ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE TELEVISÃO DIGITAL E O MODELO BRASILEIRO DE RADIODIFUSÃO.



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Transcrição:

ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE TELEVISÃO DIGITAL E O MODELO BRASILEIRO DE RADIODIFUSÃO. No dia 24 de abril de 2006, a partir das 13:30 horas, no auditório da Procuradoria da República em São Paulo, presentes os convidados relacionados na lista anexa, e os expositores Evandro Guimarães, Vice Presidente Org. Globo/ABERT, Roberto Pinto, Secretário Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maria Regina Paula Mota, Departamento de Comunicação Social - UFMG e Diogo Moysés, Representante da ONG Intervozes. No ato de abertura, o Procurador da República Sérgio Suiama registrou a presença dos Procuradores da República Domingos e Fernando Martins, membros do GT da PFDC. Registrou que a iniciativa do evento é da PFDC e que o objetivo da audiência não é apenas a discussão do padrão tecnológico, mas também os diversos aspectos que envolvem a questão da televisão digital. Passada a palavra ao representante do Ministério das Comunicações, Ricardo Pinto, foi feita apresentação em data show, sobre o sistema brasileiro de TV Digital. Em 2003, por meio do Decreto 4901, se criou o sistema brasileiro de televisão digital, com três comitês que coordenam o seu trabalho: comitê de desenvolvimento, comitê consultivo e grupo gestor. Dentre as competências do comitê de desenvolvimento era a apresentação de relatório no qual deveriam constar os seguintes objetivos: modelo de referência, padrão, período e modelo de transição do sistema analógico para o digital. A tv aberta do Brasil abrange 72 milhões dos lares e penetração da televisão em 90% das residências brasileiras. O meio de recepção: antena externa ou interna e parabólica. Inicialmente, para o sistema de tv digital, tinha-se a idéia de uso de aparelho apenas para conversão, sem grandes complicações para o usuário. A tv hoje é aberta e gratuita com participação expressiva de mais de sessenta por cento em publicidade. Para tv digital, a transmissão e a recepção serão feitas digitalmente, gerando mudança expressiva na qualidade dos dispositivos apresentados. Os aparelhos analógicos continuarão recebendo as imagens, podendo ser adquirido um aparelho conversor. Hoje: radiodifusão terrestre analógica de sons e imagens. No futuro vai haver a integração de satélite, cabo e rede de telefonia fixa, além da rede de telefonia móvel, já operando também em banda larga. na transmissão digital o usuário passa a receber sinal no 1

aparelho analógico, para equipamentos portáteis e veículos em movimento. Forte interação entre a tv aberta digital e as operadoras de telefonia celular. Tecnologia da tv digital terrestre: estabelecimento de consórcio para que o Brasil possa ter participação efetiva na evolução da tv digital. O Brasil conseguiu atrair a participação de mais de oitenta grupos de pesquisa sobre o tema no desenvolvimento e na criação de tecnologias para a tv digital terrestre. Tecnologias da tv digital terrestre: aplicativos, middleware, compressão áudio, compressão vídeo, transporte e transmissão e modulação. Sistema americano (ATSC) e sistema europeu (DVB). O sistema japonês guarda bastante semelhança com o sistema europeu, como por exemplo, é a modulação BST-COFDM, no qual se consegue transmissão fixa, móvel e portátil. Com as discussões do SBTVD chegouse a conclusão que não se deve fazer a opção por um destes sistemas in totum. Foram feitas diversas pesquisas, por exemplo, em relação à modulação, que se demonstram mais efetivos que os padrões já existentes.também em relação ao transporte e à compressão. Neste último, haveria utilização mais otimizada no canal de 6 MHZ (H.264-AVC). Para o terminal de acesso, que fará a conversão do sistema digital para analógico foram também feitos estudos. Dois consórcios também trabalharam na questão do canal de retorno, já que se tratará de uma televisão com interatividade. Três consórcios também desenvolveram o middleware para este sistema. Em relação aos aplicativos também foram feitas pesquisas. Assim, com a utilização das pesquisas, o Brasil pode ter um modelo superior aos modelos existentes, podendo ser 80% de tecnologia brasileira e com apenas 20% de outro sistema. Diferença entre padrões em um único chip, diferença de preços entre padrões chip front end, royalties dos sistemas (americano/europeu/japonês). Estima-se cerca de dez anos para a transição no Brasil, em que será feito o estímulo para a aquisição de novos aparelhos. Dada a palavra a Evandro Guimarães, disse da importância da urgência na definição sobre a tv digital, já que a tv aberta leva informação e é gratuita, permite uma difusão cultural, valoriza o idioma nacional, o talento brasileiro, reduz os custos sociais pela proximidade da oferta, proporciona a mobilização comunitária e preserva o interesse regional (via intervalo comercial). Ressalta a grande diversidade da programação oferecida pela tv aberta gratuita, através do jornalismo, dos horários políticos gratuitos, produção de educação, esporte, novelas, filmes e música. As redes de tv aberta são vistas normalmente de forma monolítica. 2

A denominação de fantasia das redes facilita a identificação da rede pelo telespectador. As redes de tv aberta se constituem de um conjunto de emissoras, sediadas em todos os Estados da Federação, e de retransmissoras. As redes são diferentes em cada município. Assim, por exemplo, de acordo com o Estado, o canal é diverso. Algumas cidades no Brasil são geradoras de redes. Não se reproduzem da mesma maneira nos municípios. Com a programação da TV GLOBO, por exemplo, existem 92 geradoras, RTVs primárias (que têm garantia de não interferência) 1369 e RTVs Amaz. Legal: 21. São grupos de emissoras que têm necessidades diferentes. As empresas nacionais vão ter graves problemas, tendo em vista que mantêm o sistema analógico, havendo, portanto, dificuldades em competir com o mercado internacional, daí a urgência na implantação do sistema digital para o Brasil. O cidadão necessita de um serviço de altíssima qualidade para a tv aberta, o que, hoje, somente é conseguido com a tv a cabo. Desafios: as tvs abertas enfrentam concorrência desigual com as companhias de telecomunicações, as quais recebem recursos para fazerem investimentos com juros de 3% ao ano. O Brasil precisa fazer a migração digital com canais para transição (geradoras e retransmissoras) e com menores custos possíveis para o telespectador, emissoras e para a indústria. É importante que a tv digital possa a ofertar simultaneamente e no mesmo canal: transmissão em alta definição, mobilidade, portabilidade e interatividade. Neste aspecto, serão novos sinais para o programa que está no ar. O atraso na tomada de decisão está matando as TVs nacionais. As programações de alta atratividade que hoje existem, permitirão criar uma base de receptores digitais com rapidez, o que representaria uma democratização da tv aberta e gratuita. Vai se multiplicar o número de programações de interesse público, educativo e comunitário e vai se viabilizar com a rápida criação da base. Dada a palavra ao representante da Intervozes, Diogo Moysés, em exposição em data show, apresentou considerações sobre o Decreto 4.901, visto que este não se refere à mobilidade, portabilidade e alta definição, embora isso não queira dizer que não devam ser levados em consideração, mas não são as premissas do Decreto. As premissas são a democratização da informação, a inclusão social, a criação de uma rede universal de educação à distância, a garantia de um processo de transição que não onere os cidadãos e o aperfeiçoamento do uso do espectro de radiofreqüências. Não houve, até o momento, nenhuma manifestação pública do governo federal sobre essas 3

questões. Publicamente o governo afirma que somente a decisão sobre a modulação precisa ser tomada agora e os debates para a escolha de padrões internacionais de modulação desconsideram o objetivo III do Decreto 4901. Por que adotarmos uma tecnologia estrangeira? O governo não esclareceu o que ocorrerá com o parque industrial brasileiro de tvs e componentes, já que apenas o Japão usa o ISDB. Os documentos do comitê de desenvolvimento ainda não foram tornados públicos. Concretamente, não há nenhum documento oficial do comitê consultivo, o qual foi desmantelado no ano passado e que seria o espaço da sociedade civil para se manifestar. Sobre o marco regulatório, o simulcasting não pode ser feito com a legislação atual. Não há como outorgar mais um canal de tv para uma emissora na mesma área de concessão, porque os dois seriam do mesmo tipo de serviço de radiodifusão, já que a tv digital continua sendo tv. A multiprogramação é vedada pelo espírito da lei (decreto 52795). Em relação à alegação de direito adquirido não é legitimada pelos juristas, ressaltando-se o art. 161 da Lei Geral de Telecomunicações. Arts. 23 e 24 do Decreto 52.795. Risco de ocorrer o chamado fato consumado. As pesquisas não foram concluídas de forma satisfatória, já que não houve tempo nem recursos para a construção de uma estação experimental para a realização dos testes. Se houver o início dos testes, haverá o estabelecimento de um novo parque de transmissões, e, como conseqüência, a negação da figura do operador de rede, sem que haja um debate prévio sobre a questão. Modulação, camada de transporte e codec têm que ser definidos no início do processo. Deve ser invertida a ordem dos debates. Não somos contra a alta definição. A pressa na definição no padrão digital, sem a oitiva da sociedade civil é muito ruim e pode fazer com que o Brasil perca muito, economicamente e culturalmente. Por fim, é inadequada a tomada deste tipo de decisão em momento eleitoral, dado o poder político dos radiodifusores. Quanto à gratuidade da tv aberta deve ser relativizada, já que o próprio governo também efetua pagamento de publicidade para as emissoras. Em relação à qualidade, há certas dúvidas, dadas as ações da sociedade civil, a reação da população à programação de má qualidade e também medidas que vêm sendo adotadas pelo Ministério Público sobre o tema. Na realidade, não temos a melhor tv do mundo. Dada a palavra à Dra. Maria Regina Paula Mota, ressaltou que, ao longo do tempo, é notável que o fato sempre ocorre antes da norma e depois é que se busca a legalização do mesmo. Na qualidade de pesquisadora, destaca que, 4

na etapa em relação ao cumprimento do Decreto e em relação às pesquisas, as respostas não estão sendo satisfatórias. Também não foi feito nenhum grupo que pudesse pesquisar em profundidade o marco regulatório. A tv digital ainda não é uma realidade consolidada nos demais países. O Japão está desenvolvendo o seu segundo sistema de televisão digital, assim como os EUA. A Europa já reviu também o seu sistema. A velocidade do desenvolvimento tecnológico é enorme, sendo favorável a posição hoje do Brasil, já que há uma massa crítica instalada no país, resultado do investimento do próprio governo, gerando pessoas capacitadas para desenvolver essa tecnologia para o país e, inclusive, para fora. Autonomia e soberania. Deve ser avaliada qual é a nossa necessidade. Talvez pela primeira vez tenhamos algo a partir das nossas próprias necessidades, devendo ser privilegiada a interatividade. Considera a tv brasileira uma das melhores do mundo, com domínio tecnológico e da arte, devendo ser reconhecido que temos coisas de altíssima qualidade. Espera-se que a tv brasileira defenda o sistema brasileiro de tv digital, tendo capacidade enorme para desenvolvimento do nosso próprio sistema. Cerca de vinte milhões de brasileiros têm acesso a todo tipo de informação. O grande desafio da tv digital é fazer a inclusão informacional desta estratificação da sociedade nacional. As pessoas têm que ter o direito a ter outros meios de formar opinião e de ter acesso segundo seus desejos e suas necessidades. Será que o número de audiência corresponde aos anseios dessas pessoas? O potencial dessa tecnologia deve estar a serviço da melhoria da situação das pessoas. Daí a importância do Decreto, devendo ser aprofundada a pesquisa, ampliar os grupos de trabalho, sendo um deles para criar as estações experimentais, que até as próprias emissoras poderiam financiar. A tv digital tem que ser criada por ser uma nova mídia. Não é uma mídia baseada em tempo. Une uma mídia descentralizada com a idéia de informação para todos. A discussão quanto a padrões é mera perda de tempo. Temos que ganhar o domínio tecnológico e é interessante a possibilidade de negociarmos com os demais países, desde que quem dê a tônica seja o Brasil. É importante definir neste momento o modelo de referência e fazer o marco regulatório. Princípios gerais a serem seguidos: universalização do sistema; inclusão social; envolver os órgãos e entidades que possam se beneficiar com o novo sistema; envolver aparelhos estatais, escolas públicas etc. para divulgação do SBTVD; incentivar a indústria nacional etc. Terminadas as exposições, foram abertas as inscrições ao 5

público presente para fins de serem iniciados os debates. Intervenção do Procurador da República Fernando Martins: estamos passando por processo extremamente rápido sobre a tv digital. Para o início do processo o governo decidiu editar um decreto estabelecendo princípios para o sistema brasileiro de tv digital (decreto 4901). Como pressuposto para instalação do sistema, observou-se a existência de três ou mais padrões existentes no mundo e como passo lógico deveria ser escolhido um dos sistemas, momento atual que nos encontramos. O sistema brasileiro é louvável caso seja factível. Mas a questão é: foram feitas pesquisas de campo para implementação desse sistema na prática? Outros aspectos é que, uma vez escolhido o sistema, o primeiro passo é o período do simulcasting. Não se tem falado sobre o novo marco regulatório, tendo-se utilizado a legislação de 1962 para adaptá-la para a nova realidade. Vai haver um período de simulcasting e, nesse período, paralelamente, serão feitas as transmissões digitais, o que pressupõe uma super utilização do espectro e os princípios existentes na legislação, como se criará um sistema de rede que não existe, como por exemplo, de educação à distância. Não se ouviu nada sobre separar um pedaço mínimo do espectro para educação à distância. Qual a necessidade de HDTV? Para que transmissão de HDTV se uma parcela ínfima vai ter condições de adquirir tais aparelhos? O bem público é extremamente limitado e o caráter social está sendo totalmente esquecido. O período de simulcasting não pode ocorrer sem um marco regulatório. A interpretação de que não se trata de uma nova outorga não seria necessária nova licitação. Só que esta forma de raciocínio, a programação deve ser idêntica à programação analógica, já que não poderia haver inovação. Por último, a legislação é clara de que não há direito adquirido quanto à freqüência utilizada. Com a palavra o Dr. Mario Baumgarten, Presidente da coalizão DVB: É importante que a academia se insira nos debates. Não é possível ter uma indústria nacional só com o mercado brasileiro em vista. A escolha para o padrão da tv digital para o Brasil deveria ser uma das mais fáceis a serem tomadas, já que padrão dvb tornou-se global. O padrão americano sofreu duas baixas e o padrão japonês foi cem por cento rejeitado por todos os países que fizeram sua opção em padrão digital. Todas as indústrias competem no padrão dvb. Possui maior variedade de produtos a preço baixo. São centenas de modelos de centopoxes. O padrão dvb permite a implementação de qualquer modelo de negócio, porque foi desenvolvido em razão das necessidades desses países. Nenhum destes aspectos têm sido 6

levantados. Não tem havido debate público sobre os diversos aspectos da tv digital. A primeira grande discussão nem mesmo deveria ser a escolha do padrão digital, mas discutir o que a sociedade deseja, ou a manutenção do sistema atual ou a competividade. A tv digital não é um fenômeno isolado, mas complexo, porque abrange também as telecomunicações. Se deixarmos a televisão totalmente independente, sem nenhum tipo de convergência, a indústria será penalizada. A opção pelo padrão japonês significará isolamento do Brasil no mercado mundial e com competição limitada. O governo não possui um banco atualizado de informações sobre os diversos padrões, emitindo juízo de valor sobre o padrão japonês sem o conhecimento necessário. O padrão japonês é uma cópia do padrão dvb. Este faz mobilidade, portabilidade e alta definição. Todos os países que têm dúvidas sobre o que querem realizam testes para comprovação e embasamento para emitir opiniões quanto aos padrões. Com a palavra Sérgio Milleto da CIVES: a qualidade da tv é relativa, a depender do objetivo que se tem. O produtor independente não consegue fazer televisão na atual sistemática. O próprio jornalismo prega desobediência civil. Não se aplicam os dispositivos constitucionais sobre o tema. A publicidade não se faz para adulto, se faz para crianças, as quais influenciam as compras da casa. Deve-se partir para a escolha do modelo antes. Deve ser aprofundada a questão do conteúdo. Com a palavra Michele Prazeres, da Intervozes: questões esquecidas pelo Dr. Evandro como a democratização, inclusão social etc. e gostaria de saber porque a demora na decisão está matando as emissoras. Há produção nacional para ocupar o espaço a ser criado com a tv digital, sendo que o trabalho dos produtores independentes é uma produção reprimida e que não existe a regionalização mencionada. O papel do Ministério Público tem o papel fundamental na publicização destas questões. Quanto à discussão do padrão de tv digital é uma oportunidade para discutir o que está na Constituição. Com a palavra Carolina Ribeiro, da Intervozes: questiona a regionalização mencionada por Evandro na tv aberta, visto ser inexistente na prática; questiona o motivo de não ser possível que opiniões contrárias à opinião da TV Globo, exibida no Jornal Nacional, também sejam exibidas na emissora; indaga como o operador de rede pode fomentar a aparição de novos atores na sociedade; questiona como o MPF pretende acompanhar o debate. Com a palavra José Carlos Sibila, da Associação de Roteiristas do Estado de São Paulo: questões levantadas pelos expositores parecem mal discutidas; há que se procurar 7

saber por que tanta urgência, dada a necessidade dos debates? Também questiona a defesa de tese de que as emissoras de tv têm colocado de que a tv digital vai aumentar a veiculação de conteúdo nacional; questiona o próprio conceito de conteúdo nacional considerado pelas emissoras. A falta de democracia na discussão gerou poucos resultados. Com a palavra o Procurador da República Domingos Silveira: cita a Prof. Maria Regina, da preocupação de não sermos atropelados pelo fato consumado. Quando se discute a digitalização da tv discute-se a digitalização da vida. Novamente estamos discutindo o antes, mas a discussão se encaminha a colocar o carro na frente dos bois. Discutir o padrão antes de discutir o marco regulatório não é o adequado. A definição de padrão tecnológico sem a garantia nenhuma para o futuro. Sem o marco regulatório não se sabe como se dividirá o espectro. Na Espanha são as comunidades autônomas que decidem as concessões, privilegiando empresas privadas e os amigos do rei. É o que vai acontecer aqui no Brasil sem o marco regulatório. O marco regulatório precede de forma absoluta esta discussão. A discussão da qualidade é a cortina de fumaça para o espectro seja parcelado em espaços menores. O custo da definição sem um marco regulatório é o custo de se perder uma chance histórica de democratização do espectro. A pressa é porque quer-se manter tudo como está. A Internet é uma nova concorrência perigosa para as emissoras de tv. A pressa não parece ser o interesse público e impede a discussão fundamental quanto à auto-suficiência tecnológica. O tempo para discutir é o tempo também para discutir a possibilidade de futuro, até mesmo para possibilitar a discussão sobre o modelo chinês. Propõe como encaminhamento para essa discussão à PFDC, visto que o processo não está maduro, estando-se diante da iminência de uma ilegalidade, que seja expedida uma Recomendação ao Ministério das Comunicações. Com a palavra Rafael Diniz, da Rádio Muda FM: comunicação, no Brasil, é sinônimo de comércio que, com a tv digital seria possível alterar esta situação; indaga se nesse novo sistema haveria espaço para pessoas que queiram publicar produções que não visem lucro, como por exemplo as produções independentes. Não vê nenhuma das emissoras atuais favorecendo programas educacionais etc. As emissoras que têm hoje não têm serviço público, sugerindo a liberação de dois dias do estúdio da Globo, por exemplo, para a produção de programas de produtores independentes. Com a palavra Paulo Manhães, assessor parlamentar da assembléia legislativa de São Paulo: elogia a iniciativa do MP de promover 8

a discussão sobre o tema, porque o único debate que tem sido mostrado nas emissoras é sobre a escolha do padrão da tv digital. A pressa e o fato consumado não dão alternativa de discussão. Qual o espaço de discussão? Várias organizações da sociedade civil, acaso adotadas medidas lesivas ao interesse do cidadão, acionarão o MP. A discussão da interatividade é feita apenas em tese. A postura das emissoras referenda uma longa tradição: de que a tv se faz do jeito que as emissoras querem, sem qualquer debate com a sociedade. A questão da qualidade tem que passar por essa discussão. Não há qualquer interlocução com as emissoras em nenhum aspecto, mantendo postura autoritária. Com a palavra YASUTOSHI MIYOSHI, da Primotech21: o sistema japonês já está sendo ampliado em outras cidades; embora o Japão seja o único país que tenha adotado o sistema, é um padrão que entrou por último, com a utilização de tecnologia que permitirá flexibilidade para cerca de até 50 anos, contemplando as evoluções que a sociedade irá demandar; quanto às discussões com o governo, ressalta que desde 1994 vem sendo discutido o tema no Brasil, havendo diversas universidades envolvidas em estudos sobre o sistema brasileiro de tv digital; a comitiva acolheu as sugestões, a fim de criar um sistema harmônico; o tempo é um fator crucial, já que a evolução do sistema digital é feita de forma rápida; o consumidor japonês tem padrão de consumo diverso do Brasil, mas é possível a importação de equipamentos produzidos no Brasil. Dada a palavra aos expositores, a Professora Maria Regina ressalta que não está satisfeita com o nível da discussão sobre tv digital, sendo necessária que chegue ao público em geral; não há qualquer restrição a um padrão ou outro; o que se propõe é que nós estabeleçamos o que queremos; é preciso arrematar uma série de questões, como a estruturação dos debates; sugere que devem ser circuladas as informações pelo Ministério Público; se houver um fato consumado, o governo terá que prestar contas e justificar a medida adotada. Dada a palavra a Diogo Moysés: a modulação é o coração do padrão; o que se quer discutir é se a melhor modulação é a brasileira ou não, sendo necessária a conclusão das pesquisas; em relação ao marco regulatório, destaca que a nossa legislação é antiga e critica a separação, pela legislação, da telefonia fixa e móvel; hoje para oferecer o mesmo serviço, não se ocupará nem metade dos 6 MHZ; a questão é, o que fazer com o espaço que sobrar? Precisamos acabar com o monopólio e ter em mente que o grande dinheiro está na produção de conteúdo e não a fábrica de condutores; sobre a alta definição, 9

deve ser pensado qual o grande problema das comunicações do Brasil; pode ser adotado, mas os equipamentos são caros, a população não terá acesso e a produção irá encarecer; aumento do abismo entre os grandes e os pequenos. Duvida sobre a não cobrança de royalties pela adoção do ISDB; qual a responsabilidade dos nossos gestores públicos? Deve-se enfrentar o problema da concentração, da não regionalização, do alto custo de produção e é para isso que o nosso gestor público deve estar voltado. Com a palavra a PFDC, Dra. Ela: destaca o que foi dito sobre a ausência de um debate estruturado, já que muitas dúvidas permanecem; sobre a intervenção do MP, assim como a instituição entrou na discussão se articulando com a sociedade civil, talvez tenhamos que fazer uma intervenção sobre a estruturação desse debate, já que a falta de uma medida normativa, vai obrigar a atuação do MP, já que se trata de um tema de extrema relevância para o direito do cidadão. Acredita que os presentes não estão em lados opostos, já que, ainda que defendam interesses diversos, está, acima de tudo, o interesse nacional e do povo brasileiro, o que acredita que é a intenção de todos os participantes presentes. Com a palavra Evandro Guimarães: deixou documentos com membros do MPF, na qual demonstra que desde 17 de julho de 2000 vem sendo demonstrada a pressa das emissoras ao governo, dado o atraso tecnológico em que o Brasil se encontra; não consegue mais ver monopólio, visto, como já exposto, a existência de diversos canais; não há possibilidade de fato consumado; o início da vida digital vai ampliar o número de operadores na tv aberta; os canais que existem em UHF, ainda não instalados, poderão operar apenas em digital; operar em analógico e digital simultaneamente é extremamente oneroso para as emissoras; centenas de canais novos acontecerão em todas as cidades brasileiras; ao fim da migração a sociedade da informação terá centenas de canais; o que as televisões precisam para competir com o mercado internacional, é evoluir para fazer com qualidade a programação que tem; sobre manejo do espectro, acha que o governo poderia falar mais sobre isso; sobre produção independente, ressalta que o grupo Globo é o maior comprador de programação independente; que é uma indústria que tem mais de 15 mil empregos no Rio de Janeiro; a produção independente precisa de mais espaços em todos os pontos; o parque de produção independente no Brasil vai crescer mais com a tv digital; em SP a Globo é apenas 5% do espectro (temos um canal de 21); que aplicaram nos últimos anos todo o esforço técnico para entender deste assunto; que procuram 10

sistema que apresentem simultaneamente definição, portabilidade e mobilidade; um cidadão que tenha um celular no bolso terá direito a receber gratuitamente as programações de tv, incluindo canais educativos, tv senado, tv justiça etc. O Procurador Sérgio Suiama indagou: se há previsão de mudança do marco regulatório e qual vai ser o ato normativo a ser utilizado? Se os estudos jurídicos apontam se haverá ou não nova concessão e se será possível multiprogramação? Se haverá operador de rede no modelo a ser anunciado? Como será feita a otimização do espectro? Em resposta, o representante do MinCom ressalta que a definição de um padrão não impede o cumprimento dos objetivos do Decreto; sem a definição de um padrão não há como iniciar a implantação da tv digital; existem muitas outras atribuições do comitê de desenvolvimento que continuarão; no MinCom entende-se que a legislação não permite trabalhar com a multiprogramação; haverá a necessidade de alteração da legislação que se tem hoje; o mesmo ocorre com a questão do operador de rede; a entrada dos novos players, não há nenhum empecilho desde que haja espectro; com a introdução da tv digital isso passa a ser possível, dada a ampliação do espectro; liberação de canais reservados para retransmissão com a tv digital; será possível parear os canais, diferentemente da tecnologia analógica, que é restrita, para não dar interferência; haverá um uso mais racional do espectro, porque será bem aproveitado; legislação tem que ser revista porque é de 1962, apesar de ser boa porque comporta a evolução da tecnologia, não havendo perspectiva de que essa nova legislação seja tratada ainda este ano; nós entendemos que a parte da definição do padrão, o ato normativo suficiente para sustentar esta mudança é um decreto, tendo o Presidente da República competência para isto; sobre a questão da tecnologia, entende ser muito importante; o aprofundamento no domínio da tecnologia faria muito bem ao Brasil, dando, inclusive, oportunidade do país acessar o mercado externo; acha que vai ser uma composição equilibrada; está convencido de que o Brasil não adotará nenhuma das tecnologias in totum; o que fará é aproveitar alguma tecnologia e acoplar isto com outras tecnologias que estão sendo desenvolvidas aqui; o que se quer é pegar a tecnologia que se está desenvolvendo aqui e também transformar em um padrão internacional; muitas coisas colocadas na audiência pública não guardam relação com o processo de digitalização; não vê que a migração para o sistema digital vá provocar um fato consumado que não possa fazer essa reversão; o que 11

entende é que não podemos ficar aguardando, dada a evolução rápida da tecnologia digital; com a tecnologia digital não haverá diferenciação de imagens entre os televisores; os testes sobre o desempenho e evolução do sistema digital vêm sendo conduzidos desde o ano 2000; o governo tem todas as informações necessárias para tomar uma decisão; o banco de dados do governo está atualizado, com todas as informações relativas a todos os sistemas. Nada mais havendo, foi encerrada a audiência pública, por volta 18:20h, ressaltando a existência de procedimento administrativo instaurado na PFDC para acompanhamento da questão pelo Ministério Público Federal. 12