1 E GE HARIA SOCIAL: UMA OVA DIME SÃO PARA A FORMAÇÃO DO E GE HEIRO Santos, D. C. I APRESE TAÇÃO DA DISCIPLI A E GE HARIA SOCIAL 1 Introdução Em 1997, o MEC, por intermédio da Secretaria de Educação Superior, lançou o Edital N o 04, convocando as Instituições de Nível Superior para apresentar propostas para a elaboração de novas Diretrizes Curriculares de Cursos Superiores. Os trabalhos se desenvolveram em inúmeras áreas e, especificamente para os cursos de graduação em Engenharia Civil, a Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação dispôs a Resolução CNE/CES 11, de 11 de Março de 2002, instituindo as respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais. As discussões sobre a reforma do Currículo de Engenharia Civil já ocorriam desde 1997 estimulados pelo Edital N o 04, já citado, tiveram, portanto, a partir da Resolução CNE/CES 11, uma base filosófica e legal para continuarem ocorrendo, culminando na consolidação do novo currículo, este vigente desde 2006. Especificamente quanto a Resolução CNE/CES 11, dentre a totalidade dos 09 artigos, cabe comentar os Artigos 3 o, 4 o, e 6 o. O Artigo 3 o segue transcrito integralmente: O Curso de Graduação em Engenharia tem como perfil do formando egresso/profissional o engenheiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade. Neste artigo, cabe destacar a referência à importância da formação de um engenheiro com perfil generalista, humanista, crítico e reflexivo. Merece igualmente ênfase que o mesmo seja capacitado, de forma crítica e criativa, a atender as demandas sociais sob uma conjuntura complexa onde interagem variáveis políticas, econômicas, ambientais, culturais, éticas e humanistas. Assim, entende-se legítima a interpretação de que este novo engenheiro deverá estar mais preparado para dialogar com a Sociedade, entendê-la e para contribuir efetivamente para uma dinâmica sustentável de construção da mesma. O Artigo 4 o, mais específico, aponta diversas competências e habilidades necessárias ao futuro engenheiro, cabendo destaque as seguintes: VIII projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados; IX atuar em equipes multidisciplinares; X compreender e aplicar a ética e responsabilidades profissionais;
2 XI avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental; Observa-se neste artigo que novamente é destacada a importância de preparar um profissional apto para a interação com o meio antrópico, em suas vertentes social e ambiental, onde variáveis como a expressividade, diversidade, ética e responsabilidade, deverão ser trabalhadas. O Artigo 5 o igualmente tem sua transcrição integral, conforme segue: Cada curso de Engenharia deve possuir um projeto pedagógico que demonstre claramente como o conjunto das atividades previstas garantirá o perfil desejado de seu egresso e o desenvolvimento das competências e habilidades esperadas. Ênfase deve ser dada à necessidade de se reduzir o tempo em sala de aula, favorecendo o trabalho individual em grupo de estudantes. 1 o Deverão existir os trabalhos de síntese e integração dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso, sendo que, pelo menos, um deles deverá se constituir em atividade obrigatória como requisito de graduação. 2 o Deverão também ser estimuladas atividades complementares, tais como trabalhos de iniciação científica, projetos multidisciplinares, visitas teóricas, trabalhos em equipe, desenvolvimento de protótipos, monitorias, participação em empresas juniores e outras atividades empreendedoras. Observa-se que no 2 o é expresso que devem ser estimuladas as atividades complementares. Pela natureza das atividades citadas, depreende-se que significativa gama de interações junto à Sociedade pode ser prevista, podendo as mesmas conter expressivo apelo social. O Artigo 6 o dispõe que os currículos dos cursos de Engenharia devem apresentar conteúdos básicos, profissionalizantes e específicos. Dentre aqueles básicos, no 1 o merece destaque o item XV Humanidades, Ciências Sociais e Cidadania. Novamente neste parágrafo encontra-se referência as questões sociais. Entende-se bem visível a preocupação demonstrada nesta resolução em discussão. Um novo paradigma social está emergindo, para o qual se espera que o Engenheiro agregue valores que o consolidem. Um paradigma onde um conhecimento mínimo sobre a complexidade do sistema Sociedade e do componente Indivíduo, assim como sobre as interações entre ambos, surge como imprescindível para o futuro do profissional. Um paradigma que impõe, também, que este profissional tenha desenvolvido habilidades para interação e comunicação que o possibilite para efetivamente contribuir à Sociedade e que, além disso, não seja simplesmente uma mera engrenagem que mantenha de forma fiel e não crítica o Estabelecido. É exatamente para a fundação deste novo perfil de engenheiro é que se acredita que a Engenharia Social poderá ter um papel importante.
3 2 Sobre a Engenharia Social Inicialmente cabe discorrer sobre a denominação Engenharia Social. Uma das aplicações para essa denominação refere-se a um conjunto de estratégias e técnicas para o entendimento de um indivíduo, ou de um grupo para, posteriormente, poder manipulá-lo conforme interesse do interventor. Consta de engenhar sobre o social, de engenhar o social, mas no intuito de dominá-lo e não com a intenção de esclarecê-lo e dá-lo liberdade para decidir sobre o seu próprio destino. A postura ética do interventor é que dará a tendência ao que será agregado ao social. Outra aplicação do conceito trata do engenhar pelo social, em particular pelas comunidades de interesse social. Também nesse caso são previstas intervenções, em especial aquelas relacionadas às melhorias nas habitações e na infraestrutura urbana utilizadas por essas comunidades. Neste contexto, a elaboração de projetos técnicos para a melhoria das habitações, assim como de recomendações para o uso das mesmas e da infraestrutura urbana, surgem como formas efetivas ilustradoras desta forma de Engenharia Social. Nessas duas formas de entender a Engenharia Social observa-se a figura da intervenção. Na forma engenhar sobre o social, a intervenção interessada e dirigida caracteriza uma intenção de utilizar o conceito de engenharia para trabalhar corações e mentes do social, isto é, da Sociedade. Já o engenhar pelo social prevê uma intervenção clássica de engenharia, enquanto habilitação profissional. Dado esse cenário sobre o qual discute-se o conceito de Engenharia Social, a questão que surge é exatamente sobre qual o conceito que a disciplina se pautará. E o proposto é o seguinte: A Engenharia Social é uma disciplina que objetiva entender a Sociedade, contribuir para esclarecê-la e libertá-la, porém somente intervir, se necessário, com a total anuência e participação da mesma. Neste conceito a Sociedade é considerada Soberana. Ela é quem decidirá sobre o seu destino. 3 Apresentação da Disciplina Este documento objetiva apresentar a disciplina Engenharia Social do Curso de Engenharia Civil da UFPR. Para tanto, será apresentado o Histórico da concepção da mesma, além de aspectos pertinentes como o Objetivo, os Princípios, as Ferramentas que serão utilizadas, entre outros. 3.1 Histórico A Resolução CNE/CES 11 destaca vários aspectos sobre a necessidade de formar um engenheiro que atenda às demandas da sociedade, todavia minimamente cônscio da complexidade desta. Assim, para a observância deste princípio, a Coordenação do Curso de Engenharia Civil, à época da reformulação do respectivo currículo buscou, na experiência do Programa de Extensão Engenheiro da Família e do Projeto de Extensão Agentes da Conservação da Água, a possibilidade da criação de uma disciplina que propiciasse ao aluno uma aproximação com a sociedade. Foi proposto, portanto, à referida Coordenação, a criação da disciplina que recebeu o nome de Engenharia Social, cujo caráter é predominantemente extensionista.
4 Neste contexto a disciplina foi concebida a partir de um conjunto de características estruturais do Programa de Extensão Engenheiro da Família e do Projeto de Extensão Agentes da Conservação da Água. A origem deste programa reside em um convênio firmado entre a Universidade Federal do Paraná e o Governo do Estado do Paraná, por meio da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba no ano de 1996. Ele teve por finalidade a estruturação de equipes compostas por professores e alunos, sendo estes alunos orientados pelos professores para a prestação de assistência técnica, em especial na concepção e confecção de projetos habitacionais, às famílias de baixa renda transferidas de áreas de risco para novos e regularizados loteamentos. O Convênio foi desenvolvido neste caráter até 1998 quando, em 1999, alcançou uma nova condição e se tornou Projeto de Extensão da UFPR. Em função disso, teve potencializada sua abrangência e passou a atuar também, além das atividades de concepção e confecção de projetos, no desenvolvimento de pesquisas de interesse social e no auxílio na condução de práticas de educação sanitária e ambiental. Em 2000, o Projeto de Extensão foi alçado a Programa de Extensão, tendo como referenciais teóricos o Conceito do Desenvolvimento Sustentável e o Conceito de Extensão Universitária. O programa se desenvolveu até 2003, quando foi concluído. Neste período, procurou-se continuar auxiliando no atendimento das demandas sociais propiciando aos alunos participantes o envolvimento com a prática da Engenharia. Já em 2004 foi criado o projeto de extensão Agentes da Conservação da Água, originandose no hiato decorrente da conclusão do Programa de Extensão Engenheiro da Família. O objetivo geral deste projeto foi propiciar um ambiente reflexivo, especificamente à Escola Pública, onde o público em geral tivesse contato direto com conceitos, informações, ilustrações e tecnologias referentes à Conservação da Água. A intenção foi tanto procurar sensibilizar este público alvo com relação à necessidade de Conservação da Água, quanto apresentar e sugerir aos mesmos, meios de promovê-la no ambiente doméstico e no seu ambiente entorno. Assim, foram desenvolvidas ações multidisciplinares que implicaram na agregação de áreas diferentes àquelas normalmente trabalhadas na Engenharia. 3.2 Objetivo A Resolução CNE/CES 11 salienta, em seu Artigo 3 o, entre outros aspectos, que o perfil esperado para o Engenheiro seja generalista, humanista, crítico e reflexivo. Salienta também que, para atender às demandas sociais, o Engenheiro tenha condições de considerar aspectos éticos, humanistas, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais. Diante deste contexto, a disciplina Engenharia Social procurará contribuir para a formação do Engenheiro Civil da UFPR por meio da consideração dos seguintes objetivos:. Instigar o aluno à reflexão sobre a importância da Filosofia, das Ciências Humanas e das Ciências do Ambiente na formação do profissional, seja qual for sua área;. Propiciar espaços e condições para o aluno refletir sobre a importância da busca do conhecimento sobre o Ser Humano e a Sociedade, assim como das relações entre estes, uma
5 vez que o Engenheiro precisa minimamente conhecer a sociedade à qual tem o intuito de atender;. Propiciar momentos reflexivos e atividades práticas para o aluno exercitar a habilidade de apreensão da percepção do usuário em sua relação com o sócio-ambiental;. Proporcionar abordagens sobre a postura do Engenheiro e de suas formas de inserção e interação com a Sociedade, sob uma perspectiva humanista e ambiental. Não obstante, alguns Objetivos Específicos devem ser observados, a saber: Contribuir para o preparo do estudante para interagir com a comunidade; Definir estratégias com intuito de sensibilizar a comunidade quanto aos aspectos ambientais e sustentabilidade. Têm-se a convicção de que outros objetivos e aspirações surgirão durante o desenvolvimento da disciplina, os quais poderão ser prontamente acolhidos e atendidos em edições posteriores. 3.3 Princípios Entende-se que devam ser estabelecidos Princípios para a condução da disciplina Engenharia Social, de maneira a se ter referências para nortear todas as atividades da mesma. Portanto, são apresentados os seguintes Princípios:. A disciplina deve ser conduzida sem apresentar nenhuma imposição de tendência ideológica ou religiosa. Ao aluno procurar-se-á, tão somente, dispor um espaço fundamentalmente reflexivo;. A responsabilidade para com o público alvo das atividades da disciplina deve ser continuamente salientada aos alunos e professores;. As atividades das disciplinas deverão ser conduzidas sob o caráter da cooperação entre os alunos e entre estes e os professores, e não sob o caráter da competição. Faz-se aqui uma clara opção em não estimular o individual, mas sim o grupo.. Fomento contínuo, por meio da interação e discussão de idéias, para a construção e aprimoramento de um ambiente de aprendizagem embasado nos princípios preconizados pela Agenda 21 e demais documentos correlatos. 3.4 Tipologia das Atividades Os tipos de atividades previstos para a disciplina são Palestras, Oficinas, Trabalhos em Campo, Visitas e Seminários. As Palestras serão conduzidas por especialistas das diversas áreas de conhecimento de interesse no intuito de explorar aspectos filosóficos sobre as mesmas. As Oficinas serão espaços onde os professores da disciplina poderão orientar e preparar os alunos para os Trabalhos em Campo e Visitas. Para esses trabalhos em campo,
6 os alunos serão preparados para a Caracterização do Local de Pesquisa, a Elaboração e Validação do Questionário e da Entrevista, a Coleta de Dados, a Análise dos Dados Coletados e a Elaboração de Proposta de Recomendações e do Relatório Final. 3.5 Tipologia dos Temas Os temas a serem trabalhados nas atividades serão os Transversais e os Instrumentais. Temas Transversais são aqueles temas de base, sobre os quais todas as atividades da disciplina permearão. Constam de temas permanentes e universais, os quais deverão sempre ser trabalhados na disciplina. Temas Instrumentais são temas para a concretização das atividades, no intuito de se obter produtos das mesmas. São temas pontuais, específicos e variáveis, podendo ser alterados a cada oferta da disciplina. Os Temas Transversais são Engenharia Social, Antropologia, Sociologia, Filosofia, Psicologia, História, Urbanismo, Trabalho, Educação, Engenharia Civil, Saúde Pública, Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável, Pesquisa Qualitativa e Sistemas de Informação. Já os Temas Instrumentais, específicos por oferta como anteriormente destacado, podem ser, por exemplo, o Consumo de Água, o Consumo de Energia, a Geração de Resíduos, o Conforto Ambiental, etc. 3.6 Ferramentas Objetivando o desenvolvimento do trabalho em campo, assim como a divulgação de resultados, são previstas Entrevistas, Questionários, Investigações Técnicas, Artigos Científicos, Página Eletrônica, etc. 3.7 Campo de Trabalho Objetiva-se trabalhar em Escolas, Edifícios Residenciais, Comerciais e Industriais, Parques, Áreas de Risco, Bacias Hidrográficas, Setores Residenciais, desenvolver Estudos de Caso, etc. II Considerações Finais No desenvolvimento da disciplina Engenharia Social, a expectativa é que o aluno tenha espaços para reflexão. E seria importante que o aluno desenvolvesse a experiência da reflexão. Os frutos de seu processo reflexivo, a sua revolução pessoal, os rompimentos com os seus próprios paradigmas, entre outros movimentos do Ser, são aqui entendidas como fatores secundários. O que importa nesse exercício reitera-se, é que o aluno seja instigado a perceber-se, além de perceber suas relações com o entorno.