I SEMINÁRIO INTERDISCIPLINAR DAS CIÊNCIAS DA LINGUAGEM NO CARIRI DE 21 a 23 DE NOVEMBRO DE 2012 ISSN 2318-8391



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A VIOLAÇÃO DAS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS Thaís Nunes de Brito(URCA) Ana Gleysce Moura Brito(URCA) Newton de Castro Pontes(URCA) Resumo: Este artigo tem como objetivo evidenciar a violação das Máximas Conversacionais propostas por Paul Grice. Utilizamos como fundamentos teóricos A Teoria dos Atos de Fala de Austin e Searle, a Teoria das Implicaturas e o Princípio de Cooperação de Grice. Para realização deste trabalho, partimos também da Teoria das Implicaturas fundamentada por Paul Grice. Grice foi um dos primeiros teóricos a tratar da diferença entre o significado do falante, o que está implícito (o não dito), e o significado da sentença, o que está explícito (o dito). Surge daí as implicaturas conversacionais. É a partir delas que se torna possível explicar sentenças em que o falante expressa uma ideia diferente daquela empregada nas palavras. Em seguida, Grice elaborou o Princípio Cooperativo, que sistematiza as regras de conduta para tornar possível a competência comunicativa entre os falantes. Tal princípio constitui-se em um conjunto de máximas conversacionais: qualidade, quantidade, relação e modo. Essas máximas precisam ser respeitadas para que haja, por parte do ouvinte, um reconhecimento da ideia que o falante deseja passar. Neste trabalho, tencionamos enfocar a violação das máximas conversacionais. Para exemplificar como ocorrem essas infrações, utilizamos alguns gêneros textuais, como tirinhas e entrevistas. Como resultado da nossa pesquisa, percebemos que através da análise das violações das máximas podemos verificar se foram fornecidas as informações necessárias para o sucesso do diálogo. Palavras-chave: Princípio Cooperativo; Implicaturas Conversacionais; Violação das máximas conversacionais. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo fazer uma análise da violação das máximas conversacionais observadas em alguns gêneros textuais. Como ponto de partida, recorremos à Teoria dos Atos de Fala, que teve início no âmago da Filosofia da Linguagem, tendo como precursor o filósofo inglês John Lagshaw Austin, sendo, em seguida, também abordada por John Searle e outros. Eles entendiam a linguagem como forma de ação, isto é, consideravam que todo dizer é um fazer. Para realização deste trabalho, focaremos sobretudo na Teoria das Implicaturas, no Princípio Cooperativo e nas Máximas Conversacionais postuladas por Paul Grice. Por considerar importante observar nos enunciados o que está além do dito, isto é, aquilo que está implícito, surge a Teoria das Implicaturas. É no Princípio Cooperativo que se constituem as máximas conversacionais. O foco do presente trabalho é analisar a violação dessas máximas conversacionais (qualidade, quantidade, modo, relação) em entrevistas e tirinhas. 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 2.1 TEORIA DOS ATOS DE FALA A Teoria dos Atos de Fala surgiu no interior da filosofia da linguagem, na Escola de Filosofia Analítica de Oxford, no início dos anos sessenta, e teve como precursor o filósofo inglês John Langshaw Austin, seguido por John Roger Searle e outros. A teoria tem por base doze conferências proferidas por Austin na Universidade de Harvard (EUA), em 1955,

publicada postumamente no livro How to do Things with words, em 1962, e traduzida em sentido literal para o português em como fazer coisas com palavras. Austin acreditava que dizer não é apenas transmitir informações, mas, sobretudo, é uma forma de agir sobre o outro (interlocutor) e sobre o mundo que circunda. Inicialmente, Austin distinguiu dois tipos de enunciados: os constativos e os performativos. Os enunciados constativos são aqueles que descrevem ou relatam um estado de coisas, uma ação ou um acontecimento, e por essa razão se submetem ao critério de verificabilidade; isto é, podem ser considerados verdadeiros ou falsos. Os enunciados performativos são ações propriamente ditas, não descrevem nem relatam coisa alguma, e, portanto, não se submetem ao critério de verificabilidade; não podem ser considerados verdadeiros ou falsos. Contudo, o simples fato de proferir um enunciado performativo não garante o seu sucesso. Para efetivação e sucesso de um enunciado performativo é preciso que as circunstâncias sejam adequadas. Austin designa essas circunstâncias como condições de felicidade, conforme explica Trask (2004, p.42): Na maior parte dos casos não faz sentido perguntar se um enunciado que constitui um ato de fala é verdadeiro ou falso. Enunciados como Arrume seu quarto; Você me emprestaria uma caneta; Prometo comprar um ursinho de pelúcia para você; e eu vos nomeio cavaleiro, Dom Eurico não têm valor de verdade, mas podem ser mais ou menos adequadas às circunstâncias ou, como também se diz, podem ser mais ou menos felizes. Um enunciado como Arrume seu quarto! é um enunciado infeliz se a pessoa não tiver autoridade sobre a outra, e um enunciado como eu vos declaro marido e mulher não surte efeito a menos que tenham sido preenchidas uma série de condições. Assim como se diz que os enunciados podem ser mais ou menos felizes, as condições exigidas para que um ato de fala tenha sucesso são frequentemente chamadas condições de felicidade. Um enunciado performativo proferido em circunstâncias inadequadas não será falso, mas não surtirá efeito, ou, nas palavras de Austin, não será feliz. Austin diferencia dois tipos de enunciados performativos: a) os performativos explícitos e b) os performativos primários. Ele definiu como performativos explícitos aqueles que possuem como característica principal o uso do verbo na forma afirmativa, na primeira pessoa do singular no presente do indicativo da voz ativa. Já os performativos primários, ele caracterizou como aqueles em que o verbo não aparece de forma explícita, o que pode gerar ambiguidade. Vejamos: a) Eu ordeno que você feche a porta. b) saia. No primeiro exemplo, observa-se que a performatividade está explícita, uma vez que o verbo aparece explicitado no enunciado, e, por conseguinte, não há dúvida quanto à intencionalidade do sujeito falante. Ao dizer saia, no entanto, o locutor pode estar dando uma ordem, um conselho ou fazendo um pedido. Nesse caso, a performatividade não aparece de forma explícita, embora seja possível resgatar o performativo omitido. Austin define três dimensões do ato de fala, que ocorrem simultaneamente: Ato locucionário: consiste na emissão do enunciado, ou seja, o simples ato de dizer.

Ato ilocucionário: é o ato executado na fala, ou seja, o ato de perguntar, de afirmar, de prometer, de dar uma ordem, etc. Ato perlocucionário: é o efeito que irá causar no interlocutor. (agradá-lo, convencê-lo, assustá-lo, etc.). É preciso observar que: todo ato de fala é, ao mesmo tempo, locucionário, ilocucionário e perlocucionário, caso contrário não seria um ato de fala: sempre que se interage através da língua, profere-se um enunciado linguístico dotado de certa força que irá produzir no interlocutor determinado(s) efeito(s), ainda que não aquele(s) que o locutor tinha em mira. (COCH, 2007, p. 19) Partindo das concepções de Austin, Searle apresenta uma nova visão sobre atos de fala. Ele retoma as questões levantadas por Austin, e, a partir delas, faz considerações relevantes para o desenvolvimento da teoria. Ele distingue os atos de linguagem em cinco categorias: 1. Os representativos: demonstram a crença do locutor quanto à veracidade da proposição. (asseverar, afirmar, etc.); 2. Os diretivos: tentam levar o alocutário a fazer algo (ordenar, pedir, mandar, etc.); 3. Os comissivos: remetem a uma ação futura por parte do locutor. (prometer, garantir, etc.); 4. Os expressivos: expressam sentimentos (desculpar, agradecer, etc.); 5. E os declarativos: ato de fala que institui ou altera um estado de coisas (batizar, demitir, condenar, etc.). Searle chama atenção, ainda, para o fato de que ao dizer uma frase realizam-se um ato proposicional, que diz respeito ao ato comunicado, e um ato ilocucional, que corresponde ao ato realizado na linguagem. 2.2 PRINCÍPIO COOPERATIVO Paul Grice, estudioso da conversação, preocupou-se em explicar enunciados que exprimem efeitos de sentido que vão além do que foi dito, o não dito. A partir daí surge a Teoria das Implicaturas, no interior dessa teoria Grice distinguiu as implicaturas conversacionais das implicaturas convencionais. Esta diz respeito àquilo que é dito, isto é, o que está intimamente ligado ao significado literal das palavras. Aquela corresponde ao que fica implícito, ou seja, as sentenças em que o falante expressa uma ideia diferente daquela aplicada nas palavras. Além disso, segundo Grice, a comunicação é direcionada por um princípio básico, nele os interlocutores trabalham a mensagem linguística, através de normas comuns, para que todas as informações trocadas permitam o sucesso da conversação, denominou de Princípio Cooperativo. Dentro desse princípio, constitui-se um conjunto de categorias expressas pelas máximas conversacionais. Essas máximas representam as regras da conversação, são elas: Máxima de Quantidade: está relacionada à quantidade de informação que deve ser fornecida, ou seja, que ela contenha apenas o que foi exigido. Máxima de Qualidade: está relacionada à veridicidade, ou seja, não afirme coisas que não tem provas. Máxima da Relação: diz que é preciso ser relevante, isto é, falar somente o que compete ao assunto tratado.

Máxima de Modo- está relacionada à clareza da expressão, diz que é necessário evitar ambiguidade, obscuridade, etc.. As máximas apresentadas regem as regras para que haja a competência comunicativa entre falantes. No entanto, quando falamos além do necessário, quando não somos claros no que proferimos, quando não respondemos de forma relevante ao que nos é questionado, quando falamos de forma obscura, violamos essas máximas. Como veremos adiante, a desobediência das máximas conversacionais podem ser consciente e inconsciente, cabendo ao interlocutor descobrir o motivo de tal desobediência. 3 ANÁLISE DE DADOS Utilizamos como corpus trechos de entrevistas e tirinha, em que observamos as violações de máximas conversacionais mais comuns nos diálogos. A pesquisa foi realizada por meio de bibliografia e via on line. Primeiramente, recorremos ao livro Projeto Variação linguística no Estado da Paraíba, do qual extraímos o primeiro trecho analisado no presente trabalho. Em seguida, analisamos parte de uma entrevista concedida pelo ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva, em 10/08/2006, aos jornalistas William Bonner e Fátima Bernardes, da Rede Globo, publicada no site da referida emissora. Como objeto de análise, também utilizamos uma tirinha retirada do site da Turma da Mônica, protagonizada por Chico Bento. Salientamos que, no presente artigo, não foi exposto todos os tipos de violação, visto que preferimos enfatizar aquelas que ocorrem com mais frequência. Segue a análise: E: Se o senhor ganhasse na loteria o que o senhor faria? I: Ah! aí é uma pergunta bonita mais eu num sei se eu gostaria de ganhar porque eu[...] sou humilde, sou pobre eu gosto de tá no meio do povo, numa feira e [...] viajar e ninguém me <perturba> não tem nada agora se eu tirasse na loteria aí eu ia me perturbar porque a gente fica com medo tem que arrumar segurança e num sei quê. Eu agora, se eu tirasse na [...] loteria aí ajudava meus filho, num é? Meus filho e a [...] quem tivesse necessitando eu acho que eu [da-] daria uma parte, só se fosse pouco mais se fosse muito dividia porque quando a gente morre num leva também, e quanto mais dinheiro é mais confusão, num viu o caso de PC agora. Tudo ali foi caso de dinheiro, foi de dinheiro e [...] é tanto que ninguém sabe que de fato se ela matou se suicidou-se como é que é. Porque o homem tinha tanto dinheiro e tinha tanta gente interessado que ele morresse que ninguém... pode até ter sido isso mesmo que [e-] ela matou e depois suicidou-se, ou então que mataram os dois, o segurança num sabe, num viu o tiro, nem sei quê ninguém sabe de nada, aí é[...] eu falo que a TV tá diariamente falando. O exemplo acima exposto demonstra que houve violação da máxima de quantidade, uma vez que o entrevistado se excede e responde além do necessário. Houve uma quebra, pois a intenção do entrevistador ao perguntar o que ele faria caso ganhasse na loteria era apenas de obter uma informação específica. Percebe-se que com essa quebra na comunicação o informante não corresponde às expectativas do entrevistador. E(William Bonner):Presidente, vamos falar um pouquinho de segurança pública. Antes do senhor assumir a presidência, quando candidato, o senhor repetia: o Brasil não produz cocaína. Pra gente combater tráfico de cocaína, tráfico de arma tem que fechar as fronteiras, tem que reforçar a Polícia Federal, é um trabalho da Polícia Federal, nas fronteiras, nos portos, nos aeroportos do Brasil. Há quatro anos, o senhor é o comandante maior da Polícia Federal brasileira e, no entanto, o que se percebe hoje é que o tráfico aterroriza ainda mais a população brasileira. Onde é que o senhor errou? I(Lula):Eu penso que nós precisamos conversar esse assunto com a maior seriedade. Em primeiro lugar, o Brasil tem praticamente 17 mil quilômetros de fronteira, não são 17 metros.

São 17 milhões, 7,760 milhões de costa marítima e quase 9 milhões de fronteira seca. Se você tivesse um exército de 3 milhões de soldados, ou a Polícia Federal com 4 milhões, ainda assim você não controlaria toda a nossa fronteira. O candidato à reeleição Luíz Inácio Lula da Silva se isenta da responsabilidade no que diz respeito aos problemas da segurança pública, alegando que tal problema está relacionado à extensão territorial do país. Percebe-se que, nesse caso, houve violação da máxima de relação, uma vez que o entrevistado não fornece a informação solicitada. Esse tipo de violação é comum em discursos políticos, pois, conscientemente, é exposto apenas o que lhes beneficie. E: Você gostaria de passar o carnaval no Rio de Janeiro? Por quê? I: Ah! Eu gostei muito, eu tive no Rio, mais num cheguei a passar o carnaval não, mais é bom. Temos aqui outro caso de violação da máxima de relação (relevância), visto que a entrevistada não responde ao que lhe foi perguntado. Ela não atende à regra de relevância, impossibilitando, assim, o sucesso da comunicação. Vejamos, agora, um exemplo de tirinha: Na tirinha acima, constatamos que o Chico Bento viola a máxima de modo ao produzir um enunciado ambíguo. A máxima de modo diz que é preciso que haja clareza no diálogo, ou seja, para a comunicação ser bem sucedida deve-se evitar a obscuridade. Nesse caso, Chico Bento tenciona, por meio da ambiguidade, induzir a professora de modo a conseguir o que lhe convém. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da análise, constatamos que a violação das máximas conversacionais pode ocorrer tanto consciente quanto inconscientemente. Verificamos no primeiro trecho que a violação se dá de forma inconsciente, tendo em vista que o entrevistado não tinha a intenção de cometer a infração. Percebemos, no caso da entrevista do Lula e no caso da tirinha, contrariando o primeiro exemplo, que a violação ocorre de forma intencional por parte do enunciador, uma vez que seu objetivo depende de tal infração. Através da análise dessas violações, podemos constatar que, para um diálogo bem sucedido, é preciso que o sujeito falante obedeça às máximas conversacionais propostas por Grice e aqui apresentadas. REFERÊNCIAS AUSTIN, John Langshaw. Quando dizer é fazer. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. DA HORA, Dermeval; PEDROSA, Juliene Lopes Ribeiro. Projeto de Variação Linguística no Estado da Paraíba (VALPA). João Pessoa: Idéia, 2001.

GRICE, H. P.Lógica e conversação. In Dascal, M. (Org.) Fundamentos metodológicos da linguística, vol. IV. Campinas, 1982. SEARLE, John R. Intencionalidade. São Paulo: Martins Fontes, 2002. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2007. TRASK, L. R. Dicionário de linguagem e linguística. Tradução e adaptação de Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2004.