Economia Não Registada: Actualização do índice para Portugal



Documentos relacionados
Economia Não Registada: Índice para Portugal Óscar Afonso

Actualização do índice de Economia Não Registada para Portugal, Óscar Afonso e Nuno Gonçalves

CORREÇÃO GRUPO I As questões que se seguem são de escolha múltipla. Das quatro respostas (A a D), apenas uma está correta. Assinala-a. 1.

DESENCADEANDO O EMPREENDEDORISMO

Crescimento da dívida desde o fim dos anos 90

OBEGEF Observatório de

NOTA INFORMATIVA. O acompanhamento e a monitorização técnica da execução do Compromisso cabe ao Instituto da Construção e do Imobiliário (InCI).


Economia Não Registada: conceitos, causas, dimensão, implicações e o caso português. ÓSCAR AFONSO

De acordo com a definição dada pela OCDE,

Projeções para a economia portuguesa:

ANEXO A à. Proposta de REGULAMENTO DO PARLAMENTO EUROPEU E DO CONSELHO. relativo ao Sistema europeu de contas nacionais e regionais na União Europeia

O SUCH Serviço de Utilização Comum dos Hospitais é uma associação privada sem fins lucrativos ( pessoa colectiva de utilidade pública).

Financiamento, Investimento e Competitividade

ACTUALIZAÇÃO ANUAL DO PROGRAMA DE ESTABILIDADE E CRESCIMENTO: PRINCIPAIS LINHAS DE ORIENTAÇÃO. 11 de Março de 2011

ANEXOS. Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho. sobre uma estratégia externa para uma tributação efetiva

Terceiro Sector, Contratualização para ganhos em saúde

Porquê uma Campanha Nacional contra o Trabalho não Declarado?

Curso Profissional de Restauração e Bar Ano de Escolaridade 10ºano Ano Letivo 2014/2015

Prova Escrita de Economia A

Condicionantes de um crescimento sustentado da economia portuguesa

MELHORES PRÁTICAS DA OCDE

Os Segredos da Produtividade. por Pedro Conceição

Prova Escrita de Economia A

TTULO. Seminário sobre Financiamento

Inquérito ao Trabalho Voluntário 2012 «

Flash fiscal Memorando de Entendimento Principais medidas fiscais 13 Maio de 2011

O futuro das relações Galiza Norte de Portugal em matéria estatística

EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO VERSÃO 2

Escola Secundária Fernão de Magalhães

Avaliação Distribuída 2º Mini-Teste (30 de Abril de h00) Os telemóveis deverão ser desligados e guardados antes do início do teste.

Informação Empresarial Simplificada

A Política Regional Portuguesa e as Economias de Aglomeração

GOVERNO. Orçamento Cidadão 2015

ÍNDICE DE RISCO DE 2008 PORTUGAL

Apresentação do GIS - Grupo Imigração e Saúde / Parte 2: a utilidade do GIS para os imigrantes

III Congresso de Direito Fiscal

Aumento do Custo de Vida Degradação das condições económicas e sociais para a generalidade dos portugueses

CRESCIMENTO E EMPREGO: PRÓXIMOS PASSOS

CURSO PROFISSIONAL DE TÉCNICO DE RESTAURAÇÃO- RESTAURANTE BAR PLANIFICAÇÃO DE ECONOMIA 10º ANO. Turma - 10º N. Professora: Ana Cristina Viegas

Aula Teórica nº 5 Sumário:

EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO VERSÃO 1

Práticas de Responsabilidade Social: Limites e Potencialidades

Contas dos Sectores Institucionais

Formação em Protecção Social

Aplicação do Direito da Concorrência Europeu na UE

Em Portugal o Produto Interno Bruto per capita expresso em Paridades de Poder de Compra situou-se em 76,0 % da média da União Europeia em 2012

Lisboa, 8 janeiro 2012 EXMO SENHOR SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DOS ASSUNTOS EUROPEUS, DR. MIGUEL MORAIS LEITÃO

Enquadramento Fiscal

Fundação Denise Lester

como Indicador de Competitividade

SUR REDE UNIVERSITÁRIA DE DIREITOS HUMANOS

Um país mais competitivo e amigo do investimento

Advocacia e Cidadania

EVOLUÇÃO DO SEGURO DE SAÚDE EM PORTUGAL

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS. QREN: uma oportunidade para a Igualdade entre homens e mulheres

LEI DE INCENTIVOS E BENEFÍCIOS FISCAIS AO INVESTIMENTO PRIVADO Lei nº 17 / 03 de 25 de Julho

Projecto de Resolução n.º 427 /X-4ª. Cria um Plano de Emergência para o Distrito de Évora

Decreto-Lei n.º 229/98 de 22 de Julho

Projeções para a economia portuguesa:

Mercados. informação regulamentar. Hungria Condições Legais de Acesso ao Mercado

ADESÃO AO CÓDIGO EUROPEU DE CONDUTA VOLUNTÁRIO SOBRE AS INFORMAÇÕES A PRESTAR ANTES DA CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS DE EMPRÉSTIMO À HABITAÇÃO

PROJECTO DE RELATÓRIO

VALOR DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL NO SECTOR CULTURAL E CRIATIVO

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA Exame de 2ª época

Parte 4 Recursos e Serviços públicos

INSTITUTO RIO - PONTE PARA O INVESTIMENTO SOCIAL

EXAME FINAL NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO. Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos.

Dossiê de Preços de Transferência

B. Qualidade de Crédito dos Investimentos das Empresas de Seguros e dos Fundos de Pensões. 1. Introdução. 2. Âmbito

REGRAS DE FACTURAÇÃO DE ENERGIA REACTIVA. APIGCEE Associação Portuguesa dos Industriais Grandes Consumidores de Energia Eléctrica

Censo Demográfico 2010 FAMÍLIA E DOMICÍLIO

O FOCO NOS RESULTADOS

Mercados. informação regulamentar. República Dominicana Condições Legais de Acesso ao Mercado

ASSUNTO: Processo de Auto-avaliação da Adequação do Capital Interno (ICAAP)

ROSÁRIO MARQUES Directora Executiva CCILC. AIP Mercados para Exportação 05 de Março de 2014

Nota informativa. Novo Regime Fiscal dos Organismos de Investimento Colectivo. Decreto-Lei n.º 7/2015, de 13 de Janeiro

Wits Escola de Governança

Estatísticas de empréstimos concedidos pelo setor financeiro

UNIVERSIDADE DO ALGARVE. GESTÃO BANCÁRIA Anexo 5

GESTÃO FINANCEIRA UMA ANÁLISE SIMPLIFICADA

Projeto CASE Outubro/ 2006

PARLAMENTO EUROPEU PROJECTO DE PARECER. Comissão da Indústria, do Comércio Externo, da Investigação e da Energia PROVISÓRIO 2003/0252(COD)

DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DO EXERCÍCIO FINDO EM 31 DE DEZEMBRO DE

PROPOSTA DE LEI DO ORÇAMENTO DO ESTADO 2012 ESTATUTO FISCAL COOPERATIVO REVOGAÇÃO ESTATUTO DOS BENEFÍCIOS FISCAIS - ARTIGO 66º-A

Ainda Mais Próximo dos Clientes. Empresas. 10 de Novembro de 2010

Última alteração

Porquê Economia Social?

MAIS E MELHOR CRÉDITO PARA AS MICROEMPRESAS E PME EM MOÇAMBIQUE

Guião do Professor :: 2.º e 3.º Ciclo ALIMENTAÇÃO. um mundo de perguntas. Tema 4 :: Afinal, porque é que existem tantas pessoas com excesso de peso?

REGULAMENTO TABELA GERAL DE TAXAS E LICENÇAS FREGUESIA DE PRISCOS

Retratos da Sociedade Brasileira. Qualidade dos serviços públicos e tributação

Relatório dos auditores independentes. Demonstrações contábeis Em 31 de dezembro de 2014 e 2013

ATIVO Explicativa PASSIVO Explicativa

PARTE I As Finanças Públicas e o Papel do Estado

Normas de Utilização. Preâmbulo

Direito das sociedades e governo das sociedades: a Comissão apresenta um Plano de Acção

Transcrição:

Economia Não Registada: Actualização do índice para Portugal Nuno Gonçalves e Óscar Afonso 1

Nota Prévia 2

O (OBEGEF) constituiu-se no dia 21 de Novembro de 2008, como associação de direito privado sem fins lucrativos, com objecto (http://www.gestaodefraude.eu/ ): promover a investigação interdisciplinar sobre a Economia Não- Registada (ENR) e a fraude em Portugal, nos contextos europeu e mundial; promover o ensino sobre estas temáticas; para já criou o índice de ENR em Portugal e está a estudar a criação de um índice similar da Fraude; criar redes e estabelecer outras relações com instituições congéneres; prestar serviços que se harmonizem com a investigação. 3

ENR: o que é? 4

ENR corresponde à parte da economia que, por diversas razões, não é avaliada pela contabilidade nacional. Existe em todos os países, embora com intensidades diferentes. Assim se explica, por exemplo, a sobrevivência das populações em países com PIB per capita abaixo do limiar de subsistência. 5

O relatório da OCDE (2002) Measurement of the nonobserved economy considera cinco áreas dentro da ENR: Produção ilegal Produção oculta (subdeclarada ou subterrânea) Produção informal Produção para uso próprio (autoconsumo) Produção subcoberta por deficiências da estatística 6

O Caso Português Qual o tamanho e trajectória da ENR em Portugal? 7

Principais consequências da ENR Distorções na concorrência entre empresas Redução das receita fiscais Incerteza na estabilização da economia Indicadores enviesados Decisões de política económica desajustadas Efeitos económicos inadequados 8

Dados agregados em Portugal: 9

Causas consideradas Carga fiscal (em % do PIB) Impostos directos e contribuições para a segurança social ( ) Impostos indirectos ( ) Subsídios e prestações sociais ( ) Carga de regulação (em % do PIB) Consumo do Estado ( ) Evolução do mercado de trabalho Trabalho por conta própria em % força total trabalho ( ) Taxa de desemprego ( ) 10

Indicadores considerados Quantidade de moeda em circulação fora do sistema bancário Taxa de Participação na Força de Trabalho (decréscimo de participação na economia oficial pode estar associada a aumento de participação na ENR) PIB 11

Ano ENR/PIB oficial 1970 9,23 1971 8,90 1972 9,34 1973 9,85 1974 11,13 1975 12,76 1976 14,58 1977 15,46 1978 15,89 1979 16,17 1980 16,45 1981 17,12 1982 16,81 1983 16,82 1984 17,17 1985 17,04 1986 17,14 1987 16,84 1988 16,58 1989 16,51 Ano ENR/PIB oficial 1990 16,54 1991 17,22 1992 17,65 1993 18,64 1994 19,65 1995 19,44 1996 20,00 1997 20,05 1998 19,92 1999 19,95 2000 20,25 2001 20,57 2002 21,01 2003 21,93 2004 22,07 2005 22,67 2006 22,82 2007 23,12 2008 23,20 2009 24,38 2010 24,80 2011 25,49 2012 26,74 Resultados Ano ENR/PIB oficial 1970-1973 9,33 1974-1978 13,96 1979-1983 16,67 1984-1988 16,95 1989-1993 17,31 1994-1997 19,78 1998-2001 20,17 2002-2005 21,92 2006-2009 23,38 2010-2011 25,14 2012 26,74 12

Resultados Figura 1. Peso da ENR no PIB oficial (em %), entre 1970-2012, em Portugal 30 25 y = 0,3348x + 10,771 R² = 0,9174 20 15 10 5 0 13

Resultados Tabela 3 Valores da ENR ao longo do período 1970-2011, em Portugal Valores anuais (preços correntes, em milhões de euros) Período ENR PIB oficial 1970-1973 135 1 437 1974-1978 485 3 353 1979-1983 1 191 7 285 1984-1988 4 825 28 551 1989-1993 10 889 62 462 1994-1997 17 203 87 767 1998-2001 24 777 122 706 2002-2005 32 228 146 905 2006-2009 39 206 167 665 2010-2011 43 191 171 789 2012 44 183 165 237 Fontes: Cálculos dos autores e Pordata 14

Taxa de crescimento do PIB oficial Resultados Figura 2. Relação entre a taxa de crescimento e o peso da ENR, tendopor base os anos 1970-2012, em Portugal 25% 20% y = -0,6715x + 0,1717 R² = 0,4482 15% 10% 5% 0% 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% Peso da ENR no PIB oficial 15

Resultados Tabela 4 Peso do défice no PIB em diferentes cenários, para 2012 PIB Oficial 165 237 Total sem ENR (a) 209 421 Total com peso da ENR igual à média da OCDE (b) 191 014 Défice público Oficial -10 624 Sem ENR e aplicando uma taxa média de imposto de 20% à ENR (c) -1 787 Com peso da ENR igual à média da OCDE e aplicando uma taxa média de imposto de 20% à ENR (d) -7 207 Oficial -6,43% Peso = Défice / PIB Sem ENR e sem cobrança adicional de impostos (e) -5,07% Sem ENR e aplicando uma taxa média de imposto de 20% à ENR (f) -0,85% Notas: Com peso da ENR igual à média da OCDE e aplicando uma taxa média de imposto de 20% à ENR (g) -3,77% (a) = 165237 * 1.2674 (b) = 165237 * (1+(26,74%-16.4%)) (c) = -10624 + 20%*26,74%*165237 (d) = -10624 + 20%*165237 * (26.74%-16.4%) (e) = -10624 / 209421 (f) = -1787 / 209421 (g) = -7207/191014 16

Sugestões para combate da ENR 17

Transparência na gestão dos recursos públicos Educação da sociedade civil sobre os efeitos perversos da ENR Justiça rápida e eficaz Em particular, implementação do crime de enriquecimento ilícito punindo fortemente o agente que adquirir bens em manifesta desconformidade com os rendimentos fiscalmente declarados e sem que se conheça outro meio de aquisição lícito; Combate à fraude empresarial: À existência de empresas fantasma, A manipulações contabilísticas, A relatórios fraudulentos Ao uso de informação privilegiada; Combate à utilização abusiva de convenções de dupla tributação; Incentivar o uso cada vez maior de meios electrónicos nas transacções de mercado; Combate ao branqueamento de capitais: melhor supervisão do sistema financeiro, melhor regulação do sector, legislação adequada vontade por parte das autoridades em actuar 18

No curto, a acção da inspecção tributária é crucial para combater a ENR, conduzindo o combate à fraude e evasões fiscais e às injustiças fiscais, atendendo: à observação das realidades tributárias, à observação do cumprimento das obrigações tributárias, e à prevenção das infracções tributárias. A administração tributária deverá: intensificar os controlos massivos e automáticos através dos sistemas de informação das diversas áreas da gestão do imposto e, nesse sentido, esforçar-se por aproximar o momento da detecção do incumprimento e o da ocorrência; investir nas acções de inspecção tributária no terreno, particularmente nas situações de fraude e evasão fiscais de maior complexidade. 19

Caso Português: conclusões 20

Principal causa da ENR é O peso dos impostos directos e indirectos e das contribuições para a segurança social, e ainda a taxa de desemprego. Em termos agregados O peso da ENR no PIB oficial em Portugal evoluiu desde 9.23% em 1970, até 25.49% em 2011 e 26.74% em 2012. Na ausência de ENR o peso do défice no PIB poderia ser apenas de 0.85%. Há uma relação negativa entre o índice de ENR obtido e o crescimento económico. 21

Economia Não Registada: Actualização do índice para Portugal Nuno Gonçalves e Óscar Afonso 22