COLEÇÕES DE REFERÊNCIA E BANCOS DE DADOS DE ESTRUTURAS VEGETAIS: SUBSÍDIOS PARA ESTUDOS PALEOECOLÓGICOS E PALEOETNOBOTÂNICOS



Documentos relacionados
COLEÇÕES DE REFERÊNCIA E BANCOS DE DADOS DE ESTRUTURAS VEGETAIS: SUBSÍDIOS PARA ESTUDOS PALEOECOLÓGICOS E PALEOETNOBOTÂNICOS 1

Xiloteca Virtual Colecção de Madeiras da Índia Portuguesa. Lisboa, Lisboa. Tapada da Ajuda, Lisboa

CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL - UFG/EA, Campus Samambaia - Goiânia, GO. - MATRIZ CURRICULAR - PRÉ- REQUISITO(S) UNID. RESP.

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Nat., Belém, v. 11, n. 2, p , maio-ago. 2016

Abrange os estados: AM, PA, AP, AC, RR, RO, MT, TO, MA. Planícies e baixos planaltos. Bacia hidrográfica do Rio Amazonas

LAUDOS DE COBERTURA VEGETAL APLICADOS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL EM PORTO ALEGRE 4ª edição

NÓS E AS FLORESTAS RELAÇÕES SOCIAIS COM AS MATAS. Philippe Tintim Waldhoff Instituto Federal do Amazonas Professor em Manejo Florestal

O GRUPO DE PESQUISA CULTURA, AMBIENTE E EDUCAÇÃO

ESTRUTURAS DE MADEIRA

Variação do diâmetro tangencial de poros no lenho de tensão e oposto em Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.

Merilluce Samara Weiers 1, João Carlos Ferreira de Melo Jr. 2 1 INTRODUÇÃO

al acceso y participación en los beneficios

20º Seminário de Iniciação Científica e 4º Seminário de Pós-graduação da Embrapa Amazônia Oriental ANAIS. 21 a 23 de setembro

Estaca de Lauraceae em contexto funerário (sítio Jaboticabeira II, Santa Catarina, Brasil)

Biodiversidade em Minas Gerais

ANATÔMIA DA MADEIRA DE Cordia alliodora C. (R & P.) Oken e Cordia goeldiana Huber, COMERCIALIZADAS COMO FREIJÓ NA REGIÃO AMAZÔNICA

ESTUDO DOS ESPOROS DE SEIS ESPÉCIES DE POLYPODIACEAE (PTERIDOPHYTA)

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Implantação de um herbário no IFMG campus Bambuí

RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL (Observação: as informações prestadas neste relatório poderão, no todo ou em parte, ser publicadas pela FAPESC.

LISTA DE EXERCÍCIOS DE RECUPERAÇÃO FINAL

INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 002, DE 08 DE SETEMBRO DE O SECRETÁRIO DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE DE MATO GROSSO, no uso das atribuições

ESPÉCIES ARBÓREAS DA BACIA DO RIO MAUÉS-MIRI, MAUÉS AMAZONAS

Noite Europeia dos Investigadores 23 de Setembro

Apresentação. Jailson Bittencourt de Andrade Coordenador do projeto Pesquisando Kirimurê e da Rede Baías da Bahia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Data: 23/08/2017 Currículo de Cursos Hora: 10:01:56

Herborização. Dra. MARIANA ESTEVES MANSANARES Departamento de Biologia Setor de Botânica Sistemática Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Pré-Lançamento do Livro Amazônia em Tempo Estudos Climáticos e Socioambientais

PROGRAMA ANALÍTICO DISCIPLINA NOME: ANATOMIA DA MADEIRA CÓDIGO: IF 301 CRÉDITOS: 04 (T-02 P-02) DEPARTAMENTO DE PRODUTOS FLORESTAIS

Reino Plantae. Todos os seres incluídos no Reino Plantae são: EUCARIONTES PLURICELULARES AUTÓTROFOS

Implantação de um herbário no IFMG campus Bambuí

Definindo Corredores de Biodiversidade no Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu. Iniciativa: Apoio:

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA FLORESTAL PLANO DE ENSINO IDENTIFICAÇÃO DA DISCIPLINA

45 mm EVIDÊNCIAS PALINOLÓGICAS DAS VARIAÇÕES PRETÉRITAS DA VEGETAÇÃO E DO CLIMA NA SERRA DO ESPINHAÇO MERIDIONAL, MINAS GERAIS, BRASIL

HERBÁRIO IRINA DELANOVA DE GEMTCHUJNICOV - ( BOTU ) REGULAMENTO

IIIº ENCONTRO CIENTÍFICO DE ESTÉTICA E NUTRIÇÃO HOTEC 30 de maio de 2016

DESCRIÇÃO ANATÔMICA DAS ESPÉCIES Gossypium hirsutu, Couratari spp e Clarisia racemosa Ruiz et Pavon.

HERBÁRIO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA, BAHIA (HUESB)

Sumário. Apresentação 04. O que é um dessalinizador 04. Como funciona o sistema de dessalinização 05. Descrição dos componentes 06

LEVANTAMENTO DA COLEOPTEROFAUNA POR ARMADILHA DE SOLO E COLETA ATIVA NA MATA DO IFSULDEMINAS - CÂMPUS MUZAMBINHO

Natureza - Atividade Obrigatória. Natureza - Atividade Obrigatória. Natureza - Atividade Obrigatória. Natureza - Estágio Estágio 45 3

UTILIZAÇÃO DE LEVANTAMENTO FLORÍSTICO COMO FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Universidade Guarulhos- Laboratório de Palinologia e Paleobotânica. Mestrado em Análise Geoambiental. Guarulhos, SP, Brasil.

A TRILHA DO JARDIM BOTÂNICO E AS ESPÉCIES DA MATA ATLÂNTICA NO MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL E JARDIM BOTÂNICO DA UFMG

NOVO MAPA NO BRASIL?

ILUSTRAÇÃO BOTÂNICA COMO FERRAMENTA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE BOTÂNICA E PARA A VALORIZAÇÃO DAS PLANTAS DE PONTES E LACERDA-MT

Taxonomia Vegetal. Iane Barroncas Gomes Engenheira Florestal Mestre em Ciências de Florestas Tropicais. Professora Assistente CESIT-UEA

POTENCIALIDADES DA CAATINGA

V Semana Acadêmica da UEPA Campus de Marabá As problemáticas socioambientais na Amazônia Oriental 22 a 24 de Outubro de 2014

Projetos Intervales. Modificado de:

Gestão de Ecossistemas e Biodiversidade na Quinta dos Murças (Esporão)

GÊNESE DE SOLOS E MUDANÇAS AMBIENTAIS NA BACIA DO RIO SÃO JOÃO, RJ, IDENTIFICADAS ATRAVÉS DO PROXY FITÓLITOS

Herbário HUSC Biodiversidade e Educação Ambiental

18/10 a 09/11 de 2016 Câmpus de Araguaína, Araguaína e Palmas

M. P. Reis, Y. M. R. Vieira, M. B. Viana, W. S. G. de Carvalho, M. T. Nascimento

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Reserva Extrativista Chico Mendes

PRODUCAO DE MUDAS DE ESPÉCIES FRUTIFERAS DO CERRADO

Mata Atlântica Floresta Pluvial Tropical. Ecossistemas Brasileiros

PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS FITÓLITOS DE Cyperus luzulae (L.) Retz., Cyperus virens Michx. e Carex bonariensis desf. Ex Poir.

INTRODUÇÃO - MADEIRA. Mestranda Daniele Potulski Disciplina Química da madeira I

Exercitando Ciências Tema Ecossistemas Brasileiros. (Terrestres, Litorâneos e de Transição)

A FAUNA REPRESENTADA NOS ARTEFATOS DO SAMBAQUI ILHA DAS OSTRAS BAHIA - BRASIL

Projeto Nascentes Urbanas. MÓDULO BÁSICO Autora : Deise Nascimento Proponente: OSCIP Instituto Árvore da Vida

Produção de Serapilheira em Florestas de Mangue do Estuário do Rio Paraíba do Sul, Rio de Janeiro, Brasil

o USO DA MADEIRA NAS REDUÇÕES JESUÍTICO-GUARANI DO RIO GRANDE DO SUL. 8 - MÍSULA DO ALPENDRE DO COLÉGIO DE SÃO LUIZ GONZAGA 1

Geografia. Aspectos Físicos e Geográficos - CE. Professor Luciano Teixeira.

Identificação botânica de cinco amostras de material vegetal carbonizado Cova da Baleia, Cabeço do Pé da Erra e Barranco do Farinheiro

Mata Atlântica Floresta heterogenia, perene, não perde folhas, densa 97% já foi destruída. Predominante no Maranhão, mata de transição, palmeiras

2. MATERIAL E MÉTODOS

Grandes Ecossistemas do Brasil

A NATUREZA DO BRASIL: CLIMA E VEGETAÇÃO

PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO SUBSECRETARIA DE ENSINO COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO

TÍTULO: LEVANTAMENTO DE BRIÓFITAS NA VEGETAÇÃO DO MUNICÍPIO DE BAURU-SP

A Empresa Londrina PR aquecedores de água

ESPÍCULAS DE ESPONJAS EM TURFEIRA NO BAIXO CURSO DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE(SP) INDICAM VARIAÇÕES DO NÍVEL DO RELATIVO DO MAR DURANTE O HOLOCENO MÉDIO

EXPERIÊNCIA DO HERBÁRIO-UB

EXPLORAÇÃO FLORESTAL E A PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Paulo Kageyama. DCBio. SBF. MMA

METODOLOGIA EM ESTUDOS DENDROLÓGICOS

Prêmio Planeta Casa 2012 Regulamento categoria Design de interiores

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PONTA DOS DEDOS: COMO ENSINAR DEFICIENTES VISUAIS?

INSTRUÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DA PROVA LEIA COM MUITA ATENÇÃO

3 Laura Helen de Oliveira Alves. 1

MANUAL DE CLASSIFICAÇÃO VISUAL

Germination of seeds of Bauhinia cheilantha (Caesalpinaceae) and Myracrodruon urundeuva (Anacardiaceae) submitted to salt stress

TIPOS DE VEGETAÇÃO E OS BIOMAS BRASILEIROS. Profº Gustavo Silva de Souza

Índice Manual para coleta, herborização e inventário florístico Material para coleta Procedimento para a coleta

A BIOMASSA FLORESTAL PRIMARIA

Ocorrência de Ninhos de Abelhas sem Ferrão (Hymenoptera, Apidae, Meliponini) no Centro Urbano das Cidades de Petrolina, PE e Juazeiro, BA

Diversidade de biomas = diversidade de desafios para a ciência e a prática da restauração

BIOMAS DO BRASIL E DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS. Prof ª Gustavo Silva de Souza

MINUTA DECRETO Nº, DE_ DE_ DE ALBERTO GOLDMAN, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas atribuições legais,

45 mm PALEOQUEIMADAS NO HOLOCENO DA REGIÃO DE CABO FRIO, RJ

ANÁLISE FUNCIONAL DA PRODUÇÃO E ESTOCAGEM DE SERAPILHEIRA NO MACIÇO DA PEDRA BRANCA, RJ. Dados preliminares

RESUMO. Palavras-chave: Anatomia da madeira, Restinga, Mata Atlântica. INTRODUÇÃO

Programa Analítico de Disciplina BVE100 Botânica Geral

SISEMA. Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. POLÍCIA MILITAR D E M I N A S G E R A I S Nossa profissão, sua vida.

EXERCICIOS COMPLEMENTOS PREPARATORIO PARA PROVA

ECOLOGIA. Conceitos fundamentais e relações alimentares

Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Professor Aloísio Teixeira Coordenação de Pesquisa e Coordenação de Extensão

BIOLOGIA - 2 o ANO MÓDULO 27 SUCESSÃO ECOLÓGICA

Transcrição:

COLEÇÕES DE REFERÊNCIA E BANCOS DE DADOS DE ESTRUTURAS VEGETAIS: SUBSÍDIOS PARA ESTUDOS PALEOECOLÓGICOS E PALEOETNOBOTÂNICOS Rita SCHEEL-YBERT 1 ; Flavio DE PAULA 1 ; Regiane Priscila de Oliveira MOURA 1 ; Thaís Alves Pereira GONÇALVES 1 ; Andreia Cristina de ANDRADE 2 ; Lucélia Pascarelli Souza COELHO 2 ; Mario SCHEEL 3 & Jean-Pierre YBERT 1 Departamento de Antropologia. Museu Nacional, UFRJ (Rita@Scheel.com). Bolsistas CNPq. 2 Colégio de Aplicação da UFRJ. Bolsistas ICJr/PR-2/CAp/UFRJ. 3 Destaque Empreendimentos em Informática. Resumo: A interpretação dos dados paleoambientais e paleoclimáticos do Quaternário é feita por comparação com ecossistemas atuais. Por isso, estudos paleoecológicos baseados em análises de macro- ou micro-restos vegetais dependem de um bom conhecimento da flora e da vegetação atuais, assim como das características morfológicas e da estrutura dos elementos analisados. A constituição de coleções de referência e de bases de dados é um suporte indispensável para a realização destes estudos, especialmente em regiões tropicais, onde a grande biodiversidade existente faz com que a morfologia e a estrutura das partes vegetais passíveis de preservação nos sedimentos seja ainda relativamente mal conhecida (palinomorfos, madeira, carvão, fitólitos etc.). Através de coletas de campo e de doações de herbários e xilotecas, nossa equipe está constituindo coleções de referência de madeira, carvão, pólen e, incipientemente, fitólitos e frutos. Bancos de dados associados a chaves informáticas de determinação para antracologia e palinologia também estão sendo desenvolvidos. Palavras-chave: Coleção de referência, Banco de dados, Paleoecologia 1. Introdução A interpretação dos dados paleoambientais e paleoclimáticos do Quaternário é feita por comparação com ecossistemas atuais. Por isso, estudos paleoecológicos baseados em análises de macro- ou micro-restos vegetais dependem de um bom conhecimento da flora e da vegetação atuais, assim como das características morfológicas e da estrutura dos elementos analisados. A constituição de coleções de referência e de bases de dados é um suporte indispensável para a realização destes estudos, especialmente em regiões tropicais, onde a grande biodiversidade existente faz com que a morfologia e a estrutura das partes vegetais passíveis de preservação nos sedimentos seja ainda relativamente mal conhecida (palinomorfos, madeira, carvão, fitólitos etc.). A caracterização dos componentes vegetacionais associados a cada área de estudos é também um subsídio importante para a realização de análises paleoecológicas, devendo sempre que possível ser realizada em colaboração com especialistas em botânica. Através de coletas de campo e de doações de herbários e xilotecas, nossa equipe está constituindo coleções de referência de madeira, carvão, pólen e, incipientemente, fitólitos e frutos. Bancos de dados associados a chaves informáticas de determinação para antracologia e palinologia também estão sendo desenvolvidos. 1

2. Material e Métodos O material de referência já disponível foi obtido através de coletas de campo e de doações de xilotecas, no caso de amostras de madeira (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Instituto Florestal de São Paulo, Instituto de Botânica de São Paulo), e herbários, no caso de amostras de pólen (Herbário Alberto Castellanos, Herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Herbário do Muséum National d Histoire Naturelle - Paris). As coletas de campo são realizadas ao longo de caminhadas aleatórias em diferentes ecossistemas. Amostras de lenho provenientes de troncos e de galhos são coletadas sempre que possível. Ramos apresentando flores ou frutos de cada uma das espécies são igualmente coletados, visando sua identificação taxonômica. O material fértil é prensado segundo a metodologia tradicional e amostras de pólen, frutos e folhas são separadas no laboratório a partir das exsicatas. Coletas já foram realizadas em vários locais do Estado do Rio de Janeiro, Mato Grosso e, eventualmente, Minas Gerais. As amostras de lenho, após secagem, são divididas em várias partes. Uma parte é conservada para a coleção de madeiras, uma outra carbonizada a fim de constituir a coleção de carvões (antracoteca), e as demais doadas a diferentes xilotecas. As amostras de pólen são coletadas com pinça diretamente das exsicatas, e posteriormente acetolisadas para montagem de lâminas permanentes. Amostras de folhas e pequenos ramos e de frutos e sementes foram igualmente separadas a partir das exsicatas, visando a constituição das coleções de referência de fitólitos e de carpologia, respectivamente. Os bancos de dados e as chaves informáticas de determinação para antracologia e palinologia foram programados em ambiente Windows, tomando por base os critérios anatômicos e morfométricos mais comumente utilizados pela comunidade internacional. 3. Resultados 3.1. Coleções de referência 3.1.1. Madeira e carvão Coleções de referência contendo amostras de madeira e de carvão estão sendo constituídas, contando atualmente com cerca de 2000 amostras de várias formações vegetais brasileiras, especialmente Mata Atlântica, mata semidecídua, cerrado, restinga e manguezal. Amostras de cerca de 100 famílias, 450 gêneros e 1000 espécies já foram reunidas. Estas coleções visam subsidiar estudos em antracologia análise de restos vegetais carbonizados provenientes de solos ou de sítios arqueológicos (Scheel et al., 1996). Esta disciplina permite a reconstituição do paleoambiente vegetal e do paleoclima e, a partir do mesmo material, fornece informações paleoetnológicas relacionadas à utilização da madeira, economia do combustível e dieta alimentar. A determinação sistemática dos carvões é feita com base na estrutura anatômica da madeira, que se conserva perfeitamente após carbonização (Figura 1). As amostras carbonizadas são conservadas em organizadores (Figura 2). Cada gaveta é etiquetada com o nome da espécie e seu número de referência. Um arquivo completo contendo informações de coleta, dados ecológicos e outras observações está igualmente disponível. 3.1.2. Pólen e esporos A coleção de referência de grãos de pólen contém até o momento cerca de 800 amostras de aproximadamente 80 famílias de 2

angiospermas, além de algumas espécies de gimnospermas e pteridófitas. As formações vegetais contempladas são especialmente a restinga e a Mata Atlântica. Esta coleção visa subsidiar estudos em palinologia, que é uma das principais técnicas utilizadas na investigação paleoecológica do Quaternário. As amostras de pólen são conservadas em pequenos envelopes, embrulhadas em papel manteiga. Cerca de 500 amostras já foram tratadas por acetólise (Figura 3); as lâminas são conservadas num laminário. 3.1.3. Fitólitos A análise de fitólitos é uma técnica relativamente recente, tanto no que se refere à sua aplicação em paleoecologia (Alexandre et al., 1999) quanto em arqueologia (Pearsall, 1978). Fitólitos, corpúsculos de sílica produzidos pelas plantas a partir de rejeitos metabólicos, são acumulados nos vacúolos celulares em diversas partes de sua estrutura. Eles podem ser preservados no solo devido à decomposição ou queima de plantas depositadas naturalmente, usadas ou descartadas no local. Sua estrutura é diagnóstica de várias plantas, ou grupos de plantas, embora fitólitos diferentes possam ser produzidos em diferentes partes de um mesmo vegetal (Piperno, 1988). Embora o estudo dos fitólitos ainda seja incipiente no Brasil, sua aplicação em reconstituições paleoambientais e em estudos de dieta alimentar é bastante promissora. A coleção de referência de fitólitos, baseada até o momento exclusivamente nas coletas de campo, conta com cerca de 100 amostras de folhas, ainda não tratadas. 3.1.4. Frutos e sementes A análise de frutos e sementes (carpologia) fornece essencialmente informações paleoetnológicas e paleoetnobotânicas relacionadas à dieta alimentar de populações pré-históricas, podendo ser utilizada em paleoecologia como informação complementar ao estudo de outras disciplinas. Coleções de referência de frutos e sementes atuais estão sendo constituídas com base nas coletas de campo, contando apenas com poucas amostras até o momento. 3.2. Bancos de dados 3.2.1. Antracologia Visando facilitar a determinação de fragmentos de carvão em estudos antracológicos, está sendo desenvolvido um software associado à constituição de um banco de dados informatizado. Este programa funciona em ambiente Windows, foi escrito em Microsoft Access 2.0 e posteriormente atualizado para Microsoft Access 2000. Os caracteres anatômicos do lenho utilizados foram baseados em critérios internacionais estabelecidos pela Associação Internacional de Anatomistas da Madeira (IAWA Comittee, 1989). Este programa foi denominado Atlas Brasil. Todas as opções podem ser lidas em português, inglês ou francês. Ele permite a entrada de dados anatômicos referentes a carvões atuais (ou eventualmente a madeiras não carbonizadas), a amostras fósseis e a dados da literatura. Podem-se fazer pesquisas baseadas em um ou mais caracteres, eventualmente com uma margem de erro que é estabelecida durante a consulta, isto é, um número definido de características das fichas-resultado que podem ser diferentes daquelas estabelecidas na ficha-consulta, as quais aparecem em letras vermelhas. Os resultados da pesquisa são apresentados por ordem alfabética de família e de espécie, mas podem ser ordenados de outra forma. Após a consulta, relatórios sob a forma de fac-símile das fichas, ou como descrições 3

anatômicas padronizadas podem ser impressos. Neste último caso, o resultado da pesquisa é gravado sob forma de um arquivo-texto que pode ser lido por qualquer editor de texto. Até seis imagens podem ser associadas a cada ficha anatômica. Informações sobre a ecologia e a distribuição geográfica da espécie, referências bibliográficas e outras observações podem ser incluídas nas fichas. O banco de dados está sendo alimentado com informações sobre as características estruturais de todas as amostras de nossa coleção de referência, assim como tipos anatômicos encontrados em amostras arqueológicas ou pedológicas datadas do Holoceno e provenientes de várias regiões do país. 3.2.2. Palinologia O programa de determinação palinológica que está em desenvolvimento visa subsidiar a identificação de grãos de pólen e esporos. Funciona igualmente em ambiente Windows e foi escrito em Borland. As características morfológicas utilizadas foram baseadas nos parâmetros mais comumente empregados pela comunidade internacional. Este programa, associado a um banco de dados de características morfométricas de grãos de pólen atuais, permite a realização de pesquisas baseadas em um ou mais caracteres, eventualmente com uma margem de erro que é estabelecida durante a consulta. Os resultados da pesquisa são apresentados por ordem de família e de espécie, mas podem ser ordenados de outra forma. Imagens podem ser associadas a cada ficha. Informações sobre a ecologia e a distribuição geográfica da espécie, referências bibliográficas e outras observações também podem ser incluídas. O banco de dados foi alimentado com informações sobre as características morfométricas de um grande número de amostras da coleção de referência, assim como com diversas fotomicrografias. 4. Conclusões A imensa riqueza da vegetação brasileira tem por consequência uma maior dificuldade de identificação das espécies que no caso de regiões onde a diversidade florística é menor. Além disso, as características morfológicas e anatômicas dos elementos vegetais passíveis de preservação nos sedimentos são ainda relativamente mal conhecidas nos trópicos. Estes fatores sublinham a enorme importância da constituição de coleções de referência e de bancos de dados que subsidiem estudos paleoambientais em palinologia, antracologia, análise de fitólitos etc. 5. Referências Bibliográficas ALEXANDRE A, MEUNIER, JD, MARIOTTI A & SOUBIES F. 1999. Late Holocene phytolith and carbon-isotope record from a latosol at Salitre, southcentral Brazil. Quat. Res. 51: 187-194. IAWA COMMITTEE. 1989. IAWA list of microscopic features for hardwood identification. Wheeler, E.A.; Baas, P. & Gasson, P.E. (eds.). IAWA Bull., n.s., 10(3): 219-332. PEARSALL DM. 1978. Phytolith analysis of archaeological soils: Evidence for maize cultivation in Formative Ecuador. Science 199: 177-178. PIPERNO DR. 1988. Phytolith Analysis: An Archaeological and Geological Perspective. Acad. Press, San Diego. SCHEEL R, GASPAR MD & YBERT JP. 1996. Antracologia, uma nova fonte de informações para a arqueologia brasileira. Rev. MAE/USP 6: 3-9. 4

Figura 1. Amostra carbonizada da coleção de referência antracológica. Microfotografias em microscopia eletrônica de varredura mostrando os planos transversal, tangencial longitudinal e tangencial radial de Cassia speciosa (Leguminosae Caesalpinoideae). Figura 2. Organizadores contendo parte da coleção de referência de madeiras carbonizadas (antracoteca). 5

Figura 3. Grão de pólen acetolisado da coleção de referência palinológica (Beloperone amherstiae, Acanthaceae). 6