IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DAS VARIAÇÕES DE CUSTOS NO SISTEMA ABC: UMA APLICAÇÃO EM UMA INDÚSTRIA DE AUTOPEÇAS



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Transcrição:

IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DAS VARIAÇÕES DE CUSTOS NO SISTEMA ABC: UMA APLICAÇÃO EM UMA INDÚSTRIA DE AUTOPEÇAS José Henrique de Freitas Gomes (UNIFEI) ze_henriquefg@yahoo.com.br Edson de Oliveira Pamplona (UNIFEI) pamplona@unifei.edu.br Um sistema de custos deve fornecer informações confiáveis para que a tomada de decisões empresariais ocorra de forma adequada, assegurando os resultados e a lucratividade da empresa no longo prazo. O presente trabalho trata da análise de vaariações de custos no Custeio Baseado em Atividades, unindo os conceitos do ABC e do Custeio Padrão para controlar os custos de cada uma das atividades envolvidas nos processos empresariais. A partir dos fundamentos teóricos abordados, foi realizada uma aplicação das técnicas da análise de variações no Custeio ABC em uma indústria de autopeças, com o objetivo de verificar as potenciais vantagens oferecidas por esta ferramenta de gestão. Os resultados mostram que a análise de variações, quando aplicada no ABC, possibilita não só o controle detalhado dos processos industriais através dos custos das atividades, mas também identifica oportunidades de melhoria ao longo do processo produtivo, direcionando as ações gerenciais para reduzir os custos, otimizar o uso dos recursos, melhorar o desempenho e, conseqüentemente, aumentar a lucratividade. Palavras-chaves: Gestão de custos, Custeio ABC, Custo-padrão, Variações de custo, Controle das atividades

1. Introdução O gerenciamento correto e eficiente dos custos ocorridos como conseqüência da elaboração de produtos ou prestação de serviços torna-se cada vez mais indispensável para que as empresas se mantenham competitivas em relação aos concorrentes de mercado. Segundo Duran & Radaelli (2000), é de fundamental importância conhecer bem os custos industriais, de modo a possibilitar um planejamento eficiente e uma correta tomada de decisões. Khoury & Ancelevicz (2000), citando o trabalho de Kaplan (1988), mostraram que um sistema de custos tem como objetivos a avaliação dos estoques para elaboração de relatórios financeiros e fiscais, o controle operacional e a apuração individual dos custos dos produtos. Dentro desse contexto, é de grande importância que as empresas façam uso de um sistema que seja capaz de apropriar aos produtos ou serviços custos com a maior precisão possível e que permita um controle rigoroso o suficiente para se determinar, corrigir e eliminar as variações que possam prejudicar os resultados empresariais. Entre os sistemas de custeamento, merece atenção o Custeio Baseado em Atividades, que apropria aos produtos ou serviços custos como resultado do consumo que estes fazem das diversas atividades existentes na empresa, desde os departamentos de produção até os de serviços. Como resultado da apropriação dos departamentos para as atividades e destas para os produtos finais, o sistema ABC garante informações mais precisas quando comparado com os outros métodos de custeamento, que utilizam rateios arbitrários. Em conjunto com o conhecimento preciso dos custos, um bom controle dos mesmos se torna bastante útil na medida em que procura mantê-los dentro de limites pré-determinados que não comprometam os objetivos da empresa. Aqui, o conceito de custo-padrão é interessante por contribuir com a fixação de padrões que sirvam como base de comparação entre os custos reais e os padronizados. Barbosa & Assis (2000) afirmam que o custo-padrão é uma importante ferramenta para o controle dos custos das operações e das atividades empresariais. A proposta deste artigo é a aplicação da análise de variações de custos no Custeio Baseado em Atividades, unindo os conceitos e as vantagens oferecidas pelo ABC com as técnicas de controle usadas pelo Custeio-Padrão. Cria-se, dessa forma, uma ferramenta de gestão que torna possível um controle dos processos empresariais através da padronização dos custos das atividades, verificando se os recursos disponibilizados estão sendo consumidos alinhadamente aos objetivos da organização. A metodologia utilizada neste trabalho trata-se da pesquisaação, uma vez que os conceitos abordados foram implementados em uma empresa. Assim, para cumprir com os objetivos descritos, o estudo encontra-se estruturado da seguinte maneira: nas seções 2, 3 e 4 serão discutidos os conceitos básicos do ABC e do Custeio- Padrão, apresentando as utilidades de cada sistema e as principais técnicas para a análise de variações tradicional. A seção 5 mostra como as técnicas de análise de variações podem ser adaptadas ao custeio ABC, para controlar os processos industriais através da gestão dos custos das atividades. Uma aplicação desses fundamentos teóricos em uma indústria de autopeças é apresentada na seção 6 juntamente com a análise e discussão dos resultados. A seção 7 ficou reservada para as considerações finais, contribuições e limitações deste trabalho e sugestões para estudos futuros. 2. O custeio baseado em atividades 2

Os sistemas de custeio tradicionais não determinam os custos de uma forma precisa, sendo os custos indiretos de fabricação determinados por sistemas de rateio inadequados, com o uso de taxas predeterminadas. Informações imprecisas podem ser geradas, o que pode fazer com que todas as decisões a respeito de preços, mix de produtos e promoções estejam mascarando a lucratividade da empresa no longo prazo (DURAN & RADAELLI, 2000). Segundo Martins (2003), o Custeio Baseado em Atividades (Activity-Based-Costing), é um método de custeio que procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio arbitrário dos custos indiretos, que têm aumentado continuamente nas empresas nos últimos anos em função do avanço tecnológico e da crescente complexidade dos sistemas de produção. Afirma ainda que a grande diferença do sistema ABC quando comparado aos sistemas tradicionais é a maneira como ele atribui os custos aos produtos ou serviços. A atribuição de custos no sistema ABC é feita em dois estágios. No primeiro estágio, denominado custeio das atividades, os custos dos recursos são alocados para as atividades existentes nesses setores através dos direcionadores de custos de primeiro estágio (direcionadores de recursos), que indicam a maneira como as atividades consomem os recursos. No segundo estágio, de custeio dos objetos, os produtos ou serviços recebem os custos das atividades através dos direcionadores de custos de segundo estágio (direcionadores de atividades), indicando a maneira como eles consomem as atividades. A Figura 1 apresenta a estrutura básica de alocação dos custos usada no sistema ABC. A importância que se dá à utilização do sistema de custeio ABC é em virtude do mesmo não ser apenas um sistema que dá valor aos estoques, mas também proporciona informações gerenciais que auxiliam os tomadores de decisão. Figura 1 Esquema básico do ABC/ Fonte: adaptado de Mauad & Pamplona (2003) O custeio ABC trata-se, na realidade, de uma ferramenta de gestão de custos, sendo muito mais amplo do que o custeio de produtos (MARTINS, 2003). O sistema permite a análise de custos sob duas visões: a visão econômica de custeio (visão vertical) e a visão de aperfeiçoamento de processos (visão horizontal). A visão vertical de custeio serve basicamente para custear os produtos. A visão horizontal, de aperfeiçoamento de processos, reconhece que um processo é formado por uma seqüência de atividades encadeadas, exercidas 3

através de vários setores da empresa. Os processos são analisados, custeados e aperfeiçoados através da melhoria de desempenho na execução das atividades. 3. Controle de custos: o custo-padrão Controlar significa conhecer a realidade, compará-la com o que deveria ser, tomar conhecimento rápido das divergências e suas origens e tomar atitudes para sua correção. Pode-se dizer que uma empresa tem controle sobre seus custos e despesas quando conhece os que estão sendo incorridos, verifica se estão dentro do que era esperado, analisa as divergências e toma medidas para correção de tais desvios. Martins (2003) distingue três conceitos para o custo-padrão: o custo-padrão ideal, o custopadrão corrente e o custo-padrão estimado. O custo-padrão ideal corresponde ao custo que seria conseguido com o uso dos melhores recursos possíveis, sem nenhuma parada por qualquer motivo. Seria uma meta da empresa a longo prazo e não a fixada para o próximo período. O custo-padrão corrente é o valor que a empresa fixa como meta para o próximo período para um determinado produto ou serviço, levando em conta as deficiências existentes na empresa. É um valor que a empresa considera difícil de ser alcançado, mas não impossível, sendo uma meta de curto e médio prazo. O custo-padrão estimado é o que normalmente a empresa deverá obter, partindo da hipótese de que a média do passado é um número válido e introduzindo apenas algumas modificações esperadas. O objetivo principal é estabelecer uma medida planejada que será usada para compará-los com os custos reais ou históricos, com a finalidade de revelar desvios que serão analisados e corrigidos, mantendo, assim, o desempenho operacional dentro dos rumos previamente estabelecidos (LEONE, 1997). 4. Análise de variações de custos Um dos motivos mais relevantes em analisar as variações de custos, ou seja, a existência de diferenças entre os custos padrão e real, é a busca de informações que expliquem a existência de tais diferenças. As variações de custos se dividem em variações de custos diretos e variações de custos indiretos. 4.1. Variações dos custos diretos Nas variações dos custos diretos, são comuns variações de materiais diretos e variações de mão-de-obra direta. A variação de materiais diretos pode existir devido à variação da quantidade ou do preço dos materiais. A Figura 2 ilustra as ocorrências de variações para os materiais diretos: 4

Figura 2 Variações de materiais diretos/ Fonte: adaptado de Martins (2003) A variação de mão-de-obra direta ocorre em função das variações de taxa e das variações de eficiência da mão-de-obra. A análise é semelhante à das variações de materiais diretos. Tanto para as variações de materiais quanto para as de mão-de-obra, a análise considera os custos unitários dos produtos, pois esta, segundo Martins (2003), é a melhor forma de manuseá-las. 4.2. Variações dos custos indiretos Na análise das variações dos custos indiretos considera-se, primeiramente, a diferença entre o volume determinado para o cálculo do padrão e o volume real de produção, pois esta diferença provoca alteração nos custos unitários devido à existência dos custos indiretos fixos. As variações dos custos indiretos se dividem em variação de volume, variação de eficiência e variação de custo. A variação de volume é a diferença entre o custo indireto padrão ao nível padrão do volume de produção e o custo indireto que seria padrão no nível real. É devida aos custos fixos e origina-se na produção real diferente, em quantidade, do volume padrão. A variação de eficiência é a diferença entre o custo indireto que seria padrão ao nível real e o custo indireto padrão ao nível real ajustado pela ineficiência. Deriva de um uso diferente de insumos ou fatores de produção daquele que seria desejável pelo padrão para determinada quantidade produzida. A variação de custo é a diferença entre o custo indireto que seria padrão ao nível real e o custo indireto real. É representada pelo comportamento dos custos indiretos, acima ou abaixo do que deveriam, considerando o volume real de produção. A Figura 3 representa a maneira como se divide a análise de variações para os custos indiretos: 4.3. Decisões sobre variações Figura 3 Variações de custos indiretos/ Fonte: adaptado de Martins (2003) 5

As variações de custos por si próprias não chegam a revelar problemas nem oportunidades, porém, quando significativas, atuam como indicadores de desvios que podem ameaçar a continuidade da empresa ou pelo menos comprometer a sua eficácia. Mesmo quando favoráveis, as variações relevantes devem ser investigadas, uma vez que podem ter sido geradas por decisões que, embora contribuam para a maximização de um resultado setorial, poderão inviabilizar a otimização do resultado global da empresa (DIAS FILHO & NAKAGAWA, 2001). Barbosa & Assis (2000) afirmam que uma vez que uma variação foi determinada, deve-se questionar se a causa dessa variação deva ser investigada, para que as ações corretivas possam ser ativadas em decorrência de investigar ou não a variação. Para Martins (2003), algumas vezes as causas das variações são fáceis de serem localizadas; outras vezes, o tempo despendido em sua pesquisa pode ser muito grande. É aconselhável que a empresa determine um valor abaixo do qual não se esforçará para localizar a razão das variações. O importante é que se utilize um critério que não faça a empresa gastar mais na procura das razões das variações do que já gastou ao nelas incorrer. 5. Análise de variações no custeio baseado em atividades Como foi mencionada anteriormente, a união das vantagens oferecidas pelo Custeio Baseado em Atividades com os conceitos do Custeio-Padrão constitui-se uma ferramenta bastante útil para o gerenciamento dos custos empresariais. Em outras palavras, adaptando as técnicas de análise de variações para o sistema ABC através do controle e análise dos custos das atividades cria-se uma forma de se ter um controle mais detalhado sobre o processo produtivo, possibilitando conhecer e identificar deficiências na empresa. 5.1. Críticas à análise tradicional de variações de custos A análise tradicional de variações de custos tem sofrido críticas por parte de alguns autores. Para Ruhl (1995), a análise convencional utiliza o volume de produção como base para alocação de todos os custos aos produtos. Mesmo isso sendo aceitável para relatórios financeiros, deve-se considerar o custeio dos produtos e a análise das variações como duas funções distintas de um sistema de custos. Assim, como o volume de produção não é sempre o melhor direcionador, o sistema pode não apresentar a verdadeira realidade da produção. Isto conduz a uma inadequada análise das variações, levando os gerentes a conclusões equivocadas. Gerdin (2004) argumenta que as variações calculadas no sistema tradicional não fornecem informações úteis às decisões gerenciais. No melhor caso, as variações desfavoráveis alertam para que ações corretivas sejam tomadas, mas não informam sobre quais ações devem ser tomadas. No entanto, essas deficiências são minimizadas quando a análise de variações passa a ser aplicada no custeio baseado em atividades. No ABC, a escolha de direcionadores adequados para cada uma das atividades conduz a uma análise de variações com informações confiáveis e o fato dessa análise ser feita nas atividades desempenhadas na empresa mostra quais os setores que estão apresentando maiores problemas, direcionando para essas áreas maiores atenções por parte dos gerentes. A análise de variações no sistema ABC será discutida com maiores detalhes no item seguinte. 5.2. Análise de variações baseada em atividades 6

A padronização dos custos das atividades visando-se ter uma previsibilidade de como eles provavelmente irão se comportar no período caso as variáveis envolvidas no processo ocorram dentro das condições normais de trabalho, é uma medida interessante para uma boa gestão da empresa através dos custos industriais. Ao final de cada período, os custos reais são comparados com os valores padronizados de forma a verificar se as atividades encontram-se sob controle. A ocorrência de variações significativas entre os custos padrão e real pode indicar prováveis deficiências dentro da empresa. A análise das variações de custos dentro do sistema ABC foi discutida por Mak & Roush (1994). Nesse trabalho, os autores apresentam o tratamento dado às variações de custos das atividades segundo três visões diferentes: Cooper & Kaplan (1992), Malcom (1991) e Hansen & Mowen (1992). Cooper & Kaplan (1992) consideram os custos da empresa como fixos a curto prazo e defendem que o custo da capacidade inutilizada, dada pela diferença entre a atividade disponível e a atividade utilizada, é uma medida satisfatória para o controle das atividades. Esta variação torna-se significativa para os custos fixos das atividades em que os gastos são certos e não podem ser ajustados periodicamente. Também recomendam a comparação entre os valores orçados e os custos reais para cada atividade, obtendo-se a variação de orçamento. Entretanto, se os objetos de custos passam a se comportar como variáveis em curto prazo, esta análise pode conduzir a resultados errados (MAK & ROUSH, 1994). Malcom (1991) analisa os custos variáveis das atividades, dividindo as variações totais em variações de eficiência (quantidade) e de preço, semelhante ao que ocorre na análise convencional. Na última visão apresentada, Hansen & Mowen (1992) afirmam que os custos podem ser fixos, variáveis ou mistos. No entanto, apresentam somente a variação total para os custos das atividades. Para Mak & Roush (1994), a distinção entre os custos fixos e variáveis das atividades é fundamental para que a análise de variações obtenha resultados verdadeiros. A análise proposta pelos autores trata os custos fixos e variáveis separadamente. Para os custos fixos, propõem que a variação total seja decomposta em variação de orçamento e de capacidade. Para os custos variáveis, a variação total se divide em variações de preço e eficiência (quantidade). A estrutura proposta por Mak & Roush (1994) para o controle dos custos das atividades é apresentada na Figura 4: 7

Figura 4 Estrutura para controle de custos das atividades/ Fonte: Mak & Roush (1994) 6. Análise de variações do custeio abc em uma indústria de autopeças Os conceitos discutidos nos itens anteriores foram aplicados em uma indústria de autopeças com o objetivo de verificar os benefícios da análise de variações de custos das atividades e a qualidade das informações que podem ser geradas para o processo de decisões gerenciais. Devido à necessidade de preservação das informações da empresa, os dados apresentados não correspondem aos valores reais. A análise se limitou a um determinado posto de trabalho, que realiza operações de usinagem de desbaste em buchas fundidas de ferro fundido nodular, usadas como matéria-prima para produção de anéis de vedação de motores de combustão interna. A atividade usinagem de desbaste e corte de anéis é composta pelas operações de torneamento interno, torneamento externo e corte da bucha em anéis. A Figura 5 apresenta uma descrição mais detalhada do posto analisado. Figura 5 Posto de usinagem de desbaste das buchas de ferro fundido nodular 6.1. A atual estrutura de custos da empresa Antes de prosseguirmos é oportuna uma descrição do sistema de custos utilizado pela empresa. No ambiente atual a alocação dos custos dos departamentos de produção é feita através de centros de custos. Ao final do período tudo o que foi gasto é somado e dividido pelo volume de produção para se conhecer o custo unitário. Os gastos dos departamentos de apoio, como Qualidade e Recursos Humanos, são apropriados aos departamentos produtivos por meio de rateios. A análise de variações empregada se limita à comparação entre os custos reais e os custos orçados, sendo o conceito do custo-padrão pouco empregado. As informações acima descrevem uma estrutura de custos tradicional, útil apenas para alocação dos custos aos produtos e controle dos gastos, para que estes não excedam os orçamentos previstos. É adequada para fins contábeis, mas fornece pouca informação para fins gerenciais. A análise de variações de custos no sistema ABC apresentada a seguir aparece com a finalidade de fazer desta uma ferramenta útil para a tomada de decisão e para controle dos processos através dos custos. 6.2. O custo-padrão da atividade Utilizando técnicas de racionalização do trabalho e levando em consideração algumas deficiências da empresa, foi realizado um estudo sobre a atividade com a finalidade de obter o 8

consumo dos recursos em condições normais de trabalho. A composição do custo-padrão para o desbaste e corte de anéis é apresentada na Tabela 1. O volume padrão calculado para a produção é de 14.256 buchas. Itens de custo Custo-padrão fixo Custo-padrão variável Mão-de-obra R$ 14.694,65 - Ferramentas - R$ 2,08 / bucha Fluido de corte - R$ 31,66 / litro Energia - R$ 17,16 / hm Materiais de consumo R$ 6.000,00-6.3. Análise das variações de custos Tabela 1 Custo-padrão da atividade de desbaste e corte de anéis Em um determinado período a produção do setor foi de 10.743 buchas. Os custos ocorridos para a atividade nesse período estão mostrados na Tabela 2, juntamente com o custo-padrão calculado para o volume padrão de produção. Custo Padrão (R$) Real (R$) Variação (R$) Mão-de-obra 14.694,65 19.459,62 (4.764,97) D Ferramentas 29.681,64 13.656,96 16.024,68 F Fluido de corte 6332,00 7.915,00 (1.583,00) D Energia 4.694,98 3.600,06 1.094,92 F Materiais indiretos 6.000,00 7.672,51 (1.672,51) D Total 61.403,27 52.304,15 9.099,12 F Produção (buchas) 14.256 10.743 Custo (R$/bucha) 4,30 4,87 (0,57) D Tabela 2 Comparação entre os custos-padrão e os custos reais da atividade A Tabela 3 mostra a divisão de cada um dos itens de custo pelo volume de produção correspondente, ou seja, o custo-padrão dividido pelo volume padrão e o custo real dividido pelo volume real, a fim de identificar o quanto que cada componente contribui para o custo unitário final do produto. Custo Padrão (R$/bucha) Real (R$/bucha) Variação (R$/bucha) Mão-de-obra 1,03 1,81 (0,78) D Ferramentas 2,08 1,27 0,81 F Fluido de corte 0,44 0,74 (0,30) D Energia 0,33 0,34 (0,01) D Materiais indiretos 0,42 0,71 (0,29) D Total 4,30 4,87 (0,57) D Tabela 3 Custo unitário dos produtos As Tabelas 2 e 3 mostram que as variações mais significativas para a atividade de desbaste e corte de anéis ocorrem para os custos de mão-de-obra e de consumo de ferramentas, sendo a variação de mão-de-obra desfavorável e a de ferramentas favorável. Identificadas as variações de custos das atividades, o próximo passo consiste na busca das informações que explicam a ocorrência de tais distorções. Dessa forma, o conhecimento mais detalhado do comportamento dos custos de mão-de-obra e consumo de ferramentas durante o período apresentaram os resultados mostrados nas Tabelas 4 e 5. 9

Variação de taxa Variação de eficiência Taxa real (R$/hora): 43,83 Horas reais: 444 Taxa padrão (R$/hora): 37,11 Horas padrão: 396 Diferença (R$/hora): 6,72 Diferença (horas): 48 Horas reais: 444 Taxa padrão (R$/hora): 37,11 Variação de taxa (R$): 2.983,68 D Variação de eficiência (R$): 1.781,28 D Variação de mão-de-obra: 4.764,96 D Tabela 4 Análise das variações de mão-de-obra A visão detalhada dos custos de mão-de-obra mostra que a empresa pagou mais a seus operadores para que estes produzissem menos. Em outras palavras, os operadores não produziram de acordo com o esperado, pois a produção do período corresponde a 75% da capacidade disponível da atividade. Além disso, a empresa pagou mais que o previsto para os operadores, sendo a ocorrência de horas extras a causa mais provável para este aumento nos custos. Entre as causas prováveis que explicam essas distorções nos custos de mão-de-obra, poderíamos citar paradas da máquina devido a problemas de manutenção ou a falta de treinamento dos operadores. As ações para melhoria desses fatores devem acontecer de forma que a produção possa crescer e se aproximar do valor esperado. A conseqüência imediata de tais ações consiste na redução do custo do produto e a não necessidade de se recorrer às horas extras para atendimento da demanda. A Tabela 5 mostra um consumo de ferramentas menor que o esperado. Como o preço dos insertos tem se mantido constante, a variação de custo se explica simplesmente pela variação de quantidade. Neste caso, é necessário verificar o consumo dos períodos anteriores, observando se maiores quantidades foram compradas e ainda estão sendo utilizadas, o que justificaria o consumo menor do período atual. Ferramentas Preço unitário Consumo padrão Consumo real (R$) (unidades) (unidades) Variação (R$) Inserto p/ torneamento interno 218,72 90 60 6.561,60 F Inserto p/ torneamento externo 66,72 18 8 667,20 F Bedame p/ faceamento 291,88 1 0 291,88 F Bedame p/ sangramento 340,16 25 0 8.504,00 F Total 134 68 16.024,68 F Tabela 5 Consumo de ferramentas no período 7. Conclusões O Custeio Baseado em Atividades e o Custeio-Padrão são conceitos importantes dentro da gestão de custos. No entanto, quando usados em conjunto, padronizando os custos das atividades, formam uma ferramenta consistente para gestão dos custos empresariais, fornecendo meios para controlá-los dentro de limites que não comprometam o desempenho a longo prazo. A partir dos resultados apresentados no item 6 pode-se observar que a análise de variações de custos aplicada no sistema ABC contribui com as decisões gerenciais na medida em que permite uma analise estruturada de como os recursos empresariais estão sendo utilizados pelas atividades, impactando diretamente no custo do produto final. Esta análise oferece um nível 10

de detalhe que vai além das informações obtidas com um sistema tradicional, limitado ao cálculo do custo dos produtos ou serviços e ao controle para que se enquadrem dentro do orçamento estipulado. A padronização e o controle dos custos das atividades possibilitam identificar oportunidades de melhoria entre os processos e direcionar a atenção dos gerentes para setores específicos da empresa. A análise da atividade de desbaste e corte de anéis comprova essa afirmação, pois fica claro que a empresa não está aproveitando o recurso mãode-obra, tendo uma produção 25% menor que o esperado e fazendo uso de horas extras. Além disso, o consumo de ferramentas teve um consumo abaixo do esperado, o que sugere uma revisão da política de estocagem desses itens para que a alocação desses recursos aos produtos não apresente variações sucessivas. Este trabalho, mesmo obtendo resultados interessantes, se limitou à análise de apenas uma atividade. Como sugestão para estudos futuros fica a aplicação desses conceitos em atividades seqüenciadas que caracterizam um processo produtivo, para obter um nível de detalhamento que permita eliminar atividades que não agregam valor ao cliente, reduzir custos e aumentar da lucratividade. Finalmente, é importante destacar que qualquer análise variações só tem sentido se for acompanhada de ações que reduzam ou eliminem as diferenças encontradas. 8. Referências BARBOSA, A. & ASSIS, J. V. Análise das significâncias das variações do custo-padrão aplicado à produção industrial sob o enfoque da economia da informação. XVI Congresso Brasileiro de Contabilidade, Goiânia, 2000. COOPER, R. & KAPLAN, R. Activity-based systems: measuring the costs of resource usage. Accounting Horizons, September, 6, 3, p. 1-12, 1992. DIAS FILHO, J. M. & NAKAGAWA, M. Decisões de Planejamento e Controle de Custos: Uma Abordagem Quantitativa. VIII Congresso Brasileiro de Custos, São Leopoldo, RS, 2001. DURAN, O. & RADAELLI, L. Metodologia abc: implantação numa microempresa. Gestão e Produção, vol. 7, nº 2, Agosto, p. 118-135, 2000. GERDIN, J. Activity-based variance analisys New tools for cost management. Cost Management, 18, 5, Sep/Oct, p. 38-48, 2004. HANSEN, D. R. & MOWEN, M. M. Management Accounting. 2d ed., Cincinnati, OH, South-Western, 1992. KAPLAN, R. One cost system isn t enough. Harvard Business Review, Jan/Feb, p. 61-66, 1988. KHOURY, C. Y. & ANCELEVICZ, J. Controvérsias acerca do sistema abc. Revista de Administração de Empresas, vol. 40, nº 1, Janeiro/Março, p. 56-62, São Paulo, 2000. LEONE, G. S. G. Curso de contabilidade de custos. Editora Atlas, São Paulo, 1997. MAK, Y. T. & ROUSH, M. L. Flexible budgeting and variance analysis in an Activity-Based Costing environment. Accounting Horizons, June, 8, 2, p. 93-103, 1994. MALCOM, R. E. Overhead control implications of activity costing. Accounting Horizons, December, 5, 4, p. 69-78, 1991. MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9º edição, Editora Atlas, São Paulo, 2003. MAUAD, L. G. A. & PAMPLONA, E. O. ABC/ABM e BSC Como essas ferramentas podem se tornar poderosas aliadas dos tomadores de decisão das empresas. VIII Congresso Internacional de Custos, Punta Del Leste, Uruguai, 2003. RUHL, J. M. Activity-based variance analysis. Journal of Cost Management, Winter, p. 38-47, 1995. 11