Itens Específicos do Perfil do Aluno de EaD: Construindo uma Relação com o Contexto Brasileiro



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Transcrição:

Itens Específicos do Perfil do Aluno de EaD: Construindo uma Relação com o Contexto Brasileiro Marcelo Ferreira de Lima 1, Gliner Dias Alencar 2, André C. A. Firmo 2, Juliana Gomes da Silva 3, Alessandra B. S. de Almeida 2, José Mário R. de S. Filho 2 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Pernambuco (IFPE) Av. Prof Luiz Freire, 500 CEP: 50740-540 Recife PE Brasil { marcelo.lima.br }@gmail.com 2 Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) Av. Martins de Barros, 593 50010-230 Recife PE Brasil { gliner.alencar, caetanofirmo, zemariofilho, alessandrabsa}@gmail.com 3 Departamento de Psicologia Cognitiva Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Av. Acad. Hélio Ramos, s/n CFCH 50670-901 Recife PE Brasil {julianafgs}@yahoo.com.br Abstract. Progressively the form of distance education has been more present. However, any student is not suited to distance learning. This work, through cases and research, seeks to start building a relationship between specific items of the student profile of distance education with the Brazilian context. Resumo. Progressivamente a modalidade de ensino a distância vem se mostrando mais presente. Entretanto, qualquer aluno não se adapta ao ensino a distância. Este trabalho, por meio de casos e pesquisas, busca iniciar a construção de uma relação entre itens específicos do perfil do aluno de EaD com o contexto brasileiro. 1. Introdução O ensino a distância - EaD pode ser definido de várias formas, mas já está consolidado um consenso mínimo em torno da idéia de que EaD é a modalidade de educação em que as atividades de ensino-aprendizagem são desenvolvidas majoritariamente, e em bom número de casos exclusivamente, sem que alunos e professores estejam presentes no mesmo lugar à mesma hora (ABED 2011). Atualmente, com a evolução e expansão dos computadores e da Internet, as tecnologias educacionais utilizadas para suportar o ensino a distância estão cada vez mais dependentes de recursos eletrônicos (SILVA 2011), pois tendem cada vez mais a tirar proveito da variedade de formatos de conteúdo que podem ser utilizados e das diferentes maneiras que estes conteúdos podem ser disponibilizados. Portanto, a modalidade EaD trás em sua bagagem pontos extremamente positivos. Professores e alunos não precisam estar presentes ao mesmo tempo no mesmo local. Alunos e professores de EaD podem contar com nenhuma ou menos necessidade de deslocamento e flexibilidade em relação ao tempo.

Outro ponto positivo é que, com o amparo de recursos eletrônicos, é possível alcançar lugares mais distantes. Isto é algo importante em países como o Brasil, que tem dimensões continentais e tem um bom número da população com baixa renda localizada em áreas mais afastadas dos grandes centros (MIRAGAYA, ROSA, PEREIRA 2011), aonde a educação nos moldes tradicionais chega de modo insuficiente e precário. Entretanto, para usufruir desses pontos positivos é preciso dedicar atenção especial ao perfil do principal interessado no ensino, o aluno. Este trabalho tem como objetivo consolidar idéias, relacionando com o contexto brasileiro, acerca de características consideradas essenciais no perfil de alunos da modalidade EaD. 2. Relação Entre Modelo de Ensino e o Perfil dos Alunos Independente da modalidade, presencial ou EaD, um curso precisa ser bom para trazer resultados para os alunos. Um bom curso é aquele que empolga, surpreende, faz pensar, envolve ativamente, traz contribuições significativas e põe os alunos em contato com pessoas, experiências e idéias interessantes. Mas um bom curso depende também dos alunos. Estes, quando curiosos e motivados, facilitam enormemente o processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador. (MORAN, MASETTO, BEHRENS 2001). O perfil do aluno é tão relevante no contexto da aprendizagem que se vislumbra um futuro onde as modalidades de cursos serão customizadas, ou seja, adaptadas ao perfil e momento de cada aluno. Não haverá uma distinção clara entre cursos presenciais e cursos na modalidade EaD, pois os cursos serão flexíveis no tempo, no espaço, na metodologia, na gestão de tecnologias e na avaliação (MORAN 2005). Ainda não alcançamos tal estágio nos nossos modelos de ensino. Para nossa realidade atual, o aluno precisa ter ou adquirir o perfil necessário para atingir um aproveitamento efetivo do curso que está participando. 3. Perfil Individual Desejável do Aluno de EaD Para cursos ofertados na modalidade EaD existem alguns pontos que merecem destaque quanto as características desejáveis no perfil do aluno que ingressa por este tipo de curso. Para este trabalho foram escolhidos três características que devem compor o perfil do aluno de EaD. O aluno deve ter afinidade com a Internet e computadores, ter tempo disponível bem gerenciado e ter acesso a computador e Internet de qualidade. 3.1. Afinidade com a Internet e Computadores Na atualidade os cursos EaD baseiam-se fortemente em Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) acessíveis via Internet (SILVA 2011). O fato de o aluno precisar na maior parte do tempo utilizar um ambiente virtual, exige dele um mínimo de familiaridade com a utilização de Internet e computadores. Pode ser uma vantagem para os alunos mais jovens e que tiveram mais contato com computadores e Internet. Para alunos com pouca afinidade com estes itens, isto é uma desvantagem. No Brasil pesquisas apontam que a chance de acessar a Internet diminui à medida que o individuo fica mais velho. Aponta-se, por exemplo, que os jovens entre 16 e 25 anos têm 12,3 vezes a chance de conectar-se a Internet que têm as pessoas acima de 55 anos (SCHLEGEL 2009). De forma a corroborar com estes números a Tabela 1 (INSTITUTO MONITOR 2008), também resultado de pesquisa, sendo esta sobre perfil

do aluno de EaD no Brasil, mostra claramente que 58,6% dos alunos tem idade inferior ou igual a 34 anos. Isto indica um reflexo do distanciamento dos mais velhos da tecnologia e, como conseqüência, também das formas de ensino que se baseiam nela. Tabela 1 - Faixa etária dos alunos mais freqüente 3.2. Tempo Disponível Bem Gerenciado O estudante a distância também deve possuir a capacidade de gerenciar bem o seu tempo, pois diferentemente do modelo praticado para ensino presencial, a EaD implica em uma maior proatividade por parte do aluno. A maior parte do tempo o aluno precisa agir ativamente. Embora ele não precise se dirigir a uma sala de aula, o aluno precisa acessar o AVA para buscar atividades, interagir com os participantes do ambiente, ser avaliado e ainda pesquisar conteúdo na Internet e em outras fontes. E normalmente estas participações do aluno são exigidas com muita freqüência. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae sobre a turma de 2008 do curso Iniciando um Pequeno Grande Negócio, promovido pela instituição completamente a distância, com duração máxima de 02 meses para empreendedores, ilustra bem esta situação. O curso contou com 60.627 inscritos, 33.344 mil não concluíram o curso. A pesquisa envolveu 7.400 pessoas 5.734 alunos desistentes e 1.666 que se inscreveram, mas não assistiram aulas. Dos desistentes, 77,7% alegaram que a interrupção dos estudos ocorreu pela dificuldade em conciliar tarefas cotidianas à rotina educacional (IDGNOW 2009). Ou seja, frente ao total de inscritos, o número de alunos que alegou desistir por falta de tempo (7,34%) pode até não parece tão alarmante, mas o que desperta interesse nestes números é justamente a grande quantidade de desistências por falta de tempo comparada com outros motivos. Este caso pode não representar a realidade de todos os cursos de EaD. Mas, como a evasão em EaD ainda é considerado um fenômeno cujo não existe ainda corpo de conhecimento substancialmente consolidado, podemos ao menos considerar o caso do curso Iniciando um Pequeno Grande Negócio como um alerta para tratarmos com distinção a evasão em EaD por falta de tempo. E quem sabe pesquisas futuras nos mostrem que na verdade, o que hoje pensamos que é falta real de tempo, pode ser a falta de um bom gerenciamento do próprio tempo por parte dos alunos. 3.3. Acesso a Computador e Internet de Qualidade Hoje ao falar-se no ingresso em um curso a distância, já fica implicitamente entendido que será necessário o uso de recursos de TIC, basicamente o aluno precisará de acesso a um computador com conexão com a Internet para poder acompanhar o curso. Não basta ser qualquer computador e qualquer conexão com a Internet, é preciso contar com um mínimo de qualidade. Uma característica de computador de qualidade para o uso em EaD seria a estabilidade e durabilidade, não atrapalhando o andamento do curso por problemas técnicos recorrentes. Seria necessário contar

também com: reprodução de diferentes formatos de vídeo e áudio, processamento rápido de streamings de vídeo e de áudio, ferramentas para leitura e edição de textos e planilhas em diversos formatos, boa capacidade armazenamento de conteúdo, boa resolução e tamanho de tela e bons dispositivos de reprodução de áudio. Segundo a 13º edição da pesquisa Índice de Brecha Digital de 2011 (MARCO CONSULTORA 2011), aqui no Brasil, considerando um salário médio de U$ 969,00, para adquirir um notebook o individuo teria que investir 1,5 salários médios na compra do equipamento. Embora esta relação tenha melhorado em relação à edição do ano anterior da mesma pesquisa (TELESINTESE 2011), que ficou em 1,8 salários médios, o grau de investimento ainda pode ser considerado alto frente ao salário médio. Conexão com a Internet também tem preço elevado no Brasil. E além do preço, ainda contamos com sérios problemas de cobertura. Por conta da dificuldade das concessionárias de telecomunicações garantirem cobertura com conexões fixas (DSL e Cable) fora dos grandes centros urbanos, as conexões móveis de banda larga vêm tendo aumento de procura, como sugere um estudo de 2010 (IDGNOW 2010). O estudo aponta que os 3% da população, 15 milhões de pessoas, que usam conexões móveis devem passar para 15% até 2015. Entretanto o mesmo estudo aponta que o Brasil tem os maiores preços da América Latina para os usuários finais e evidencia também que a velocidade média da conexão na América Latina ainda é muito baixa, variando entre 128 Kbps e 256 Kbps - embora alguns planos ofereçam até 1 Mbps. Estes problemas representam barreiras para boa parte da população brasileira, que poderia se beneficiar do ensino a distância justamente porque sofrem com severas restrições de renda e moram distante dos grandes centros. Ou seja, esta parte da população conta com poucas chances de ter um computador com acesso a Internet. O Mapa 1 (MIRAGAYA, ROSA, PEREIRA 2011) deixa claro que a renda tende a diminuir nas regiões afastadas das capitais e grandes centros. Mostra ainda, que a situação é mais grave nas regiões Norte e Nordeste, onde em poucos lugares a faixa média de renda é ultrapassada. Mapa 1 - PIB per capita médio em 2008 em Subregiões Brasileiras

4. Considerações Finais O início deste trabalho convida a refletir sobre a relação entre o modelo de ensino e o perfil dos alunos, independente de ser utilizada modalidade EaD ou presencial. Quando entendemos que ainda não estamos praticando um modelo de ensino onde os cursos são customizados para cada aluno, conseqüentemente, deduzimos que cada aluno deve ter ou adquirir o perfil necessário para participar de cada curso, na modalidade ofertada. E do perfil do aluno depende também a qualidade do curso e o aproveitamento do conteúdo oferecido. Em se tratando de EaD, o perfil do aluno deve contar com certas características que são indispensáveis e outras que, além de indispensáveis, precisam estar presentes de maneira mais intensa. Por exemplo, é indispensável que o aluno tenha um bom grau de familiaridade com computadores e Internet. Desta forma ele pode utilizar todos os recursos disponíveis nos cursos ofertados e ter a chance de um aproveitamento pleno. Entretanto, ter ou não esta familiaridade, tem relação com o perfil socioeconômico do aluno. No Brasil pesquisas apontam que o avanço da idade é um fator que aumenta a chance das pessoas se afastarem da tecnologia. Portanto, é importante que comecemos pensar em políticas públicas que minimizem ou revertam esta tendência. Pessoas de idade mais avançada já não contam com a mesma facilidade de inserção no mercado de trabalho que têm os mais jovens. Permitir que elas se afastem da tecnologia apenas contribui para agravar a situação. Outra característica que está relacionada ao perfil socioeconômico do aluno, é se ele tem acesso a computador e Internet de qualidade. Uma grande quantidade de pessoas de mais baixa renda aqui no Brasil está afastada dos grandes centros. Estas pessoas estão enquadradas em um grupo que sofre com a dificuldade de adquirir um computador e com a impossibilidade de contratar um serviço de Internet de qualidade e por um preço compatível com sua renda. Diante da necessidade de ampliar o alcance da educação, a modalidade EaD pode ser uma grande aliada. Mas para que seja possível o uso da EaD é preciso que os alunos tenham a infra-estrutura necessária. É preciso pensar em formas de levar a Internet de qualidade e acessível até os cidadãos que residem nos locais mais distantes. Também é preciso prover computadores para que estas pessoas possam usufruir, em muitos casos pela primeira vez, de uma educação que nunca esteve fisicamente próxima deles. O investimento em infra-estrutura para educação a distância é mais barato do que criar unidades físicas de ensino, mas passa por dificuldades e desafios diferentes. Quanto à disponibilidade de tempo acompanhada de um bom gerenciamento, é uma qualidade do perfil do aluno que depende essencialmente dele. Entretanto, por exemplo, políticas públicas que venham acompanhadas do uso de EaD devem levar em consideração a possibilidade de desistências por falta de tempo. O que em um grau muito elevado pode comprometer os objetivos da política. Finalmente, o presente trabalho demonstra a relação entre os itens desejáveis no perfil do aluno de EaD e o contexto socioeconômico brasileiro. O trabalho conclui ainda que os itens abordados possuem relevância concreta, visto que casos reais e pesquisas corroboram com tal afirmação, dentro de um contexto de busca pela ampliação do alcance do ensino no Brasil.

Referências ABED. Associação Brasileira de Educação a Distância - EaD / FAQ. Disponível em: < http://www2.abed.org.br/eadfaq.asp>. Acesso em: 27 nov. 2011. SILVA, M. G. C. N. Especialização em Gestão Pública - Metodologia do Estudo a Distância. Recife - PE: Instituro Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, 2011. MIGARAYA, J.; ROSA, C. H.; PEREIRA, M. C. Conselho Federal de Economia - Mapa da Distribuição Espacial de Renda no Brasil. Distrito Federal Brasília:. Cidade Gráfica, 2011. MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos; BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 3 edição, Campinas: Papirus, 2001. MORAN, José Manuel. Tendências da educação online no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 2005 SCHLEGEL, R. Internauta Brasileiro: Perfil Diferenciado, Opiniões Diferenciadas. Revista de Sociologia e Política, V. 17, Nº 34 : 137-157, OUT. 2009. INSTITUTO MONITOR. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância. São Paulo SP: Instituto Cultural e Editora Monitor, 2008. IDGNOW. Sebrae: 77,7% dos alunos abandonam curso a distância por falta de tempo. Disponível em: < http://idgnow.uol.com.br/carreira/2009/07/20/e-learning- 77-7-dos-alunos-abandonam-curso-a-distancia-informa-sebrae >. 2009. Acesso em: 27 nov. 2011. MARCO CONSULTORA. 13º Edição do Índice Marco de Brecha Digital Novamente o Chile é o Mais Acessível. Disponível em: < HTTP://www.marco consultora.com/pt/marco-news.html?idnoticia=102 >. 2011. Acesso em: 27 nov. 2011. TELESINTESE. Brasil vende PCs com preços mais altos da América Latina. Disponível em: < http://www.telesintese.com.br/index.php/plantao/7870-brasilvende-pcs-com-precos-mais-altos-daamerica-latina>. 2011. Acesso em: 27 nov. 2011. IDGNOW. Brasil lidera em Internet móvel na América Latina. Até no preço. Disponível em: < http://idgnow.uol.com.br/mobilidade/2010/09/09/brasil-lidera-eminternet-movel-na-america-latinaate-no-preco/ >. 2010. Acesso em: 27 nov. 2011.