1. Introdução O Crédito Rural abrange recursos destinados a custeio, investimento ou comercialização. As suas regras, finalidades e condições estão estabelecidas no Manual de Crédito Rural (MCR), elaborado pelo Banco Central do Brasil. Essas normas são seguidas por todos os agentes que compõem o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), como bancos e cooperativas de crédito. Os créditos de custeio ficam disponíveis quando os recursos se destinam a cobrir despesas habituais dos ciclos produtivos, da compra de insumos à fase de colheita. Já os créditos de investimento são aplicados em bens ou serviços duráveis, cujos benefícios repercutem durante muitos anos. Por fim, os créditos de comercialização asseguram ao produtor rural e a suas cooperativas os recursos necessários à adoção de mecanismos que garantam o abastecimento e levem o armazenamento da colheita nos períodos de queda de preços. O produtor pode pleitear as três modalidades de crédito rural como pessoa física ou jurídica. As cooperativas rurais são também beneficiárias naturais do sistema. O recurso é tomado diretamente nos bancos ou por meio das cooperativas de crédito. A oferta de linhas de créditos para investimentos conta com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Centro Oeste, e Nordeste, conhecidos, respectivamente como FCO, FNO e FNE. As medidas anunciadas em 02/06 foram aguardadas com muita expectativa, muito em função das novas diretrizes de políticas públicas vinculadas sobretudo as medidas relativas ao ajuste fiscal. Nas linhas abaixo, segue o resumo das principais medidas. 2. Montante de recursos agricultura comercial (médios e grandes produtores) Aumento de 20,2% no montante total de recursos de crédito rural para a safra 2015/16, passando para R$187,7 bilhões, comparado com a safra 2014/15, quando foram disponibilizados R$156,1 bilhões, conforme descrito no Quadro 01. Destaque para acréscimos de 9,8% no volume de recursos de custeio e comercialização a juros controlados. Em relação aos recursos a juros livres o aumento se deu acima de dois dígitos, em aproximadamente 130,4%. Em relação aos recursos relativos a investimentos houve decréscimo de 13,4%.
Quadro 01. Resumo dos recursos de crédito rural para a agricultura comercial, por safras e variação (safras 2013/14, 2015/16 e 2014/15). Finalidades Safra 2013/14 Safra 2014/15 Safra 2015/16 Variação bilhões bilhões bilhões 15/16 14/15 Custeio e comercialização 97,2 112,0 149,5 33,5% juros controlados 82,2 87,9 96,5 9,8% juros livres 15,0 23,0 53,0 130,4% Investimento 38,4 44,1 38,2 13,4% Total 136,0 156,1 187,7 20,2% 3. Montante de recursos agricultura comercial (apenas médios produtores Pronamp) O montante de recursos aumentou de R$16,9 para R$18,9 bilhões, o que representa um acréscimo de 11,8%. Destaque para aumento dos limites de custeio em 7,6%, passando de R$660 mil para R$710 mil. As taxas de juros aumentaram significativamente de 40% (custeio) e 36,3% (investimento). A partir da safra 2015/16 serão de 7,75% e 7,5%, respectivamente. Quadro 02. Resumo do Programa de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), por safras e variação (safras 2013/14, 2015/16 e 2014/15). Especificação Safra 2013/14 Safra 2014/15 Safra 2015/16 Variação 15/16 14/15 Montante de recursos 13,2 bilhões 16,90 bilhões 18,90 bilhões 11,8% Renda bruta anual 1.600 mil 1.600 mil 1.600 mil Limite de crédito para custeio 600 mil 660 mil 710 mil 7,6% Limite de crédito para investimento 350 mil 400 mil 385 mil 3,8% Taxa de juros 4,50% 5,50% 7,75% (custeio) 40% (custeio) 7,5% (investimento) 36,3% (investimento)
4. Juros 4.1. Custeio As taxas de juros do crédito rural custeio para a safra 2015/16 ficaram mais caras em relação a safra 2014/15, passando de 6,5% na atual safra para 8,75%, aumentando assim 2,25% em valores absolutos. Importante destacar que a Selic também aumentou aproximadamente 2,25%, saindo de 11% (maio/2014) para 13,25% (maio/2015). Comparativamente, em valores relativos, a variação foi maior no aumento das taxas de custeio do que a variação da Selic, em aproximadamente 34,6%. Quadro 03. Resumo das taxas de juros para a agricultura comercial, safras 2013/14, 2015/16 e 2014/15. Programas Safra 2013/14 Safra 2014/15 Safra 2015/16 Variação 15/16 14/15 Crédito de custeio e comercialização agricultura comercial 5,50% 6,50% 8,75% 34,6% Programa de apoio ao médio produtor (Pronamp) 4,50% 5,50% 7,75% (custeio) 40% (custeio) 7,5% (investimento) 36,3% (investimento) Interessante ressaltar que o impacto na elevação das taxas de juros (2,25%) nos programas de custeio e comercialização dos recursos controlados de R$96,5 bilhões (safra 2015/16) é de R$2,17 bilhões, ou seja, este é o aumento dos custos real relativos a elevação da taxa para contratação dos recursos pelos produtores e suas cooperativas por 01 ano. 4.2. Investimentos Foram várias as alterações, especialmente nas taxas de juros e volume de recursos programados dos programas de investimentos coordenados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), ao amparo de recursos equalizados pelo Tesouro Nacional (TN) ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Listamse a seguir, as principais alterações nos programas cujas cooperativas são beneficiárias. 1. Ampliação das taxas de juros e redução dos volumes programados do Pronamp, ABC, Procapagro (integralização e giro), Prodecoop, PCA, PSI cerealistas, Inovagro, Moderagro e Moderinfra (agricultura irrigada).
Quadro 04. Recursos programados, limite por beneficiário, prazo de reembolso, carência e comparativo dos recursos programados e taxas, por safras 2014/15 e 2015/16. Recursos Recursos Variação Limite/ Limite/ Programa Programados Programados 15/16 14/15 beneficiário beneficiário 2014/15 (bilhões) 2015/16 (bilhões) 2014/15 2015/16 Pronamp 6,3 5,3 17% 385 milhões 385 milhões ABC (produtores Pronamp e demais) 4,5 3,0 33% 2 milhões 2 milhões Procapagro (integralização) 0,5 0,3 32% 50 mil 50 mil Procapagro (capital de giro) 2,6 1,7 35% 60 milhões até 20 milhões de 20 milhões a 60 milhões Prodecoop 2,1 1,6 24% 100 milhões 100 milhões PCA 3,5 2,0 43% Moderfrota/PSI Rural 8,0 10,0 25% PSI cerealistas 1,0 0,4 60% Inovagro 1,7 1,4 18% 1 milhão 1 milhão Moderagro 550,0 400,0 27% 800 mil 800 mil Moderinfra (agricultura irrigada) 300,0 290,0 3% 2 milhões 2 milhões Moderinfra (modern. refor. armazéns) 250,0 Prorenova (rural e industrial) 3,0 1,5 50%... continuação Quadro 04. Recursos programados, limite por beneficiário, prazo de reembolso, carência e comparativo dos recursos programados e taxas, por safras 2014/15 e 2015/16. Prazo Carência Taxa Taxa Variação Programa 2015/16 2015/16 2014/15 2015/16 15/16 14/15 Pronamp 12 anos 2 anos 5,50% 7,50% 36,4% ABC (produtores Pronamp e demais) 15 anos 3 anos 4,5%/5% 7,5%/8% 67%/60% Procapagro (integralização) 6 anos 2 anos 6,50% 7,50% 15,4% Procapagro (capital de giro) 2 anos 6 meses 7,50% 8,75% 10,50% 16,7%/40% Prodecoop 12 anos 3 anos 6,50% 8,75% 34,6% PCA 15 anos 3 anos 4% 7,50% 87,5% Moderfrota/PSI Rural 8 anos/10 anos 2 anos 4,5%/6% 7,5%/7,0% até 90 milhões de RBA 9,0%/9,5% acima de 90 milhões de RBA PSI cerealistas 15 anos 3 anos 5% 9,0% até 90 milhões de RBA 10,0% acima de 90 milhões de RBA Inovagro 10 anos 3 anos 4% 7,50% 87,5% Moderagro 10 anos 3 anos 6,5% 8,75% 34,6% Moderinfra (agricultura irrigada) 12 anos 3 anos 4% 8,75%/7,5% 118,8%/87,5% Moderinfra (modern. refor. armazéns) 6,5% Prorenova (rural e industrial) 6 anos 18 meses TJLP + 2,7% TJLP + 2,7%
Abaixo, inserese breve resumo sobre a alteração dos programas cujas cooperativas são beneficiárias. O montante de recursos ofertados para programas de investimento na safra 2015/16 é de R$ 38,2 bilhões, o que representa uma redução de 13% em relação a 2014/15. 1. PRODECOOP Montante de recursos: R$ 1,6 bilhão Taxa de juros: 8,75% a.a. Limite de crédito: Limite de financiamento de R$ 100 milhões, quando o investimento for realizado no estado de origem da cooperativa, podendo ser elevado para até R$ 150 milhões, quando os recursos adicionais forem destinados a empreendimentos da própria cooperativa em outras unidades da federação, ou a empreendimentos realizados no âmbito de cooperativa central. Prazo: até 12 anos, com 3 anos de carência. Considerando a elevação da taxa de 6,5% ao ano para 8,75% ao ano, o aumento dos custos para cooperativas agropecuárias provenientes da elevação da taxa de 1,25% atingiria valores aproximados de R$288 milhões. 2. PROCAP AGRO Montante de recursos: R$ 1,99 bilhão 2.1. Modalidade integralização de cotas partes. Montante de recursos: R$ 340,00 milhões. Limite de crédito: R$ 50,00 milhões. Juros: 7,5 % a.a. Prazo: até 6 anos, incluídos até 2 anos de carência. 2.2. Modalidade capital de giro Montante de recursos: R$ 1,65 bilhão. Limite de crédito: R$ 60,00 milhões. Juros: de 8,75% a.a (até R$ 20 milhões) e 10,5% a.a. (entre R$ 20 e 60 milhões). Prazo: até 2 anos, incluídos até 6 meses de carência.
Considerando que todos os investimentos fossem contratados com a taxa de 8,75% ao ano, o aumento dos custos para cooperativas agropecuárias provenientes da elevação da taxa de 1,25% atingiria valores aproximados de R$42,5 milhões. Em se considerando as contratações a taxa de 10,5% ao ano, o aumento dos custos provenientes da elevação da taxa de 3% atingiria valores aproximados de R$102 milhões. 3. PCA Montante de Recursos: R$ 2 bilhões. Encargos financeiros: taxa efetiva de juros de 7,5 % a.a. Prazo de reembolso: até 15 anos, com até 3 anos de carência. Considerando a elevação da taxa de 4% ao ano para 7,5% ao ano, o aumento dos custos para cooperativas agropecuárias provenientes da elevação da taxa de 3,5% atingiria valores aproximados de R$665 milhões, o maior comparativamente aos outros programas analisados. Quadro 05. Impactos na elevação das taxas de juros Principais programas de investimentos para cooperativas agropecuárias. Volume de recursos Valor do custo Valor do custo Safra 2014/15 Safra 2015/16 programado 2015/16 da taxa de juros da taxa de juros Diferenciais de taxas 1 Programas Taxa de juros Taxa de juros R$ Safra 2014/15 R$ Safra 2015/16 R$ R$ Procapagro giro 7,50% 10,50% 1.650.000.000 1.955.000.000 2.057.000.000 102.000.000 Prodecoop 6,50% 8,75% 1.600.000.000 2.432.000.000 2.720.000.000 288.000.000 PCA 4,00% 7,50% 2.000.000.000 2.760.000.000 3.425.000.000 665.000.000 1 Aumento nos custos financeiros, provenientes da elevação das taxas de juros para cooperativas agropecuárias ao longo dos prazos de reembolso. 5. Seguro Rural No seguro rural o governo disponibilizou R$668 milhões para subvenção do prêmio para o ano de 2015. O governo sinaliza alterações para fazer zoneamento agrícola mais compatível com a realidade dos cultivos agrícolas. Uma novidade é o estímulo às negociações de grupos de produtores com seguradoras. O
plano prevê a padronização das apólices de seguro, estabelecendo um nível mínimo de cobertura de 60% da produtividade. Também, criouse um Sistema Integrado de Informações (SIS Rural) para dar suporte ao seguro. Quadro 05. Programação dos recursos para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), por safras. Programa Safra 2013/14 Safra 2014/15 Safra 2015/16 Variação 15/16 14/15 Programa de Subenção ao Seguro Rural (PSR) 700 milhões 700 milhões 668 milhões 4,6% 6. Análise dos pontos positivos: 1. Aumento do volume global de recursos em 20%, para R$ 187,7 bilhões. 2. Aumento no volume dos recursos a juros controlados em 9,8%. 3. Aumento do limite de crédito para custeio agrícola por tomador, de R$ 1,1 milhão para 1,2 milhão e para comercialização agrícola, de R$ 2,2 milhões para R$ 2,4 milhões. 4. Aumento do volume de recursos para os médios produtores para R$ 18,9 bilhões, ou 17% a mais que no ciclo anterior. 5. Anúncio de um planejamento estratégico para a agricultura brasileira. 7. Análise dos pontos negativos: 1. Aumento geral nas taxas de juros para custeio, comercialização e investimentos em média de 35%, apesar da conjuntura macroeconômica atual, especialmente pelas proposições relativas ao ajuste fiscal, foram consideradas compreensíveis, haja vista o aumento médio da Selic no período analisado, base maio de 2015/maio 2014. 2. Redução do montante de recursos para investimentos em 13%, sinalização não muito bem vista pelo setor produtivo, uma vez que os recursos de investimento são considerados linha nobre por serem estruturantes, com reflexos multiplicadores sobre a performance produtiva no médio e longo prazos.
3. Aumento do montante de recursos para custeio e comercialização com taxas de juros livres, o que significam custos financeiros mais onerosos. 4. Redução dos recursos e aumento das taxas de juros do PCA foi a medida de maior impacto, ou seja, foram os maiores cortes nos volumes programados e as maiores elevações em termos de taxas de juros, ainda sim permanecem menores do que as taxas de custeio e de alguns programas de investimento. 5. Postergação na divulgação dos preços mínimos de garantia, fundamentais para orientação e planejamento dos produtores rurais e suas cooperativas. 6. As proposições de políticas do Sistema Cooperativista em relação ao précusteio, custeio beneficiamento e industrialização, ajustes nas normas dos programas com recursos do BNDES não foram mencionadas e serão devidamente tratadas e monitoradas pela OCB junto ao Executivo ao longo deste ano safra.