III-058 - VALOR AGRÍCOLA E COMERCIAL DO COMPOSTO ORGÂNICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DA USINA DE IRAJÁ, MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Jeferson de Azevedo Químico com Orientação Tecnológica pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques. Mestre em Geociências pelo Departamento de Geoquímica Ambiental da Universidade Federal Fluminense (GEOQ/UFF). Tecnologista Senior do IBGE/ Diretoria de Geociências. Emmanoel Vieira da Silva Filho Biologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Doutor em Geociências - Geoquímica pelo Departamento de Geoquímica Ambiental da Universidade Federal Fluminense (GEOQ/UFF). Professor Adjunto do Departamento de Geoquímica Ambiental da Universidade Federal Fluminense. Raimundo Nonato Damasceno Engenharia Química pela Universidade Federal do Ceará. Pós-Doutor em Oceanografia Química pela Universidade de Miami. Chefe de Departamento da Fundação Educacional Dom André Arcoverde. Endereço : Av. Presidente Kennedy 333 - Bloco. 2 - apto. 1002 - Vila Iara - São Gonçalo - RJ - CEP: 24445-000 - Brasil - Tel: (0xx21) 605-2186 - e-mail: jeffaze@terra.com.br ou jeffazevedo@ig.com.br RESUMO Os objetivos deste estudo foram o de determinar os valores de mercado e agrícola associados ao fertilizante orgânico () da COMLURB, produzido a partir de resíduos sólidos urbanos na Usina de Irajá, na Cidade do Rio de Janeiro. Entre outras análises químicas, foi feito o balanço de nutrientes (N,P, K e matéria orgânica) no produto. Os resultados revelaram que os teores de nutrientes (NPK), variam entre 1,67 a 2,31%. A despeito dos baixos teores encontrados, o poderia ser utilizado como uma importante fonte de nutrientes para o solo. Já, a análise econômica demonstrou que o composto alcançou valores de mercado entre 13-19 U$/Ton no período de 1998/1999, com preço médio de 16 U$/Ton. Entretanto, segundo KIEHL (1998), a matéria orgânica encontrada no fertilizante orgânico, mais os nutrientes secundários e os macronutrientes, acrescentam mais 50% ao valor do produto. Finalmente, comparando-se o preço do fertilizante orgânico da COMLURB, com os produtos similares encontrados no mercado, constata-se que o possui o menor preço de mercado. PALAVRAS-CHAVE: Beneficiamento de Resíduos Sólidos Urbanos, Composto Orgânico, Gestão Ambiental, Nutrientes em Composto de Lixo. INTRODUÇÃO Um dos pontos mais importantes em relação à adição do composto de resíduos sólidos urbanos ao solo, para aproveitamento agrícola, está relacionado ao seu valor agrícola e comercial. Assim, é importante destacar que não se tem conhecimento no Estado do Rio de Janeiro e talvez em nosso país, da existência de política de preços para esse tipo de fertilizante orgânico. Certamente isso ocorre, porquê na maioria dos casos o composto orgânico é beneficiado por usinas de prefeituras municipais que cobram baixos preços, para que esse tipo de produto possa ser colocado no mercado (LINDENBERG, 1991). Portanto, é necessário que desenvolvam-se estudos ambientais e econômicos sobre fertilizantes orgânicos de resíduos sólidos urbanos produzidos pelas usinas de reciclagem e compostagem. Assim, o presente estudo tem o intuito de contribuir com a avaliação do valor agrícola e o comercial do composto orgânico de resíduos sólidos urbanos (), produzido pela Usina de Irajá no Município do Rio de Janeiro. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia utilizada no desenvolvimento do trabalho consistiu essencialmente em: 1) Revisão da literatura, realização de entrevistas com usuários do produto e pessoal técnico da área de resíduos sólidos, tratamento dos dados e atividades de campo. 2) Nas amostras do composto orgânico de resíduos sólidos urbanos da Usina de Irajá, do Município do Rio de Janeiro; foram realizadas entre outras análises químicas (nitrogênio total, fósforo total, potássio e matéria orgânica). A determinação desses parâmetros foi executada pelo Centro de Pesquisa da COMLURB, através do método descrito por KIEHL (1985). 3) Na discussão do valor comercial do, utilizou-se alguns preços de fertilizantes orgânicos beneficiados em algumas localidades do Brasil e nos países europeus. RESULTADOS OBTIDOS Os resultados do trabalho revelam que a faixa de variação do NPK no, ficou entre 1,67 a 2,31%, com uma concentração média de 1,95% e desvio padrão de 0,18%. Confrontando-se os teores médios de NPK do produto da COMLURB com as formulações dos fertilizantes minerais mais comercializadas, relacionadas na Tabela 1. Estima-se que a aplicação de 15 t/ha do a um solo selecionado, contribuirá aproximadamente, com 292 kg de NPK por hectare. Tal composição eqüivale a concentração de nutrientes disponíveis em uma tonelada do fertilizante químico de formulação (N=10% - P=10% - K=10%). No caso da aplicação de 20 t/ha do, estará sendo disposto no solo entorno de 400 kg de NPK por hectare, o que corresponde, a aplicação de uma tonelada de fertilizante químico de formulação (N=4% - P=20% - K=20%). Tabela 1 - Comparação dos nutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) NPK, no composto orgânico de resíduos sólidos urbanos, com as formulações dos fertilizantes minerais mais comercializadas, de acordo com KIEHL (1998). (Usina de Irajá) Formulações de fertilizantes minerais mais comercializadas (2) Aplicando-se Conteúdo médio de NPK ± desvio padrão (kg/ha) Aplicando-se Formulações dos fertilizantes em (%) Fontes: Este estudo; (2) KIEHL, 1998. COMPOSTO ORGÂNICO 10 t/ha 15 t/ha 20 t/ha 195,1±19,1 292,7±27,7 390,0±38,2 1 TONELADA DE FERTILIZANTE MINERAL Conteúdo de NPK (kg/t) 260 300 400 4 14-8 10 10-10 4 20-20 Pelos dados expostos anteriormente na Tabela 1, verifica-se que a quantidade de fertilizante orgânico a ser aplicada em substituição ao fertilizante mineral, é em média 17 vezes maior que a formulação (N=10% - P=10% - K=10%) do fertilizante químico correspondente. Já, na Tabela 2, são apresentados a composição dos fertilizantes minerais utilizados no cálculo do valor comercial do composto orgânico, os preços e os valores dos nutrientes por tonelada. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
Tabela 2 - Composição dos fertilizantes minerais, preços dos nutrientes em dólares por tonelada. Nutrientes do fertilizante Preços dos nutrientes (NPK) no fertilizante mineral Preço do elemento Preço dos nutrientes mineral ( % ) Saco de 50 kg (R$) (*) Em (R$) (1 t) (*) Em US$ (1 t) ( ) em (t) (**) NPK no fertilizante mineral em US$/t ( ) Uréia 45 % de N 22,60 452,00 244,32 0,45 542,93 Superfosfato simples 18% de P 2 O 5 18,50 370,00 200,00 0,18 1111,11 Cloreto de potássio 60% de K 2 O 27,80 556,00 300,54 0,60 500,90 Fontes: (*) FERTILIZANTES, 1999; (**) Modificado de KIEHL, 1998 Notas: ( ) O valor da coluna (4), foi obtido através da conversão da coluna (3) para US$, na proporção de US$ 1,00 = R$ 1,85 (valor de 15 dezembro de 1999); ( ) O valor da coluna (6), foi obtido através da divisão da coluna (4) pela coluna (5). A seguir, a Tabela 3, apresenta as principais variáveis utilizadas no cálculo do valor agrícola do produto da Usina de Irajá (1998/1999). Tabela 3 - Preços estimados do da Usina de Irajá, segundo os nutrientes minerais (nitrogênio, fósforo e potássio) encontrados, e pela adição de 50% de NPK, correspondente a matéria orgânica (KIEHL, 1988). Teor médio de nutrientes no (%) Nutrientes (t) Preços estimados dos nutrientes (NPK) no fertilizante mineral em US$/t (2) NPK em US$ no ( ) Valores estimados NPK em US$ no + 50% do valor de NPK encontrado na matéria orgânica (KIEHL, 1988) ( ) N 0,72 0,0072 542,93 3,91 5,87 P 2 O 5 0,94 0,0094 1111,11 10,44 15,66 K 2 O 0,29 0,0029 500,90 1,45 2,18 SOMA = 1,95 0,0195 (-) US$ 15,80 US$ 23,71 Faixa de variação do NPK (US$) 13,27 18,57 19,91 27,86 Fontes: Este estudo; (2) Modificado de KIEHL,1998 Notas: (-) Sem informação; ( ) O valor da coluna (4), foi obtido através da multiplicação da coluna (2) pela coluna (3); ( )O valor da coluna (5), foi obtido através da soma do valor da coluna (4) com 50% desse valor. Portanto, comparando-se a formulação do fertilizante químico (uréia 45% de N, superfosfato simples 18% de P 2 O 5 e cloreto de potássio 60% de K 2 O) mais utilizado pelos agricultores (Tabela 2), com o composto orgânico da Usina de Irajá. Verifica-se que o valor do variou de US$ 13,27 a 18,57, apresentando um valor médio de US$ 15,80. Por outro lado, com a metodologia de KIEHL (1998), o teria o preço médio de US$ 23,71. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
Finalmente, comparando-se os valores comerciais dos compostos orgânicos produzidos pelas unidades da COMLURB, com outras localidades; verifica-se que o produto da Usina de Irajá (1998/1999), possui o menor valor registrado (Tabela 4). Tabela 4 - Valores comerciais dos compostos orgânicos de resíduos sólidos urbanos produzidos pelas usinas da COMLURB e algumas localidades. Usinas da COMLURB (Município do RJ) Usinas de outros locais Local e ano de beneficiamento Fertilizantes orgânicos Sistema de beneficiamento adotado Valor em US$/t Irajá (1998/1999) Próprio 15,80 Irajá (1997) Próprio 16,34 Irajá/ (1996) Próprio 18,67 Irajá (1995) Próprio 18,75 Jacarepaguá (1994/1995) (*) DANO 19,46 Caju (1993) (*) TRIGA 21,23 Santo André/SP (2) (-) 28,00 Belo Horizonte/MG (2) DANO 36,00 Uberaba/MG (2) NOVERGIE 32,00 São Mateus/SP (2) (-) 17,00 Vila Leopoldina/SP (2) (-) 17,00 Países europeus (3) (-) 25,00 Média ± Desvio padrão 22,10 ± 6,67 Faixa de variação 15,80 36,00 Coeficiente de variação (%) 30,18 Fontes: Este estudo; (2) Modificado de SOLORZANO, 1999; (3) LINDERBERG, 1991 Notas: (-) Sem informação; (*) Usinas desativadas CONCLUSÕES Com base nas informações levantadas podem ser feitos os seguintes comentários: A COMLURB deveria implementar o programa de coleta seletiva de resíduos sólidos, em determinadas rotas de coleta de lixo, destinadas ao processo de compostagem. Deste modo, a COMLURB obteria composto orgânico de melhor qualidade e com maiores teores de nutrientes (N, P, K e matéria orgânica). (2) Comparando-se o preço do produzido pela usina de Irajá (1998/1999), com produtos similares encontrados no mercado, verifica-se que o mesmo possui o menor preço de mercado. (3) Com relação ao nosso país, precisam ser desenvolvidos estudos para implantação de política de preços para esse tipo de fertilizante orgânico. (4) Quanto menor o teor de nutrientes no fertilizante orgânico, menor serão os valores agrícola e comercial. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. AZEVEDO, Jeferson. Estudo Ambiental/Econômico do Composto Orgânico do Sistema de Beneficiamento de Resíduos Sólidos Urbanos da Usina de Irajá, Município do Rio de Janeiro. Niterói, 2000. 120 p. Tese (Mestrado em Geociências) Universidade Federal Fluminense. 2. COMLURB. Características Físico-químicas do (1998/1999). Rio de Janeiro: Centro de Pesquisas Aplicadas, 1999. 10 p. 3. FERTILIZANTES, Riofértil. Orçamento de formulações de fertilizantes químicos. Rio de Janeiro, 1999. 1 p. [Data do orçamento: 13 de dezembro de 1999]. [Avenida Brasil, 19001 - lojas 13/14 - CEASA - Rio de Janeiro]. 4. IPT/CEMPRE. Lixo Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado. São Paulo: IPT, 1995. 278 p. 5. KIEHL, Edmar José. Fertilizantes Orgânicos. São Paulo: Agronômica Ceres, 1985.492 p. 6. KIEHL, Edmar José. Manual de Compostagem: Maturação e Qualidade do Composto. São Paulo:, Edmar José. Kiehl,1998.171 p. 7. LINDENBERG, Roberto de Campos. Problemática da compostagem nos países em desenvolvimento. Limpeza Pública. São Paulo: ABLP, n. 37, p. 4-5, dez. 1991. 8. SOLARZANO, Gustavo. Lista de discussão de resíduos sólidos urbanos. [on line]. setembro 1999. Disponível em http://www.resol.com.br [gustavos@spin.com.mx] [capturado em 15/09/1999]. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5