TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES: CRIME E VIOLÊNCIA Gustavo Henrique Rocha gustavohenriquemagic@hotmail.com (bolsista voluntário) Leila Paula Lima leilapaulalima@gmail.com (bolsista voluntária) Maria Angélica Peixoto angelixpeixoto@gmail.com (orientadora) Maria Aparecida Rodrigues de Souza mcidarsouza@gmail.com (coorientadora) Resumo O tráfico de mulheres é um fenômeno expressivo e que tem aumentado na sociedade contemporânea produzindo um grande número de vítimas, geralmente mulheres entre dezoito e vinte quatro anos e adolescentes. As pesquisas que discorrem sobre este tema acabam se avolumando. Contudo, apesar das contribuições e progressos nesse campo apresentam um estágio incipiente que ganha consistência e tende a se tornar mais consolidado. Temos aqui o entrelaçamento entre problema social e problema sociológico e nosso objetivo é analisar a relação entre violência, criminalidade e tráfico internacional de mulheres numa perspectiva teórica, buscando trabalhar conceitos que busquem transcender os limites encontrados ao abordar o tema do tráfico de mulheres e que auxiliem no estudo da realidade concreta e que possa oferecer sólido arcabouço teórico capaz de lançar possibilidades para o aprofundamento da compreensão deste fenômeno. Palavras-Chave: Tráfico, Violência, Crime Objetivos O objetivo central é explicar os altos índices do tráfico internacional de mulheres, sua relação com o fenômeno da violência contra a mulher e criminalidade. Os objetivos específicos são: a) analisar as teorias que discorrem sobre o fenômeno da violência; b) analisar as teorias que discorrem sobre o fenômeno do tráfico de mulheres e ver se há uma relação entre violência, tráfico e capitalismo. Justificativa/Fundamentação Teórica O tema da violência do tráfico de mulheres é de suma importância por sua atualidade e cada vez mais este problema social ganha espaço nos meios de comunicação. A preocupação com esse processo de tráfico também ganha mais atenção de governos, nos meios acadêmicos. Dessa forma, trata-se de um grave problema social que atinge milhares de pessoas. 1
O tráfico de pessoas ou tráfico de seres humanos (TSH) é definido, segundo o Protocolo Adicional Relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, da seguinte forma: a transferência de pessoas através de algum meio ilícito ou enganoso, cujo objetivo é a exploração, incluindo várias formas que esta pode assumir. Este é um fenômeno complexo, envolvendo inúmeros agentes, especialmente os traficantes e as vítimas, mas também o Estado, organizações internacionais e alguns indiretamente, familiares das vítimas. Pensamos que esse grave problema social pode ser compreendido através da problematização de dois conceitos fundamentais - violência e criminalidade. O conceito de violência é polissêmico. É necessário romper com as concepções que naturalizam a violência seja através de representações cotidianas, senso comum (BAUMAN, 1978), formando uma atmosfera natural (KOSIK, 1986) se reproduz na ideologia e muitas vezes no próprio pensamento sociológico (BAUMAN, 1978), pois elas promovem um fetichismo deste fenômeno (que torna-se natural, eterno, imutável ). A violência é uma relação social de imposição (VIANA, 1999). Outro elemento é percebê-la como relação desigual, alguns exercem a violência e outros são vítimas (VIANA, 1999). A violência tem raízes sociais que remetem ao problema da desigualdade (ODÁLIA, 1985; BARREIRO, 1978; VIANA, 1999) e não se manifesta apenas pela força física, pode se manifestar de diversas formas, inclusive como formas de coação psíquica, moral ou técnicas, exercidas pessoal ou coletivamente (BARREIRO, 1978, p. 104). A violência criminal é mais visível (MICHAUD, 1989). Ela remete ao problema do crime, normas, leis. As normas são a manifestação de valores (MENDRAS, 1975). Esses valores materializados em normas formam as bases legais e significa a imposição da classe dominante de seus valores sobre as classes dominadas. Tanto as normas legais quanto o desrespeito a elas são produtos sociais e históricos. A 2
base essencial e social do crime e sua produção residem nas sociedades proprietárias (TAYLOR, WALTON, YOUNG, 1980). A sociedade capitalista se fundamenta na imensa riqueza de uma minoria em contraste com a pobreza da maioria e com altos índices de desigualdade social. A pobreza e a miséria são uma das causas de violência criminal (ALMEIDA, 1996). Existem outros elementos no capitalismo que geram outras formas de violência, especialmente a competição social, que atinge o psiquismo humano, como explicitado por alguns psicanalistas, como Schneider (1977). É neste contexto que ocorre o tráfico internacional de mulheres. Nesse sentido, a compreensão do fenômeno da violência em geral e da criminal em particular contribuirá para a análise do processo de tráfico internacional de mulheres. Metodologia A pesquisa é eminentemente teórica e, por conseguinte, se baseia em pesquisa bibliográfica sobre o tema. O processo se iniciou com investigação bibliográfica, que consiste em buscar novas obras sobre o tema do tráfico internacional de mulheres, criminalidade e violência. A segunda etapa foi revisão das obras já lidas e leitura das novas obras (livros, artigos) adquiridas. A terceira etapa, que se inicia a partir de agora, consistirá no processo analítico do fenômeno social, tomando por base o referencial teórico derivado da bibliografia consultada e as informações contidas na mesma. O método trabalhado é o dialético de Karl Marx (1983). Resultados e discussão Os resultados parciais adquiridos até agora apontam para a investigação bibliográfica na qual descobrimos novas obras relativas ao nosso tema, algumas que foram avaliadas preliminarmente e poderão ser incluídas em nossa revisão bibliográfica, sendo que algumas já foram lidas e outras previstas para ser objeto de 3
leitura. A equipe, coletivamente, realizou a leitura de algumas obras, com destaque para a tese de doutorado de Guilherme Werner (2009), o artigo de Ariana Bazzano (2013). A tese de Guilherme Werner (2009) contribui com o processo de aprofundamento da discussão em torno do crime organizado transnacional. Além disso, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos (SANTOS, GOMES, DUARTE, 2009) e suas colaboradoras foram também objeto de leitura. Essas leituras, somadas às anteriormente realizadas e que constam no projeto, sendo que algumas foram relidas, permitem um quadro mais completo e amplo de nossa pesquisa e temática. Assim, já conseguimos um conjunto de informações (dados estatísticos, por exemplo), discussões e posições a respeito no debate acadêmico. Considerações finais A pesquisa vem se desenvolvendo normalmente e esperamos realizar sua concretização dentro do prazo. As leituras realizadas e o processo geral foram adequados e aponta para uma percepção mais profunda do fenômeno tráfico internacional de pessoas. Referências ALMEIDA, Rosemary. Violência urbana, exclusão social e identidade. In: LINS, Daniel; BARREIRA, César. Poder e Violência. Fortaleza: EDUFC, 1996. BARREIRO, Julio. Violencia y politica en America Latina. 4. Ed. Siglo XXI, 1978. BAUMAN, Z. Por uma sociologia crítica. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. BAZZANO, Ariana. Gênero, crime e preconceito: um panorama histórico das normativas internacionais de combate ao crime de tráfico de pessoas. Interseções, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 417-445, dez. 2013. KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. MARX, K. Para Uma Critica da Economia Política. São Paulo, Martins Fontes, 1983. MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática, 1989. ODÁLIA, Nilo. O que é violência. São Paulo: Brasiliense, 1985. SANTOS, B.S.; GOMES, C.; DUARTE, M. Tráfico sexual de mulheres. Revista Crítica de Ciências Sociais, v. 87, p. 69-94, dez. 2009. SCHNEIDER, Michael. Neurose e classes sociais. Rio de Janeiro, Zahar, 1977. 4
TAYLOR, Yan; WALTON, Paul; YOUNG, Jock. Criminologia Crítica. Rio de Janeiro: Graal, 1980. VIANA, Nildo. Violência, conflito e controle. Brasília: MNDH/Movimento Nacional dos Direitos Humanos, 1999. WERNER, Guilherme C. O Crime organizado transnacional e as redes criminosas. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009. 5