EFEITOS COLATERAIS DA QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS HOSPITALIZADOS¹ SIDE EFFECTS OF CHEMOTHERAPY IN HOSPITALIZED CANCER PATIENTS



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Transcrição:

Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 7, n. 1, p. 101-107, 2006. 101 ISSN 1982-2111 EFEITOS COLATERAIS DA QUIMIOTERAPIA EM PACIENTES ONCOLÓGICOS HOSPITALIZADOS¹ SIDE EFFECTS OF CHEMOTHERAPY IN HOSPITALIZED CANCER PATIENTS Catia Fontinel Schein², Andréa Rodrigues Marques 3, Camila Lehnhart Vargas 3 e Vanessa Ramos Kirsten 4 RESUMO O câncer caracteriza-se na alteração em uma célula, a qual tem seu funcionamento descontrolado e não respeita a divisão e multiplicação celular, crescendo e se expandindo anormalmente. A quimioterapia é muito empregada para diminuir, eliminar e controlar o tumor. No entanto, as drogas usadas para o tratamento oncológico causam alguns efeitos colaterais. No presente trabalho, objetivou-se veri car os efeitos colaterais da quimioterapia em pacientes oncológicos hospitalizados. Para tanto, foram avaliados 20 pacientes, adultos e idosos de ambos os sexos, internados no Hospital Universitário de Santa Maria, durante o período de março a abril de 2006. Desses pacientes, 55% eram do gênero masculino. Entre os pacientes avaliados, 75% apresentaram algum efeito colateral durante o ciclo quimioterápico. Muitos efeitos colaterais relatados pelos pacientes podem, no decorrer do tratamento, prejudicar seu estado nutricional, como também uma melhora do tratamento. Palavras-chave: câncer, quimioterapia, efeitos colaterais. ABSTRACT Cancer is characterized by an alteration in the cell, in which its operation is uncontrolled, it doesn t respect the division and cellular multiplication, growing and expanding abnormally. Being chemotherapy very much used to decrease, eliminate and control the tumor. However, the drugs used for the cancer treatment cause some side effects. The present work had the objective to verify the side effects of the chemotherapy ¹ Trabalho Final de Graduação - TFG. ² Acadêmica do Curso de Nutrição - UNIFRA. ³ Nutricionistas do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) - Colaboradoras. 4 Orientadora - UNIFRA.

102 Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 7, n. 1, p. 101-107, 2006. in hospitalized cancer patients. For that they were appraised 20 patients, adults and senior of both sexes, interned at Santa Maria s University Hospital, from March to April, 2006. Of these, some patients (55%) were of the masculine gender. Among the appraised patients, 75% presented some collateral effect during the chemotherapy cycle. There were many collateral effects told by the patients, which can harm an improvement to the treatment. Keywords: Cancer, Chemotherapy, side effects. INTRODUÇÃO O câncer inicia-se a partir de uma única célula transformada que não obedece ao regulamento da diferenciação e proliferação celular, crescendo sem respeitar as necessidades do corpo. Os tratamentos usados para o combate das neoplasias são: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. A quimioterapia tem como função principal eliminar as células malignas que formam o tumor, seu tratamento atua de forma sistêmica, em que os medicamentos agem indiscriminadamente nas células do paciente, estejam elas normais ou cancerosas, produzindo efeitos adversos bastante desagradáveis e comprometedores. No entanto, as drogas usadas não são capazes de diferenciar as células do tumor e as normais, resultando no disso é o aparecimento de efeitos colaterais, os quais dependem do agente quimioterápico, da dosagem, da duração do tratamento e das drogas que acompanham a resposta individual. O conhecimento dessas reações se faz necessário a m de que seja possível ter subsídios para prestar assistência nutricional adequada a esses pacientes, muitas vezes, prevenindo possíveis complicações decorrentes do tratamento. A partir dessas colocações, objetiva-se veri car os efeitos colaterais da quimioterapia nos pacientes durante o tratamento quimioterápico. METODOLOGIA Este estudo ocorreu de maneira transversal, por meio da investigação simultânea de causa (quimioterapia) e efeito (reações adversas) (PEREIRA, 1995). A amostra foi constituída de todos os pacientes que internaram no Hospital Universitário de Santa Maria para realização da quimioterapia durante o período avaliado. Este trabalho teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Franciscano, sob registro nº 022.2006.2.

Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 7, n. 1, p. 101-107, 2006. 103 O estudo foi realizado durante o período de março a abril de 2006, com 20 pacientes internados para tratamento quimioterápico no Hospital Universitário de Santa Maria. Os critérios de inclusão para a pesquisa foram pacientes adultos e idosos de ambos os sexos com diagnóstico neoplásico, que estivessem hospitalizados para realização tratamento quimioterápico e que aceitassem participar do estudo assinando o termo de livre consentimento esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão da pesquisa foram pacientes que não aceitaram participar do estudo, pacientes que não tinham condições de responder às perguntas e, também, pacientes que realizaram tratamento quimioterápico juntamente com o radioterápico. Aplicou-se um questionário e, por meio dele, foi possível veri car os efeitos colaterais da quimioterapia. As variáveis que não foram encontradas em todos os prontuários foram excluídas da avaliação. A análise dos dados foi realizada por meio de dados absolutos, contemplando média e porcentagem. RESULTADOS E DISCUSSÕES O total da amostra foi de 20 pacientes, sendo 55% do gênero masculino e 45% do gênero feminino. As idades variaram de 23 a 69 anos, sendo a média da faixa etária de 51 anos. A média de faixa etária do sexo feminino foi de 53 anos e do sexo masculino de 50 anos. Ao anlaisar os diagnósticos encontrados, 50% das neoplasias foram intestinais (câncer de cólon e reto), 15% carcinoma de cabeça e pescoço e os demais tipos de câncer corresponderam a 40%. O tempo de diagnóstico da doença, nos pacientes avaliados, variou de 1 mês a 6 anos, ressaltando que 45% (n=8) da amostra corresponderam aos primeiros 4 meses da doença. O tempo de duração de cada ciclo (período que o paciente ca internado para a realização da quimioterapia) variou de 3 a 5 dias. O intervalo entre um ciclo e outro foi de 15 a 31 dias. Quanto aos dados clínicos, foram avaliados os seguintes critérios: sinais e sintomas da doença e efeitos colaterais da quimioterapia. Os sinais e sintomas ocasionados nos pacientes desde o diagnóstico neoplásico foram: Ansiedade (50%), Perda de Peso (45%), Disfagia (40%), Fadiga/Cansaço (35%), Dores no Corpo (35%), Perda de Apetite (25%), Febre (25%), Alteração Intestinal (25%), Ganho de Peso (20%), Alteração Gastrintestinal (15%), Odinofagia (15%), Ausência de Sinais e Sintomas (5%).

104 Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 7, n. 1, p. 101-107, 2006. O próprio diagnóstico do câncer leva, na maioria das vezes, a um período de muita ansiedade e angústia. Esses sintomas estiveram presentes em 50% dos pacientes avaliados, além de outros sintomas somáticos, como perda de peso, disfagia, fadiga, dores no corpo, que também podem estar relacionados ao catabolismo da doença ou ao seu tratamento. A proporção de pacientes que desencadearam efeitos colaterais durante a quimioterapia foi de 75%, apenas 25% não apresentaram nenhum efeito colateral. As drogas usadas no tratamento quimioterápico dos pacientes avaliados tiveram em sua composição 5-Fluorouracil, em 70% dos casos. Os principais efeitos colaterais desencadeados pelos pacientes durante o ciclo quimioterápico avaliado serão descritos e mostrados a seguir (Figura 1). Figura 1 - Efeitos colaterais desencadeados nos pacientes durante a realização da quimioterapia no Hospital Universitário de Santa Maria - RS, 2006. Constatou-se que 60% dos pacientes avaliados apresentaram náuseas durante o tratamento quimioterápico e 35% acompanhados de vômitos. Em um estudo, Almeida (2004) avaliou pacientes com câncer de cólon usando em seu tratamento (5 FU) 5-Fluorouracil. Dos pacientes, 82,4% apresentaram pelo menos um dos sinais e sintomas estudados. Náusea foi o sintoma mais frequente (76,5%), por último, o vômito (53,0%).

Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 7, n. 1, p. 101-107, 2006. 105 Conforme Fonseca et al. (2000), o Fluorouracil tem um baixo potencial emético, ocasiona de 0 a 10% dos pacientes, porém a dose, a via de administração, a velocidade de aplicação e a combinação dos fármacos podem in uenciar para que essa porcentagem aumente. Bonassa e Santana (2005) relatam que a ocorrência de náuseas e vômitos ocorrem em 10 a 30% dos casos, considerando, também, essa droga como baixo potencial emético. A partir dos dados apresentados (60% de náuseas), os valores são independentes do uso de drogas, não podendo a rmar se a droga está fazendo o efeito. Observou-se que as alterações intestinais ocorrem em 40% dos casos. Figura 2 - Efeitos adversos da quimioterapia, relacionados à função intestinal dos pacientes internados no Hospital Universitário de Santa Maria - RS, 2006. Conforme Waitzberg (2004), a incidência de diarreia durante o tratamento quimioterápico ocorre em 50 a 80% dos casos. Fonseca e colaboradores acrescentam que o 5-Fluorouracil é o fármaco mais frequentemente envolvido com esse efeito colateral. Em um estudo feito por Almeida (2004), mostra-se que a diarreia esteve presente em 70,5% dos pacientes em tratamento com a mesma droga, um dado bem acima do encontrado no presente estudo. Vale ressaltar que o hospital estudado possui uma ampla equipe de nutrição, podendo estar relacionada com o controle da diarreia, e, dessa forma, apresentar valores bem abaixo dos descritos na literatura. A partir da gura 3, apresentam-se as características quanto à palatabilidade e alteração salivar dos pacientes.

106 Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 7, n. 1, p. 101-107, 2006. Figura 3 - Efeitos relacionados com a palatabilidade e alteração salivar de pacientes internados durante a realização da quimioterapia no Hospital Universitário de Santa Maria - RS, 2006. Veri cou-se que 25% dos pacientes apresentaram xerostomia, alteração que pode ocorrer tanto pela droga utilizada durante a quimioterapia como pelo tipo de tumor. Conforme Martins, Gaeti e Caçador (2002), o tipo de quimioterápico, a dosagem e a frequência de utilização das drogas podem levar a severas complicações bucais, cerca de 40% dos pacientes oncológicos submetidos ao tratamento quimioterápico apresentam complicações bucais. Ressaltando essa a rmação, Fonseca et al. (2000) mostram que 40% dos pacientes sob quimioterapia desenvolvem mucosite em graus variáveis. Dentre a amostra avaliada, 65% dos pacientes relataram que alguns efeitos perduram após o nal de cada ciclo, com variação de 1 a 7 dias após a alta hospitalar. CONCLUSÃO No presente trabalho, mostrou-se os principais efeitos colaterais da quimioterapia e suas consequências em pacientes internados durante o tratamento oncológico, demonstrando alta frequência de efeitos colaterais, principalmente nos relacionados ao trato gastrointestinal, o que pode afetar diretamente o estado nutricional dos pacientes. Portanto, a prevenção dos possíveis efeitos adversos e o adequado planejamento terapêutico costuma ser a forma mais e caz de evitar as complicações durante o tratamento. A correção de alterações induzidas pela quimioterapia, na

Disc. Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 7, n. 1, p. 101-107, 2006. 107 ine cácia da prevenção, deve ser iniciada o mais prontamente possível, evitando, dessa forma, complicações no estado geral do paciente. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Elizabeth Pinto Magalhães de; GUTÉRREZ, Maria Gaby; ADAMI, Nilce Piva. Monitoramento e avaliação dos efeitos colaterais da quimioterapia em pacientes com câncer de cólon. Revista Latino Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 12, n. 5, set./out., 2004. BONASSA, Edva Moreno Aguilar; SANTANA, Tatiana Rocha. Enfermagem em terapêutica oncológica. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. FONSECA, Selma Montasa da et al. Manual de quimioterapia antineoplásica. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, 2000. MARTINS, Adriane de Castro Martinez; GAETI, Walderez Penteado; CAÇADOR, Neli Pialarissi. Complicações bucais da quimioterapia antineoplásica. Acta Scientiarum, Maringá. v. 24, n. 3, p. 663-670, 2002. PEREIRA, Maurício Gomes. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. WAITZBERG, Dan L. Dieta, nutrição e câncer. São Paulo: Atheneu, 2004.