Relatório do 1º Workshop sobre Doença de Chagas em Portugal



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Transcrição:

INSTITUTO DE HIGIENE E MEDICINA TROPICAL Unidade de Ensino e Investigação em Clínica das Doenças Tropicais Jorge Seixas, MD Professor Auxiliar Relatório do 1º Workshop sobre Doença de Chagas em Portugal Sumário Realizou-se a 26 de Fevereiro de 2010 no IHMT o 1º Workshop sobre Doença de Chagas em Portugal. A actividade contou com 54 inscritos, incluíndo médicos, enfermeiros, estudantes de mestrado, profissionais de laboratório de análises clínicas, investigadores e professores. Estiveram representados nomeadamente o Instituto Português do Sangue de Lisboa e Porto, o Centro de Histocompatibilidade do Sul, o Instituto Ricardo Jorge, a Escola Superior de Saúde (Lisboa) e o Hospital Militar Principal. Os prelectores convidados, provenientes de Caracas, Madrid, Barcelona e Genebra (OMS), transmitiram eficazmente a sua vasta experiência no campo da epidemiologia, vigilância, patogenia, clínica, diagnóstico, controlo e tratamento, em áreas endémicas e não-endémicas de Doença de Chagas. A situação da Doença de Chagas em Portugal é mal conhecida. As estimativas apontam para a existência actual de 850 potenciais portadores de T. cruzi entre os migrantes latino-americanos (predominantemente brasileiros) a residir em Portugal. Extrapolando do contexto e experiências europeias para Portugal, ficou clara a necessidade de implementar rapidamente medidas preventivas eficazes nos dadores de sangue, orgãos e tecidos e de estimular a detecção activa de casos na população latino-americana sob risco, em particular nas grávidas e nos recém-nascidos, onde esta medida tem uma relação custo-benefício favorável demonstrada. Paralelamente, é necessário estudar a prevalência da infecção por T. cruzi nos latino-americanos a residir em Portugal, de forma a implementar outras medidas custo-eficazes de prevenção e manuseio dos doentes. O laboratório da Unidade de Ensino e Investigação de Protozoários Oportunistas/VIH e Outras Protozooses do IHMT, o único a oferecer actualmente técnicas laboratoriais de referência adequadas ao diagnóstico de todas as fases da doença, deverá desempenhar um papel importante nestas actividades e estudos. Os exemplos de sucessos em relação com actividades de triagem e diagnóstico apresentados, bem como a experiência no manuseio de doentes em outros países, poderão vantajosamente ser adaptados para utilização em Portugal. Ficou patente que o sucesso implica uma atitude colaborativa entre as várias instituições de saúde regionais, nacionais e internacionais e o envolvimento dos próprios indivíduos sob risco e diagnosticados com Chagas, congregados em associações. O Sr. Director Geral da Saúde (Dr. Francisco George), que moderou a sessão sobre a situação da Doença de Chagas em Portugal, manifestou a intenção de emitir recomendações dirigidas aos profissionais de saúde no sentido de alertar para a necessidade da detecção activa de casos na população latino-americana a residir em Portugal. Esta actividade constituiu um importante primeiro passo para aumentar o nível de alerta e os conhecimentos dos profissionais portugueses para aspectos críticos, riscos, desafios e problemas relacionados com a Doença de Chagas em Portugal.

1. Introdução Realizou-se a 26 de Fevereiro de 2010, no, o 1º Workshop sobre Doença de Chagas em Portugal, organizado pelas Unidades de Ensino e Investigação em Clínica das Doenças Tropicais (UEICDT) e de Protozoários Oportunistas/VIH e Outras Protozooses (UPOOP), com o apoio do CMDT-LA. 2. Objectivos do Workshop: 2.1. Aumentar os conhecimentos e o grau de alerta dos profissionais e autoridades de saúde portuguesas sobre a Doença de Chagas. 2.2. Dotar estes profissionais com informação científica sólida e actualizada sobre a distribuição geográfica, transmissão, apresentações clínicas, diagnóstico laboratorial, tratamento, prevenção e controlo da doença de Chagas, de forma a capacitá-los para a sua prevenção, diagnóstico e tratamento. 2.3. Congregar profissionais de saúde de várias áreas (Saúde Publica, Medicina Familiar, Infecciologia, Obstetrícia, Pediatria, Enfermagem, Imuno-hemoterapia, Transplantação, Análises Clínicas e Investigação), de forma a lançar as bases para a criação de grupos de trabalho que permitam fazer face às várias vertentes da problemática da Doença de Chagas em Portugal. 3. Participantes: 3.1. Prelectores Jorge Atouguia, Director da UEICDT, IHMT Juan Marques, do Instituto de Medicina Tropical, Caracas. Javier Nieto, do Centro Nacional de Microbiologia, Instituto de Salud Carlos III, Madrid. Joaquim Gascon, do Centre de Salut Internacional, CRESIB, Hospital Clínic, Barcelona. Pedro Albajar Viñas, Chagas disease Programme Officer, Innovative and Intensified Disease Management Unit, Department for Control of Neglected Tropical Diseases, WHO, Genebra. Jorge Seixas, da UEICDT, IHMT 3.2. Público Inscreveram-se 54 participantes: 9 médicos, 5 enfermeiros, 15 estudantes de Mestrado, 8 profissionais de laboratório de análises clínicas, 14 investigadores e 3 professores da área biomédica. Os participantes eram provenientes de Lisboa, Porto, Coimbra e Caldas da Rainha. Estiveram presentes representantes do Instituto Português do Sangue de Lisboa e Porto, do Centro de Histocompatibilidade do Sul, do Instituto Ricardo Jorge, da Escola Superior de Saúde (Lisboa) e do Hospital Militar Principal. De realçar negativamente a fraca presença de Médicos de Família (apenas 1) e a ausência de Obstetras.

4. Desenvolvimento da actividade O Prof. Dr. Jorge Atouguia, Director da UEICDT, IHMT, efectuou uma introdução ao problema da Doença de Chagas em países não endémicos, apresentando artigos científicos recentemente publicados sobre o assunto e estabelecendo as bases de actuação para lidar com a vigilância, prevenção, diagnóstico e manuseio dos doentes chagásicos. De seguida foram desenvolvidas as seguintes sessões temáticas: Doença de Chagas, uma doença tropical para não esquecer (Juan Marques): Doença de Chagas como problema de Saúde pública global; transmissão em áreas endémicas e não-endémicas Patogenia e história natural da Doença de Chagas; classificações das fases da doença e suas manifestações Miocardiopatia chagásica: aspectos clínicos e estudos experimentais Caracterização do recente surto de Chagas agudo por transmissão oral em Caracas Diagnóstico da Doença de Chagas: state of the art (Javier Nieto): Fases da Doença de Chagas e seu diagnóstico: o Diagnóstico clínico, imagiológico, electrocardiográfico o Diagnóstico parasitológico convencional e molecular, incluíndo PCR e real-time PCR o Diagnóstico imunológico, incluíndo técnicas de ELISA e IFI Experiência do Centro Nacional de Microbiologia na comparação de sensibilidade/especificidade das várias técnicas serológicas e moleculares. Reações cruzadas Utilização das várias técnicas de detecção da infecção por T. cruzi de acordo com os vários contextos (triagem, diagnóstico, seguimento pós-tratamento). Doença de Chagas importada na Europa: um novo desafio (Joaquim Gascon): Caracterização da população latino-americana na Europa Desafios postos pela Doença de Chagas na Europa: avaliação da dimensão do problema, diagnóstico, prevenção, manuseio dos doentes Resposta da Catalunha e da Espanha ao problema da Doença de Chagas Prevalência actual da doença nos países não endémicos com ênfase nos europeus Estudo económico do custo da detecção activa da infecção por T. cruzi em grávidas e recém nascidos na Catalunha Recomendações sobre como a comunidade europeia de saúde pode lidar com o problema de Chagas e oportunidades O programa da OMS de vigilância e controlo da Doença de Chagas (Pedro Albajar Viñas): Origem, filogénese de T. cruzi Distribuição dos vectores da Doença de Chagas Evolução dos conhecimentos sobre Doença de Chagas Iniciativas intergovernamentais para o controlo da Doença de Chagas nas Américas: sucessos e desafios Necessidades no diagnóstico e tratamento da Doença de Chagas O programa global para o combate à Doença de Chagas da OMS e a sua situação nas doenças tropicais neglicenciadas Migração e Doença de Chagas: situação epidemiológica em países não-endémicos Recommendações do Informal Consultation meeting on Chagas Disease Control and Prevention in Europe, WHO headquarters, Geneva, Switzerland, 17 18 December 2009

Doença de Chagas em Portugal: ponto da situação (Jorge Seixas): Caracterização da população latino-americana em Portugal Estimativa do número potencial de doentes de Chagas existentes em Portugal Número de casos de Doença de Chagas diagnosticados em Portugal Situação em Portugal relativa a: o regulamentação e normas para prevenção da Doença de Chagas em dadores sangue, tecidos e orgãos o uso de técnicas de triagem e diagnóstico o referenciação, acesso a tratamento etiológico e manuseio de doentes o sistema de vigilância, informação, divulgação e educação Actividades de investigação efectuadas Perspectivas para lidar com o problema da Doença de Chagas em Portugal As apresentações dos palestrantes foram consideradas de excelente nível científico e didáctico. O público participou activamente da discussão gerada pelas apresentações; o tempo reservado para discussão foi considerado adequado. A escolha dos temas do Workshop e a maneira como foi feita a sua abordagem foi considerada adequada e productiva. A vasta experiencia dos prelectores nas suas várias áreas de actuação e investigação na Doença de Chagas contribuiu decisivamente para uma vívida e eficaz transmissão da informação. A participação do Sr. Director Geral da Saúde (Dr. Francisco George) como moderador da sessão Doença de Chagas em Portugal: ponto da situação demonstrou claramente o interesse das Autoridades de Saúde portuguesas pelo problema. 5. Conclusões A Doença de Chagas continua a ser um importante problema de Saúde Pública em áreas endémicas. O controlo da transmissão vectorial e transfusional vem sendo progressivamente obtido mas a via de transmissão oral passou a estar envolvida numa percentagem importante e crescente dos novos casos. A doença é actualmente reconhecida como emergente em áreas não-endémicas, em particular na Europa. A prevenção da transmissão de T. cruzi por doação de sangue, tecidos ou orgãos utilizando métodos de triagem adequados é prioritária em áreas não-endémicas. No contexto espanhol, foi demonstrado que a detecção activa de casos nas grávidas e recém-nascidos tem uma relação custoeficácia favorável. A existência de laboratórios nacionais de referência para validação das técnicas disponíveis e confirmação do diagnóstico é imperativa. Os casos diagnosticados devem ter assegurado o acesso a cuidados médicos adequados em Unidades de Saúde devidamente preparadas para o seu manuseio clínico, para o qual há necessidade de investigação que permita obter directrizes melhor definidas. A situação da Doença de Chagas em Portugal é pouco conhecida; a OMS estima que Portugal esteja no grupo de 4ª maior prevalência da doença na Europa, junto com a Suécia, Alemanha e Holanda. As estimativas apontam para a existência actual de 850 potenciais portadores de T. cruzi entre os migrantes latino-americanos (predominantemente brasileiros) a residir em Portugal. O laboratório da Unidade de Ensino e Investigação de Protozoários Oportunistas/VIH e Outras Protozooses (UPOOP)

do IHMT é o único a oferecer actualmente técnicas laboratoriais de referência adequadas ao diagnóstico de todas as fases da doença. A descrição da maneira como outros países e organizações tem respondido e lidado com o problema da Doença de Chagas, particularmente em áreas não-endémicas e na Europa, demonstra a necessidade de uma atitude colaborativa entre as várias instituições de saúde regionais, nacionais e internacionais, bem como o envolvimento dos próprios doentes, congregados em associações. Os exemplos de sucesso descritos poderão vantajosamente ser adaptados para utilização em Portugal. A intenção manifestada pelo Sr. Director Geral da Saúde de emitir recomendações dirigidas aos profissionais de saúde sobre a necessidade de estarem alerta para a possibilidade da Doença de Chagas é considerada um passo importante para a detecção activa de casos. Esta actividade constituiu um importante primeiro passo para aumentar o nível de alerta dos profissionais portugueses para o problema da doenças de Chagas em países não-endémicos e o seu nível de conhecimentos sobre aspectos críticos desta patologia. O futuro das actividades dirigidas para a Doença de Chagas em Portugal poderá passar por criar grupos de trabalho sobre 1) Sistema de informação e vigilância, 2) Prevenção e controlo, 3) Triagem e diagnóstico laboratorial e 4) Manuseio de doentes. A ideia da criação destes grupos foi lançada durante o Workshop. Lisboa, 16 de Março de 2010 Jorge B. A. Seixas