Declaração de Roma Definição de uma visão para a ciência dos mares e oceanos: Impacto, liderança mundial e crescimento azul sustentável para a Europa A Europa está a sair da pior crise financeira da história recente. A reconstrução das nossas economias exige que identifiquemos as oportunidades sustentáveis de emprego e de crescimento económico. O oceano é uma fonte de alimentos, água, energia e matérias-primas, um meio para o turismo, o transporte e o comércio e pode fornecer soluções para muitos desafios da política europeia e mundial. Mas o mar não é inesgotável nem insuscetível de danos. No contexto de mudanças rápidas a nível mundial e de crescimento da população humana, é imperativo conquistar o bem-estar combinando benefício económico com proteção do ambiente. Trata-se de um desafio extremamente complexo. A investigação europeia colaborativa e interdisciplinar é essencial para fornecer os conhecimentos e instrumentos de que necessitamos para concretizar uma gestão ecossistémica e garantir a proteção dos valiosos recursos e serviços marinhos. Os quatro objetivos da Declaração de Roma 1. Valorizar o oceano Promover um mais vasto conhecimento e compreensão da importância dos mares e oceanos na vida quotidiana dos cidadãos europeus. 2. Tirar partido da liderança europeia Aproveitar os nossos pontos fortes para reforçar a posição da Europa como líder mundial em ciência e tecnologia marinhas. 3. Fazer progredir o conhecimento dos oceanos Criar uma maior base de conhecimentos através da observação dos oceanos e da investigação fundamental e aplicada 4. Quebrar as barreiras Responder aos complexos desafios do crescimento azul e da sustentabilidade dos oceanos através da combinação de conhecimentos especializados e das contribuições de um leque de disciplinas científicas e de partes interessadas. Ligar a ciência, a política e as pessoas Desde o lançamento do Espaço Europeu da Investigação, em 2000, foram realizados progressos substanciais na integração da ciência marinha europeia. Tais progressos baseiam-se numa premissa simples: podemos obter melhores resultados se trabalharmos em conjunto, ultrapassando as barreiras nacionais à cooperação científica. A evolução das políticas da UE tem sido no sentido de uma abordagem integrada da gestão do espaço e dos recursos marítimos, tendo-se progredido significativamente. A política marítima integrada da UE, o seu pilar ambiental, a Diretiva-Quadro Estratégia Marinha, a Diretiva Ordenamento do Espaço Marítimo e a política comum das pescas reformada proporcionaram uma base sólida para a cooperação entre os Estados-Membros na resposta aos desafios marítimos comuns e às correspondentes responsabilidades. Além disso, a Estratégia para o «Crescimento Azul» tem em conta a contribuição que a ciência pode dar para o Page 1 of 6
desenvolvimento de uma economia marítima europeia sustentável. Numa declaração política recente, o novo presidente da Comissão Europeia 1 sublinhou a necessidade de nos focarmos nos desafios capitais que se colocam futuramente às nossas economias e sociedades «seja no que diz respeito à era digital, à corrida à inovação e às competências, à escassez de recursos naturais, à segurança alimentar, ao custo da energia, ao impacto das alterações climáticas ou ao envelhecimento da nossa população, seja no que respeita à dor e à pobreza existentes nas fronteiras externas da UE.» A presente declaração é uma declaração de intenções da comunidade europeia de cientistas marinhos sobre o modo como podemos trabalhar em conjunto nos próximos cinco anos, praticando uma ciência mais integrada, compreendendo as necessidades das partes interessadas, as necessidades das políticas subjacentes, a sustentabilidade ambiental, o impacto social orientado e promovendo a liderança europeia num contexto global. Apelamos aos Estados-Membros e aos Estados associados, à Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu, ao Banco Europeu de Investimento e ao setor privado para que nos apoiem na promoção dos seguintes quatro objetivos de alto nível e ações conexas: 1 Um novo começo para a Europa: o meu programa para o emprego, o crescimento, a equidade e a mudança democrática. Orientações políticas para a próxima Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, Estrasburgo, 15 de julho de 2014 (http://ec.europa.eu/about/juncker-commission/docs/pg_en.pdf ) 1. Valorizar o oceano Objetivo: promover um maior conhecimento e compreensão da importância dos mares e oceanos na vida quotidiana dos cidadãos europeus Com a população mundial a atingir os 9 mil milhões de pessoas em 2050, são necessárias novas formas de lhe fornecer alimentos e energia e de garantir a utilização segura e sustentável do espaço marinho. Porém, muitas pessoas têm pouca consciência da importância dos mares e oceanos na sua vida quotidiana, do impacto que têm sobre o bem-estar humano, do seu papel nas alterações do planeta, da importância da economia marítima, da riqueza do património natural e cultural e da necessidade de proteger recursos oceânicos vitais. Se conseguirmos transformar a consciencialização e a compreensão do papel dos oceanos no conjunto da sociedade, poderemos criar melhores condições para o investimento e o crescimento azul sustentável. Apoio sustentado à literacia oceânica, utilização das melhores práticas no domínio da comunicação científica, iniciativas que liguem os cidadãos à ciência e incorporação da transferência de conhecimentos nos projetos e programas de investigação marinha; Um programa coordenado, interdisciplinar e integrado sobre Oceanos e Saúde Humana, destinado a compreender e gerir os riscos e benefícios para a saúde física e mental das interações com o mar; Outras iniciativas tendentes a definir metodologias avançadas e acordadas para a avaliação e a utilização de sistemas de valores e indicadores monetários e não monetários (por exemplo, culturais, recreativos, de promoção da saúde, etc.) para os serviços e os benefícios do ecossistema marinho; O reconhecimento de que a diversidade dos mares regionais, desde o oceano Atlântico e as suas ligações com o Ártico, até ao mar Báltico, ao mar do Norte, ao mar Negro e às zonas ultraperiféricas, é um ativo europeu que deve ser valorizado para promover o crescimento azul. A especificidade e a sensibilidade do mar Mediterrâneo requerem particular atenção, o que é reconhecido pela proposta de iniciativa de investigação e inovação no âmbito do crescimento azul para o Mediterrâneo. Page 2 of 6
2. Tirar partido da liderança europeia Objetivo: aproveitar os nossos pontos fortes para reforçar a posição da Europa como líder mundial em ciência e tecnologia marinhas. A Europa é um continente verdadeiramente marítimo, com uma jurisdição oceânica que inclui a maior parte da zona económica exclusiva do mundo (ZEE). Somos líderes mundiais no transporte marítimo e na construção naval, na dragagem, nas tecnologias de perfuração e extração submarina, nas tecnologias de exploração da energia oceânica, no turismo costeiro, nos sistemas de produção de marisco, além de termos um potencial significativo a nível da biotecnologia azul e das energias renováveis oceânicas. Estamos também a elaborar e a aplicar políticas e práticas avançadas para uma gestão responsável dos nossos mares. No domínio da investigação, somos líderes em domínios essenciais das ciências e da engenharia marinha e marítima. Os países europeus possuem e exploram a frota de investigação mais avançada do mundo e estamos continuamente a expandir as nossas capacidades de observação dos oceanos, um objetivo fundamental da iniciativa da UE «Conhecimento do Meio Marinho 2020». A acrescentar a isto, através dos programas-quadro da UE e dos investimentos nacionais coordenados, a Europa desenvolveu um conjunto único de competências na organização da investigação à escala internacional. A liderança e a especialização europeias trazem consigo a oportunidade e a responsabilidade de promover uma perspetiva global, de iniciar um diálogo internacional e de exercer influência no sentido de uma gestão sustentável dos recursos e serviços oceânicos mundiais. A manutenção da nossa liderança e vantagem competitiva exigirá conhecimentos avançados e inovação. Uma avaliação detalhada do atual nível de investimento europeu em investigação marinha e marítima para determinar se é ou não suficiente, dado o elevado valor e a importância da economia marítima europeia 2 ; Apoio ao desenvolvimento de parcerias público-privadas no domínio da investigação e inovação, centradas em tecnologias estratégicas, incluindo a partilha de dados, a fim de contribuir para o crescimento e o emprego em setores cruciais para uma economia «azul» e uma sociedade europeias resilientes e baseadas no conhecimento; Maior apoio à investigação colaborativa com países parceiros, ultrapassando as barreiras ao financiamento comum e à construção de capacidades, tendo em conta os progressos já realizados pela Aliança Transatlântica de Investigação Oceanográfica 3 ; Desenvolvimento de mecanismos transparentes de utilização da ciência para apoiar a elaboração de políticas baseadas em dados concretos. 2 O investimento anual combinado da UE em investigação marinha e marítima está estimado atualmente em 2 000 milhões de euros. A Estratégia «Crescimento azul» da UE estima que o valor acrescentado bruto (VAB) da economia marítima europeia seja de 500 mil milhões de euros por ano. O objetivo de Barcelona compromete a UE a aumentar o seu investimento em investigação para 3 % do PIB, um terço dos quais (ou seja 1 %) deve provir do setor público. Em termos de economia marítima, 1 % equivale a um investimento anual de 5 mil milhões de euros, mais do dobro do atual nível de investimento. 3 Galway Statement on Atlantic Ocean Cooperation. Launching a European Union Canada United States of America Research Alliance. (http://ec.europa.eu/research/iscp/index.cfm?lg=en&pg=transatlantic-alliance) Page 3 of 6
3. Fazer progredir o conhecimento dos oceanos Objetivo: criar uma maior base de conhecimentos através da observação dos oceanos e da investigação fundamental e aplicada Os recentes avanços a nível do conhecimento do meio marinho têm servido para ilustrar a avassaladora complexidade do oceano, a enorme diversidade da vida marinha e as mudanças a que está sujeita, assim como a interação entre processos ecológicos, biogeoquímicos, físicos e sociais que regulam o ecossistema oceânico. Uma importante questão que falta compreender e quantificar é o papel do oceano no sistema terrestre e a sua influência nas populações humanas em escalas temporais que vão de dias a séculos e em escalas espaciais que vão do local ao global. É urgente continuar a cartografar os meios marinhos, para compreender os complexos processos a que estão sujeitos, estudar as complexas interações entre o oceano, o leito e o subsolo marinhos, a terra, o gelo e a atmosfera, prever e preparar-se para as mudanças futuras e os impactos cumulativos resultantes das pressões humanas e naturais. Além disso, são necessárias ações para responder às oportunidades crescentes e aos desafios a nível das tecnologias avançadas de medição dos oceanos e da gestão eficaz dos volumes e da diversidade crescentes de informações e de dados físicos, químicos e biológicos dos sistemas de observação marinha que podem ter uma utilidade imediata, nomeadamente servirem de base a avaliações do bom estado ambiental. Inclusão dos temas da investigação marinha e marítima em toda a gama de desafios societais do Programa-Quadro Horizonte 2020 e em múltiplos níveis temáticos dos programas de investigação nacionais e regionais; Novos investimentos significativos em investigação e desenvolvimento tecnológico transdisciplinar e colaborativo, com o objetivo de dar resposta aos desafios complexos da gestão sustentável dos nossos recursos oceânicos, da identificação de cenários de mudança e respetivas estratégias de adaptação e da consecução de um bom estado ambiental nos mares regionais europeus; Uma melhor harmonização e uma utilização mais eficaz de uma gama diversificada de mecanismos de financiamento e coordenação (incluindo o ESFRI - Fórum Estratégico Europeu para as Infraestruturas de Investigação - o investimento da UE e os fundos estruturais), para a construção e o funcionamento a longo prazo das principais infraestruturas e instalações de investigação marinha, procurando corrigir as lacunas identificadas. Uma EMODnet (European Marine Observation and Data Network Rede Europeia de Observação e de Dados do Meio Marinho) totalmente operacional, que garanta que os dados recolhidos sejam bem geridos e disponibilizados gratuitamente, para apoiar a ciência, a indústria e a política, alinhados com o futuro desenvolvimento do Sistema Europeu de Observação dos Oceanos (EOOS), integrado a nível mundial (incluindo o GOOS, o GEO e o Copernicus). 4. Quebrar as barreiras Objetivo: responder aos complexos desafios do crescimento azul e da sustentabilidade dos oceanos combinando conhecimentos especializados e contribuições de um leque de disciplinas científicas e de partes interessadas. Abraçar um caminho ambicioso e continuar a quebrar barreiras (disciplinares, práticas, culturais, financeiras, legais e políticas), a comunidade europeia de investigação dos oceanos e mares pode estabelecer um padrão para a toda a comunidade europeia de investigação. Dispomos já de um sólido historial de trabalho conjunto, mas queremos ir mais longe, transformando o modo como fazemos formação e investigação, centrando-nos no impacto produzido, interagindo com as partes interessadas, criando uma plataforma para a sustentabilidade e estimulando o emprego. A inovação na prestação de formação pré- e pós-universitária e a melhoria do quadro de competências e das possibilidades de carreira para os profissionais do meio marinho serão essenciais, em consonância com a Comunicação da Comissão sobre Inovação na Economia Azul. Que o ensino e a formação englobem e promovam a formação transdisciplinar, a capacidade de trabalhar em diferentes interfaces ciência/política, o espírito de equipa, o empreendedorismo e a Page 4 of 6
vasta gama de técnicas e de competências em TIC especializadas necessárias para apoiar as ciências marinhas modernas; Que se melhore o apoio, os incentivos e o reconhecimento da parte das instituições de ensino superior e de investigação, dos organismos de financiamento e das organizações profissionais, para que os investigadores estabelecidos se dediquem à investigação transdisciplinar e interajam com as partes interessadas e a sociedade; Que a Europa seja o local mais atraente para os cientistas de topo, oferecendo um ambiente internacionalmente competitivo, carreiras profissionais inovadoras transversais aos setores, mobilidade e empregos na economia azul. O legado da EurOCEAN 2014: uma visão para a ciência dos mares e oceanos na Europa A comunidade europeia da ciência e tecnologia marinhas pode prestar um serviço essencial à sociedade em geral, abordando diretamente as questões mais prementes, como a segurança do aprovisionamento de alimentos, água e energia, as alterações climáticas e o bem-estar humano. A ciência marinha e marítima pode contribuir para acelerar a consecução dos objetivos internacionais de desenvolvimento sustentável, criar novos empregos e gerar crescimento, promover a eficiência na utilização dos recursos, incluindo a economia circular, e a qualidade ambiental das águas europeias. O documento Navigating the Future IV 4, uma referência fundamental para os próximos programas de investigação a nível da UE, macrorregional e dos Estados-Membros, apresenta uma análise mais detalhada das prioridades estratégicas da investigação no domínio da ciência marítima e dos oceanos. Com esta visão, a comunidade científica marinha europeia apela ao apoio reforçado, coerente e orientado dos Estados-Membros e Estados associados, da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, do Banco Europeu de Investimento e do setor privado, para, em conjunto, definirem a futura agenda de investigação sobre os mares e oceanos. A Declaração de Roma foi adotada na Conferência EurOCEAN 2014, realizada em Roma, em 8 de outubro de 2014. Page 5 of 6
4 European Marine Board (2013). Navigating the Future IV. 20.º Documento de posição do European Marine Board, Ostende, Bélgica. ISBN: 9789082093100 (www.marineboard.eu/images/publications/navigating%20the%20future%20iv- 168.pdf). Page 6 of 6