As redes sociais, as novas mídias e o diálogo entre professores



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Transcrição:

UMA EXPERIÊNCIA LÚDICA EM ARTE NO ENSINO MÉDIO: A SALA DE ARTE NA SALA DE AULA Simone Silva Santiago 1 Universidade Veiga de Almeida Resumo: O presente trabalho consiste num relato sobre a possibilidade de utilização das redes sociais na construção de um fazer artístico e de sua aplicação na disciplina de arte em sala de aula. Um grupo formado no Facebook intitulado Sala de Arte que conta, atualmente, com mais de três mil membros interessados em pesquisar e discutir sobre as dinâmicas da disciplina de arte em todas as suas possibilidades, vem contribuindo de forma bastante positiva com a prática de professores de várias regiões do Brasil e América Latina. Neste ambiente virtual, uma proposta de trabalho foi apresentada por um dos integrantes e desencadeou varias discussões e experimentos por parte de outros membros. Os resultados foram disponibilizados na rede e possibilitou uma interação de diferentes professores. Pudemos assim ver em diversas salas de aula, de variadas regiões do país a aplicação de uma mesma proposta e averiguar os resultados por meio de um diálogo firmado em um espaço virtual. As redes sociais, as novas mídias e o diálogo entre professores O ser humano é por natureza um ser criativo. No ato de perceber, ele tenta interpretar e, nesse interpretar, já começa a criar. Não existe um momento de compreensão que não seja ao mesmo tempo criação. Isto se traduz na linguagem artística de uma maneira extraordinariamente simples, embora os conteúdos sejam complexos (Faiga Ostrower, A construção do olhar, 1989, p.167). O uso de tecnologia em arte não acontece somente em nossos dias. A arte, em todos os tempos, sempre se valeu das inovações tecnológicas para seus propósitos. Até mesmo porque seu ideal de transcendência ao comum necessita do que está disponível, para que algo seja criado (Lúcia Gouvêia Pimentel in Inquietações e mudanças no ensino da arte, 2003, p.114). No contexto contemporâneo da comunicação a Internet e as redes sociais estão cada vez mais evidentes em diversos momentos de nossos dias. O espaço virtual está propiciando um vínculo social entre pessoas, inserindo, de certa forma, o indivíduo na sociedade. Esse indivíduo busca informação conforme sua necessidade e os meios de comunicação, as novas mídias e as redes sociais, facilitam sua interação e participação num mundo de informações. 1 Simone Silva Santiago Especialista em Ensino da Arte pela Universidade Veiga de Almeida - 2010, licenciada em Artes pela IAVM-UCAN 2008, graduada em Design Gráfico pela PUC-RJ 1995. Professora de artes visuais das redes municipal e estadual do Rio de Janeiro, atuando em grupos do ensino fundamenta I (SME-RJ) e ensino médio (SEEDUC-RJ).

Assim, percebe-se que Internet e as novas mídias estão presentes em todos os ambientes, inclusive o escolar. Alunos e professores estão conectados em busca de informações e trocas sobre os mais diferentes temas. Nessa perspectiva o professor pode se colocar como mediador entre essa enorme gama de informações e seus alunos, encaminhando a sala de aula para o mundo. Em seu texto "Mídia-Educação no contexto escolar: mapeamento crítico dos trabalhos realizados nas escolas de ensino fundamental de Florianópolis", Silvio P. Costa (p. 202) nos conduz a uma reflexão de questões que se fazem presente em nosso contexto educacional, referentes ao uso das mídias. O autor cita que não há mídia que não possa ser usada na escola. Entende-se assim que os professores devem adequar à prática pedagógica integrando as mídias existentes na atualidade. Dessa forma nem a escola nem os professores podem dispensar a colaboração que as redes sociais podem oferecer. Foi neste cenário de redes na Internet e de demandas em sala de aula que o Professor Anderson Leitão 2 criou, em 2012, um grupo no Facebook, intitulado Sala de Arte que desde seu início é dedicado à discussão e troca de experiências sobre arte-educação. Contando com mais de três mil participantes, entre professores de arte, estudantes de arte, artistas plásticos, educadores de museus e espaços culturais, o espaço da Sala de Arte é visitado diariamente e recebe postagens de integrantes das mais diversas regiões do Brasil e também da América Latina. Nestas postagens são expostos e discutidos trabalhos realizados em sala de aula com os alunos, o percurso percorrido e os resultados alcançados. São trocadas imagens, informações, sugestões e críticas pelos integrantes do grupo. Segundo Moran (2007, p. 162), a educação é um processo de construção da consciência crítica. Como então se dá esse processo? Essa construção começa com a problematização dos dados que nos chegam direta e indiretamente - através dos meios, por exemplo - recontextualizando-os numa perspectiva de conjunto, totalizante, coerente, um novo texto, uma nova síntese criadora. Essa síntese integra os dados tanto conceituais quanto sensíveis, tanto da realidade quanto da ficção, do presente e do passado, do político, econômico e cultural. Falamos assim, de uma educação para a comunicação. Uma educação que procura ajudar as pessoas individualmente e em grupo a realizar sínteses mais englobantes e coerentes, tomando como partida as expressões de troca que se dão na 2 Anderson Leitão é especialista em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas pela UNB, professor da disciplina de Arte no Município de Duque de Caxias e na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Foi fundador do grupo Sala de Arte na rede social Facebook, que congrega um grande número de pessoas interessadas em discutir arte educação.

sociedade e na relação com cada pessoa; ajudar a entender uma parte dessa totalidade a partir da comunicação enquanto organização de trocas tanto ao nível interpessoal como coletivo. Assim os integrantes do grupo Sala de Arte problematizam dados, checam possibilidades, levantam resultados e ajudam-se mutuamente no processo de construção de suas práticas. Essa ação vem contribuindo para o crescimento individual de cada profissional uma vez que um dos atributos do educador é buscar meios e subsídios que lhe proporcionarão a eficácia necessária à concretizar os objetivos a que se propõe e, em maior escala, contribui também com a arte educação porque pode fazer com que os alunos se sintam motivados a adquirir conhecimentos. Sem esta pretensão, mas atingindo a esse patamar o grupo mostra como fazer das redes sociais uma aliada na educação. Da sala de aula para a rede e da rede para a sala de aula Em mais uma das constantes trocas e apresentações de trabalhos no grupo da Sala de Arte, foi exposto pela Professora Fernanda Vianna 3 uma proposta em que os alunos deveriam interferir em imagens, ora em preto e branco, adicionando cores, relevos e texturas, empregando massinha de modelar como material para este fim [Figura 1]. A proposta era trabalhar a partir das obras do artista Vincent Van Gogh, com o objetivo de sensibilizar os alunos para a emoção que o artista empregava em suas telas. Emoção esta, observada pela fartura de tinta aplicada por ele ao pintar [Figura 2], formando relevos e texturas, fugindo dos padrões acadêmicos ditados na época. Tais elementos seriam conseguidos com o uso do material proposto pela professora: a massa de modelar. A postagem da professora Fernanda Vianna despertou o interesse de vários integrantes do grupo que passaram a questioná-la quanto ao andamento do processo com seus alunos, metodologia aplicada e material (marca da massa de modelar) a fim de aplicar a proposta em suas turmas. A partir daí observa-se a Sala de Arte virtual adentrando a sala de aula real. O uso das redes sociais e da mídia eletrônica sendo materializado em produções artísticas pelos alunos. Segundo Cláudia Zambone (2009, p. 80), neste contexto tecnológico, muitos conceitos sucumbem e outros se apresentam para a compreensão da produção de artistas que utilizam imagens 3 Fernanda Corrêa Vianna é especialista em Ensino da Arte pela UVA. Conta com mais de trinta anos na carreira de arte educadora e é professora da rede particular de ensino na cidade do Rio de Janeiro.

sintéticas, dispositivos interativos, robótica, redes de comunicação etc. Até um tempo atrás a oportunidade de ver arte estava restrita aos museus. Hoje a arte está nas ruas, na televisão, redes de comunicação, no jornal, nas mídias. Os elementos das artes são explorados nas imagens que nos chegam por estes meios. Desde Duchamp que o museu não é mais o lugar sagrado das artes. E a Internet leva isto ao extremo, quando podemos acessar home pages de artistas com trabalhos desenvolvidos para a rede, propondo situações de interatividade à distância. Esta é uma situação concreta, vivenciada por parte de uma geração que frequenta a escola. Talvez não nesta situação em particular, mas o convívio com outras mídias de fácil acesso estão presentes no dia a dia destas pessoas. Portanto é importante que o ensino da arte visual considere ou não negligencie este contexto. Experiências que se entrelaçam O trabalho desenvolvido pela Professora Fernanda Vianna despertou-me especial interesse e vislumbrei a possibilidade de trabalhar tal técnica com meus alunos do segundo ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Victor Hugo 4, visto ter abordado recentemente o tema do Pós- Impressionismo e artistas como Van Gogh. Para tanto iniciei teste utilizando massa de modelar [Figuras 3 e 4] e apresentei este ao grupo do Facebook. Este teste foi comentado e curtido por vários integrantes do grupo, alguns se propondo a elaborar, eles próprios, novos testes. Diz Diana Domingues (2009, p.63) que no domínio da arte tecnológica, se insere também a arte de comunicação à distância, fazendo convergir sistemas informatizados e a telecomunicação. A interatividade se oferece em trocas de informações imediatas, modificando a instância de produção e recepção em escala global. Foi exatamente esse movimento de globalização que ocorreu a partir da postagem da proposta de aula oferecida pela Professora Fernanda Vianna, quando muitos outros professores partiram para a elaboração de testes e depois com a aplicação da aula prática e com a utilização da massa de modelar em suas turmas. A experiência discutida em rede foi aplicada nas turmas de ensino médio, com as quais trabalho, e pode aproximar os alunos de um fazer artístico lúdico, manuseando um material não utilizado em aula de arte até o momento. A proposta vinda da rede social entrou na sala de aula 4 O Colégio Estadual Victor Hugo é unidade de ensino regular da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro e atende a população de classe media baixa e baixa, localizado na região oeste do município do Rio de janeiro.

levando para os alunos um entendimento da relação do artista Van Gogh com a sua pintura e toda a emoção que o exagero ou ausência de tinta representava na tela. Os alunos aplicaram a massa de modelar sobre uma reprodução em preto e branco de imagens do artista e foram chamados a perceber a emoção que sentiam ao fazer. Vivenciar a dificuldade de fixar a massa no suporte, pensar e escolher as cores ideais, testar as texturas que poderiam produzir e o desejo de elaborar uma imagem de boa qualidade, foram dilemas que os alunos enfrentaram e que os aproximou, guardadas as devidas proporções, das inquietações e angústias que o artista enfrentou em seu tempo. Os resultados obtidos pela grande maioria dos alunos foram de grande qualidade plástica, embora o resultado final do trabalho não fosse de maior importância que o processo de construção da imagem percorrido pelos alunos [Figura 5]. Lúcia Gouvêia (2003, p.117) afirma que somente o uso de tecnologias, com o simples aproveitamento das facilidades que ela oferece, não garante o desenvolvimento de um pensamento artístico ou da construção de um saber em Arte. Conhecer o instrumento de trabalho e as possibilidades que ele oferece é essencial, mas ir além da mera aplicação dessas possibilidades é fundamental. Este ir além da mera aplicação das possibilidades, acontece nas trocas entre os professores do grupo e se reflete no que é desenvolvido em sala de aula, na medida em que professores da educação formal do ensino fundamental até o terceiro grau testaram e aplicaram a ideia que fora socializada no Facebook [Figura 6]. Por fim, nesta oportunidade a Internet e as redes sociais se apresentaram de grande importância na educação, na medida em que abriram as portas a novos saberes e novas possibilidades de aplicação destes. Por meio de novas contingências tecnológicas a produção e circulação da Arte e do ensino da arte se viram favorecidas. Imaginar as possibilidades artísticas via tecnologias contemporâneas é, também, estar presente no próprio tempo em que vivemos, que se faz de fragmentos e rearranjos, de todos que somam partes, de partes que são o todo (Lúcia Gouvêia Pimentel in Inquietações e mudanças no ensino da arte, 2003, p.118). Figura 1: Imagem da proposta apresentada pela profª Fernanda Vianna ao grupo Sala de Arte.

Figura 2: Detalhe da obra Os Girassóis, 1888, Vincent Van Gogh Alte Pinakothek de Munique. Figuras 3 e 4: Apresentação do primeiro teste com massinha de modelar ao grupo do Facebook e os comentários que se seguiram.

Figuras 5: Trabalhos de alunos do ensino médio elaborado com a utilização de massa de modelar, sobre obra do artista Van Gogh a partir da proposta lançada na rede social. Figuras 6: Apresentação dos resultados obtidos por outros professore a partir das trocas em rede.

Referências Bibliográficas ALMEIDA, Cláudia Zamboni de. As relações arte/tecnologia no ensino da arte. In A Educação do Olhar, 5ª ed. Porto Alegre: Mediação, 1999. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. 7ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2009. BUORO, Anamelia Bueno. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1996. DOMINGUES, Diana. Tecnologias, produção artística e sensibilização dos sentidos. In A Educação do Olhar, 5ª ed. Porto Alegre: Mediação, 1999. MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 2ª. ed. Campinas, SP: Papirus, 2007. 174p. OSTROWER, Fayga. A construção do olhar. In: NOVAES, Adauto,(org.) O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras,1988. PIMENTEL, Lúcia Gouvêia. Tecnologias contemporâneas e o ensino da arte. In Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte, 2ª ed. São Paulo: Cortes, 2003. Bibliografia Eletrônica MORAN, José Manoel. Desafios na comunicação pessoal. <http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/tecnologias_eduacacao/midias_educ.pdf> Acessado em 02/10/2014 COSTA, Silvio Pereira da. Mídia-Educação no contexto escolar: mapeamento crítico dos trabalhos realizados nas escolas de ensino fundamental de Florianópolis. <http://www.anped.org.br/reunioes/31ra/1trabalho/gt16-4061--int.pdf> Acessado em 02/10/2014