BIOMECÂNICA DOS TENDÕES. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior



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Transcrição:

BIOMECÂNICA DOS TENDÕES Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

O que é um Tendão? O Tendão é uma estrutura de tecido fibroso que une os músculos aos ossos. A força exercida pelos músculos converge para o tendão e através deste o osso é tensionado. Esta força permite a realização da maioria dos movimentos articulares.

De que é feito um Tendão? Composto por: Fibroblastos (células que sintetizam as proteínas colágeno e elastina); Colágeno (25%); Água (70%); colágeno Tipo I (95-99%); Tipo III (1-5%); pouquíssima elastina. Colágeno I e III constituem 90% de todo o colágeno corporal; Fibras de colágeno longitudinais; Pouco vascularizado (1 a 2% da área).

Quais as funções de um Tendão? Transmitir a força muscular (que atuará no osso); Armazenar energia (que será utilizada como energia propulsora); Possibilitar que o volume muscular esteja longe da articulação (não atrapalhando o movimento articular); Funcionar com um amortecedor (dissipador de energia); Resistir a forças tensivas na flexibilidade.

Quais as alterações do Tendão ao exercício físico? As alterações são Adaptativas e Reparativas. A atividade física altera a estrutura, a composição química e as propriedades mecânicas do tendão. Aumento da capacidade de suportar forças compressivas e tensivas. Aumento da síntese de colágeno Tipo I a partir do procolágeno extracelular. Porque?

Quais as adaptações do Tendão ao exercício físico? Observar que a TSF (Taxa de Síntese Fracional) no tendão atinge o valor máximo 24h após o exercício intenso, permanecendo elevado até 3 dias depois. No músculo a TSF é atinge valores elevados entre as 6h e 24h após o esforço. Qual a razão destas diferenças????????????!!!!

Forças exercidas por tendões ATIVIDADE TENDÃO FORÇA (N) Corrida lenta Aquiles 4000 5000 Corrida lenta Patelar 7000 Corrida rápida Aquiles 8000 9000 Caminhada Aquiles 1000 3000 Ciclismo Aquiles 5000 6000 Salto (impulsão) Patelar 7000 8000 Salto (aterrissagem) Patelar 5000 7000 Levantamento de peso (ruptura) Patelar 14000

Riscos de lesões em tendões no Levantamento de Peso H. Rezazadeh (Irã) Recorde Olímpico: 263,5Kg (arremesso) Tendões mais vulneráveis: patelar, do bíceps braquial, do supraespinhal, do infraespinhal, do redondo menor e do subescapular (manguito rotador).

Riscos de lesões em tendões no Levantamento de Peso

Características biomecânicas do Torque gerado pelo tendão patelar na extensão do joelho em homens jovens (19,1 anos); Após 23 dias de suspensão unilateral de membro inferior, torque se reduz à metade para alongamento elevado do tendão (6,0 e 7,0mm). tendão patelar

Características biomecânicas do tendão patelar Atrofia muscular de 10%; Diminuição de 20% no torque; Diminuição de 30% na rigidez e do Módulo de Young; Ou seja: programas de reabilitação e treinamento devem começar 2 semanas após a lesão. 0-10 -20-30 Área secção transversal do músculo Rigidez do tendão Torque Diminuição relativa (%) 14 24 Tempo (dias)

E as características biomecânicas do tendão patelar dos idosos? Idosos (74,3 anos) submetidos a um programa de alongamento de 14 semanas (3x/semana) Aumentará ou diminuirá a capacidade de alongamento do tendão?

E as características biomecânicas do tendão patelar dos idosos? Programas de alongamento com idosos aumentam a rigidez do tendão, diminuindo o Strain ( ) e a alongabilidade do mesmo. O Módulo de Young (E) aumenta. E = / Isto determina a diminuição de riscos de lesões nos tendões. Os ganhos na flexibilidade acontecem na musculatura, melhorando a capacidade de realização de tarefas cotidianas.

Qual a influência do alongamento passivo no tendão do Gastrocnêmio? 8 homens (20,5 anos); eletrogoniometria, ultrasonografia, Cybex e EMG. As medidas da rigidez do tendão foram realizadas com 25 graus de dorsiflexão. Foram realizados cinco alongamentos passivos com velocidade de 5 o /s, sustentado por 1 minuto na dorsiflexão máxima. Medida do alongamento da Junção Mio Tendinosa (JMT) no músculo Gastrocnêmio

Qual a influência do alongamento passivo no tendão do Gastrocnêmio? Músculo Tendão * Diferença significativa (0,05)

Qual a influência do alongamento passivo no tendão do Gastrocnêmio?

Qual a influência do alongamento passivo no tendão do Gastrocnêmio? Músculo Gera torques maiores no pré condicionamento Tendão Gera torques maiores no pós condicionamento O pré condicionamento com alongamentos reduziu em 56% a rigidez do músculo gastrocnêmio

Qual a influência do alongamento passivo no tendão do Gastrocnêmio? Quais as implicações destes resultados? O aumento da flexibilidade decorrente da redução da rigidez muscular. Isto beneficia atividades competitivas onde a flexibilidade é fundamental (Pilates, GRD, dança, etc.) A diminuição do torque indica que a geração de força e potência ficam comprometidas. Esportes que exigem ambos (flexibilidade e potência) devem considerar com cuidado o alongamento preliminar. É o caso da ginástica, da corrida com barreiras, dentre outros.

3 Conceitos Fundamentais Creep Histerese Resiliência

Creep Quando o tendão sofre um alongamento decorrente de uma carga que atuou sobre ele um tempo relativamente longo. Exemplo: contrações isométricas Alongamento medido Stress medido tempo tempo

Histerese Propriedade viscoelástica do tendão, onde a deformação do mesmo possui comportamento diferente durante a atuação da carga e a retirada da mesma. O alongamento do tendão nas mulheres é maior que nos homens para F > 50N. Logo, o dos tendões é maior nas mulheres. A rigidez e o Módulo de Young (E) é maior nos homens. Isto ajuda a explicar as diferenças de performance entre H e M. Área é a energia armazenada no tendão! E as lesões?

Resiliência (U) Propriedade que o tendão possui de armazenar energia quando deformado. Ou seja, é a energia máxima que o tendão pode armazenar por unidade de volume. Pode ser calculado pela área em um gráfico x Área = U

Referências Kjaer, M.; Maganaris, N. et ali. Human tendon behaviour and adaptation, in vivo. Journal Physiology 586.1 p. 71-81, 2008. Narici, M., Boer, M. et ali. Time course of muscular, neural and tendinous adaptations to 23 day unilateral lower limb suspension in young men. Journal Physiology 583.3, p. 1079-1091, 2007. DeFrate, L., Guon Li et ali. The biomechanical function of the patellar tendon during in vivo weight bearing flexion. Journal Biomechanics 40(8), p. 1716-1722, 2007. Morse, C.I., Degens, H. et ali. The acute effect of stretching on the passive stiffness of the human gastrocnemius muscle tendon unit. Journal Physiology, 586.1 p. 97-106, 2008. Narici, M.V., Maganaris, C.N., Reeves, N.D. Effect of strengh training on human patella tendon mechanical properties of older individuals. Journal Physiology 548.3. p. 971-981, 2003. Gandevia, S.C., Butler, J.E. et ali. Change in length of relaxed muscle fascicles and tendons with knee and ankle movement in humans. Journal Physiology 539.2, p. 637-645, 2002. Kjaer, M., Magnusson, P. et ali. Extracellular matrix adaptation of tendon and skeletal muscle to exercise. Journal Anatomy 208, p. 445-450, 2006.