forma, esta particularidade, anteriormente benéfica, tornou-se uma ameaça ao planeta. Estes gases, oriundos das indústrias, da frota veicular da queima de florestas, são conhecidos como GASES- ESTUFA e têm como principais componentes o dióxido de carbono, o óxido de nitrogênio, o metano e os clorofluorcarbonos- CFCs. Com o objetivo de adotar medidas que possam diminuir os níveis de gases-estufa no planeta, diversos encontros internacionais estão sendo realizados, de forma a obter o comprometimento dos países mais desenvolvidos e industrializados em contribuir com a redução de emissão deste gases. No Protocolo assinado em Kyoto, Japão, em dezembro de 1997, no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, 32 países se comprometeram a reduzir a emissão de gases-estufa. 14

O efeito estufa pode provocar mudanças climáticas em diversas áreas geográficas. Assim, podem ocorrer tempestades em lugares tropicais e ausência de neve em lugares frios. Turistas que buscam um lugar ou outro, atraídos pelas suas características peculiares, tendem a mudar de roteiro. Com o aumento gradativo da temperatura da Terra, ocorre o degelo das calotas polares, aumentando assim o nível de águas nos oceanos. Isto provoca inundações em cidades costeiras. Hotéis situados nestes locais, sofrerão sérios prejuízos. O efeito estufa também estimula o crescimento de algas ao longo da costa, afastando os turistas que passam a procurar locais de praias limpas para se hospedar. Por outro lado, algumas algas microscópicas tendem a desaparecer com o aquecimento das águas oceânicas. No ano de 1987 já havia sido observado que os corais de Porto Rico, no Caribe, estavam ficando brancos. O Comitê Oceanográfico Internacional da ONU atribuiu o fato ao aumento da temperatura da água, causada pelo efeito estufa, que promove o desaparecimento de algas microscópicas responsáveis pelas cores dos corais. Sem essas algas, os corais também se tornam frágeis e acabam não dispondo de energia suficiente para a reprodução. Hotéis instalados em praias paradisíacas, providas de piscinas naturais de corais, podem deixar de ser atrativos, caso estes corais venham a desaparecer. Em 1997, o Fundo Mundial para a Natureza divulgou um informe dando conta de que os recifes de corais no Chile poderiam extinguir-se. O aquecimento da Terra também afeta o desaparecimento de algumas espécies da fauna e flora. Desde 1977 que alguns ornitólogos constataram que os bosques norte-americanos estavam ficando mais silenciosos. Em muitos outros lugares do mundo, muitas espécies estão desaparecendo. Em 1996, o mundo ficou sabendo que os sapos e rãs estavam diminuindo nos continentes, possivelmente em decorrência do aquecimento da Terra. Apesar dessas espécies assustarem muitos hóspedes, a extinção deles pode causar a proliferação dos grilos e outros insetos, espécies tão indesejáveis quanto as primeiras no ambiente de hotelaria. 15