3a VARA CIVEL FEDERAL DA CAPITAL AUTOS N. : 2003. 61.00. 025646-0 ACAO CIVIL PUBLICA AUTOR: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL REU: UNIAO FEDERAL JUIZA FEDERAL : MARIA LUCIA LENCASTRE URSAIA SENTENCA TIPO A ( com merito individual) VISTOS. Trata-se de acao civil publica, com-pedido de tutela antecipada, objetivando a reserva de vagas para pessoas portadoras de deficiencia, no XI Concurso para provimento de cargos de Juiz Federal Substituto organizado pelo Egregio Tribunal Regional Federal da 3a Regiao, nos i
termos dos artigos 37 a 43 do Decreto n. 3.298/99, bern como artigo 37, inciso VIII da Constituigao Federal e Leis n. 8112/90 e n. 7853/89. Alegam os ilustres representantes do Ministerio Publico Federal que a ausencia de reserva de vagas em concurso publico aos portadores de deficiencia fisica ofende o disposto no artigo 37, inciso VIII da Constituigao Federal, artigo 2 da Lei n. 7.853/89, seu Decreto Regulamentador de n. 3.298/99, artigos 37 a 43 e Lei n. 8.112/90, artigo 5 paragrafo 2. Acostou os documentos de fls. 55/117. Manifestagao da Uniao Federal, as fls. 121/130, nos termos do artigo 2., da Lei n. 8437/92, alegando que no houve ofensa ao artigo 37, inciso VIII, da C.F. e pugnando ^ elo indeferimento da tutela antecipada. A tutela antecipada foi fundamentadamente indeferida, as fls. 134/139. 0 Ministerio Publico Federal interpos Agravo de Instrumento, fls. 142/168. Citada, a Uniao Federal apresentou contestagao, as fls. 176/185, alegando que no houve violagao ao artigo 37, VIII, da C.F. e que no ha obice a participagao
JUSTIcA FEDERAL das pessoas portadoras de deficiencia, ao contrario, em igualdade de condicoes com os demais. Replica, as fls. 187/195. E 0 RELATORIO. DECIDO. Cuida-se de Acao Civil Publica em que o Ministerio Publico Federal objetiva a reserva de vagas para pessoas portadoras de deficiencia, no XI Concurso para provimento de cargos de Juiz Federal Substituto, organizado pelo Egregio Tribunal Regional Federal da 3a Regiao, nos termos dos artigos 37 a 43 do Decreto n. 3.298/99, bern como artigo 37, inciso VIII da Constituicao Federal e Leis n. 8.112/90 e n. 7.853/89. A convencao da O.I.T. n. 159, de 1.983, ratificada pelo Brasil atraves do Decreto Legislativo n. 51, Ue 28 de 1.989, conceitua o portador de deficiencia em seu artigo 11, "in verbis":
JUSTI^A FEDERAL "Para efeitos da presente Convencao, entende-se por `pessoa deficiente' todo individuo cujas possibilidades de obter e conservar um emprego adequado e de progredir no mesmo fiquem substancialmente reduzidas devido a uma deficiencia de carater fisico ou mental devidamente reconhecida". A questao "sub judice" envolve a aplicagao do principio da igualdade e a integragao social das pessoas portadoras de deficiencia. No nosso ordenamento juridico, a materia foi tratada no artigo 37, inciso VIII, da Constituigao Federal de 1.988 que determinou que a lei reservara percentual dos cargos e empregos publicos para as pessoas portadoras de deficiencia e, quanto aos criterios de admissao, posteriormente, sobrevieram as Leis n. 7.853/89 e Lei n. 8.112/90, a primeira, dispos sobre o apoio as pessoas portadoras de deficiencia, sua integragao social e suas normas visam garantir as ago-es go': ^amentais necessarias ao seu cumprimento e das demais disposigoes constitucionais e legais que Ihes concernem, afastadas as discriminagoes e as preconceitos de qualquer especie, e entendida a materia como obrigagao nacional a cargo do Poder Publico e da sociedade. 4
22J0 Neste sentido, tambem dispos a Lei n. 8.112/90, em seu artigo 50., paragrafo 20., que as pessoas portadoras de deficiencia a assegurado o direito de inscricao em concurso publico para provimento de cargo cujas atribuicoes sejam compativeis com a deficiencia de que sao portadoras; para tais pessoas serao reservadas ate 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. Todavia, a Constituicao Federal no cap'tulo III que trata do Poder Judiciario tem disposicao a ele especifica, in litteram: "art. 93 - Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, dispora sobre o Estatuto da Magistratura, observados as seguintes principios: I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial sera o de juiz substituto, atraves de concurso publico de provas e titulos, com a participagao da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, obedecendo-se nas nomeasoes, a ordem de classificacao." Assim sendo, disposicao sobre o concurso para ingresso na carreira da Magistratura estaa sob reserva de 5
JUSTIIrA FEDERAL Iei complementar e, portanto, entendo inadequada a pretendida integragao do disposto no artigo 37, inciso VIII, com as Leis n. 8.112/90 e Lei n. 7.853/89, no caso especifico do ingresso na carreira da Magistratura, materia que so pode constar de Iei complementar, observando-se que a atual Lei Complementar n. 35/79, e ornissa porque anterior a atual Magna Carta. Em decorrencia, apenas outra Iei complementar a ser editada, legitimaria a obrigatoriedade de reserva de percentual em concurso de ingresso a carreira da Magistratura para pessoas portadoras de deficiencia fisica. Neste contexto, entendo que a determinagao constitucional de rigorosa obediencia a ordem de classificagao restaria desatendida com a reserva de vaga pretendida, pois, ensejaria que o candidato, com classificagao menor, sendo deficiente fisico, pudesse suplantar o candidato no deficiente, com meihor classificagao, somente em razao da necessidade de preenchimento do percentual de reserva estabelecido, alem do que, o Poder Judiciario no pode substituir a Administragao, estabelecendo criterios editalicios. Ademais, a aptidao intelectual e a competencia sao os requisitos que habilitam os pretendentes ao ingresso a carreira da Magistratura que conta tanto com 6
pessoas nao deficientes como com deficientes todos igualmente avaliados sob aqueles criterios. A jurisprudencia dos Tribunals tem se manifestado como segue: Ementa CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANcA. CONCURSO PARA 0 CARGO DE JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO. AUSENCIA DE RESERVA DE VAGAS DESTINADAS AOS CANDIDATOS PORTADORES DE DEFICIENCIA FISICA, APROVADOS NO CERTAME. 1. 0 disposto no art. 37, VIII, da Constituigao Federal, a regra de eficacia contida, necessitando, portanto, de lei especifica que a regulamente no ambito do Poder Judiciario. 2. 0 artigo quinto, paragrafo segundo da Lei n. 8.112/90, embora trata da materia, nao define os criterios de admissao, no servigo publico dos portadores de deficiencia fisica. 3. A regra para preenchimento de cargo de magistrado esta prevista no art. 93, caput e inciso I, da Constituigao Federal, segundo o qual o principio que preside a realizagao de 7
concurso para o ingresso na carreira da magistratura e o da ordem de classificagao. 4. Mandado de Seguranga que se denega. (Tribunal Regional da 5a Regiao, Mandado de Seguranga n. 9505042981/PE, julgado pelo Tribunal Pleno - acordao unanime -, Relator Juiz Nereu Santos, publicado em 10/11/95) 0 edital e a lei do concurso, desta forma, estabelece-se um vinculo entre a Administragao e os candidatos, igualmente ao descrito na Lei de Licitagoes Publicas, ja que o escopo principal do certame a propiciar a toda coletividade igualdade de condigoes no ingresso ao servigo p'blico. Pactuam-se, assim, normas preexistentes entre os dois sujeitos da relagao editaiicia. De um lado, a Administragao. De outro, os candidatos. Com isso, a defeso a qualquer candidato vindicar direito alusivo a quebra das condutas lineares, universals e imparciais adotadas no certame. Acresce relevar a aplicagao da teora do fato consumado pelo decurso do tempo, em respeito a seguranga das relagoes juridicas, eis que o XI Concurso para provimento de cargos de Juiz Federal Substituto, promovido pelo Eg. TRF da 3a. Regiao, ja se encerrou e, este fato no 8
a44 PODER JUDICI.4RIO resultou nenhum prejuizo a terceiros ou ofensa a ordem juridica. Ante as razoes expostas, JULGO IMPROCEDENTE o pedido, com resolugao de merito, nos termos do artigo 269, inciso I, do C.P.C. Honorarios advocaticios e custas judiciais indevidos, com fundamento no artigo 18, da Lei n. 7.347/1985. jurisdigao. teor desta sentenga. Sentenga sujeita ao duplo grau de Oficie- se ao Eg. TRF/3a Regiao acerca do P.R.I. e O. Sao Paulo, 29 de janeiro de 2.007. MARIA LUCIA LENCASTRE U AIA JUIZA FEDERAL 9