SOLUÇÃO DO PROBLEMA DE SELF-HEALING PARA REDES DE DISTRIBUIÇÃO RADIAIS ATRAVÉS DE OTIMIZAÇÃO VIA ALGORITMO GENÉTICO

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Transcrição:

SOLUÇÃO DO PROBLEMA DE SELF-HEALING PARA REDES DE DISTRIBUIÇÃO RADIAIS ATRAVÉS DE OTIMIZAÇÃO VIA ALGORITMO GENÉTICO LUCAS ROBERTO FERREIRA 1, LUCIANO CAVALCANTE SIEBERT 1, HELON AYALA 1, ALEXANDRE RASI AOKI 1, LUIZ CARLOS MENEZES DIREITO 2. 1. LACTEC Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, Departamento de Eletricidade, Divisão de Sistemas Elétricos BR 116 km 98 Nº 8813, Centro Politécnico da UFPR, Curitiba PR. E-mails: lucas.ferreira@lactec.org.br, luciano.siebert@lactec.org.br, helon.ayala@lactec.org.br, aoki@lactec.org.br 2. LIGHT S.E.S.A, Gerência de Tecnologia e Medição Av Marechal Floriano 168, Rio de Janeiro - RJ E-mail: luiz.direito@light.com.br Abstract The application of Smart Grids is growing due to the benefits that its implementation brings to both utilities and consumers, e.g. energy efficiency, real-time information of the distribution network. One of the features of the Smart Grid, the process of service restoration of distribution networks through self-healing actions comes to improve network reliability and provide a quick response to faults. In this paper, a methodology for self-healing through process optimization via genetic algorithm is presented, aiming to maximize the useful life of network devices and minimize the load not supplied in a faulted network. Using real data of five urban feeders from the utility LIGHT SESA for the case study, three scenarios were considered: one, two and three faults, respectively, in different feeders. Results showed the possibility of service restoration as well as fault isolation. Keywords Smart Grid, Self-Healing, Genetic Algorithm, Binary Optimization. Resumo A aplicação das redes inteligentes (smart grids) vem crescendo devido aos benefícios que a aplicação trás tanto para a concessionária quanto para o consumidor, como eficiência energética, informações em tempo real da rede de distribuição, entre outros. Como uma das funcionalidades do smart grid, o restabelecimento da rede de distribuição através de ações de auto-cura (self-healing) vem com o objetivo de melhorar a confiabilidade da rede e ter uma resposta rápida quando da ocorrência de falhas. No presente trabalho foi elaborada uma metodologia de self-healing através de processo de otimização via algoritmo genético visando maximizar a vida útil dos equipamentos da rede e minimizar a quantidade de carga não atendida após uma falha. Utilizaram-se dados reais de cinco alimentadores urbanos da concessionária LIGHT SESA para o estudo de caso, considerando três cenários: uma, duas e três falhas, respectivamente, sempre em alimentadores distintos. Os resultados mostraram a possibilidade de transferência de cargas não supridas, assim como isolamento das faltas. Palavras-chave Redes Inteligentes, Auto-Cura, Algoritmo Genético, Otimização Binária. 1 Introdução Redes elétricas inteligentes ou smart grids consistem basicamente na otimização e gerenciamento do sistema elétrico, desde a geração até o consumo, utilizando para isso sensores, monitores, acesso remoto, automação e sistemas integrados visando melhorias dos sistemas elétricos, tanto a nível de eficiência bem como da segurança do sistema (Gellings, 2009). Segundo Momoh (2012) a rede de distribuição (RD) atualmente tem características como consumidores desinformados e não participantes da rede; lentas respostas em problemas na qualidade de energia e vários obstáculos para inserção de fontes de energia distribuída. Portanto, à tendência das novas redes inteligentes possuírem fontes distribuídas e ativas que permitam a comutação e reconfiguração de seus equipamentos, é natural repensar a forma como se operam as redes de modo a comportar maiores funcionalidades e permitir assim benefícios tanto ao consumidor de energia quanto para as concessionárias (DOE, 2007) através de modicidade tarifária e melhor provimento de energia, por exemplo. Como uma das funcionalidades do smart grid, o self-healing vem com o objetivo de melhorar a confiabilidade da rede e ter uma resposta rápida quando ocorre uma falha na RD, isolando a falta e reduzindo o período de falta na rede (IEA, 2011). Os benefícios da aplicação do conceito de selfhealing em sistemas elétricos incluem: (i) rápida restauração do sistema ao modo operativo; (ii) restauração de maior quantidade de cargas e (iii) menor necessidade de enviar equipes de campo para reconfigurar a rede (Oualmakran, Melendez e Herraiz, 2012). Há vasta literatura relativa ao restabelecimento de redes de distribuição quando da existência de faltas. A seguir alguns dos métodos utilizados na aplicação do self-healing como: utilização do método de enxame de partículas para a otimização, a fim de resolver o problema de reconfiguração do sistema em conjunto com uma regra heurística para aumentar a eficiência da metodologia (Guerra, Galvis e Vinicius, 2012); utilização da heurística fuzzy para um processo de busca para o restabelecimento de energia em sistemas radiais de distribuição (Delbem, Bretas e Carvalho, 2000); Borges (2012), também destaca

outros métodos como a busca exaustiva; lógicas de automação; sistemas inteligentes (tais como lógica fuzzy, algoritmo genético, redes neurais artificiais); métodos matemáticos; etc. O objetivo deste artigo é elaborar uma metodologia de self-healing que trabalhe na reconfiguração da rede de distribuição, a partir de uma ou mais falhas em alimentadores interconectados utilizando o algoritmo genético para manipular as chaves nos alimentadores e entre eles. O artigo é divido nas seguintes seções: uma breve explicação do algoritmo genético e sua aplicação no self-healing (2); a metodologia para self-healing desenvolvida, apresentando a função objetivo e suas restrições (3); estudo de caso considerando alimentadores da concessionária LIGHT SESA (4); os resultados da técnica construída aplicada no estudo de caso (5); e por fim a conclusão (6). 2 Algoritmo Genético Desenvolvido por Holland (1975), o algoritmo genético (AG) é baseado nos princípios da genética e seleção natural. Primeiramente o AG cria uma população que pode ser gerada randomicamente ou de forma heurística. Segue então a execução do AG que passa por dois estágios de processo: primeiro cria-se uma população intermediária, utilizando a função de fitness, em que cada indivíduo é avaliado e alocado um valor de performance de oportunidade de reprodução (seleção dos melhores indivíduos), depois é aplicado o cruzamento e mutação para criar a próxima geração possível para a solução (Russell e Norvig 2004) (Lee e El-Sharkawi, 2008). Algumas das aplicações de AG para restabelecimento da RD podem ser encontradas em: Bretas, Delbem e Carvalho (2001) onde utiliza o AG para restabelecer uma RD radial através de uma cadeia de grafos; Fukuyama e Chiang (1995) empregam o AG paralelo para restaurar a RD considerando a minimização das cargas não atendidas e contrabalancear as margens de capacidade de suprimento; em Chavali, Pahwa e Das (2002) é apresentado o processo de obtenção de uma sequencia de chaveamento em uma RD, considerando o conceito de cold-load pickup, realizando assim chaveamentos sequenciais para evitar um pico de demanda no sistema através de otimização via AG; Luan, Irving e Daniel (2002) acham a melhor solução para o restabelecimento da RD usando o AG com a permutação de números inteiros, onde cada cromossomo é a lista dos índices das chaves. 3 Metodologia A presente seção apresenta a metodologia desenvolvida para self-healing em alimentadores de distribuição. Para isso é tecido comentários em relação aos passos necessários, assim como a função objetivo e restrições. A metodologia proposta utiliza a informação do estado das chaves pré e pós-falta de modo a inferir, através de um procedimento de classificação, onde a falta se encontra. Ora, ao obter a informação do local onde a falta está localizada, define-se então o espaço de busca de soluções e número de variáveis de decisão que serão definidas no problema de otimização, que realizará o self-healing através da definição do estado das chaves no estado de reconfiguração. Para isso é tomado como premissa que os sistema de proteção presentes na rede estão devidamente coordenados, ou seja, quando de uma falta em trecho de alimentador, teremos como um estado de pós-falta o acionamento da proteção nos equipamentos (chaves e disjuntores) entre essa falta e a subestação. Outra premissa considerada foi a necessidade de isolamento da falta, isto é, as chaves que estão diretamente ligadas ao trecho com falta são excluídas do campo de busca no processo de otimização. O cenário onde todas as chaves de recurso se encontram abertas e as demais chaves (incluindo os disjuntores) encontram-se fechadas é considerado o estado normal de operação. Sendo definido o campo de busca, é disparado então o procedimento de otimização que realizará a busca no espaço de soluções, utilizando para isso um algoritmo genético. A função objetivo utilizada e as restrições consideradas são descritas a seguir: 3.1 Função Objetivo f!"# N!, P! = N! N! + P! P! + 1 (1) onde N! é o total de chaveamentos possíveis, dado um conjunto de falhas isoladas, N! é o número de chaveamentos totais na corrente solução, P! é o total de carga em todos os alimentadores considerados e P! representa a carga atendida na presente configuração de chaveamento. A função objetivo a ser minimizada, descrita em (1), aponta que as soluções a serem encontradas pelo algoritmo de busca visarão: 1º termo minimizar o número de manobras, conservando assim a vida útil dos equipamentos e facilitando a execução do procedimento de self-healing; 2º termo maximizar a carga total a ser atendida por um dado chaveamento. O segundo termo da equação possibilita diminuir as penalidades que a concessionária pode receber devido a interrupções no fornecimento, especificamente o DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora) (ANEEL, 2012). 3.2 Restrições A Equação (2) apresenta os limites de tensão que são verificadas após cada nova configuração das chaves, conforme ANEEL (2012). Caso o limite de tensão "V" em qualquer barra "i" não seja respeitado, a fobj será penalizada.

0,93 p. u. V! 1,05 p. u. (2) Outra restrição imposta ao algoritmo é a manutenção da estrutura radial nos alimentadores de distribuição, ou seja, configurações de chaveamento que impliquem em anéis ou paralelismo entre subestações serão penalizadas. Cenário 2 Cenário 1 + Falta entre o Dj_5 e Ch_51; Cenário 3 Cenário 2 + Falta entre o Dj_2 e Ch_51. Com os cenários apresentados pretende-se verificar a eficácia da metodologia desenvolvida tanto para casos simples quanto para situações mais complexas, tais como diversas faltas simultâneas. 4 Estudo de Caso Nesta seção será descrita o estudo de caso, apresentando dados dos alimentadores reais tais como carga alimentada, disposição das chaves e cenários a serem simulados. Para a validação da metodologia desenvolvida, foram utilizados dados reais de cinco alimentadores da cidade do Rio de Janeiro, Brasil, concessão da LIGHT SESA. Como pode ser verificado na Figura 1 cada alimentador conta com duas chaves telecomandáveis (retângulos em branco com código indicando a qual alimentador e bloco pertencem), alocadas de forma a dividir o alimentador em três blocos, um disjuntor situado na subestação e uma ou mais chaves de recurso (retângulos cinza com o código indicando em quais alimentadores a chave se conecta). Todos alimentadores são urbanos, de média tensão (13,0kV) e possuem, em sua configuração normal, respectivamente a seguinte carga atendida e extensão: 1) 2,90 MVA e 3,76 km; 2) 5,62 MVA e 6,65 km; 3) 6,42 MVA e 9,71 km; 4) 5,42 MVA e 6,45 km; 5) 6,33 MVA e 7,96 km. Para validar a solução de self-healing foram propostos três cenários para análise: Cenário 1 Falta entre o Dj_3 e a Ch_31; 5 Resultados Nessa seção serão apresentados e analisados os resultados do estudo de caso, incluindo uma descrição detalhada do cenário 3, com múltiplas faltas. Para as simulações foi utilizado o programa MATLAB (MATrix LABoratory) e usou-se a Global Optimization Toolbox, no qual encontra-se a função do Algoritmo Genético (AG). A parametrização do AG é feita conforme a Tabela 1. A quantidade de variáveis de decisão (indivíduo) é calculada automaticamente após o isolamento da falta. Tabela 1. Configuração dos parâmetros do AG. Parâmetros Especificação Tipo da População Binário Taxa de Mutação Uniforme 15% Gerações 50 Tamanho da População 40 Cruzamento Disperso (scattered) População inicial Aleatória com distribuição uniforme Seleção Estocástica uniforme Elitismo 2 Alimentador 4 Dj_4 Ch_41 Ch_42 Ch_R4/2 Alimentador 2 Alimentador 3 Dj_2 Dj_3 Ch_21 Ch_22 Ch_R2/1 Ch_12 Ch_11 Ch_R2/3 Ch_R2/5 Ch_R1/5 Ch_31 Ch_32 Ch_R3/5 Ch_52 Ch_51 Dj_1 Dj_5 Alimentador 1 Alimentador 5 Subestação 1 Subestação 2 Figura 1. Disposição das chaves entre os cinco alimentadores

A Figura 2 mostra a evolução do valor da função objetivo para uma simulação do algoritmo genético, para cada cenário, todas com as mesmas parametrizações do algoritmo citadas anteriormente. Pode-se notar que os valores da função objetivos atingidos, para os cenários 1, 2 e 3, crescem nesta ordem. De fato, quando aumenta-se o número de faltas, diminuise a quantidade total de carga que pode ser atendida, o que implica em obter um valor maior da função objetivo segundo (1). Nota-se também, através desta mesma figura, que o chaveamento ótimo é obtido a partir de, no máximo, 30 iterações no algoritmo de busca. Tal fato pode servir como base para recomendação de parametrização em uma ferramenta de selfhealing quando da resolução de um problema de similar complexidade. A seguir, são descritos os chaveamentos ótimos para cada cenário da solução de menor valor de função objetivo. Faz-se uso da nomenclatura exposta na Figura 1 para denotar as chaves que são definidas abertas ou fechadas segundo o procedimento de otimização. Função Objetivo 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0 10 20 30 40 50 Geração Figura 2. Evolução do valor da função objetivo para cada cenário. 5.1 Cenário 1 Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Neste cenário, é simulada uma falta no bloco localizado entre Dj_3 e Ch_31. Assim, no estado pós-falta os trechos compreendidos entre as chaves Ch_31 e as de recurso do alimentador 3 não são alimentadas apesar de não conterem falta. Como resultado do procedimento de busca, todas as chaves internas nos alimentadores 1, 2, 4 e 5 se encontram fechadas. No alimentador 3, onde encontra-se a falta, por sua vez, as chaves Dj_3 e Ch_31 estão abertas e a Ch_32 fechada note que pelo fato de Dj_3 e Ch_31 encontrarem-se abertas temos que a falta é corretamente isolada. As chaves de recurso que se encontram abertas, após o restabelecimento, são todas menos a chave de recurso Ch_R3/5. Nesta configuração de chaveamento, as cargas dos alimentadores 1, 2 e 4 continuam sendo alimentadas como na situação nominal, e a carga do alimentador 3 possível de restabelecimento é repassada ao alimentador 5. Desta forma, a falta é corretamente isolada e as cargas possíveis de serem atendidas são restabelecidas pelo alimentador 5. 5.2 Cenário 2 O cenário 2 simula a ocorrência de duas faltas, a saber: (i) falta no bloco localizado entre Dj_3 e Ch_31 e (ii) falta no bloco localizado entre Dj_5 e Ch_51. Desta forma, no estado pós-falta os trechos compreendidos entre as chaves Ch_31, Ch_51e as de recurso dos alimentadores 3 e 5 não são alimentadas apesar de não conterem faltas. O resultado do procedimento de otimização foi o seguinte: todas as chaves nos alimentadores 1, 2 e 4 se encontram fechadas. No alimentador 3 e 5, onde se encontram as faltas, as chaves Dj_3, Dj_5, Ch_31 e Ch_51 se encontram abertas e as chaves Ch_32 e Ch_52 fechadas. Novamente, como no resultado do Cenário 1, as faltas foram corretamente isoladas. As chaves de recurso que se encontram abertas, após o restabelecimento, são todas menos as chaves de recurso Ch_R1/5 e Ch_R3/5. Tal reconfiguração estabelece que as cargas dos alimentadores 1, 2 e 4 continuam sendo alimentadas como na situação pósfalta, e a carga dos alimentadores 3 e 5, possível de restabelecimento, é repassada ao alimentador 1. Assim sendo, as faltas foram corretamente isoladas, e as cargas dos alimentadores 3 e 5 afetadas pelas faltas foram restabelecidas através do remanejo de cargas entre os alimentadores. 5.3 Cenário 3 Neste cenário são simuladas três faltas em trechos distintos do circuito mostrado na Figura 1, a saber: faltas nos blocos localizados entre (i) Dj_2 e Ch_21; (ii) Dj_5 e Ch_51 e (iii) Dj_3 e Ch_31. Tal cenário para faltas faz com que o estado pós-falta do circuito mantenha as cargas não energizadas entre as chaves Ch_21, Ch_31, Ch_51e as de recurso dos alimentadores 2, 3 e 5 obstante não conterem faltas. Nesta configuração o resultado da aplicação do algoritmo genético quando da minimização de (1) foi o seguinte: todas as chaves nos alimentadores 1 e 4 se encontram fechadas. Nos alimentador 2, 3 e 5, onde se encontram as faltas, as chaves Dj_2, Dj_3, Dj_5, Ch_21, Ch_31 e Ch_51 se encontram abertas e as chaves Ch_22, Ch_32 e Ch_52 fechadas. As faltas foram corretamente isoladas, dada a configuração descrita para as chaves. Encontram-se abertas as chaves de recurso, após o restabelecimento, todas menos as chaves de recurso Ch_R1/5, Ch_R3/5 e Ch_R4/2. A configuração das chaves citada acima faz com que as cargas dos alimentadores 1 e 4 continuem sendo alimentadas como na situação pós-falta, e a carga dos alimentadores 2, 3 e 5, possível de restabelecimento, é repassada aos alimentadores 1 e 4. Desta maneira, as faltas são corretamente isoladas. Ademais, as cargas dos alimentadores 2, 3 e 5 afetadas pelas faltas são restabelecidas através do repasse para os alimentadores 1 e 4.

(a) Figura 3. Topologia dos cinco alimentadores (a) pós falta e (b) chaveamento ótimo do cenário 3. (b) 1 0.99 Tensão [p.u.] Limite mínimo 1 0.99 Tensão [p.u.] Limite mínimo 0.98 0.98 Tensao [pu] 0.97 0.96 Tensao [pu] 0.97 0.96 0.95 0.95 0.94 0.94 0.93 0 50 100 150 200 250 Nó (a) Figura 4. Perfil de tensão do (a) alimentador 1 e (b) alimentador 4. 0.93 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Nó (b) Na Figura 3(a) pode-se observar o cenário pósfalta em coordenadas geo-referenciadas do cenário 3, conforme premissas de coordenação da proteção anteriormente citadas. A Figura 3(b), por sua vez, apresenta o chaveamento ótimo obtido pelo algoritmo para o reestabelecimento do sistema. Nessas figuras a estrela de seis pontas representa uma subestação, os círculos são as chaves telecomandadas (coloração preta representando chaves fechadas e coloração branca chaves abertas). As cargas alimentadas são expressas por triângulos na cor vermelha e as não alimentadas na cor azul, assim como as linhas pontilhadas indicam linhas não atendidas. Na Figura 4 pode-se visualizar o perfil de tensão nos alimentadores 1 e 4 da solução ótima do cenário 3. Vale ressaltar que os alimentadores 2, 3 e 5, por possuírem uma falta logo na saída da subestação, não são analisados. Percebe-se que mesmo com o aumento de carga suprida pelos alimentadores 1 e 4, nenhum deles violou limites de tensão. Percebe-se ainda que o valor da função objetivo encontrado na solução ótima do cenário 3 poderia também ser atingido através do atendimento dos blocos não faltosos dos alimentadores 3 e 5 através da chave de recurso Ch_R2_5 ao invés da Ch_R1/5 (considerando operação normal dos alimentadores antes da falta). 6 Conclusão No presente artigo uma metodologia para selfhealing em alimentadores de distribuição, considerando a possibilidade de ocorrência de múltiplas falhas foi apresentada. Os resultados das simulações apontam que o algoritmo foi capaz de encontrar a solução ótima de chaveamento para o estudo de caso. O perfil de tensão obtido nos resultados do cenário 3, de múltiplas falhas, apontaram a possibilidade da aplicação do chaveamento proposto. Porém, como diversas cargas tendem a ter um comportamento variável, outra abordagem para análise tal como a realizada em estudos preliminares a esse trabalho, documentadas

em Siebert et al (2013), deverão ser posteriormente realizadas. Em trabalhos futuros, a possibilidade de considerar a minimização de perdas técnicas no processo de otimização será explorada, visando dirimir possíveis soluções redundantes como as encontradas no cenário 3. A adição de mais uma função objetivo no problema pode ser encarada como uma formulação de otimização multi-objetivo, passível de solução via metaheurísticas tais como o Nondominated Sorted Genetic Algorithm-II (NSGA-II) ou Multiobjective Particle Swarm Optimization (MOPSO). Agradecimentos O presente trabalho foi apoiado financeiramente e institucionalmente pelo programa Smart Grid da concessionária Light. Referências Bibliográficas ANEEL(Agência Nacional de Energia Elétrica), (2012), Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional PRODIST Módulo 8 Qualidade da Energia Elétrica,. Borges, T. T., (2012), Restabelecimento de Sistemas de Distribuição Utilizando Fluxo de Potência Ótimo. 384 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Borges, T. T., (2012), Restabelecimento de Sistemas de Distribuição Utilizando Fluxo de Potência Ótimo. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, p.135. Bretas, N. G., Delbem, A. C. B., Carvalho A., (2001), Representação por cadeias de grafo para AG aplicados ao restabelecimento ótimo em sistemas de distribuição radiais.. Revista Controle e Automação SBA, v.12, n.1(jan-abr), pp. 42-51. Chavali, S., Pahwa, A., Das, S., (2002), A genetic algorithm approach for optimal distribution feeder restoration during cold load pickup. In: Proceedings of the 2002 Congress on Evolutionary Computation, v.2, pp. 1816 1819, Honolulu, Hawaii, May. Chen, P.; Chen, Z.; Bak-Jensen, B., (2008), Probabilistic Load Flow: A Review. Third International Conference on Electric Utility Deregulation and Restructuring and Power Technologies, pp. 1586-1591. Delbem, A. C. B., Bretas, N. G., Carvalho, A., (2000), Algoritmo de Busca com Heurísticas Fuzzy para Restabelecimento de Energia em Sistemas Radiais de Distribuição. Revista Controle e Automação SBA, v.11, n.1(jan-abr), pp. 55-60. DOE (Department of Energy) - Office of Electricity Delivery and Energy Reliability, (2007),. A System View of the Modern Grid Appendix A1 Self Heals. Disponível em: < http://www.smartgridnews.com/artman/uploads/ 1/Self_Heals_Final_v2_0.pdf>. Acesso em 26/05/2013. Fukuyama, Y., Chiang, H., (1995), A parallel genetic algorithm for service restoration in electric power distribution systems. In: International Joint Conference of the Fourth IEEE International Conference on Fuzzy Systems and The Second International Fuzzy Engineering Symposium, v.1, pp. 275 282, Yokohama,Mar. Gellings C. W., (2009), The Smart Grid: enabling energy efficiency and demand response. The Fairmont Press, Inc. Ghosh, D., Sharman, R., Rao, H. R., Upadhyaya, S., (2007), Self-healing systems survey and synthesis, Decision Support Systems, vol. 42, no. 4, pp. 2164 2185. Guerra, W., Galvis, J. C., Vinicius, M., (2012), Reconfiguração de Sistemas de Distribuição Utilizando Otimização por Nuvem de Partículas, pp. 1 6. Holland, J. H., (1975), Adaptation in Natural and Artificial Systems, Univ. of Michingan Press, Ann Arbor, Michigan, EUA. IEA (Internacional Energy Agency), (2011), Technology Roadmap - Smart Grid. pp. 1 48. Lee, K.Y. and El-Sharkawi, M.A., (2008), Modern Heuristic Optimization Techniques: Theory and Applications to Power Systems, Hoboken, New Jersey: Wiley-IEEE Press. Luan, W. P., Irving, M.R., Daniel, J.S., 2002, Genetic algorithm for supply restoration and optimal load shedding in power system distribution networks. In: Proceedings of the IEE Generation, Transmission and Distribution, v. 149, n. 2, pp. 145-151, Mar. Momoh, J. A., (2012), Smart Grid - Fundamentals of Design and Analysis, Hoboken, New Jersey, Wiley-IEEE Press. Oualmakran, Y.; Melendez, J.; Herraiz, S., (2012), Self-healing for smart grids: Problem formulation and considerations. 3rd IEEE PES International Conference and Exhibition on Innovative Smart Grid Technologies (ISGT Europe), pp.1,6, 14-17 Oct. 2012. Pareja, L.A.G., (2009), Fluxo de Potência em Redes de Distribuição de Energia Elétrica Considerando Incertezas. Tese de Doutorado. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira. Russell, S., Norvig, P., (2004), Inteligência Artificial, Elsevier, Rio de Janeiro. Siebert, L., Aoki, A. R., Souza, A. R. R., Ferreira, L. R., Bonelli, A. F., Toledo, Fábio O., (2013), Deterministic Versus Probabilistic Approaches to Self-Healing in Smart Grid. 22 nd International Conference on Electricity Distribution (CIRED), 10-13 Jun. 2013.