CONFUSÃO PATRIMONIAL EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO MUNICÍPIO DE GUANAMBI BAHIA

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1 CONFUSÃO PATRIMONIAL EM MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO MUNICÍPIO DE GUANAMBI BAHIA Celiane Oliveira de Azevedo¹, Diana Bezerra dos Santos Silva¹, Plínia Mendes Paz do Nascimento¹, Sarah Thayanne Rodrigues Rocha¹, Fabrício Ramos Neves², Pablo Teixeira Viana³ ¹Graduandos do Curso Bacharel em Administração, Faculdade Guanambi, FG, Guanambi BA. ²Contador, Mestrando em Administração, Faculdade Guanambi, FG, Guanambi BA. ³Zootecnista, Doutorando em Produção Animal, Faculdade Guanambi, FG, Guanambi BA. RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo analisar se existe mistura entre as finanças da empresa e as contas pessoais dos seus proprietários em Micro e Pequenas Empresas na cidade de Guanambi Bahia, bem como avaliar o grau de conhecimento dos responsáveis pela gestão da empresa, estabelecendo assim uma relação do nível de escolaridade com a existência da Confusão Patrimonial. Foi feito um estudo de levantamento de dados por meio de um questionário aplicado em 145 empresas dos segmentos de comércio e serviço, enquadradas nos critérios que definem Micro e Pequenas Empresas. A pesquisa apontou que em 98% dos casos o proprietário da empresa é também o responsável por sua administração e que 50% deles não têm conhecimentos específicos para gerenciá-las. Os resultados encontrados comprovam a existência da Confusão Patrimonial, fator que pode comprometer a saúde financeira do negócio e até contribuir para a falência da empresa. Palavras-chave: Confusão Patrimonial; Empreendedor; MPEs; Planejamento. ABSTRACT: The present study aimed to examine whether there is a mix between the company's finances and personal accounts of their owners in Small Enterprises in the city of Guanambi - Bahia, and assess the level of knowledge of those responsible for managing the company, thus establishing a relationship between the education level with the existence of patrimony confusion. A study was made of data collection through a questionnaire applied in 145 companies in the trade and service area, in the criteria that define Micro and Small Enterprises. The survey found that in 98% of cases the business owner is also responsible for its administration and that 50% of them have no expertise to manage them. The results confirm the existence of patrimony confusion, a factor that may undermine the financial health of the business and to contribute to the company's bankruptcy. Keywords: patrimony confusion; Entrepreneur; Small Enterprises; Planning.

2 INTRODUÇÃO Segundo dados do Anuário do Trabalho na Micro e Pequena Empresa (2010/2011), no Brasil as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) respondem por 99% das empresas, mais da metade dos empregos formais de estabelecimentos privados não-agrícolas do país (51,6%) e por parte expressiva da massa de salários paga aos trabalhadores destes estabelecimentos (40%). As MPEs são as empresas que mais crescem no país, em contrapartida, 26,9% delas não conseguem sobreviver mais de 02 anos no mercado. O principal critério adotado para conceituar Micro e Pequenas Empresas é a receita bruta anual. A Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, considera Micro Empresa aquela que tem uma receita bruta anual igual ou inferior a R$ 360.000,00, e no caso da Empresa de Pequeno Porte, superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00. Simples Nacional e Lei Geral das MPE FIGURA 1 CLASSIFICAÇÃO DAS EMPRESAS QUANTO AO PORTE Classificação quanto ao Porte da Empresa Micro Empresa Empresa de Pequeno Porte Tipo Jurídico Faturamento Tipo Jurídico Faturamento Empresário Empresário individual; Receita bruta anual individual; Receita bruta anual Sociedade empresária (comercial); igual ou inferior a R$ 360.000,00. Sociedade empresária (comercial); superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00. Sociedade simples (civil). Sociedade simples (civil). Dornelas (2008), afirma que a falta de planejamento aparece em primeiro lugar como a principal causa para o insucesso das empresas, seguida de deficiências de gestão, políticas de apoio insuficientes, conjuntura econômica e fatores pessoais. E apesar dos fatores externos serem críticos, as duas principais causas de falência resumem-se às deficiências no planejamento e incorreta gestão do negócio. Tais falhas podem acontecer devido a armadilhas no gerenciamento do dia-a-dia de pequenas empresas. Silva (2010) destaca que apesar das dificuldades e falhas encontradas, um determinado aspecto deve ser destacado para a maioria dos micro e pequenos empreendedores. Geralmente é um comportamento considerado natural, corriqueiro do negócio, passando despercebido por todos, mas que acaba sendo de uma relevância enorme na

3 administração da empresa: o descontrole financeiro por parte dos administradores. No primeiro instante, pode-se imaginar que esse item trata da administração financeira da empresa, mas o que deve ser observado vai muito além, pois diz respeito à administração das contas pessoais do empreendedor. Grande parte dos negócios criados no país é concebida por pequenos empresários, e uma parcela significativa desses não possuem conhecimento de gestão de negócios, atuando na maioria das vezes de forma empírica e sem planejamento. Por desconhecer as ferramentas básicas de gestão, esses empreendedores cometem alguns erros ao administrar a empresa, e entre as principais falhas encontra-se a mistura entre as finanças da empresa e suas contas pessoais. A mistura entre as contas da empresa e do proprietário compromete a saúde financeira do negócio. Esse tipo de conduta é conhecida como Confusão Patrimonial e ocorre quando os recursos da pessoa jurídica são utilizados para pagamentos de dívidas particulares de sócios ou em caso de procedimentos inversos. Diante do apresentado, o objetivo do presente trabalho consiste em analisar a situação das Micro e Pequenas Empresas na cidade de Guanambi Bahia, buscando detectar os principais erros cometidos na administração destas e buscando as respostas aos problemas causados pela Confusão Patrimonial. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado por meio de uma pesquisa aplicada em Micro e Pequenas Empresas do setor de serviço e comércio da cidade de Guanambi Bahia, durante o período de 20 a 25 de agosto de 2012, e foi desenvolvido através de uma pesquisa descritiva, que segundo Gil (1999) tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Esta foi de caráter quantitativo, pois buscou traduzir em números as opiniões e informações para serem classificadas e analisadas. Segundo as Estatísticas do Cadastro Central de Empresas 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que na cidade de Guanambi Bahia, o número de empresas são 2.643, porém a amostra utilizada foi de 145 empresas enquadradas dentro dos critérios e conceitos estabelecidos para definir Micro e Pequenas Empresas atendendo os segmentos de serviço e comércio. As empresas foram escolhidas de forma aleatória.

4 Como instrumento de coleta de dados foi elaborado e impresso um questionário contendo 21 questões objetivas. Este foi aplicado aos proprietários/sócios das empresas pelos componentes da própria equipe. Após a aplicação do questionário, as informações colhidas foram transcritas para o programa Microsoft Excel, onde os dados foram tabulados e os resultados apresentados em forma de gráficos. RESULTADOS E DISCUSSÃO No Brasil, são criados anualmente mais de 1,2 milhão de novos empreendimentos formais. Desse total, mais de 99% são MPEs e Empreendedores Individuais (EI). Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2011), apontam que as MPEs são responsáveis por mais da metade dos empregos com carteira assinada no Brasil e se isso for somado a ocupação que os empreendedores geram para si mesmos, pode-se dizer que os empreendimentos de micro e pequeno porte são responsáveis por pelo menos dois terços do total das ocupações existentes no setor privado da economia. A sobrevivência desses empreendimentos é indispensável para o desenvolvimento econômico do país. Todos os estudos no Brasil e no mundo mostram que os dois primeiros anos de atividade de uma nova empresa são os mais difíceis, o que torna esse período o mais importante em termos de monitoramento da sobrevivência (SEBRAE, 2011). Um estudo sobre a Taxa de Sobrevivência das Empresas no Brasil (SEBRAE, 2011), aponta que o número de MPEs no Brasil tem aumentado a cada ano, assim como a quantidade de pessoas ocupadas nessas empresas. O percentual de MPEs que sobrevivem depois dos dois anos de atividade passou de 50,6% em 2002 para 73,1 % em 2011, portanto o índice de mortalidade dessas empresas tem diminuído, mostrando uma evolução das mesmas no Brasil, mas apesar de estatísticas recentes mostrarem uma evolução no índice de sobrevivência, ainda existe um percentual significativo de empresas que fecham suas portas nos primeiros anos de atividade. Diversos fatores são responsáveis pela falência e mortalidade dessas empresas. Dornelas (2008) aponta que as duas principais causas de falência das empresas resumem-se na falta de planejamento do negócio e nas deficiências de gestão. Existem outros fatores citados como motivo de insucesso para as empresas e empreendedores, como a falta de aptidão, experiência e interesse por parte do empreendedor, desconhecimento do mercado, falta de orientação profissional, alto endividamento, crises

5 econômicas, difícil obtenção de crédito e, dentre outros, o descontrole financeiro (SILVA, 2010). As principais funções administrativas consistem em planejar, organizar, dirigir e controlar, que forma o processo administrativo e opera sobre as pessoas e recursos da organização no intuito de alcançar objetivos. Chiavenato (2001) afirma que dentre as principais funções administrativas, o planejamento representa a primeira por ser exatamente aquela que serve de base para as demais funções, determina antecipadamente quais são os objetivos que devem ser atingidos e como se deve fazer para alcançá-los. Planejar é uma técnica para absorver a incerteza sobre o futuro e permitir maior consistência no desempenho das organizações, mostrando diferentes maneiras de lidar com a incerteza e com a mudança. Organizar consiste no agrupamento das atividades necessárias para realizar aquilo que foi planejado, envolvendo tarefas, pessoas, órgãos e relações. A direção é a função que orienta e indica o comportamento dos indivíduos na direção dos objetivos a serem alcançados. E por fim, a função do controle busca assegurar se o que foi planejado, organizado e dirigido realmente cumpriu os objetivos pretendidos (CHIAVENATO, 2001). O planejamento é essencial para o bom funcionamento da organização, através dele os gestores conseguem se precaver das armadilhas e ameaças existentes, aumentando a eficiência na administração do negócio. Os empreendedores devem buscar uma contínua capacitação gerencial, aliando a experiência adquirida com os conceitos teóricos para uma melhor administração dos recursos da empresa. Os resultados a seguir mostram as respostas dos participantes, estas foram transcritas na íntegra e submetidas a análises e interpretações, delas depreendemos dados gerais traduzidos em números e gráficos apresentados no decorrer do trabalho. FIGURA 2 - DISTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS POR ANOS DE ATIVIDADE 30% 21% 23% 25% De 0 a 2 anos De 2 a 5 anos De 5 a 10 anos Há mais de 10 anos

6 O resultado encontrado mostra que existe apenas uma pequena diferença entre as variáveis, sendo que 30% das empresas atuam no mercado há mais de 10 anos e 23% ainda não passaram dos dois anos de atividade. Empresas com pouco tempo no mercado merece uma atenção especial, pois passam por etapas difíceis até alcançar uma maturidade financeira e conquistar o mercado consumidor, 48% das empresas entrevistadas ainda não passaram dos cinco anos de atividade, período que precisa ser bem monitorado, utilizando ferramentas de controle e planejamento, não deixando faltar inovação e persistência. Dornelas (2008) destaca que a primeira etapa do processo empreendedor é cheia de obstáculos, pois está associada com a criação de algo novo, de uma nova empresa. Sendo assim, o empreendedor deve comprometer o seu esforço e tempo para abrir o negócio e fazêlo crescer, assumindo riscos e tomando decisões, para isso é preciso ânimo e ousadia, apesar das dificuldades e falhas. O autor ainda destaca a importância do planejamento, dando ênfase ao Plano de Negócios, ferramenta de gestão que pode e deve ser usada por todo e qualquer empreendedor que queira iniciar um negócio, podendo também ser aplicado no planejamento de empresas maduras. FIGURA 3 A EMPRESA É FAMILIAR? 45% Sim 55% Não As empresas podem ser familiares ou não. Empresas familiares são empreendimentos geridos por uma ou mais famílias, onde a sucessão do poder decisório é hereditária. Quase 80% das empresas no Brasil e no mundo são consideradas familiares, ou seja, tem origem ou gerência com pessoas da mesma família. No Brasil, desde MPEs a grandes grupos empresariais foram fundadas por familiares. Percebeu-se que na cidade de Guanambi-Ba isso não se mostrou diferente, pois 55% das empresas são de origem familiar.

7 O Sebrae (2012) apresenta pontos fortes e fracos ao iniciar um negócio em família. Como pontos fortes destacam-se o fato de trabalhar diretamente com quem se conhece o caráter desde o início, o sistema de decisões tende a ser muito rápido e a comunicação acontece de forma mais fácil e direta, sendo que a sobrevivência do negócio é responsabilidade de todos. Os pontos fracos desse tipo de empresa são muitos e ocorre pelos conflitos de interesses entre família e empresa, pois o planejamento financeiro é feito priorizando a família e depois a empresa, tornando o objetivo de enriquecimento familiar anterior ao plano de crescimento do negócio. Para superar as dificuldades encontradas é preciso ter conhecimento que família e empresa são entes com personalidades próprias e que os interesses pessoais devem ficar em segundo plano se comparado à empresa. Os sócios e familiares devem estar comprometidos com a continuidade da empresa e, além disso, devem ser transparentes e responsáveis por seus atos. FIGURA 4 NÍVEL DE ESCOLARIDADE DAS PESSOAS RESPONSÁVEIS PELA ADMINISTRAÇÃO DA EMPRESA 23% Até o ensino médio 50% Curso técnico 26% Nível superior 98% dos proprietários/sócios das empresas pesquisadas afirmaram ser o responsável por administrá-las, sendo que metade deles não possui uma formação superior, nem sequer um curso técnico que traga conhecimento para gerir o negócio. Dornelas (2008) destaca que a maior parte dos negócios criados no país é concebida por pequenos empresários e esses nem sempre possuem conceitos de gestão de negócios, atuando geralmente de forma empírica e sem planejamento. Também afirma que muitos empreendimentos foram criados em resposta ao aumento do índice de desemprego, principalmente nas grandes cidades, onde a concentração de empresas é maior. Sem alternativas, os ex-funcionários dessas empresas começaram a criar novos negócios, às vezes

8 mesmo sem experiência no ramo, utilizando o pouco que ainda lhes restou de economias pessoais, fundo de garantia, entre outros. O autor afirma que existem duas definições de empreendedorismo. A primeira seria o empreendedorismo de oportunidade, em que o empreendedor visionário sabe aonde quer chegar, cria uma empresa com planejamento prévio, tem em mente o crescimento que quer buscar para a empresa e visa à geração de lucros, empregos e riqueza. A segunda definição seria o empreendedorismo por necessidade, em que o candidato a empreendedor se aventura na jornada empreendedora mais por falta de opção, por estar desempregado e não ter alternativas de trabalho. Nesse caso, esses negócios são criados informalmente, não são planejados de forma adequada e muitos fracassam rapidamente, não gerando desenvolvimento econômico e agravando as estatísticas de criação e mortalidade dos negócios. FIGURA 5 A EMPRESA POSSUI FERRAMENTAS DE CONTROLE ADMINISTRATIVO? 12% Sim Não 88% É fato que muitos adquirem certa experiência com o dia-a-dia do comércio, mas notou-se que existem empresas que não possuem sequer um controle de caixa, sendo esta uma ferramenta básica para administração e controle. Quando questionados sobre o uso das ferramentas administrativas de controle, 12% afirmaram não usar nenhum sistema para controlar as atividades da empresa, bem como as entradas e saídas do caixa.

9 FIGURA 6 COSTUMA FAZER RETIRADAS DO CAIXA DA EMPRESA PARA PAGAMENTO DE CONTAS PESSOAIS? 26% Sim Não 74% FIGURA 7 COM QUE FREQUENCIA? 10% 46% 44% Às vezes Frequentemente Sempre Das empresas entrevistadas, 74% afirmaram recorrer ao caixa da empresa para pagar contas pessoais, destes, 44% responderam que isso acontece às vezes, 46% disseram fazer isso frequentemente e 10% afirmaram fazer isso sempre que necessário. Além disso, quando questionados se recorrem aos recursos próprios para suprir contas da empresa, 33% dos entrevistados afirmaram que sim. Essa mistura existente entre as contas da empresa e do proprietário é conhecida como Confusão Patrimonial. Para um melhor entendimento, deve-se compreender o que é uma firma, um empresário e uma sociedade empresária. Para Coelho (2010), no linguajar cotidiano do comércio, firma tem o sentido de sociedade ou empresa, mas no rigor da técnica jurídica, essa expressão é reservada para uma das espécies de nome empresarial.

10 O artigo 966 do Código Civil considera empresário aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Quanto ao empresário, pode ser pessoa física ou jurídica, no primeiro caso denomina-se empresário individual e no segundo sociedade empresária. Coelho (2010) destaca que a pessoa jurídica não se confunde com as pessoas que a compõe e este princípio se aplica à sociedade empresária, pois tem ela personalidade jurídica distinta da de seus sócios; são pessoas inconfundíveis, independentes entre si. Em consequência ainda, de sua personalização, a sociedade tem patrimônio próprio, seu, inconfundível e incomunicável com o patrimônio individual de cada um de seus sócios. Quando uma pessoa cria uma empresa, investe nela um determinado valor, este passará a ser o capital da empresa e servirá para a mesma adquirir tudo o que é necessário para se desenvolver, produzir, vender e buscar lucro em suas operações. Como a pessoa jurídica é distinta das pessoas que a compõe, tudo que o negócio produzir e acumular em seu caixa é exclusivamente dele e não dos seus criadores e/ou sócios. Sendo assim, quando uma firma individual paga uma despesa, é o caixa da firma que está desembolsando o dinheiro, e não o dono da empresa, embora materialmente, muitas vezes, as duas coisas se confundam (EQUIPE DE PROFESSORES DA FEA/USP, 1998). A Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 750 de 29 de dezembro de 1993 dispõe que: O Princípio da Entidade reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Da mesma forma, o artigo 50 do Código Civil determina que: Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. A Confusão Patrimonial é um dos fatores que comprometem o bom funcionamento e desenvolvimento da empresa. As aspirações e vontades pessoais não devem ser colocadas

11 frente às necessidades empresariais, os gestores não devem pensar que a empresa é uma extensão do lar, isso prejudica os negócios porque dificulta o controle financeiro, e impede uma avaliação correta dos custos da empresa, ações de melhoria e planejamento de investimentos. FIGURA 8 RECEBE PRÓ-LABORE? 35% Sim Não 65% Pró-labore é uma expressão latina que significa pelo trabalho, é uma remuneração do trabalho prestado à empresa pelos seus sócios/proprietários. Dentre os entrevistados, 65% garantiram retirar o pró-labore e deste percentual, 32% afirmaram que o pró-labore não atende suas necessidades pessoais e que além dessa retirada, recorrem ao caixa da empresa se surgirem outras necessidades, demostrando não ter muito controle sobre essas retiradas. Marion (2005) ressalta que os gastos originados pelo negócio devem ser separados daqueles originados pelo gestor do negócio, ainda destaca que se o sócio tirar dinheiro do bolso e pagar uma conta da empresa, isso deve ser contabilizado como um empréstimo que a pessoa física está fazendo à pessoa jurídica. E se o sócio utilizar algum dinheiro da empresa, este deve ser registrado como um empréstimo da mesma para o sócio. Isso não se aplica apenas na utilização do dinheiro da empresa, mas também em todos os produtos ou serviços advindos dela e consumidos pelos seus sócios. As aspirações e vontades pessoais não devem ser colocadas frente às necessidades da empresa, por desconhecer ou negligenciar isso muitos empreendedores e administradores falham ao pensar que a empresa é uma extensão do lar.

12 CONCLUSÕES Conforme observado a partir da análise dos dados obtidos mediante uma pesquisa de campo, percebe-se que as empresas são bem distribuídas quanto aos anos de atividade e que uma quantidade significativa delas resiste a mais de dez anos no mercado. Notou-se que na maioria dos casos, as contas dos proprietários e sócios da empresa são confundidas com as finanças da própria empresa e que tal confusão existe tanto para empresas familiares como não familiares, em meio aos principais fatores indicados para o elevado índice dessa confusão, destacou-se a falta de formação profissional, bem como a ausência de conhecimentos e ferramentas de gestão empresarial. No desfecho desse trabalho o que encontramos, na verdade, foi o princípio de uma pesquisa que deixa muitas veredas a serem estudadas, pois o assunto é amplo e ainda traz muitos desafios tanto para quem pesquisa quanto para o próprio sujeito da pesquisa, nesse caso específico, os gestores das micro e pequenas empresas da cidade de Guanambi - Bahia. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei 10406 de 10 de janeiro de 2002. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. Publicada no Diário Oficial da União em 11/01/2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 21 mai. 2012, 12:45. BRASIL. Lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Micro Empresa e da Empresa de Pequeno Porte. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp123.htm#art89>. Acesso em: 10 set. 2012, 17:31. CHIAVENATO, I. TGA, vol. 1. 6. ed. rev. e atualizada. Rio de Janeiro: Campus, 2001. COELHO, F. U. Manual de direito comercial: direito de empresa / Fábio Ulhoa Coelho. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 750/93 de 29 de dezembro de 1993, atualizada pela resolução CFC nº 1.282/2010. Dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Disponível em: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/legislacao/resolucaocfc774.htm>. Acesso em: 29 out. 2012, 18:12.

13 DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. EQUIPE DE PROFESSORES DA FEA/USP. Contabilidade Introdutória / Equipe de Professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP., Cordenação Sérgio de Iudícibus. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 1998. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. IBGE. Estatísticas do Cadastro Central de Empresas, 2010. Referente às empresas localizadas na cidade de Guanambi Bahia. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=291170>. Acesso em: 21 mai. 2012, 11:28. MARION, J. C., 1949. Contabilidade Empresarial. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005. MUNDO SEBRAE. Como gerir uma empresa familiar? Disponível em: <http://www.mundosebrae.com.br/2010/04/como-gerir-uma-empresa-familiar/>. Acesso em: 29 out. 2012, 17:34. SEBRAE. Anuário do trabalho na micro e pequena empresa: 2010-2011. 4. ed. / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Org.); Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. Brasília, DF; DIEESE, 2011. Disponível em: <http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/25ba39988a7410d78325795d003e8172/ $File/NT00047276.pdf> Acesso em: 21 out. 2012, 21:37. SEBRAE. Taxa de Sobrevivência das Micro e Pequenas Empresas: 2011. Disponível em: <http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/45465b1c66a6772d832579300051816c /$File/NT00046582.pdf>. Acesso em: 15 out. 2012, 15:21. SILVA, Eduardo Amat. Finanças: empresa x pessoal. Disponível em: <http://sebraemgcomvoce.com.br/2010/04/14/financas-empresa-x-pessoal/>. Acesso em: 14 set. 2012, 00:22.