Filosofia da Libertação. Bem-Viver. V Plenária de Economia Solidária do Brasil Luisiania, Dezembro, 2012



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Transcrição:

Filosofia da Libertação Bem-Viver V Plenária de Economia Solidária do Brasil Luisiania, Dezembro, 2012

Percurso 1. Trajetória do Conceito de Bem-Viver 2. Diferença de Bem-Viver, Boa Vida, Bem-Estar, Desenvolvimento Humano e Felicidade Interna Bruta. 3. Democracia e Bem-Viver

1. Economia Solidária Há enfoques diversos a respeito da Economia Solidária. 1. Práticas solidárias de geração de trabalho e renda que reconstroem tecidos socioeconômicos; 2. Concepção estratégica de desenvolvimento sustentável capaz de atender às dimensões econômicas, ecológicas e desse desenvolvimento; culturais 3. Instrumento de políticas públicas para a inclusão social das populações marginalizadas; 4. Setor econômico que, ao lado dos setores da economia com fins de lucro, da economia estatal e da economia mista, contrabalançaria as debilidades dos demais setores para assegurar o desenvolvimento socioeconômico ou que avançaria na superação do próprio sistema econômico atual

5. Novo modo de produção ou sistema econômico pós-capitalista, em processo inicial de construção e que já implanta em pequena escala, em circuitos articulados em redes colaborativas e solidárias, os elementos fundantes desse novo sistema econômico. 6. Economia Solidária como Eixo de Lutas a) mobilização de amplos setores sociais b) resposta às demandas imediatas c) negação das estruturas capitalistas de produção, distribuição, consumo, financiamento e acumulação e de degradação ambiental, combatendo igualmente o individualismo, a exploração dos trabalhadores, a expropriação dos consumidores e diversas formas de dominação cultural d) afirmação de novas estruturas de produção, comercialização, consumo, financiamento e desenvolvimento tecnológico, justas e sustentáveis. 7. Modo de vida para a realização do bem-viver

2. Bem-Viver e Economia Solidária O conceito filosófico de Bem-Viver nasceu nos anos 90 no seio da Filosofia da Libertação, como sentido para a realização das liberdades públicas e privadas eticamente exercidas. Para nós, filósofos da libertação, a Economia Solidária é uma Economia de Libertação. O objetivo da Revolução das Redes, em seus aspectos econômico, político e cultural, deve ser a ampliação do Bem-Viver de todos e todas, com a organização, consolidação e expansão de redes colaborativas solidarias conectadas em nível local e global.

1998 Questões Éticas no Mundo Globalizado 1 Bem-Viver como Horizonte de Libertação o objetivo maior da ética é orientar a conduta humana tendo em vista ampliar as liberdades públicas e privadas a fim de promover o bem viver... Trata-se da... efetivação de um outro modelo de sociedade, em que a economia seja determinada a partir da política, subordinando assim as transações no mercado ao bem viver, eticamente orientado, de toda a humanidade. 1 http://web.archive.org/web/20010304071141/http://www.milenio.com.br/mance/questoes.htm

1998 O Capitalismo Atual e a Produção da Subjetividade 2 O bem-viver exige mudar o modo de produzir e consumir. Há...práticas distintas de consumo: o consumo alienante, o consumo compulsório e o consumo como mediação do bem viver [...] consumo solidário, como uma prática de consumo que visa propagar o bem viver para todos, promovendo as liberdades públicas e privadas eticamente orientadas.. 2 http://web.archive.org/web/20010305075806/http://www.milenio.com.br/mance/subjetividade.htm

1998 A Revolução das Redes 3 Organização de Redes Colaborativas Solidarias conectando consumo, comércio, produção, serviços e finanças organizando cadeias produtivas de economia solidária, para o desenvolvimento sustentável e a realização do bem-viver na construção de sociedades pos-capitalistas. As condições de realização das liberdades materiais, tanto ecológicas quanto econômicas; políticas, tanto pessoal (micro-política) quanto pública (macro-política); educativo-informativas, tanto no que se refere ao acesso à informação relevante quanto à diversidade cultural interpretativa; éticas, relacionadas a promover as liberdades pública e privada mediante o asseguramento a cada pessoa das condições materiais, políticas, educativo-informativas e éticas requeridas para a livre realização de seu bem-viver. Difusão da categoria filosófica de Bem-Viver para a reflexão sobre a práxis de libertação 4. 3 http://web.archive.org/web/20010428075035/http://www.milenio.com.br/mance/ 4 Traducção de Julio Roman Koropeski como bien vivir, Angeles Godines como buen vivir e Jesus Rmirez Funez, como bien vivir. Também se utilizou bienvivir.

2002 Redes de Colaboração Solidaria O bem-viver é tratado em seus fundamentos filosóficos, ecológicos e econômicos no horizonte do paradigma solidário da abundância e em suas dimensões de complexidade e libertação. Com base em indicadores objetivos da realidade concreta pode-se analisar em que medida o bem-viver das pessoas e dos povos está assegurado ou negado, analisando-se em que medida os meios materiais, políticos, educativos e informativos estão solidariamente compartilhados para a realização das liberdades públicas e privadas eticamente exercidas. O Bem-Viver está sempre em alguma medida negado e em alguma medida realizado, pois por maior que seja a opressão há sempre a liberdade de resistir e por mais que a liberdade esteja realizada, ela pode ser sempre mais expandida.

A categoria filosófica de Bem-Viver permite criticar toda forma de dominação e igualmente toda práxis de libertação para que não se converta em nova forma de dominação.

2004 Fome Zero e Economia Solidária O Bem-Viver e a economia solidária são apresentados em sua relação com a Soberania Alimentar e o Desenvolvimento Territorial Sustentável (nas dimensões econômica, ecológica e solidaria). Proposta de desenvolvimento sustentável conectando os fluxos econômicos em circuitos solidários com planos de desenvolvimento territorial elaborados e controlados em Fóruns com representação majoritária da sociedade civil e participação do poder público. Há 54 passagens em que o bem-viver é referido. todo o conjunto de ações do Programa Fome Zero pode ser implementado sob o viés da Economia Solidária, alcançando-se os objetivos previstos de erradicação da fome e promoção do bem-viver com maior eficiência.

a afirmação de um outro paradigma econômico, de caráter solidário, exige mais do que promover transferências de renda que possibilitem converter necessidades humanas em demandas de mercado mantendo-se a mesma lógica de acumulação de riqueza em sua satisfação mas orientar o processo de intercâmbio à promoção do bem-viver de toda a sociedade sob o paradigma da abundância, em que se baseia a economia solidária, reorganizando as cadeias produtivas de forma socialmente justa e ecologicamente sustentável. o paradigma da abundância, da economia solidária, que coloca a distribuição da riqueza e a promoção do bem-viver das pessoas acima da geração do lucro. Nesta socioeconomia solidária, o mercado deixa de ser o foco do desenvolvimento, substituído pelo bem-viver de cidadãos e cidadãs. Trata-se de afirmar os valores do trabalho emancipado, propriedade e gestão cooperativas dos meios de produzir as riquezas e de assegurar o bemviver ;

A segurança alimentar é compreendida nos quadros da soberania alimentar, em que a realização do bemviver de cada cidadão e cidadã deve estar eticamente relacionada às nossas condutas cotidianas, seja no que se refere às dimensões de gênero, étnicas e ambientais, mas especialmente às nossas atitudes de consumo. Não se deve confundir a eleição de um governo com a própria transformação estrutural de um país, pois esta somente ocorre quando a sociedade, organizada, mobilizada e consciente estabelece, autonomamente, objetivos estratégicos como eixos articuladores de sua intervenção organizada capazes de promover mudanças profundas em prol do bem-viver de todos os cidadãos e cidadãs e os implementa com base no acúmulo de forças sociais que em torno desses eixos se solidarizam.

Quando conectamos os programas de transferência de renda e combate à fome com as diversas práticas de economia solidária, temos não apenas a possibilidade de gerar trabalho e renda de maneira duradoura, enfrentando a exclusão social, mas, igualmente, de implantar e implementar um outro modelo de desenvolvimento nacional, ecologicamente sustentável, socialmente justo e economicamente viável, capaz de promover o bemviver do conjunto da população. Pensar um novo paradigma de segurança alimentar requer inscrevê-lo em um novo paradigma econômico, centrado no princípio de abundância em que ofertas e demandas se regulam pela necessidade social e não pela produção do lucro voltado à realização ecologicamente sustentável do bem-viver das pessoas e não ao incremento dos ganhos de quem vence a concorrência nos mercados sob o princípio de escassez.

Através das associações ou cooperativas de consumo, pode-se conectar os consumidores aos produtores, com ganhos para ambos pelo estabelecimento de preços justos, que não se regulam pela lógica de mercado mas pelo princípio ético de promover-se o bem-viver de produtores e consumidores. Nos diagnósticos e prognósticos que realizam sobre os dados dessas redes, adotam parâmetros de autosustentabilidade em que o consumo (final e produtivo) dos integrantes do arranjo produtivo local e regional é analisado em sua potencialidade de realimentar a própria produção dos empreendimentos que integram a rede como um todo. Essa correção de fluxos econômicos, visando a realimentação produtiva da própria rede permite a geração de riquezas compartilhadas, em que o objetivo maior de todos é otimizar o bem-viver, socialmente justo e ecologicamente sustentável, do conjunto dos participantes e não a maximização dos lucros dos agentes isolados, movidos por seus interesses privados.

Institui-se, assim, um mecanismo de inspiração solidarista que contribui para o bem-viver de toda a sociedade, denominado subsidiariedade, em que a promoção do bem-viver de cada pessoa neste caso, em sua dimensão econômica contribui para o bemviver de todas não se trata as dimensões social e cultural como subalternas à dimensão econômica. Pelo contrário subordina-se o desenvolvimento econômico à promoção do bem-viver do conjunto da população. Por isso mesmo, a educação não é compreendida como formação de capital humano ou capital social, pois nesse caso ela seria reduzida a um fator produtivo, sob uma lógica de geração de lucro. Ela é compreendida sob a perspectiva libertadora, de realização da cidadania: de conscientização e de capacitação de cidadãos e cidadãs para exigir e exercer o conjunto de seus direitos, para mobilizar-se em função da geração de novos direitos e para modificar leis injustas.

Planos de Desenvolvimento Sustentável, chegandose a um equilíbrio ecologicamente adequado na promoção do bem-viver das pessoas e das comunidades locais. O Plano de Desenvolvimento Sustentável não tem outra razão de ser senão promover o bem-viver dos cidadãos de maneira ecologicamente sustentável.... estratégia de desenvolvimento sustentável, centrada na economia solidária, que é a melhor forma de produzir bens e serviços com simultânea distribuição de riqueza distribuição feita através da remuneração do trabalho garantindo-se a cada pessoa, nas melhores condições possíveis, o justo acesso às mediações materiais que lhe assegurem o bem-viver.

2006 2007 Debate Constitucional na Bolívia Sumaj kamaña, traduzido como vivir bien, é incorporado na constituição boliviana, em seu artigo 8º, como uno dos princípios ético-morais da sociedade plural que cabe ao Estado assumir e promover.

2007 Difusão da tradução de Sumak Kawsay como Buen- Vivir Sumak Kawsay é uma expressão cultural de comunidades indígenas no tronco linguístico Qechua. A Asociación de Investigadores en Lengua Quechua traduz o adjetivo Sumaq, como lindo, formoso, bom, agradável, saboroso, primoroso, prazeroso, bonito, delicioso; e traduz o verbo Kawsay como viver e o substantivo kawsay como vida 5. Por sua vez no web-site dedicado à cosmovisão andina, mantido pelo Centro Cultural Andino Tupac Amaru, se traduz o substantivo kawsay como vida e cultura e o verbo Kawsay como viver e habitar; e se traduz sumaq kawsay como boa saúde 6. 5 http://www.adilq.com.ar/vocab1.htm 6 http://www.cosmovisionandina.org/

2007 2008 Debate Constitucional no Equador Na mesa de trabalho número 7 da Assembleia Nacional Constituinte que tratava do Regime de Desenvolvimento aparece o conceito de Buen- Vivir que pressupõe que o exercício dos direitos, das liberdades, capacidades, potencialidades e oportunidades reais dos indivíduos e das comunidades se ampliem de modo que permitam alcançar simultaneamente aquilo que a sociedade, os territórios, as diversas identidades coletivas e cada um - visto como um ser humano universal e particular ao mesmo tempo - valora como objetivo de vida desejável. 7 Buen-Vivir aparece 23 vezes, referido inicialmente a uma forma de convivência cidadã, na diversidade e harmonia com a natureza, sendo desdobrado posteriormente nos direitos do bemviver e no regime do bem-viver - com direitos e garantias sociais, econômicas e da natureza. 7 Alberto COSTA. El Buen Vivir - Una Vía para el Desarrollo. Ediciones Abya-Yala. Quito, 2009, p. 11

A constituição do Equador reconhece as formas de organização econômica pública, privada, mista, popular e solidária. A Economia popular e solidária inclui os setores cooperativistas, associativos e comunitários. O artigo 228 afirma que nas compras públicas serão priorizados os produtos e serviços nacionais, particularmente os provenientes da economia popular e solidária, e das micro, pequenas e medianas unidades produtivas.

2010 Fórum Social Mundial Bem-viver é considerado elemento constitutivo de uma nova agenda internacional pela organização do Fórum Social Mundial de Porto Alegre.

Diferenças entre Bem-Viver e Boa Vida, Bem-Estar, Desenvolvimento Humano e Felicidade Interna Bruta. Boa Vida (Eu Zen) - Aristóteles, Grécia Antiga - a boa-vida do homem livre supunha a necessária manutenção do trabalho escravo como sua condição material de sustentação. Bem-Estar Visão Liberal - acesso a bens e serviços via mercado, relacionada à posse e ao consumo de mercadorias. Visão Social Democrata - acesso a bens e serviços públicos via Estado. supõe a subalternidade do trabalho em relação ao capital - como forma de obtenção de salário para a compra de mercadorias - como fonte de valor econômico para a cobertura das políticas públicas. Esta subalternidade ao capital converte pessoas, sociedades e natureza em capital humano, capital social e capital natural.

Desenvolvimento Humano - Amartya Sen considera a Longevidade, Educação e Renda Per Capita das pessoas: não podemos ser ingênuos de que isso possa medir a liberdade das pessoas (Amartya Sen). não põe em questão a subalternidade do trabalho em relação ao capital 1. http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2012/05/premio-nobel-amartya-sen-o-idh-e-uma.html

Felicidade Interna Bruta 1) bem-estar psicológico e espiritual (grau de satisfação das pessoas em relação a sua própria vida); 2) saúde (eficiência das políticas públicas, cuidado de si pelas pessoas) 3) uso equilibrado do tempo (lazer, convívio, trabalho, educação. Etc) 4) vitalidade comunitária (interação com a comunidade, confiança, sensação de pertencimento, afetuosidade, segurança e ação voluntária) 5) educação (atividades formais e informais, participação na educação dos filhos, educação ambiental) 6) diversidade cultural (tradições locais, atividades culturais, desenvolvimento artístico, bem como a processos negativos de discriminação religiosa, racial ou sexual) 7) meio ambiente (qualidade da água, ar, solo e biodiversidade, o acesso a áreas verdes, serviços de coleta de lixo e outros;) 8) boa governança (avaliação da população em relação ao governo, mídia, judiciário, sistema eleitoral e segurança pública, com base em critérios de responsabilidade, honestidade e transparência; bem como o envolvimento das pessoas nas decisões e atividades políticas) 9) padrão de vida considerando o rendimento individual e familiar, a situação financeira e o grau de endividamento das pessoas, a qualidade da sua moradia, entre outros aspectos. igualmente não põe em questão a subalternidade do trabalho em relação ao capital

Democracia e Bem-Viver O modo de organização politica da economia Sob o capitalismo ocorre a negação da democracia na esfera econômica: manda quem tem capital (plutocracia) Na economia solidária temos a afirmação da democracia na esfera econômica: todos podem participar e decidir (autogestão de empreendimentos e redes colaborativas) Democracia Antiga (Grécia) a Boa Vida (Eu Zen) do homem livre, do cidadão, supõe o trabalho do escravo, que não é livre nem cidadão. Democracia Moderna: o Bem-Estar, proporcionado desigualmente às classes sociais, supõe o trabalho assalariado, submetido ao capital que o explora. Democracia Contemporânea Latino-americana o Bem-Viver de todos exige a autogestão econômica, a sustentabilidade ecológica e a interculturalidade dialógica a autogestão dos meios deve estar acompanhada da autodeterminação dos fins, pois a liberdade no estabelecimento do propósito é tão importante quanto a liberdade na gestão dos meios para alcançá-lo.

Bem-Viver e Socialismo Democrático 1. A economia solidária é a base material do socialismo democrático e a democracia participativa é sua forma política de realização histórica. 2. Na transição do capitalismo ao socialismo democrático, os governos democrático-populares devem cumprir um duplo papel estratégico: fortalecer a participação popular na governança democrática do Estado (com mecanismos diretos e representativos) fortalecer democraticamente, com o poder de Estado, a expansão e consolidação da economia solidária. 3. O socialismo democrático, como expressão da democracia participativa e da economia solidária, promove um desenvolvimento ecologicamente sustentável, economicamente viável, socialmente justo e eticamente solidário em favor do bem-viver de todas as pessoas e da paz entre os povos.

Euclides André Mance 0055 (41) 3328-3987 0055 (41) 9619-4393 www.solidarius.com.br/mance euclides.mance@solidarius.com.br euclidesmance@yahoo.com