A DISLEXIA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM THE DYSLEXIA IN THE TEACHING-LEARNING PROCESS Any Gabrieli Mazzotty Filomeno Bruna Silva de Sousa Resumo: Uma das dificuldades mais freqüentes apresentadas pelos alunos e que leva ao insucesso escolar (principalmente na fase de alfabetização) é a dislexia - uma dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente na leitura das palavras, na ortografia e na decodificação. Palavras-chaves: Dislexia, Alfabetização, Decodificação. Sendo uma das dificuldades de aprendizagem mais freqüentes em escolas e uma das principais causadoras do insucesso escolar, segundo a ABD (Associação Brasileira de Dislexia) a dislexia atinge cerca de dez a quinze por cento da população Brasileira (em sua maioria meninos) e as instituições de ensino ainda não se encontram preparadas pedagogicamente para lidar com os alunos disléxicos. Sua definição dá-se pela Associação Internacional de Dislexia (2003), como dificuldades no reconhecimento preciso e/ou fluente na leitura de palavras, na ortografia e na decodificação. Apesar de uma pessoa disléxica possuir uma inteligência, visão e audição normal, a dislexia a torna incapaz de ler e compreender o que lê e para quem não tem esse conhecimento das causas que a dislexia traz à criança que está no processo de aprendizagem, acaba confundindo os sintomas como desatenção, falta de motivação e como má alfabetização, quando na verdade dislexia é um distúrbio, um transtorno na área da leitura, escrita e soletração, podendo ser diagnosticada ao início da fase escolar da criança onde os sintomas podem ser notados com mais facilidade e que se não for tratada adequadamente pode comprometer sua fase adulta. Esse diagnóstico pode ser feito por uma equipe multidisciplinar formada por psicóloga, psicopedagoga e fonoaudióloga e conforme o caso, necessitando também de um parecer de neurologista, oftalmologista, entre outros profissionais,
que juntos, poderão proporcionar condições efetivas para um bom desenvolvimento atendendo as particularidades de cada aluno. Ainda no processo escolar, a criança disléxica enfrenta rotulações como bobas, desatentas, preguiçosas e vários outros apelidos que o leva a um grau de dificuldade maior e em que situações como essas causam comportamentos de agressividade e conseqüentemente uma progressiva marginalização, pois sua autoestima é afetada e perante a essa discriminação ocorre também um antisocialismo da criança diante aos alunos ditos normais, causando em si uma timidez podendo até desenvolver uma depressão. Pautada nas explicações de Serrano (2011), Giselle Massi afirma que: A depressão infantil perturba, segundo o autor, o processo de aprendizagem, porque a criança nesse estado tem sua atenção e concentração reduzidas; além disso, seu prazer em aprender também é diminuído. Os estados de insegurança e ansiedade que geralmente coexistem com manifestações depressivas podem estar associados ao temor do fracasso ante a aquisição da escrita, interferindo na aprendizagem dessa modalidade de linguagem e dificultando o desenvolvimento dos processos de atenção e memória. (p. 38) No ambiente escolar, medidas preventivas poderiam reestruturar o aluno evitando essas situações traumatizantes. Aliás, a criança/aluno com dislexia tem muito a oferecer aos colegas e muito a receber deles, essa troca de saberes além de uma interação, conhecimentos habilidades e afetos, proporciona a todos uma amizade construída na cooperação e solidariedade com o próximo. O que pode acontecer e vem acontecendo é o educador identificar um aluno com problemas, dificuldades para falar, ler ou escrever como se fosse um aluno disléxico, quando este apenas foi ou é vítima de métodos insuficientes para uma boa aprendizagem e ausente de motivação para a leitura. Ao perceber que a criança mesmo quando estimulada de várias formas ainda apresentar dificuldade para absorção do conteúdo, pode se tratar de um aluno disléxico. Por isso se faz a necessidade de um diagnóstico, que consistirá na análise do paciente por uma equipe multidisciplinar, e através dessa avaliação poderá saber qual a particularidade que esse aluno possui permitindo que o acompanhamento aconteça de maneira mais eficaz. Portanto quanto mais cedo esse diagnóstico melhor para a escola, para os pais e para a própria criança que na falta de um tratamento psicológico pode desenvolver problemas emocionais. Um acompanhamento
profissional poderá evitar um fracasso acadêmico e frustrações na vida futura dessa pessoa que aprenderá a conviver com a dislexia ciente de quais são as melhores formas de aprender. O papel do professor é essencial, especialmente na fase de alfabetização. Quando se deparar com crianças saudáveis, inteligentes, espertas, mas que ao ler apresentam dificuldade para entender o que leu, são aconselháveis uma investigação na família da criança para saber se há casos de dislexia na família. Quando diagnosticada será preciso um trabalho diferenciado com atividades adequadas à criança disléxica que garanta seu desenvolvimento. No livro Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas de Emília Ferreira, consta que: A leitura é um destreza. A escrita é uma destreza. Um dos requisitos prévios para o desenvolvimento de uma destreza é o raciocínio inteligente quanto aos problemas e as tarefas que implicam e ao porquê deles. Para raciocinar de modo efetivo sobre as tarefas de leitura e escrita, as crianças precisam formar conceitos sobre as funções comunicativas e os traços linguísticos da fala e da escrita. A escola influi, favorável ou não no desenvolvimento desse aprendizado. Os métodos de ensino que por ventura obscureçam ou que ocultem estes conceitos inibirão sua formação. Se as escolas empregam métodos e materiais que se ajustam ao desenvolvimento conceptual da criança, as destrezas da leitura/escrita podem desenvolver-se de maneira fluida e natural. (p. 192) A escola exerce um papel de suma importância no processo de ensinoaprendizagem, nas quais as crianças que apresentam dificuldades nesse processo sejam especialmente atendidas com a utilização de métodos e materiais compatíveis a cada necessidade particular. Para um melhor entendimento, a dislexia não é o resultado de um possível desinteresse, de uma condição social ou de baixa inteligência, e sim uma condição hereditária com alterações genéticas que ocorre por uma alteração nos neurotransmissores cerebrais impedindo a criança de ler e compreender algum texto com a mesma facilidade que tenha alguma criança da mesma faixa etária. Apesar do cérebro de um disléxico ser perfeitamente normal, as informações recebidas por ele são processadas em uma área diferente do cérebro. Em uma criança sem dislexia, ao aprender a ler ela reconhece e processa os fonemas, memorizando as letras e sons, passando a analisar as palavras e a dividilas em silabas e fonemas, relacionando as letras a seus respectivos sons. A partir do momento em que a criança se encontra hábil a ler com facilidade, inicia-se o
desenvolvimento em outra parte do cérebro que é responsável por uma memória permanente que reconhece as palavras familiares rapidamente. A tendência é que essa parte do cérebro passe a dominar cada vez mais o progresso no aprendizado na leitura exigindo menos esforço a cada período. No disléxico, no momento da leitura, é estimulada somente a área cerebral que processa os fonemas, por isso há a dificuldade em diferenciar fonemas de sílabas devido a parte responsável pela análise de palavras estar inativa, fazendo com que a criança não reconheça as palavras que já tenha lido ou estudado, pois suas ligação cerebrais não possuem a área responsável pela identificação de palavras. A conseqüência disso tudo é uma leitura que exija um grande esforço da parte da criança disléxica, pois para ela toda palavra que ler, parecerá uma palavra nova e desconhecida. Ninguém nasce com dificuldade escolar, essas vem conforme o caminhar da aprendizagem e que devem ser observadas e solucionadas, pois toda dificuldade escolar tem sua causa e sua solução. Algumas características/dificuldades escolares que uma criança disléxica possui que podem ser observadas são: Leitura sem ritmo, sem interpretação; confusão de letras; erros ortográficos; dificuldade em copiar de livros ou de quadros; dificuldade em situar o tempo passado, presente, futuro; substituição e reiteração de letra, palavra ou silaba na leitura e escrita; entre diversos outros fatores. Porém, dentro do processo de aprendizagem, dificuldades e erros como esses podem ser considerados normais em algumas crianças com dificuldades consideradas expressivas, mas que não são disléxicas, por isso se faz a necessidade da distinção dessas dificuldades consideradas passageiras para as disléxicas que são constantes, profundas e contínuas. Ao longo do desenvolvimento e de acordo com as fases de aprendizagem, a dislexia se expressa de formas diferentes. Algumas características nessas fases ocorrem da seguinte maneira: Pré-escolar: Atraso/desvio no início da fala; dificuldades na produção e na expressão verbal; desinteresse em explorar livros ou ouvir histórias; desinteresse ou dificuldade na aquisição de rimas; dificuldade na aprendizagem do nome/som das letras.
Ensino básico: Dificuldade em nomear e identificar letras/sons; dificuldades de consciência fonêmica; dificuldades na correspondência letra-som; escrita com erros ortográficos. Ensino Secundário: Leitura lenta; dificuldade em decodificar palavras desconhecidas; erros ortográficos: escrita fonética. Adolescentes e adultos: Leitura pouco fluente; escrita de texto lenta e pouco organizada; mais erros ortográficos em situações de stress/cansaço; e baixa velocidade de processamento de informação verbal. Moojen apud Rotta, classifica a dislexia em três particularidades: Dislexia fonológica (sublexial ou disfonética): A dificuldade afeta ao operar a rota fonológica durante a leitura e os problemas aparecem com frequência no momento de juntar os sons parciais em uma palavra completa. Essas dificuldades aparecem mais em palavras que não são familiares para esse leitor onde seu maior desempenho ocorre nas palavras já conhecidas a tempo por ele. Devido ao esforço em reconhecer as palavras, para que memorizem as mesmas, são obrigados a repetir os sons para não perdê-los. Consequentemente a concentração máxima dada ao reconhecimento das palavras traz dificuldades em compreender oque acabara de ser lido. Dislexia lexical (de superfície): Esta afeta fortemente a leitura de palavras irregulares onde os disléxicos leem lentamente, errando com frequência em silabações, repetições e retificações. Quando encontram em uma situação de leitura rápida, cometem substituições de palavras. Dislexia mista: Seria a junção das duas citadas anteriormente, os problemas estão em ambas as vias, fonológica e lexical. Onde se torna mais grave, e o esforço se torna maior para diminuir as consequências. Participando do processo escolar e fora dele, a dislexia dificulta entre vários fatores, a soletração de objetos e pessoas, uma memória imediata atrasada, confusão entre os lados direito e esquerdo, dificuldade no aprendizado de uma segunda língua e comprometimento emocional. Mas oque muitos ainda não estão cientes é de que a dislexia apesar de todos esses graus de dificuldades apresentam em muitos disléxicos, características de inteligência normal ou até superior ao da
maioria da população, podendo ter o lado artístico bastante aguçado, pensamento científico bem desenvolvido, entre outras qualidades. Alguns pesquisadores acreditam que os disléxicos têm uma probabilidade maior de se tornarem bem sucedidos, pois o tratamento inicial os ensina a conviver e aprender com a dislexia estimula sua criatividade e uma habilidade para lidar com os problemas da vida. Podemos citar aqui alguns disléxicos famosos que são exemplo de pessoas que ultrapassaram as barreiras que a dislexia proporciona ao aprendizado e que obtiveram um grande sucesso profissional. São eles Thomas Edison: inventor; Tom Cruise: ator; Walt Disney: fundador dos personagens e estúdios Disney; Agatha Christie: autora; e Whoopi Goldberg: atriz. A inclusão do aluno disléxico na escola está garantida e orientada por textos legais e normativos, como por exemplo, a lei 9.394, de 20/12/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), prevê-nos: Art. 12 Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I elaborar e executar sua Proposta Pedagógica. V prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; Art. 23 A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar; Art. 24 V, a) a avaliação continua e cumulativa, com a prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período. Ainda, entre outras legislações de apoio ao disléxico, o Art. 53, incisos I, II e III contido na Lei de número 8.069, de 13 de Julho de 1990 pelo ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) diz que: a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: I igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II direito de ser respeitado pelos seus educadores; III direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores. Um importante fator que pode apoiar o disléxico e ajudar na sua trajetória é o acompanhamento familiar que será o suporte afetivo da criança. Ao diagnóstico dado à criança no momento de seu ingresso escolar, a família deve estar atenta a
ela, às suas dificuldades e desenvolvimento. Deve à família colaborar com o educador e interagir à escola, essa parceria facilita o processo de ensino aprendizagem da criança. O mais importante à criança, aos educadores, aos familiares e a sociedade em geral, é saber que a dislexia não se trata de uma doença ou deficiência e sim de uma maneira diferente de aprendizado, que quando adequado e principalmente estimulado, o fracasso escolar torna-se impossível de acontecer para aquele que vê a dislexia como um fator causador do mesmo. Conclusão: O que podemos concluir com esse trabalho, é que os alunos que apresentam dislexia devem ter uma atenção especial por parte do professor, mais especificamente na fase de alfabetização, pois esse distúrbio, esse transtorno na área da leitura pode fazer com que o aluno tenha mais dificuldades nesse período. E por parte da família, para saber se não há histórico de dislexia entre os familiares, para que esse fato não seja ignorado e confundido com sintomas de desatenção, falta de interesse entre outros. Esse diagnóstico deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos, pois juntos poderão encontrar soluções adequadas para um melhor desempenho do aluno.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS DENARDI, Sandra Mara Dalee Cort. Dislexia: distúrbio de aprendizagem. Disponível em: http://www.artigonal.com/educacao-infantil-artigos/dislexia-disturbiode-aprendizagem-4063908.html. Acesso realizado em: 15/11/2012 FERREIRO, Emilia; PALACIO, Margarita Gomes - Os processos de leitura e escrita novas perspectivas. Porto Alegre: Artes Medicas, 1987. GORMAN, C. The New Science of Dislexia. Time July 20, 2003 In: http:/www.interdys.org/index.jsp Traduzido e adaptado em http://www.10emtudo.com.br/artigo/a-dislexia/ Acesso realizado em: 14/11/2012 MASSI. Giselle - A dislexia em questão. Plexus Editora, 2007.