O que é uma convenção? (Lewis) Uma regularidade R na acção ou na acção e na crença é uma convenção numa população P se e somente se:
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- Elias Ferrão Azenha
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1 Convenções Referências Burge, Tyler, On knowledge and convention, The Philosophical Review, 84 (2), 1975, pp Chomsky, Noam, Rules and Representations, Oxford, Blackwell, Davidson, Donald, Communication and convention, in Inquiries into Truth and Interpretation, Oxford, Oxford University Press, 2001, pp Grice, Paul, Meaning revisited, in Studies in the Way of Words, Cambridge (Mass.), Harvard University Press, 1989, pp Laurence, Stephen, A Chomskian alternative to convention-based Semantics, Mind, 105 (418), 1996, pp Lewis, David, Convention, Oxford, Blackwell, Lewis, David, Languages and Language, in Martinich, A. P. (ed.), The Philosophy of Language, Oxford, Oxford University Press, 2001, pp Schiffer, Stephen, Meaning, Oxford, Clarendon Press, Wilson, Deirdre, and Sperber, Dan, Truthfulness and relevance, Mind, 111 (443), 2002, pp Convenções (segundo Lewis), são regularidades arbitrárias que se auto-perpetuam num determinado grupo, e resultam da solução de problemas de coordenação. Num jogo de coordenação, cada jogador tem de procurar reproduzir as razões que o(s) outro(s) têm para tomar uma decisão; esta reprodução forma parte das suas próprias razões para agir e pensar; e cada um pode reproduzir a reprodução (por outro) das suas razões, e incorporá-la nas suas próprias razões para agir. O resultado desejado é uma situação de equilíbrio. Convenções são regularidades na acção, ou na acção e nas crenças, que são arbritrárias mas se perpetuam porque servem alguma espécie de interesse humano. A conformidade passada [às convenções] alimenta a conformidade futura porque dá razões a 1
2 cada um para continuar a conformar-se, mas há sempre alguma regularidade alternativa que teria servido em seu lugar, e ter-se-ia perpetuado da mesma maneira, bastando para isso que se tivesse iniciado (Lewis, Languages and language ) O que é uma convenção? (Lewis) Uma regularidade R na acção ou na acção e na crença é uma convenção numa população P se e somente se: (1) Todos conformam-se a R. (2) Todos acreditam que os outros conformam-se a R. (3) A crença de que os outros conformam-se a R dá, a cada um, uma razão boa e decisiva para conformar-se a R. (4) Há uma preferência geral pela conformidade geral a R do que pela conformidade ligeiramente-menos-que-geral. (5) R não é a única regularidade a obedecer às condições (3) e (4). Há pelo menos uma regularidade R que se poderia ter perpetuado em seu lugar (arbitrariedade das convenções). (6) As condições (1)-(5) são objecto de conhecimento comum : são conhecidas por todos, todos sabem que são conhecidas por todos, todos sabem que todos sabem que são conhecidas por todos, etc. 2
3 Lewis: linguagem (sistema formal) e linguagem (rede de práticas) Língua como sistema formal: Uma função que associa frases a significados. O significado de uma frase é, para Lewis, o conjunto dos mundos possíveis em que a frase é verdadeira. Língua como rede de práticas: Conjunto de regularidades (algumas delas convencionais) vigentes numa determinada população, e que consistem na actividade verbal racional, através da qual são comunicadas crenças e realizadas acções. Síntese: o uso de uma língua por uma população. Uma língua é usada por uma população P se e somente se prevalece em P uma convenção de veracidade e confiança em, mantida por um interesse na comunicação (Lewis, Languages and language). Convenção de veracidade e verdade: veracidade da parte do falante e confiança, por parte do ouvinte, de que o falante está a ser veraz. 3
4 Como os papéis de falante e ouvinte se alternam, haverá assim razão para se manter a convenção de veracidade e verdade no interesse de todos. Schiffer (Meaning, 1972): conceito de convenção em Lewis proposto como solução para o projecto de Grice de explicar o significado da frase em termos do significado do falante. Basicamente, o significado da frase, que é independente do contexto, seria a resultante das regularidades com que os falantes usam determinadas expressões em várias ocasiões ( querer dizer ). Essas regularidades também orientariam as expectativas de falantes e ouvintes. A noção de conhecimento mútuo em Schiffer é uma adaptação da noção de conhecimento comum em Lewis. Mas é importante notar que Grice mostrou-se céptico relativamente a uma abordagem puramente convencionalista da significação. Para Grice, a convenção pode ser um dos modos de fixar o significado, mas não é o único. O essencial é que o significado da frase seja visto como o uso óptimo de uma frase para querer dizer algo. ( Meaning revisited, 1982). 4
5 Objecções à abordagem de Lewis (1) As convenções podem não ser o resultado de regularidades de comportamento. Podem ser simplesmente estipuladas. Resposta de Lewis: a sua abordagem é indiferente em relação ao modo como se estabelecem as convenções. Uma convenção, para Lewis, é caracterizada pelo modo como persiste através do tempo, não pelo modo como é criada. Assim, há convenções que são estipuladas, enquanto há outras (como as da linguagem) que emergem a partir de regularidades. Note-se que a abordagem de Lewis foi proposta para evitar o paradoxo da primeira língua: se as convenções fossem definidas como estipulações, como é que os criadores da primeira língua poderiam deliberar para criá-la, se já não falassem uma outra língua? (esta é por exemplo a objecção clássica de Quine à ideia de que a linguagem é convencional). (2) Se o significado de uma frase corresponde às suas condições de verdade, não faz sentido falar em convenções de veracidade e confiança. Falar uma língua implicaria naturalmente expectativas de veracidade e confiança. Resposta de Lewis: Sem dúvida, não faz sentido falar de convenções de veracidade e confiança em geral. O conceito de convenção é sempre relativo a uma língua. Ou seja, as convenções são convenções de veracidade e confiança em. Imagine-se que uma população seguisse a convenção de mentir 5
6 sistematicamente numa determinada língua. Na verdade, estar-seia a seguir a convenção de falar a verdade numa outra língua, em que as condições de verdade das frases seriam o inverso. As expectativas de veracidade e confiança seriam condições essenciais (e não convencionais) para o uso da linguagem em geral. Mas sempre usamos uma língua particular, e neste caso aplica-se, de acordo com Lewis, a abordagem em termos de convenções. (3) (Tyler Burge) As convenções não são fundamentadas exclusivamente por critérios de racionalidade, mas devem-se em muitos casos à pura inércia do hábito. Possível resposta de Lewis: Uma acção pode ser racional (explicada em termos das crenças e desejos do agente) mesmo quando ela é habitual e o agente não pensa nas crenças e desejos que a motivam. Mas se o hábito deixasse de satisfazer os desejos do agente com base nas suas crenças, ele deve ser capaz, ao menos em princípio, de corrigi-lo com base num raciocínio consciente. 6
7 Objecções mais sérias (e sem resposta) Chomsky: Sem dúvida há convenções no uso da linguagem, mas é no mínimo questionável que elas sejam sempre explicadas em termos das razões que as pessoas teriam para segui-las (semelhante à objecção de Burge). Mas mesmo se aceitarmos esta posição, a noção de regularidades aplica-se a um domínio muito restrito do uso efectivo de uma língua, dado que as probabilidades de enunciação de uma frase a qualquer momento são sempre muito reduzidas. Davidson: Há convenções no uso da linguagem, mas elas não são condições necessárias para a comunicação. A comunicação envolve a convergência entre as expectativas de falante e ouvinte, e isso pode dar-se mesmo nos casos em que falante e ouvinte não atribuem o mesmo significado à mesma palavra ou frase. Em suma, em princípio pode haver comunicação mesmo na ausência de convenções. A relação de significação é arbitrária, mas não convencional. Stephen Laurence: Imagine-se uma população isolada. Para esta população, a língua que fala nada tem de convencional. Não se aplicam as condições (5) e (6) da definição de convenção (ou seja, é do conhecimento comum que há pelo menos uma regularidade R alternativa). E a própria convenção de veracidade e confiança é questionável. 7
8 Quando um falante [desta população isolada] produz uma elocução, os outros falantes simplesmente reconhecem que ela tem tais e tais propriedades linguísticas. Eles não têm de acreditar que o falante acredita no conteúdo daquilo que diz [convenção de veracidade e confiança]. Eles não têm de acreditar que o falante acredita que o ouvinte acredita que o falante acredita no conteúdo daquilo que diz [e assim sucessivamente] (Laurence, A Chomskian alternative to convention-based Semantics ). Wilson & Sperber: É simplesmente falso que os falantes e ouvintes estejam a obedecer a uma convenção de veracidade e confiança. A comunicação envolve essencialmente expectativas de relevância (e as expectativas de veracidade, quando se verificam, derivam das expectativas de relevância). Em muitos casos, se não a grande maioria, será mais apropriado dizer algo literalmente falso mas mais relevante (em termos de efeitos cognitivos e esforço de processamento) do que algo estritamente verdadeiro. Exemplos: Que horas são, por favor? São seis e meia (quando são 6h29min32seg; é falso, mas pode ser o mais apropriado em termos de comunicação) Tenho de correr para o banco antes que feche (Se não for a correr, a frase é falsa; mas em termos de comunicação é perfeitamente apropriada) Preciso de um Kleenex (Se aceitar qualquer lenço de papel que não seja um Kleenex, a frase é falsa; mas em termos de comunicação ela é apropriada) 8
Grice: querer dizer. Projecto de Grice: explicar a significação em termos de intenções.
Grice: querer dizer Referências: Grice, Paul, Meaning, in Studies in the Way of Words, Cambridge (Mas.), Harvard University Press, 1989, pp 213-223. Schiffer, Stephen, Meaning, Oxford, Oxford University
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